Sanatório para crianças especiais escrita por Buraco


Capítulo 5
Emoções




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Olhei para o sangue espirrado aos montes pelas paredes, todos os poucos móveis que possuíamos estavam ensanguentados, embora que em quantidades diferentes.

Com pesar, dirigi meu olhar para a cama, a origem de tanto sangue, estava deitado com seus membros dilacerados sobre os lençóis em que eu dormia, cada centímetro do pano branco agora tornara-se vermelho ardente.

Quem estava ali era um garoto de 17 anos, pelo que me lembro se chamava Brian e iria fazer aniversário naquele mesmo mês. Não éramos muito chegados, obviamente, mas eu já o vira várias vezes passando por mim ou esbanjando alegria por aí... E lembrar disso me fez triste, ver o fim de sua vida executado de forma tão bruta, é no mínimo aterrorizante.

Para poupa-los de uma descrição bastante incomoda, vou apenas dizer que ele era um jovem com abundante beleza se é que me entendem.

Após alguns minutos tomada pela emoção, voltei a raciocinar e fechei a porta rapidamente. Sem escolha, eu teria que limpar a cena do crime, querendo ou não.

E arregaçando as mangas de meu macacão –O único modelo de roupa que eu tinha, me pus a lavar cada centímetro do quarto, pois caso descobrissem o que fora feito no quarto iriam culpar-me sem sobra de dúvida.

Quando acabei, já era hora do almoço, horário que foi anunciado por um estridente som, que por consequência deu origem a um terremoto de passos correndo em direção a uma estrutura grande e fechada chamada de refeitório.

Olhando a manada de crianças e adolescentes, me permiti refletir sobre o comportamento deles e o controle que Francis exerce sobre os mesmos.

Como conseguiam controla-los? Sinceramente, eles eram tratados como animais e pareciam felizes por isso! Era algo que eu simplesmente não entendia.

Foi então que lembrei do papel amassado que estava deixado em cima da cama do Lysandre. Assim, peguei-o e abri lendo a seguinte equação que estava imprimida e em letras escuras:

Emoções geram rebelião

Aquilo me fez refletir, eu encarava o objeto como se fosse um enigma que necessitava ser decifrado. Eu queria ansiosamente entender por que as emoções geram rebelião, e ainda mais por que algo assim estava escrito em um papel em uma casa abandonada.

Meus pensamentos foram interrompidos pelo meu irmão que entrou subitamente no quarto me fazendo cair para trás de susto e bater a cabeça brutalmente no chão que gerou em mim um grito de dor.

—Andy! Você está bem? –Apressou-se segurando meu corpo com seu olhar preocupado pressionando meu corpo com força.

—Criatura, bate na porta antes de entrar, eu quase enfartei por sua causa –Falei fingindo estar brava (porque não é possível ficar brava com uma fofura daquelas) e dei um tapa com a mão virada para frente na testa dele o jogando para trás de leve.

Demorou mais um tempo para que nossa comida chegasse, e ela estava mais gordurosa e podre que o normal. Já estava decidido, eu definitivamente não comeria aquilo nem morta.

Mas como todo mundo sabe, opiniões mudam, e a minha mudou quando o braço direito de Francis, sr. Jones, chegou para inspecionar nosso quarto e verificar que estávamos comendo.

Esse cara era um homem mal, pequenino e carrancudo com as costas sempre arqueadas e as mãos preparadas para agarrar você e te pôr no triturador do seu quarto –E isso era um boato, ninguém sabe se ele realmente tinha. Seus cabelos grisalhos e curtos tentavam imitar um corte militar, talvez para continuar se sentindo jovem, o que era uma péssima ideia. Sua pele, cheia de rugas tão velhas que parecia haver pó entre elas, mas os olhos castanhos de puro ódio e sorriso maldoso e sádico compensavam na aparência.

Após revirar todo o quarto sem nenhuma delicadeza, ele parou diante da porta encarando nossos rostos com evidente repudio esperando que comêssemos logo. Esse tipo de atitude só poderia significar duas coisas: A primeira seria que ele estava se deliciando com nossas caras de nojo que surgia a cada nova colherada que fazia vômito subir pela garganta constantemente, ou havia algo naquela massa verde, gosmenta e borbulhante que estava pronta para nos envenenar e eles queriam se certificar que estávamos caindo direitinho na armadilha.

Assim que acabei, nunca senti meu estômago tão revirado na vida, parecia que aquela comida estava se transformando em uma bomba que iria me explodir de dentro para fora a qualquer instante. Estava louca para vomitar mas sabia que não poderia, já que aqueles olhos estavam tão fixos aos meus que parecia que a qualquer sinal de regurgitação eu estaria degolada.

Está bem, vamos pular a parte nojenta e passar algumas horas e parar perto da hora do jantar.

Eu e meu irmão vagávamos pelas colinas sem muita vontade de andar, então parecíamos dois bêbados voltando para a casa de madrugada após muitas garrafas esvaziadas. Digo isso pois já vi com meus próprios olhos alguns passando perto da cerca que nos separa de um outro mundo estranho.

Eles gritavam, riam, cambaleavam e as vezes até caiam para se levantar de modo desajeitado logo em seguida. Devo admitir que era uma cena engraçada de se ver, e não foi algo de apenas uma vez, e sim muitas.

Como estávamos sem rumo, chegamos sem querer ao conjunto de casas que encontrei anteriormente. Como esperado, o lugar se encontrava totalmente deserto, mas havia algo a mais, que não pude enxergar naquele momento.

Sem mais nem menos voltamos para o dormitório conversando animadamente para enfim acabar o dia.

Como devo descrever o dia de hoje? Talvez com o adjetivo loucura. Sim, loucura.

Começando com uma perseguição básica, encontrei-me diante de uma situação a ser investigada, depois sofri uma quase incriminação que apaguei com sucesso –Será que deveria dizer a alguém? -, para em seguida consumir uma intoxicação alimentar gratuita por livre e espontânea pressão e assim passar o dia entorpecida sem me recordar muito do que fiz e falei.

Não me recordo se falei com alguém ou não nesse dia, espero que não ou parecerei uma lunática... Mais do que já sou está bem?

Amanhã tentarei organizar minha mente confusa e pautar tudo o que precisa ser dito, para quem eu ainda não sei.


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