Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 37
V-3


Notas iniciais do capítulo

Olha que rápida estou, 3 capítulos numa semana!
Mereço uns comentariozinhos, não mereço?

haha, espero que gostem do capítulo leitorinhos, e ótimo final de semana proceis ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/753004/chapter/37

Domingo, 12 de agosto.

"Ruiva."

"Blaise." Blaise Zabini, parado ao lado de sua cama, segurando um embrulho em uma das mãos.

"Ganhou uns quilinhos, ruiva?" O namorado de seu ex melhor amigo, o melhor amigo de seu antes namorado.

"Eu mal estou comendo, Zabini." E outra vez ele em seus pensamentos. Ele, a droga do dia inteiro na sua cabeça, aquelas malditas mãos, sua boca, os olhos irritantemente lindos, a voz, as poucas memórias, ele. Ele, que não era o assassino de Dumbledore, mas ainda era a pessoa responsável pelos danos causados em sua cabeça. Ele, o-

Deveria gritar?

"Por favor não grite." o bruxo pediu, como se conseguisse ler seus pensamentos. "Não, eu não consigo me enfiar na sua cabeça, mas sua cara é muito previsível para mim depois de todo o tempo que passei contigo."

"Nós passamos tempo juntos?" olhou um pouco desconfiada: não era como se ela exatamente lembrasse daquela cobra. "Pra mim, você é um babaca que de repente começou a sair com o meu dito melhor amigo e o afastou de mim - porque Colin estava estranho pra caramba com aquela cobra sonserina ao seu lado!" Por um momento, não deu a mínima para o volume que usava. "Não é como se você tivesse me deixado manter alguma memória de algum tempo bom contigo!"

"Não é como se eu tivesse escolhido fazer isso."

"Você disse para Colin fazer!" baixou o tom ao ouvir um ruído no quarto ao seu lado: a última coisa que precisava era ter um de seus irmãos entrando ali justo agora. "É a mesma coisa que ter feito."

"Eu teria usado outro feitiço, Ginevra." Aqueles olhos azuis realmente mostravam arrependimento. "Nunca teria usado um obliviate em você - por ele. Ele, que está destruído, ele, que fez a maior parte das coisas que fez por você. Ele, que te ama pra caralho." Outch. "Mas você sabe disso, não sabe? Lá no fundo, por mais que esteja com raiva, você sabe que Malfoy nunca ferraria assim com a sua memória - eu quem deveria ter feito, nem mesmo seu amigo pode ser considerado culpado. Então me culpe que eu mereço."

"Como está Colin?" tentou parecer desinteressada enquanto perguntava, sentando-se na beirada da cama.

"Com saudades de você." Não conseguiu conter aquele mínimo sorriso - maldição, também sentia falta daquele idiota, mesmo com toda a confusão que o idiota tenha feito. "Arrependido, como deve imaginar. Mandando uma coruja a cada dois dias, que andam voltando com a mesma carta da ida. Pensando em várias formas de te ajudar - o que me faz te dar seu primeiro presente, ruivinha. Feliz aniversário um poucoatrasado." O pacote continuava em uma das mãos do sonserino, mas um pequeno saco era tirado de um de seus bolsos e colocado ao alcance da bruxa.

Alcançou o suposto presente um pouco receosa, o loiro voltando a falar ao perceber que ela claramente não fazia ideia do que eram aqueles pequenos frascos.

"São memórias. Nossas memórias, praticamente todas que temos referente à você e a vocês dois." Lembrou-se da conversa com Harry no mesmo momento. Ela conseguiria enfim ver o que tinha esquecido, conseguiria vê-lo, ver tudo que tinha sido tirado de sua mente-

"Eu não tenho uma penseira." se recordou um pouco mal humorada, pegando o frasco que continha um líquido laranja com o número cinco pintado em dourado. Talvez fosse melhor não ter aquilo de volta, afinal.

"Não precisa de uma, ruiva. O que tem aí dentro é uma poção. É só tomar."

