Da arte de não dizer muito dizendo apenas nada escrita por ViniciusTheodoro


Capítulo 3
Orégano


Notas iniciais do capítulo

Não confie no protagonista. Não confie no autor.



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Eu finalmente achei aonde o protagonista estava escondendo o resto da história. Peço desculpas pelo tamanho do último capítulo, afinal, como iria continuar a história se o protagonista havia roubado-a? 

Bem, ocasiona que ele não estava morto. Apenas havia desmaiado. O protagonista não pode morrer agora na história, afinal. Dizer que um personagem estava desmaiado é uma trope bastante usada, especialmente em histórias de heróis. Percebem como, nos quadrinhos, os personagens nunca morrem de verdade? Eles voltam depois de algumas edições, e dá-se uma desculpa de onde eles estavam e porque estavam sumidos na história. Mais poderoso que qualquer super vilão é o dinheiro das vendas semanais de revistinhas.

Nosso protagonista não é um super herói. Ele não tem super poderes, mas eu o darei uma motivação, para que sua jornada comece.

Ele acorda suando no meio da noite. Levanta-se de sua cama e anda até seu computador. Ele vive sozinho em sua casa. Não sabe muito sobre si mesmo, o próprio autor não sabe muito sobre ele. Ao sentar-se no computador, não sabe bem o que fazer. 

A verdade é que não havia história nenhuma para ele. Ninguém para salvar, nenhum inimigo para combater, nem lá fora, nem dentro de si mesmo. Esse pensamento não desespera o protagonista, porém: ele enxerga seu papel nesse mundo. Ele sabe que essa história não é o destino, e sim a jornada. Ele sabe que terá que passar por coisas terríveis para que estas sejam usadas como metáforas, que terá que usar todo tipo de artifício para manter sua mente no lugar. Mas nosso protagonista é forte e um homem ciente de sua importância: nunca trocaria seu lugar nessa história por uma história romântica, ou de aventura. Sabe, inclusive, que não teria como: ele é uma ferramenta específica, para algo específico. 

Ele olha a tela apagada de seu computador. No seu vidro escuro, vê seu reflexo e, pela primeira vez, percebe que não tem um. É um formato em branco, vagamente masculino.

O protagonista, notando que estava se tornando muito virtuoso e se afastando de seu propósito inicial como catalisador de questionamentos usa seu computador para hackear a própria imagem e tornar-se, de novo, um homem sem rosto, sem forma, sem história.

Eu, como autor, só posso lhes pedir educadamente que não se apeguem ao protagonista. A verdade é que essa história é mais de vocês do que minha.

REALIDADE É PERCEPÇÃO.

Em momento algum eu descrevi o protagonista. Mas, se ao olhar para essas linhas de texto, seu cérebro achar que nelas estão a descrição dele, você a lerá, e irá crer piamente nisso. Se outra pessoa vier e concordar contigo, isso passa a ser realidade para vocês. 

Só percebemos o mundo através de nossos sentidos. Não podemos provar que algo é real ou não. 

REALIDADE É CONSENSO

Se todas as pessoas, eventualmente, acreditarem que a água de nossos mares é amarela e nosso céu de um tom rosa-grená, isso será realidade. As cores, os aromas, tudo é questão de percepção e consenso. Não percebam o protagonista de forma alguma. Se perceberem, não contem para ninguém. Se vocês entrarem em consenso, a aparência do protagonista vira realidade, ele perde sua função e eu perco o controle de meu próprio texto. Inclusive, não irei informar o telefone do protagonista, com medo de que alguém ligue para ele e acabe por descobrir mais coisas que deviam. 

REALIDADE É INDEPENDENTE DO INDIVÍDUO

Vamos criar outro protagonista, que só existirá por hora. Esse protagonista é mais comum. Seu nome é Brad, ele tem uma altura mediana e uma aparência relativamente boa. Brad está em idade colegial, e muitas garotas do colégio querem ficar com ele. Por que? Ora bolas, porquê! Porque o Brad é um "pegador", um galanteador, como o personagem de Tirso de Molina(um protagonista tão cheio de si que teve seu nome transformado em arquétipo, "Don Juan"). Mas de onde tiravam essa informação? Ela corria no ar. Ninguém sabia apontar uma garota com quem Brad havia ficado, mas ainda assim ele havia ficado com várias.
Mesmo que todas as garotas concordem que ele não havia ficado com ninguém.
Mesmo que nenhuma tenha ficado com ele.
Brad ficou com muitas garotas. A realidade independe do pensamento individual. Ela depende do pensamento coletivo.
Se todos pensarem que Brad ficou com muitas garotas, ele ficou.
Se todos acreditarem que o passado aconteceu de tal forma, ele aconteceu.
Até desmentirem que Pedro Álvares Cabral havia descoberto o Brasil por erro(quando na verdade apenas veio reclamar terras já conhecidas e divididas por Portugal), ele de fato havia feito isso. Na vida das pessoas, em suas mentes, aquilo era realidade.
Brad morre com um tiro na nuca e é apagado dessa história

Não imaginem o protagonista. Não tomem a minha ferramenta de mim e mudem sua função.

Se você pegar uma chave de fenda e cortar sua ponta, ela não tem mais sentido, ao menos não seu sentido original.

Se você pegar um personagem feito para ser odiado pelo público e tira suas características odiáveis, ele não tem mais sentido, ao menos não seu sentido original.

Mas uma chave de fenda com sua ponta cortada pode ser um estilete(a arma branca), e o personagem pode ser usado de outra forma também.

 

Uma pessoa aparece à distância. Coberta por um véu de mistério, ela me entrega uma capa nova para a história. 

A beleza da capa pula aos olhos.

Beleza demais.

Eu a coloco pequena no canto da capa atual.

Essa pessoa não conhece o protagonista. Essa pessoa pediu para entrar nesse mundo, e aqui ela está.

Lembrem-se de Jamal: Essa personagem será importante mais pra frente.

Eu sou o protagonista.

O protagonista é só um coadjuvante com muito tempo de cena.

 


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Notas finais do capítulo

Confie no autor. Confie no protagonista.



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