Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 36
Nessa data querida




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Terça, 05 de junho.

A primeira coisa que notou foi que todo seu corpo doía - muito. Recuperou a consciência e já gostaria de apagar novamente pela intensidade do incômodo em seu peito. Que merda de dor era aquela? O que acontecera mesmo antes de fechar os olhos? Sua última memória eram os cabelos loiros de sua mãe, o que não fazia o menor sentido, ele estava com Ginevra-

Não, tinha acordado com o barulho de uma bomba, e a ruiva não estava mais lá. E então Narcisa estava ao seu lado, e talvez nunca tivesse sangrado tanto na vida - era sangue pra caralho que saía por aqueles cortes, e pelo choro que ouvia, parecia estar perdendo o suficiente para nunca mais acordar. Então como estava consciente? E quem mesmo havia lançado aquele feitiço?

"O quão fodido eu estou?" a voz saiu rouca, Draco reconhecendo que não fazia ideia de que lugar era aquele ao abrir os olhos.

"Você ganhou um par de cicatrizes." Severo?

Sim, ele lembrava de Severo: Snape estava atrasado. Snape estava atrasado tanto quanto ele naquela maldita noite - não fora naquela sala, vazia a não ser pelo sonserino, que ganhara os novos machucados. Olhou para o peito envolto em ataduras e notou um vermelho que insistia em aparecer. Sangue.

"Vai demorar semanas até os cortes fecharem, garoto. Vai ter que descansar." Com prazer, se a dor passasse e o deixasse voltar a dormir. "Tem um estoque de poções para isso no armário do banheiro."

"Saia da minha cabeça, Severo." Fez a primeira tentativa de se levantar, sem sucesso. Cacete de dor.

"Qual é a última coisa de que se lembra?"

"Você!" o grito vinha do bruxo de óculos, que já sacava a varinha no meio daquele caos. "Você o matou!"

Precisava sair dali. Precisava sair dali agora.

"Notícias se espalham rápido, Potter." Quase se esquecera da impossibilidade de aparatar naquele colégio - merda. "Accio Nimbus!"

"Septumsempra!"

"Potter filho de uma puta." Tentou se levantar mais uma vez, tarefa quase impossível com a dor. O bruxo havia soltado aquele maldito feitiço, mas por que diabos ele não conseguiu se defender? Tinha que admitir que Potter era bom, no entanto não tão bom quanto ele - não em duelos, definitivamente: Draco cresceu aprendendo a duelar. O que tirara então tanto seu foco? "Eu o matei, não matei?" Era um bom motivo para toda aquela desatenção.

"Expelliarmus!" Ainda estava ofegante da corrida até o topo da torre de astronomia quando lançou o feitiço que desarmara o diretor. Não era aquele o combinado, não era ele quem deveria estar fazendo aquilo, mas - "Quem mais está aqui?"

"É a pergunta que te faço, garoto. Quem mais está aqui?" Mas Severo não estava em lugar nenhum.

Porra.

"Eu não sei onde está Snape." E ele desesperadamente precisava achar aquele bruxo, porque não conseguiria executar a tarefa que deveria ser sua - porque não queria. Então sim, não iria conseguir justamente por não querer - como se convencer de querer matar aquele homem em cinco minutos? Como querer lançar a maldição da morte?

"Quem vai fazer isso é Severo." Que deveria estar ali, mas não estava. "Está me escutando, Draco? Você não é um assassino."

Sabia que não era.

Até a hora que precisaria ser.

"Nós não temos mais tempo." E chegou até mesmo a levantar a varinha, pouco antes de perceber que não eram apenas os dois naquela sala.

"Ginevra não vai amar um assassino, Malfoy!"

"Eu matei Dumbledore." E aquele maldito bruxo estava lá, e viu. E agora ela sabia, a ruiva sabia - ele havia a visto no meio daquela bagunça? Onde a grifinória estava?

A negação do professor o surpreendeu.

"Não, quem o matou fui eu. Era o combinado, garoto."