Com aquelas palavras, soube que o presente não era apenas do casal de bruxos. O sonserino era tão ridiculamente bom em poções, era por isso que ela conseguira o mínimo para passar nas provas de Slughorn? A ajuda do bruxo ficara gravada em alguma parte lá no fundo de seu cérebro?

Bem, ao menos em algum N.O.M. passara com uma nota aceitável - não queria ver a reação de sua mãe ao descobrir o resultado das demais matérias.

"É dele, não é mesmo?" Será que os pequenos recipientes de líquido verde eram de Draco? Tomaria aquele maldito líquido agora se fosse, tomaria todos se suas malditas memórias-

"Ele quem fez, mas não tem nenhuma memória vinda de Malfoy." Já deveria ter se acostumado com aqueles apertos no peito, assim como deveria saber que nada viria daquele sonserino neurótico, egoísta, cretino, arrogante, filho de uma- "Draco achou não ser segu-"

"Eu não quero." Empurrou o saco de volta para o loiro. "Eu não quero isso Zabini, pode levar."

"Quebre, jogue pelo ralo, ponha na gaveta - é seu, eu não vou levar de volta que nem uma maldita coruja." Claro que o sonserino não pegaria de volta - mesmo sem sua memória, conhecia pelo menos o mínimo daquelas cobras: viviam para inferniza-la. "Isso também." E tanto o saco quanto o pacote antes nas mãos de Zabini foram parar no seu colo. "Colin pede desculpas, mais uma vez, e diz que está disposto a ajudar no que você precisar." escutou o loiro falar enquanto abria o nó do barbante que parecia segurar o embrulho.

Iria falar que não se importava e que queria que Colin enfiasse suas desculpas num lugar não muito agradável quando o embrulho se desfez e seus olhos acharam uma letra ridiculamente pomposa num pedaço de papel sobre todos aqueles doces. Seu coração acelerou no mesmo momento em que os olhos marejaram - como doía a droga daquela saudade! Amaria para sempre aquela maldita caligrafia, e como Merlin, como conseguia amar tanto um dos responsáveis pelo caos que estava sua vida?

Não aguentava mais se perguntar aquilo. E não, não havia, e talvez não haveria, uma maldita resposta.

Comece pelo V-3: eu soube naquele domingo.

P.s.: Espero que ainda sejam suas favoritas.

Antes de se dar conta achava o frasco verde - imaginando que seria disso o V - com o número três e tirava a pequena rolha.

"Ruiva?"

"É só beber?" Não esperou mais um segundo ao vê-lo sacudir positivamente a cabeça.

Tinha gosto de menta - sentiu quando o líquido bateu na sua língua. Com certeza não era o gosto original da poção, lembrava-se do loiro comentando que conseguia já trapacear em alguns sabores intragáveis, e por um momento ficara tão esperançosa! Mas era uma memória daquele ano, aquela.

Blaise a observava curioso com seus olhos azuis cristalinos, mas passou-se um, dois minutos, e a ruiva não sentia nada de diferente - não lembrava de nada diferente. Claro que daria errado, o que dava certo na sua vida naqueles últimos dias?

Fechou os olhos frustrada, tirando uma das penas do pacote e colocando na boca: aquele açúcar leve com certeza traria algum conforto que nada andava trazendo ultimamente.

Ao menos não estava enjoada.

"Admita, eles formam um belo casal."

Como?

"Blai, se esse bruxo machucar a minha amiga-"

"Ela tem muito mais chances de machuca-lo. Veja só. Você não percebe o jeito que ele olha pra ruiva?"

Abriu os olhos no mesmo segundo e as lágrimas enfim caíram ao ver tão claramente - mesmo de longe - a figura vestindo uma capa sonserina, enquanto outra - ela? - cutucava o bruxo repetidamente no peito. Ela, definitivamente.

"O que te possuiu para mandar tudo aquilo hoje de manhã?"

"Ela é sempre assim nervosinha?" Colin. Via Colin ao seu lado - ele estava mesmo ali?

"Ele dá motivo, Blai. Agora me convença novamente do porque você achar que ele não vai aprontar alguma com Ginevra."

