Lylia achava insuportável o silêncio de Reiji.

Mas o que podia fazer senão esperar por uma ação de sua parte?

Só esperar...

Por que não sabia o que faria se ele não agisse. Nunca soube o que fazer em um relacionamento já que sempre viveu para o balé.

Era mais bailarina que pessoa pois assim foi criada.

Se nada acontecesse, pediria ajuda a Lúcia ou Yui, alguma coisa elas deviam saber sobre garotos já que iriam se casar naquele mesmo dia.

E como seria se Reiji sentisse algo por ela? Como seria ter alguém ao seu lado já que sempre viveu sozinha, até quando morava com a mãe tão distante?

Ela lamentava estar tão no escuro, às vezes sentia que sua vida era apenas um céu negro e sem graça, sem estrela nenhuma, só uma ou outra tarefa rotineira em volta e o balé no centro, sem muitas emoções ou perigos.

Mas parar na grande e cheia mansão Sakamaki acabou sendo um pequeno brilho na sua existência tão sem cores.

E encontrar Reiji, nem se fala.

***

Estava ensaiando uma de suas coreografias.

Era péssimo ensaiar sem um par mas com seu parceiro doente teria que improvisar.

Deu um giro para trás com a perna levantada mas quase se desequilibrou, visto que precisava de apoio para terminar o passo.

—Droga!

—Isso não foi muito harmonioso no final.

—Eu sei, mas esses passos em eespecífico são para ser segurada. É difícil treinar sem parceiro.

—É tão importante assim?

—É para a audição de uma peça musical. Se eu for bem, talvez ganhe o papel principal.

—Então vou te ajudar.

—Tem certeza?

—Só preciso segurá-la não é?

—Sim, eu farei o mais difícil.

—Espero que dê tudo de si, você é uma noiva e deve sempre ser a melhor.

—Se eu não fosse a melhor, não estaria aqui!

Reiji sorriu, satisfeito com a sua dedicação e busca pela sonhada perfeição.

Ele se identificava com sua sede de vitória, mesmo que fosse para uma mãe morta. Ele não fazia o mesmo a anos?

E então a ajudou.

Amarrada, tão consumida por toda essa dor

Se você me perguntar, não sei por onde começar

Raiva, amor, confusão

Estradas que levam a nenhum lugar

Eu sei que existe algum lugar melhor

Porque você sempre me leva 

Ela deu um giro triplo e Reiji a segurou.

Envolvida pela música e pela dança, fechou ou olhos.

Vou até você com a fé esmaecida

Me dê mais do que uma mão para segurar

Me pegue antes que atinja o chão

Diga que estou segura, você me tem agora

Ela saltou e Reiji a ergueu para o alto.

Você vai assumir o volante se eu perder o controle?

Se estiver deitada aqui você vai me levar para casa?

Você poderia cuidar de uma alma quebrada?

Você vai me abraçar agora?

Oh, você vai me levar para casa?

Oh, você vai me levar para casa?

Oh, você vai me levar para casa?

Oh, você vai me levar para casa?

Oh, você vai me levar para casa?

E finalizou com um novo giro, parando em uma reverência com o pé direito dobrado, bem perto do rosto de Reiji.

Ficaram alguns segundos assim, até Reiji desviar os olhos e se afastar.

E Lylia, claro, ficou frustrada.

Uma hora mais tarde, Lúcia perdeu a paciência ao ver que os dois evitavam se olhar e chamou sua irmã em um canto quando Reiji saiu junto com os meninos para resolver um assunto de Karlheinz, e decidiram ir logo para não terem problemas na hora do casamento de Ayato e Laito com Yui e Lúcia.

—Yui, vou precisar da sua ajuda para desenrolar logo esse carretel embolado. Por que se depender desses dois nada acontece.

—O que você está pensando?

—Em um truque simples, mas é bem eficaz.

Explicou tudo para Yui.

—Acha que vai dar certo?

—Não custa tentar.

Yui concordou e até riu.

—Vai ser engraçado.

—Vai. Se prepare Yui, amanhã é o dia!