"O que está acontecendo aqui?" Era quase engraçada a expressão de Snape ao encontrar os três bruxos parados naquele espaço - era quase engraçado ele querer gargalhar com aquilo. "Malfoy, você tinha uma tarefa." escutou quando o moreno notou a varinha no chão. "Apenas uma. Estupefaça!" E Potter caiu. "Maldito seja esse bruxo! Tire-o daqui!"

"Eles estão chegando, Severo." Era o diretor que falava, enquanto mais passos começavam a ser ouvidos."Eles não podem saber que foi você."

"Saia logo daqui, garoto!" Inferno, pensava enquanto convocava sua vassoura.

Ainda conseguiu ver o jato de luz verde, segundos antes de sair pela janela, segundos depois o grupo de comensais pisando torre adentro.

Os seguidores gritavam seu nome junto do daquele bruxo doente enquanto duelavam com os professores e bruxos da Ordem que surgiam, lembrava disso agora. Por um momento respirou aliviado: ele não era um assassino, ainda.

Mas Ginevra não deveria saber do fato - não, deveria ter a mesma informação que todos tinham: Draco Malfoy, maldito homicida, comensal sanguinário, sicário de merda. Provavelmente o odiava ainda mais agora - ainda mais após aquele último encontro -, mas ao menos aquele era o esperado desde sua entrada na Ordem: seria o culpado pela morte do velho bruxo, e ninguém descobriria a mentira até a maldita guerra acabar. A ruiva não saberia que ele não era o assassino de uma das esperanças da resistência até tudo aquilo ter fim.

Mas um dia, ela saberia. E ele faria de tudo para continuar vivo até o maldito dia chegar - até porque sabia que a ruiva estaria segura.

"Narcisa fez a maioria dos arranjos para esconder você. Zabini também foi de grande ajuda." escutou o professor dizer enquanto tentava sem muito sucesso se levantar da cama pela terceira vez - a porra do seu peito parecia que rasgaria com todo movimento que executava.

Mal registrou a palavra usada: esconder? Esconde-lo de quem, da Ordem?

"Meus pais, onde eles estão?" Não conseguia se lembrar do quarto onde estava, muito menos lhe era familiar a paisagem janela afora. Era o barulho do mar que conseguia ouvir?

"Sua mãe não se lembra de nada." Como? "Diferente do amiguinho grifinório da Weasley, eu tenho anos de prática em obliviar pessoas." Maldição, do que mais Snape tinha conhecimento? "Apenas eu e Zabini sabemos da sua localização, e isso vai continuar assim até que eu diga o contrário, entendeu?" As informações ainda não faziam o menor sentido. "Era apenas uma tarefa."

Esconder. Narcisa e Blaise o ajudaram a se esconder.

"Você só precisava abrir o armário."

"Eu sou um fugitivo, Severo?" Impossível. Realmente não fazia sentido, porque aquilo, definitivamente, não era o combinado.

"Você é um traidor, garoto. Não lembra a merda que fez?"

Agradeceu ao achar Creevey junto de Zabini no meio dos jardins, largando tanto o bruxo quanto a vassoura com eles. Ginevra, onde ela estava? Os alunos permaneciam quase todos na parte de fora do castelo, mas seus olhos não conseguiam achar quem tanto ansiava em nenhum lugar.

"Também estamos procurando a ruiva, Malfoy." Blaise respondeu, provando o quanto o conhecia enquanto o outro bruxo começava a acordar o grifinório.

Então escutou um grito - e mesmo no meio de tantos, nunca que deixaria de reconhecer justo aquela voz - e começou a correr antes mesmo de se dar conta do que fazia. Como conseguiu escutar, estando tão longe? Corria e corria e nunca chegava no maldito local!

O quão perigoso seria gritar o nome dela?

O quanto se arrependeria se não gritasse?

Mais alguns segundos e descobriu qual era a localização da voz, que parecia estar a cada segundo mais fraca. Entrava na estufa já com a varinha em punho, pronto para estuporar quem quer que estivesse a fazendo gritar, mas não foi um jato vermelho que acabou atingindo aquele bruxo no peito.

Vermelho eram os cabelos bagunçados que tocavam o chão, o rosto manchado de sangue, as mãos abertas, os olhos chorosos, vermelha era aquela maldita unha que parecia estar faltando. Vermelho era tudo que via, apesar da luz verde que iluminava o lugar por poucos segundos, fazendo Flint cair sem vida ao lado da bruxa.