"Observe." Outra vez os olhos foram para o casal que discutia

"Será que VOCÊ NÃO PENSA? Você tem pelo menos uma leve noção dos problemas que eu poderia ter arranjado? Meu irmão é um inferno em relação à meus garotos e-"

"E desde quando eu sou seu garoto?"

"Fica sentado aí, Cols. Ele não tá segurando forte, e ela definitivamente não está com um pingo de medo."

A ruiva voltou a atenção para o casal mais uma vez.

"Me solta-"

"Eu te mandei tudo aquilo porque eu quis. Porque eu posso. Agora, se você veio aqui só para gritar comigo, pronto Weasley, já gritou. E dessa vez, e somente dessa, eu não vou responder a altura-"

Como se qualquer ruído pudesse dissipar aquela visão, observou silenciosamente o escorregão que levou os dois para o chão, assim como viu o loiro a colocando por cima, absorvendo todo o impacto da queda. Conseguiu dali ver os olhos acinzentados se fechando, e as mãos nunca deixando sua cintura, as dela também paralisadas ao redor do pescoço do sonserino. Os lábios finos se mexiam formando uma frase que não conseguia ouvir, mas faziam sua eu do passado dar escondida do bruxo um leve sorriso.

"Se fosse qualquer outra, meu amigo teria deixado cair sozinha."

Viu-se rolar para o lado, levantar, ruborizar, bater suas vestes e falar alguma outra coisa inaudível enquanto Draco sentava-se na grama, os olhos fixos nos cabelos vermelhos.

"E só para você saber: penas de algodão doce são as minhas favoritas."

E ela foi embora, sua eu do passado nunca vendo o sorriso leve que se formava no rosto do bruxo.

"Olha bem pra cara do Malfoy, Colin. Eu o conheço bem, e posso afirmar que a ruiva mexeu com ele por algum maldito motivo. Ele está totalmente apaixonado, ele só não sabe disso. Ainda."

Fechou os olhos, havia sido uma memória de outubro, não? Quando voltou a abri-los, não conseguiu mais conter o sorriso e desistiu completamente de lutar contra aqueles malditos sentimentos.

"Diga que da segunda vez, eu soube no dia em que começamos a dividir nosso lugar. Eu sei que você sabe onde ele está, Zabini, então salve-se do trabalho de tentar me negar isso."

Não tinha o que fazer, ela estava perdida.

"Fale para ele vir me achar. Avise que tenho algo urgente para discutir,"

Amava aquele maldito comensal e precisava dele agora mais do que tudo - e pegou mais uma pena de algodão-doce antes de voltar a falar.

"E que precisa ser pessoalmente."

...

"Aceita um café?"

"Prefiro água da pia, garoto." O o loiro revirou os olhos enquanto via o padrinho servir-se da torneira, dando mais um gole no líquido preto.

Fazia quanto tempo mesmo que não recebia aquela visita?

Não que houvessem muitas. Havia Zabini enquanto duravam as férias de verão, que aparecia algumas das vezes com o filho de trouxas que aprendera a tolerar, havia a empregada que vinha todas as terças - poderia considerar aquilo uma visita? -, e havia aquele maldito gato que resolvera fazer da casa sua. Ridículo, até mesmo estava aprendendo a gostar da bichana de pelo alaranjado, que até nome já tinha: Strega.

"Está se virando bem aqui?"

"Como trouxa? Esplendidamente bem." usou seu melhor tom irônico enquanto olhava para a borra de café que se depositava no fundo do recipiente. "Eu poderia ter banhando esse copo em veritaserum, você sabe disso, não sabe?" Por um momento viu Severo hesitar em tomar o primeiro gole, e só quando relaxou sua mente foi que o bruxo virou o líquido boca adentro. "Você está tão paranoico quanto eu."

"Nunca neguei ser." O copo vazio foi para a pia, a caneca de volta para a mesa. "Zabini tem vindo visitar?" A pergunta veio quando o moreno achou algumas garrafas vazias de vinho empilhadas num canto.

"Aparece dia ou outro. Traz algumas lembranças." disse, apontando para as cheias de firewhisky.

"Deveria ter te colocado como menor de idade nesse maldito documento trouxa." Viu de canto de olho o bruxo balançar a cabeça em desaprovação. "Já basta toda essa bebida que o outro sonserino arranja, o que acontece com a juventude de vocês?"

