Diário de um Mordomo escrita por The Mistoclis


Capítulo 14
Competição


Notas iniciais do capítulo

Realmente, minha vida ficou mais conturbada do que eu esperava e o planejamento de um capitulo por semana também teve que ser deixado de lado. Minhas sinceras desculpas aos meu leitores e leitoras, espero que continuem aproveitando a história.



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Durante essa semana, coordenei basicamente todas as atividades de Peter, o novo mordomo. Nem cheguei a jogar uma unica partida de sinuca ou ir ao bar.

Ele se saiu muito bem, aprende rápido o rapaz. Mas parece que pare ele tudo era competição. Se eu fazia um simples sanduíche, ele preparava uma apresentação. Se eu arrumava as almofadas do sofá, ele passava um mini-aspirador nelas. Se eu limpava os banheiros, ele os perfumava no final. Ao menos as atividades envolvendo Sophie, apenas eu tinha permissão de cumprir.

Em momento algum desconfiei das intenções dele, até que em certo domingo fomos fazer o chá da tarde. 

Como algumas semanas atrás, você meu leitor deve saber, decidi refazer o bolo com morangos, sobremesa preferida de Sophie. Deixei a Mise en Place para Peter enquanto eu cozinhava. Após alguns momentos seguindo a receita, coloquei a massa do bolo finalmente no forno e descansei o pano de prato no ombro. 

—Peter, comece a cortar os morangos, preciso ir no banheiro.

—Claro.

Ele era um bom mordomo, mas seus modos ainda eram de plebe. Nosso mestre merece alguém que o trate com garbo e perfeição, não alguém que responde com "Claro". "Certamente" seria mais aceitável. "Sim senhor" pelo menos. Por Deus.

Saindo da cozinha, percebo que Sophie estava nos espiando. Ela me viu, mas continuou olhando para Peter.

—O que está fazendo aí, senhorita?

—To de olho nele.

—Isso é evidente.

—Então por que perguntou?

—Por que não sei suas intenções.

—E nem você sabe as dele.

—Você sabe?

—Tenho um palpite.

—E qual seria?

—Ele quer te substituir.

—Por que pensa isso?

—Porquê sim. Instinto feminino. Shiu!

Apos ser censurado por Sophie, decidi ir normalmente ao banheiro. Na volta, terminamos de fazer o chá e o bolo e o levamos para a mesa do jardim. Enquanto Peter segurava a bandeja, eu colocava a mesa. Senhor Greenfield lia o jornal atentamente e Sophie encarava Peter.

Sophie devorava o bolo enquanto Senhor Greenfield quase não tirava o olho do jornal, apenas para bebericar o chá hora ou outra.

—Wallace! - Disse Senhor Greenfield. - Esse chá está divino! Do que é?

—Chá Mate, Senhor.

—Está diferente.

—Isso por que - interveio Peter - eu coloquei um pouco de manteiga.

—Que interessante. Nunca ouvi falar nesse "truque". Mas ficou delicioso, rapaz.

—Obrigado.

Sophie estava certa.

Ele está tentando roubar meu lugar.

Ele vai roubar meu lugar.

Eu vou ser demitido.

Ele vai ficar no meu lugar.

Ele vai cuidar de Sophie.

Ele vai ficar na casa.

Eu vou ser mandado embora.

Eu não posso ser mandado embora.

Eu vou ser demitido!

Eu não posso ser demitido!

Está começando de novo. Minhas mãos tremendo. Não consigo falar nada. Minhas pernas tremem. Estou ficando gelado. Meus olhos se enchem de lagrimas. Peter está falando com Senhor Greenfield. Nenhum dos dois notou o que está acontecendo ainda. Sophie! Olho para ela e percebo que ela já estava olhando para mim. Está assustada. Mais do que eu talvez. 

—Pai...

Não! Não fala pra ele! Por favor! Não! Eu não quero ter que...

—Eu vou lá dentro um minutinho, me acompanha Wall?

Ela se levanta da cadeira apressada e me puxa pelo braço. Vamos correndo para dentro da casa.

No meio da escada, começo a chorar. Chorar muito. Tropeço no ultimo degrau e caio no chão do segundo andar. Ela me ajuda a levantar e juntos entramos no seu quarto. Eu sento na cama ainda chorando e levo as mãos ao rosto. Sophie fecha a porta e vem correndo me abraçar.

—Wall! Wall! Tá tudo bem! Tá tudo bem! Eu to aqui! - diz ela em alta voz e depois falando mais baixo - Eu to aqui. Calma. - Ela parou de apertar o abraço e abraçou-me mais suavemente.

Meu choro passou de um grito desesperado para algo moderado, mas ainda incontrolável. 

—Não aconteceu nada demais. Se acalma. - Ela pegou em meu pulso, tirou minha luva branca e segurou minha mão. - Se acalma.

Aos poucos, voltei a me acalmar. Parei de chorar e tremer, mas ainda me sentia fraco, exausto, o que me fez cair na cama. Sophie se deitou por cima de mim e deitou a cabeça no meu peito. 

—Você precisa descansar. Meu pai contratou outro mordomo justamente para te ajudar. Entenda isso. Nós dois prezamos muito por você.

Sophie nem se importava de eu não falar nada. Não conseguir falar nada. Ela estava sempre ali, me acalmando, se fazendo presente.

—Você não pode dormir aqui. Se levanta, vai.

Com muito esforço, consegui sentar-me na cama.

—Isso. Agora, levanta.

Ela me puxou pela mão sem luva, me ajudando a ficar de pé.

—Coloca sua luva. 

Obedeci.

—E fala alguma coisa.

—Estou melhor.

—Ótimo. - abraçou-me novamente.

Afastando apenas a cabeça para olhar nos meus olhos, mas ainda abraçada em mim, ela disse:

—Você não vai ser mandado em bora nem nada. Você é nosso mordomo! Ele é um novato ainda.

—Mas já está fazendo basicamente todas as tarefas melhor do que eu.

—Então quero que você faça melhor.

—Não estou muito seguro sobre isso.

—Wallace. Eu sou a filha do seu mestre. Eu também posso te dar ordens. E isso é uma ordem: Dê o seu melhor!

Após fechar os olhos e suspirar profundamente, respondi:

—Como desejar!


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