Finalmente entendia o que era querer lançar aquela maldição.

"Merda."

No instante seguinte estava ao lado de Ginevra, a pegando nos braços para tira-la de perto daquilo. Não havia acontecido nada, nada além do que via, ele se certificava examinando os machucados daquele corpo, verificando o estado da roupa. Hematomas em um dos ombros, e o sangue parecia vir do braço contrário. Uma alça do vestido estava rasgada, e eram três unhas que pareciam ter sido arrancadas por acidente, mas ele conseguiria curar aquilo, sem dúvida. Ela conseguiria se curar daquilo, com certeza.

"Gin, está tudo bem." Mas outra vez a bruxa parecia estar em choque. Ela tremia por causa do nervosismo ou por medo de quem a tinha nos braços? Ele mesmo começara a tremer, tentando não se deixar consumir pela ansiedade antes de resolver tudo aquilo, antes de tira-la do meio daquele ataque. "Ele nunca mais vai te machucar. Você vai ficar bem, Gin."

Fechou os olhos por um momento: precisava leva-la até alguém da Ordem. Todos sabiam quem o sonserino era, quem a ruiva era, e leva-la consigo passava longe de ser uma sábia escolha.

Nem mesmo considerou o que as pessoas pensariam, apenas saiu do local com a bruxa no colo, enquanto procurava algum rosto seguro, algum bruxo com quem pudesse deixar a ruiva e ir embora - pois ficar com ele não era, definitivamente, seguro, assim como abandona-la sozinha ao lado de um comensal morto.

A sangue-ruim teria que servir.

"Granger!" Já corria em direção a filha de trouxas, a bruxa olhando de uma forma nada receptiva, quando viu os olhos da ruiva fecharem e sentiu o corpo amolecer em seus braços.

"Você-"

"Ela está sangrando." Se abaixou, percebendo só naquele momento o braço úmido de Ginevra - era uma quantidade muito maior do que estava esperando, via pelas sua camisa já vermelha. Merda, como não havia reparado nisso antes? "Tira ela daqui, Granger!"

Ele era sim um assassino.

"Puta que pariu." xingou ao enfim achar o mar janela afora. "E Ginevra?" Snape deveria ter ao menos alguma informação.

"Está viva, pelo que sei. Um corte no braço não mata ninguém, como você já deve saber." Grande informação. "Incrível descobrir ser um traidor e sua primeira preocupação ainda ser a garota Weasley." Incrível que sua primeira preocupação ainda seja uma mulher morta, pensou em responder - e por sorte se conteve a tempo.

"Ela deve me odiar." Voltou para a cama com um sentimento de derrota.

"Eu não tenho mais contato com esse lado da guerra, garoto. E você não pode mais ter contato com nenhum, sabe disso, não sabe?" Estava prestes a protestar quando Severo continuou. "Avery te viu matando Marcos Flint." Enfim veio a acusação.

"O filho da puta iria-"

"Comensais não matam comensais a não ser que seja uma ordem direta Dele." A voz que o interrompeu falava num tom irritado. "E então te viram levando Potter numa maldita vassoura-"

"Você mandou eu fazer isso-"

"E ajudando a traidora de sangue-"

"Eu não iria deixa-la ali, Severo!" enfim explodiu - maldição, até mesmo gritar doía. "O propósito de me enfiar no meio dessa merda toda sempre foi poder acabar vivo e com ela ao menos viva."

Viu Snape pinçar a base do nariz, provavelmente tentando arranjar paciência para não lhe causar um dano ainda maior - ele mesmo estava tentando manter a pouca que lhe restava.

"Estamos na Itália." o ex-professor começou depois de um tempo, tirando alguns papéis de dentro da capa e entregando para Draco. "Ilha de Elba."

"Não temos nenhuma propriedade na Ilha de Elba."

"Exatamente." O que era aquilo? Não era algo bruxo aquele papel que lhe era entregue, e seu nome- "Agora você tem, Lucius Onorato."

Em todo aquele tempo, estar distante de tudo aquilo era uma das coisas que mais desejava.