"Tarde demais." se deixou soltar uma risada antes de continuar. "Achei que não fosse mais te ver por um bom tempo, Severo."

"Eu também achei, garoto." bufou o mais velho. "Mas então, você acabou me encurralando com mais um maldito voto perpétuo." A reclamação veio com a confissão do motivo de estar ali. "Considere minha visita uma obrigação."

Sim, um voto perpétuo, ele lembrava do juramento no dia em que entrou para a Ordem. Fizera Snape prometer proteger seu bem mais valioso em troca de não colocar sua vida em risco - mas Zabini era ótimo com palavras, o fazendo ao final prometer não colocar-se em nenhuma situação que ele considerasse de alto risco. E a única coisa que considerava um risco alto demais era abandonar desprotegida a bruxa que tanto amava.

No final, fora o único a sair ganhando.

"Ginevra está bem?" Ao menos viva deveria estar, a presença do antigo professor dizia.

"Imagino que sim, pelo menos por enquanto." o moreno respondeu, examinando a paisagem pela janela da cozinha. "Vai haver um casamento, do Weasley mais velho." falou enquanto colocava alguns frascos sobre a mesa. "E vai haver um ataque nesse casamento."

"E você já tem um plano." Draco praticamente afirmou, começando a examinar os ingredientes contidos nos pequenos vidros.

"E eu já tenho um plano."

Hemeróbios, aquele outro era um sanguessuga ainda vivo, reconheceu o pó sendo de chifre de bicórnio, não fazia ideia do que tinha no penúltimo frasco, mas a pele ainda inteira era definitivamente de ararambóia.

"Obrigado por me avisar dessa vez." Mesmo já quase certo do que teria que preparar, preferiu continuar com a pergunta: ele saberia cada detalhe do maldito plano daquela vez. "Então, o que vai acontecer e o que vou precisar fazer?"

...

Sábado, 18 de agosto.

Algo havia de errado com sua irmã, ele tinha certeza. Tinha certeza enquanto a via tratar Fleur normalmente, ao invés de seguir sua mãe nas caretas que antes ambas faziam quando achavam não ter ninguém olhando. Tinha certeza enquanto a observava negar a maioria dos doces que antes devorava sem pensar duas vezes. Tinha certeza ainda mais ao vê-la olhar para Harry naquela manhã, e enquanto o moreno tinha uma expressão cheia de amor, a dela estava lotada de uma quase raiva misturada com indiferença.

Agora ali estava Ginevra, ajudando nos últimos preparativos feitos no jardim antes de começar ela mesma a se arrumar para a festa, enganando a todos com o sorriso que Guilherme sabia ser falso - digno de um prêmio. Porque ele conhecia sua única irmã, e ele sabia, com cem por cento de certeza, que algo definitivamente não estava certo - só não conseguia descobrir que infernos estava tão desencaixado.

A memória com certeza não andava muito boa, mas a dele era tão péssima quanto, e gostava de culpar o estresse nas horas de esquecimento - o que a via fazer nos últimos dias. O distanciamento de Hermione também era atípico, mas resolveu atribuir aquilo ao relacionamento que havia iniciando entre a filha de trouxas e seu irmão mais novo. Algo com Harry então, talvez? Será que Gina havia enfim visto o que ele lhe falara todos aqueles anos? O quanto o amor que dizia tanto ter pelo bruxo poderia ser apenas fruto de sua paixonite infantil? Havia acontecido algo entre os dois aquele ano? Ou por um acaso sua irmãzinha estava passando por alguma fase rebelde? Afinal, para que aquele novo par de furos na orelha?

Também poderia mais uma vez insistir sobre os últimos dias em Hogwarts, dia quatro de junho, a noite do ataque. A noite em que Hermione trouxe sua irmã até ele com um puta corte que ia do meio do braço direito ao ombro, com as roupas rasgadas e soluços que lhe davam vontade de matar o filho da puta que-

Mas nada havia acontecido além dos machucados, ele precisava acreditar nas palavras de Granger - porque Ginevra se recusava a tocar naquele assunto. Tanto se recusava que ficara uma semana sem falar com ninguém, apenas voltando a pronunciar alguma palavra ao receber uma coruja no dia 12 - e não foram as melhores palavras que saíram daquela boca para o remetente da carta, transformada em cinzas segundos depois.

