Sanatório para crianças especiais escrita por Buraco


Capítulo 4
Papel amassado




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No outro dia, levantei da cama me arrastando, sentia os olhos pesando por causa da noite mal dormida.

Eu sabia muito bem que Tobby estava mentindo para mim, mudando de assunto e tentando falar pouco, sobre um assunto tão sério! Por que ele iria esconder a conversa entre ele e o Francis?

Ficar pensando nisso a noite inteira certamente não foi uma boa ideia, e em consequência disso o sono diminuía meu raciocínio fazendo meus sentimentos se tornarem instáveis.

Encarei meu irmão por alguns segundos, ele parecia um anjo dormindo. Pensar sobre isso me fez sorrir, pelo menos eu tinha um porto seguro quando minha cabeça começava a dar muitas voltas fantasiosas.

Caminhei lentamente para a passei água pelo rosto, sorri para a parede de concreto pensando ser um novo dia, com certeza algo de bom aconteceria.

Sem esperar que Lysandre acordasse, saí do quarto e vi Luana toda de preto usando uma capa escura, o que era bem estranho já que suas vestimentas eram sempre alegres e vibrantes, mas agora ela parecia um comensal da morte.

Com desconfiança, ela olhou em volta certificando-se que não havia mais ninguém e antes que me percebesse espiando, desapareci de sua visão.

Quando tive coragem, olhei novamente e vi que agora uma segunda pessoa se encontrava com minha amiga. Essa pessoa usava as mesmas roupas, mas com o capuz escondendo seu rosto.

Eles conversavam tão baixo, quase sussurrando, deixando a minha pessoa cada vez mais curiosa não me contentando apenas com gestos apressados e rápidas olhadas a sua volta, como se achassem que estavam sendo perseguidos.

Até que tudo cessou, a loira colocou seu capuz e saiu rapidamente com o acompanhante. Os segui por um longo caminho, com a caminhada tão longa que não parecia mais que estávamos no acampamento.

Quando finalmente chegamos, os dois pararam na última de várias casas abandonadas. Era uma estrutura acabada e caindo aos pedaços, de longe já era visível o enorme buraco na parede mostrando boa parte do que estava dentro, a parede que um dia fora pintada, agora descascava arruinando ainda mais a imagem, o teto por sua vez já havia cedido a aparentemente muito tempo. Entretanto, alguns pedaços insistiam em continuar pendendo ameaçando cair. A porta e as janelas então? Nem estavam mais lá, tudo que restara fora pedaços irregulares.

Sem demorarem, eles entraram com passos apressados e eu infelizmente não consegui acompanhar, pois quando entrei não havia ninguém, era como se os dois desaparecessem de repente.

O interior não era mais animador, apenas um espaço com o chão feito por madeira apodrecida e quebrada, as paredes um pouco mais preservadas pelo lado de dentro mas ainda com aparente mostra de concreto se desfazendo, transmitiam uma sensação inexplicável, como se me dissessem “Oi, eu estou te vendo e ouvido, cada passo seu é registrado, até essa tua grande espinha escondida perto da orelha”. O teto, mais amedrontador quando analisado de perto, fazia as madeiras suspensas no ar parecerem espadas prontas para cair no infeliz que passasse embaixo. A junção da iluminação forte e o meu movimento pelo local que levantara poeira resultara em um ambiente com uma aparência mística.

Porém, ao caminhar pelo piso que rangia a cada passo, notei um lugar iluminado com mais intensidade, ao analisar mais, percebi que do outro lado havia um espelho empoeirado e quieto, com presença tímida, como se não quisesse ser notado. Ao me dirigir a ele, notei estar reclinado sobre o piso e a parede, com um pequeno pedaço quebrado que deixava a luz passar, mas em de ser barrada pelo concreto, não foi.

Movi com certa dificuldade o pesado espelho jogando-o para o lado com força, gerando um barulho estrondoso e estilhaçando em pedaços de minúsculos, até tão grandes quanto minha mão.

Com medo que alguém ouvisse o resultado de minha ação imprudente, esperei o tempo passar como alguém espera o golpe de uma espada no pescoço, encolhida de joelhos, com os olhos fechados com força e os dentes chocando-se um contra o outro.

Após verificar que nada acontecera e ninguém se aproximara, comecei a olhar o local antes oculto, um buraco. Seu formato era de um quadrado primitivo, irregular de mais ou menos meio metro que dava espaço para um corredor mal iluminado e aparentemente sem fim. Encarei o vazio daquele caminho por alguns segundos, hesitante em relação a como proceder, continuar ou não a jornada.

De fundo, uma música barulhenta chamava todos para a ginástica semanal, um evento onde todos se matavam para tocar os pés sem dobrar os joelhos, batiam uns nos outros ao esticar os braços ou fazer polichinelos. Olhando de longe, aqueles exercícios feitos pelas crianças, eram no mínimo, totalmente ridículos. Afinal, nada melhor do que uma multidão em um ginásio abafado suando feito porco com alguns fedelhos resolvendo aplicar travessuras aqui ou ali.

Quem não iria querer?

Ignorando o som estridente, tateei o túnel e encontrei um papel amassado ao acaso.

Assim que o agarrei, ouvi passos se aproximando e com total desespero cobri a entrada com um pedaço de madeira e saí correndo tomando o máximo de cuidado para não ser vista.

Quando cheguei no dormitório, a porta estava escancarada causando em mim um rápido sentimento de medo que percorreu todo meu corpo e me fez parar, apenas olhando o cenário, com receio demais para querer descobrir a cena do grande teatro em que vivíamos todos os dias.

Caminhei para dentro em passos lentos, sentindo o vento passar por mim como se me empurrasse para dentro com urgência, a música que antes estava tocando fora substituída por um discurso robótico de incentivo dito por algum mal-amado que era tão infeliz que pronunciava cada palavra com grande desgosto que chegava a provocar a emoção contrária a esperada.

Ao atravessar a porta eu vi... Algo tão indescritível que é impossível ser dito neste capítulo pois precisarei me recompor para continuar. Então lamento informar que terá de ficar para o próximo. Onde os insanos enfermos terão de sobreviver, mas será um dia de luta, ou de morte?


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