"Você vai viver como trouxa aqui até o dia que puder mostrar sua cara outra vez."

Realmente desejava.

"Aqui estão seus documentos, e os documentos da sua propriedade."

Realmente achava que desejava.

"E Zabini virá alguma hora para explicar sobre seu dinheiro."

Até estar totalmente distante.

"Feliz aniversário, você acabou de conseguir seu passe para fora dessa merda toda."

E totalmente longe de todo seu maldito vermelho.

...

Sábado, 11 de agosto.

Tanto junho quanto julho passaram de forma dolorosamente lenta. Suas unhas já haviam crescido novamente, mas o corte no braço direito deixara uma cicatriz que a lembraria eternamente daquele momento. Dos sonserinos. Não precisaria mais se preocupar agora com Marcos Flint, sem dúvida - seu desassossego era exclusivo para um bruxo apenas.

Ele era um assassino. Ela também teria se tornado uma, caso não houvesse escolha, caso estivesse naquela situação? Caso fosse o bruxo que estivesse sendo assim machucado, prestes a-

Mas então, não fora apenas Flint morto pelo sonserino naquela noite.

Respirou, servindo-se mais uma vez de café - maldição, não deveria beber café.

"Você tomando isso?" comentou Guilherme, ele mesmo se servindo de mais uma xícara. "Desde quando a pequena Gina gosta de café?"

Desde que o cheiro a fazia lembrar dele, seu cérebro respondeu automaticamente.

"Acho que cresci." tentou responder num tom despreocupado enquanto tomava o primeiro gole, mais uma vez tentando inutilmente esvaziar sua cabeça - como as pessoas que meditavam faziam aquilo parecer tão fácil?

"Cresceu mesmo, minha irmãzinha já tem dezesseis anos!" seu irmão respondeu, a puxando para um abraço carinhoso enquanto colocava um pequeno embrulho na sua frente. "Feliz aniversário, Gin."

Fechou os olhos, se afundando no abraço do ruivo mais velho. Dezesseis anos, era velha o suficiente, não era? Estava quase certa de que teria que ser. Por um momento considerou contar tudo o que guardava no peito para Guilherme - ele poderia entender, poderia até mesmo aconselha-la, não? Aconselha-la a lidar com aquele sentimento que a estava matando por dentro, com aquele maldito amor que nem sabia como tinha ainda, mas tinha, por um bruxo sonserino-

Não. Draco Malfoy não era mais apenas um sonserino, ou apenas um comensal. Não era mais tão simples, como fazia parecer em seus pensamentos naquele primeiro semestre, quando nem mesmo se lembrava da marca, quando apenas estava beijando aqueles malditos lábios enquanto as mãos frias acariciavam seu rosto com quase adoração.

Sabia que nenhum de sua família receberia bem qualquer coisa referente ao assassino de Alvo Dumbledore.

Ele teria se transformado num assassino caso ela tivesse ficado? Caso não tivesse, no instante seguinte ao bruxo adormecer, pego todas suas roupas e partido? Aquilo era premeditado, teria acontecido com ou sem ela ao seu lado naquela noite?

Por que havia partido?

Daria tudo para mudar aquela última ação e ter permanecido deitada no chão frio contra o corpo quente, mas estava tão confusa, tão sem saber o que pensar. Ao ver os olhos fechados, a expressão tão relaxada outra vez vestindo o rosto pontudo, ao saber depois daquilo que amava desesperadamente um dos responsáveis por apagar sua memória, um comensal, só queria ir para um canto e desabar - não conseguiria, não queria, chorar na frente dele.

"Obrigada, Gui." agradeceu ao ver os quadrados de chocolate que tanto gostava - talvez não fosse tão difícil comer aquilo, como estava sendo com todas as outras comidas. Afinal, ele não lhe dava quadradinhos de chocolate, mas sim sempre aparecia com uma pena de algodão-doce. Quadradinhos de chocolate não a deixariam enjoada, definitivamente.

Já conseguia sentir uma lágrima ao sair pela porta da cozinha.

Que ótimo aniversário. Só que não.

...