Foi sua mãe o mandando para o quarto se arrumar que o impediu de ir até onde a ruiva estava junto de sua cunhada, arrumando mais alguns arranjos de flores. Arranjaria um tempo para falar com sua irmã durante a festa, não conseguiria nenhum maldito sossego em sua curta lua de mel se a cabeça não saísse de Ginevra - e ele realmente queria ver apenas amarelo tanto de olhos abertos quanto de fechados.

Planejando como abordar aquele assunto que Guilherme abriu a porta do quarto, e só quando um feitiço silenciou o cômodo que percebeu não estar sozinho.

"Mas que merda-" A última pessoa que esperava - e queria - ver ali estava ao lado da janela, a centímetros dele.

Aquele bruxo era um poço de coragem por aparecer sozinho na sua frente justo naquele dia. Já estava indo para cima do sonserino com um feitiço quando o loiro começou a falar.

"Weasley, eu preciso que você me escute." Foi a ação de jogar a varinha na cama e levantar as mãos que o fez não estuporar o maldito sonserino. "Vão atacar a festa." O que? "Vão atacar a festa, deixa eu te ajudar."

Respirou fundo, mas ainda assim seu lado briguento o fez prensar o garoto contra a parede, varinha quase fincada no pescoço branco enquanto se lembrava quem era aquela pessoa e o que havia feito meses atrás.

"É, não dá pra dizer que é covarde como o filho da puta do seu pai." quase cuspiu no rosto pálido. "Como confiar em você depois do que fez, Malfoy?" Apertava tão forte a garganta do bruxo que foi uma surpresa a próxima palavra conseguir sair.

"Veritaserum." Uma das mãos, ainda levantada, balançou um frasco com um líquido incolor. "Me faça tomar e me pergunte o que quiser, Weasley." Foram as palavras que seguiriam quando o ruivo afrouxou o aperto. "Mas por Merlin, me deixe ajudar. Eu precisoajudar."

No segundo seguinte, o bruxo tomava o conteúdo do pequeno vidro quase inteiro.

"Malfoy, é o dia do meu casamento-"

"Pode provar, se quiser." o loiro disse, lhe oferecendo o resto do líquido transparente, mesmo sabendo que ele não tomaria aquilo de jeito algum. "Guilherme, eu não sou bem vindo em nenhum dos lados mas escolhi o de vocês para cooperar."

Uma chance, pensou enquanto soltava o bruxo, se afastando alguns passos enquanto Malfoy massageava a garganta agora vermelha. Não tinha dúvida da primeira pergunta, por mais que soubesse que não fosse conseguir comprovar nada com ela.

"Você matou Dumbledore?"

"Não." Claro que a negação viria, independente de ser ou não verdade - por mais que aquele olhar parecesse verdadeiro pra cacete. "Eu desarmei ele." Mas não, ele tinha acabado de ingerir o soro da verdade - se é que aquilo era mesmo veritaserum, e não água.

"Quem te mandou vir?"

"Snape." Snape, que, fosse mesmo verdade a resposta anterior, era o traidor assassino do antigo diretor. "Ele está do lado de vocês." Malfoy respondeu a contragosto, como que sabendo de seus pensamentos - e maldição, o filho da mãe era o melhor oclumente que conheciam e ali estava ele, praticamente escancarando todos os planos da Ordem!

Considerou por um momento estupora-lo e chamar os demais integrantes presentes - quem ali era minimamente bom em ler mentes? - mas algo naquela maldita expressão o fazia querer dar uma chance justo para aquele bruxo. O que o fazia parecer tão sincero? Ele estava fingindo? Sabia que existiam maneiras de burlar aquela poção, e imaginava que o sonserino tivesse conhecimento das formas.