Quadradinhos de chocolate a deixariam tão nauseada quanto todas as outras coisas, descobriu mais para o fim do dia, após todos cantarem parabéns - o bolo de baunilha também não caía muito bem. Aquilo era gastrite nervosa, só podia ser, nunca tivera essas coisas e agora, justo agora, justo por ele-

Merlin, me faça parar de pensar. Se eu bater a cabeça até desmaiar consigo parar de pensar?

Bufou, não poderia fazer aquilo naquele segundo.

Encostou a cabeça na mesa, largando o garfo junto ao prato com ainda metade do doce. Estava tão exausta de tentar não analisar aquilo que já enxergava o casamento do irmão com outros olhos: não via a hora da festa começar, para toda a agitação distraí-la - contava as horas para a noiva chegar com os parentes e encher ainda mais a casa. Fleuma se tornara até mesmo suportável. Tudo que tirasse seu foco dos cabelos platinados se tornava suportável, até mesmo Hermione.

"Não gostou do bolo, querida?" escutou ao sentir uma mão em seu ombro esquerdo. Nem mesmo levantou a cabeça antes de murmurar um 'sem fome', e esperava que Molly fosse reagir igual aos outros e a deixar sozinha - mas então, Molly era sua mãe. "Você anda quieta, filha. O que está acontecendo com a minha pequena?"

Ginevra juntou toda a força que lhe restava para voltar a levantar a cabeça, seus olhos cansados indo para os preocupados da outra ruiva. Não conseguia pensar em uma resposta que não envolvesse ela cair em lágrimas no meio da festa improvisada pela família, e agradeceu momentaneamente pelas palavras a deixarem continuar com seu silêncio.

"Harry vai vir para cá em dois dias." Sim, a bruxa sabia - isso, fale de Harry, Harry era suportável. Até mesmo gostava dele, ainda. "Mas você não nutre mais nada por ele, estou certa?"

Como sempre.

"Mãe-" Por um segundo lembrou-se do beijo, que apenas confirmou o sentimento que agora havia pelo moreno - de apenas amizade. "É complicado." Foi o melhor que conseguiu falar.

A verdade era que complicado nem mesmo começava a explicar tudo aquilo. Sua mãe era a pessoa que talvez pudesse entender - depois de Gui, claro - e mesmo assim não tinham palavras ainda para tentar explicar aquela situação. Era ridículo, sim, mas a ruiva não fazia nem ideia de como começar - o que contar primeiro para não acabar com qualquer chance de entendimento já nas primeiras frases? Como contar que havia se apaixonado duas vezes por um comensal que pedira para apagar sua memória, matara Dumbledore e-

Respira.

"É o menino que te protegeu daquele monstro que te preocupa?" Como a bruxa mais velha conseguia ser tão certeira?

"Harry foi quem me ajudou, mãe." mentiu, esperando não precisar trazer a tona o assunto que tanto machucava. Mas era inútil, conseguia já ver a teimosia e insistência nos olhos da figura materna - tão como ela.

"Não foi o que Snape me contou." Snape. "Mas aquela cobra poderia estar mentindo novamente, não seria novidade."

O antigo professor de Poções era um traidor, e havia ajudado Draco Malfoy. Draco, o bruxo para quem Ginevra havia se entregado, uma vez pelo que recordava, inúmeras pelo que o loiro deixara escapar no momento. O bruxo que a protegeu naquele final, mesmo depois do que fez, fazendo outra vez, impedindo aquele monstro de-

Merlin, por que não conseguia deixar sua mente em silêncio por um minuto? Um minuto de paz seria o suficiente.

"Isso é uma coisa que eu não falo para muita gente, mas antes do seu pai, eu gostava de um outro garoto. Era um bruxo da Sonserina." Molly voltou a falar, fazendo-a enfim pensar se sua mãe estaria insinuando algo.

Mas a bruxa não sabia quem a salvara na batalha de junho, sabia? Ninguém sabia, fora sua dita amiga - última pessoa que o vira antes do loiro desaparecer no meio da batalha. Ninguém tinha ideia que fora aquele sonserino quem a salvara daquele maníaco - ela mesma demorou boas horas para lembrar de todos os fatos.

"Mãe, eu não-"

Não é tão simples, queria falar, realmente não era mais tão simples. Mas se manteve quieta, os olhos fixados nos restos do bolo, a mente longe. Não era algo tão simples quanto uma casa, então agora não era apenas fazer um moletom verde e torcer para que ninguém implicasse com o sobrenome Malfoy.

"Não me entenda errado, eu amo o seu pai, amo toda nossa família e não seria nada sem todos vocês. O que eu quero dizer é que independente da casa de seu pai, eu teria me casado com ele." Com um beijo na testa, a mulher deixou a bruxa mais nova continuar contemplando os restos da massa de baunilha que sobravam no prato de porcelana.

Realmente não era assim simples.

Quietude outra vez, mas não, sua maldita mente não conseguia ficar em silêncio e era quase enlouquecedor. Quando se tornara assim tão ansiosa, irritantemente inquieta? Lembrava-se de um moletom verde em algum lugar - nas suas coisas? Sua mãe havia feito? Sentia que em algum momento, quis muito entregar ao sonserino algo assim - era difícil definir aquela memória.

Era difícil também definir o amor que sabia que sentia pelo loiro, mais difícil ainda aceitar que, mesmo ele não sendo uma boa pessoa, o sentimento continuava e provavelmente continuaria existindo - ela poderia ser considerada uma pessoa ruim por nutrir algo por alguém assim? Deveria odiá-lo por quem ele matou? Era tão difícil! Draco havia mesmo feito aquilo? Ele teve coragem no final, porque não seria tarefa dele, não era-

Não era tarefa do rapaz matar o diretor, ela sabia disso.

Tarefa?

Merlin, como a bruxa tinha tanta certeza daquilo? Porque tinha - tinha certeza que não era ele quem executaria a tarefa.

"O que foi, bruxa?"

"Colin disse que você precisa matar uma pessoa." dizia preocupada, a cabeça se aconchegando mais na dobra do pescoço do sonserino - cheiro de grama.

"Eu preciso."

"Você vai?" Sorriu ao sentir os lábios em sua testa enquanto ouvia a negativa.

"Não, Gin. Você acredita em mim?"

Era uma tarefa ordenada por Ele?

"Weasley." A voz já impaciente que a fez dizer as primeiras palavras.

"Eu preciso da sua ajuda para ajudar alguém."

"Fale." Snape bufou. "Logo."

"Eu quero que o senhor ajude Draco Malfoy. Eu quero que você ofereça a chance dele entrar na Ordem."

Era uma tarefa ordenada por Voldemort, sim. Mas ele não iria cumpri-la. Ele não iria cumpri-la porque estava na Ordem?

Dane-se. De repente estava tão contente que conseguiria até mesmo sorrir se tentasse. Draco não teria mudado de ideia, teria? Ele não faria aquilo, lá no fundo sabia que ele não faria aquilo, ele não fez.

"Mãe?" chamou ao chegar ao lado da bruxa, que começava a organizar as louças na pia. "O que Snape falou?"

"Sobre o rapaz sonserino?" Molly perguntou, já levitando um prato limpo para um dos armários mais altos. "Ele me disse que havia um bruxo que daria a vida pela sua, pois você tinha salvo a dele." a bruxa terminou com uma ponta de orgulho na voz. "E por isso, estando você segura poderíamos confiar nele até o final. Quem sabe podemos falar sobre ele um dia desses."

"Um dia." respondeu, os lábios enfim subindo.

Passava um pouco da meia noite quanto retornou ao seu quarto, não sabia como tinha aguentado ficar acordada até aquela hora, tamanho era o sono que andava sentindo. Totalmente distraída, orgulhou-se por conter o grito ao abrir a porta e não achar seu quarto vazio, os olhos crescendo ao observar a figura loira parada ao lado de sua cama.

Fechou a porta, um aperto no coração, antes de tentar falar alguma coisa - mas o sonserino foi mais rápido.

"Ruiva."


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Notas finais do capítulo

Oi gents, é agora que a história muda por completo!
Quem estiver acompanhando e quiser comentar, fique a vontade! Queria saber mais a opinião de vcs, leitorinhos ;)

espero que tenham curtido!
beijão,
Ania.



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