"Ninguém pode saber. Eu nem mesmo deveria ter falado isso, e só estou aqui por causa de um bendito voto perpétuo, ou estaria fora - talvez definitivamente fora, se é que você me entende."

Suspirou, derrotado. Era algum maldito feitiço, alguma maldita poção ou o que quer que fosse que o deixava com aquela necessidade de dar uma chance para o moleque? Felix felicis, talvez?

"O que você está fazendo aqui, Malfoy?" perguntou, sentando-se na cama frente a janela - ali do terceiro andar observou com certa surpresa sua irmã conversando com Fleur, que parecia lhe entregar alguma coisa. Tão estranha, dando um sorriso - agora sincero - junto de um rápido abraço em sua futura esposa.

"Já disse, vim avisar sobre o ataque. Fenrir, Bellatrix, os Averys, Ele está mandando quase o exército inteiro para esse casamento."

O quanto estaria errando em não deixar o bruxo inconsciente?

"Francamente, um casamento?"

O quanto estaria facilitando para o outro lado, o deixando continuar a conversar?

"O que mais eu preciso falar, Weasley, para você acreditar em mim?" A frase veio após alguns segundos em silêncio.

Ginevra acreditaria nele?

"Por que você entrou para a Ordem?" perguntou, tirando os olhos de Fleur e voltando-os para o sonserino, que curiosamente olhava para onde antes sua atenção estava presa.

A resposta que seguiu quase o fez rir - deveria sim ter testado aquela poção.

"Por causa de uma bruxa."

Como se uma bruxa fosse fazer Malfoy entrar para a Ordem, quando que esse moleque se apaixonaria por qualquer uma que não tivesse o sangue puro e rios de galeões, por qualquer uma que estivesse do lado oposto-

Foi com um clique quando o olhou outra vez. Era sério aquilo?

Era sério. Única - e melhor - explicação.

E sim, por cinco segundos - nos quais se controlou muito - quis jogar o bruxo no chão e soca-lo até o deixar desacordado. Filho de uma puta.

Sabia que os olhos cinzas não observavam os cabelos claros de nenhuma Delacour. Não, aqueles olhos não conseguiam sair de sua irmã, acompanhando-a com quase adoração - a expressão sempre tão rígida do bruxo parecia até mais suave, os lábios curvados num esboço de um sorriso. Naquele instante enfim fez sentido ter justo aquele sobrenome na Ordem da Fênix.

"O que você vê?" Demorou mais alguns segundos para o sonserino perceber para onde e como olhava - e ainda assim, não desviou a atenção. "O que você vê quando fecha os olhos?"

Malfoy não precisava mais responder e sabia - na verdade, há meses atrás já havia dito tudo.

"Me diz que ela está bem." O loiro realmente tinha a maior das coragens por continuar olhando para sua única irmã. "É a única coisa que anda me importando nesses tempos."

Com certeza era veritaserum e com certeza ele não estava burlando a poção - o filho da mão estava sendo sincero em cada uma daquelas palavras. Era engraçado, hilário se parasse para pensar: um Malfoy apaixonado por sua caçula. Um maldito Malfoy não conseguindo tirar os olhos de Ginevra e traindo toda sua família, acabando com seu nome, por causa de uma bruxa cheia de sardas, atributo que provavelmente tanto desprezou um dia. Ele dobraria de gargalhar em poucos minutos, não tinha dúvida.

E teria começado, não fosse o moreno resolver aparecer. Tanto Guilherme, ainda digerindo a informação, quanto o sonserino, perdido nos cabelos de sua irmã, ignoraram por completo o fato da porta não ter sido nem ao menos fechada.

"Gui, seu pai-" Graças a Merlin seus reflexos eram mais rápidos dos que os de Harry Potter. "Mas que-"

"Quieto." pediu, ainda segurando o braço do bruxo que olhava incrédulo para a visita inesperada enquanto fechava a porta. "Escute o que ele tem a dizer antes de tentar azara-lo." Viu o rapaz balançar a cabeça, se colocando entre os dois ao escutar o sonserino voltar a falar.

"Estão atrás de você, cicatriz. E uma das coisas que eu vim fazer é te esconder."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre o amor e a guerra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.