Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 35
Obliviate II


Notas iniciais do capítulo

Volteeeeei gente! Obrigada pelos comentários, PMs, adoro ler o que vocês estão achando e respondo a todos com muito carinho =)

Espero que gostem do capítulo como eu gostei de escreve-lo!

Um beijão,

Ania.



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Segunda, 21 de maio.

Fazia mais de um mês que Ginevra tinha decidido mandar para o espaço - na maioria das vezes - suas preocupações. Tinha se distanciado consideravelmente de Colin, sim, mas nunca estivera mais próxima de Hermione - por mais que já soubesse que todo o estudo conjunto não lhe adiantaria muito para várias matérias nas provas do final do semestre.

E estranhamente, ela estava pouco ligando.

E sim, a bruxa andava estranha e sabia que andava estranha. Sabia que deveria se atentar mais nos treinos de quadribol - não estava sendo a melhor artilheira com a mente sempre tão distante em cima de uma vassoura -, sabia que deveria estar surtando por dentro e por fora com todas as suas falhas em Feitiços e Transfiguração - ao invés de nem mais tocar na sua varinha em seu tempo livre -, e sabia que seria melhor não esfregar na cara de quem quisesse ver que estava beijando Draco Malfoy - por mais privado que aquele local fosse. Porque era isso que estava fazendo, para quem quisesse ver.

Ela estava beijando Draco Malfoy e estava gostando.

Estranha. Sem dúvida.

"Bruxa." Fechou os olhos quando sentiu lábios na sua bochecha, as mãos que aprendera a gostar a puxando para perto, o nariz pontudo indo parar em seu pescoço.

"Fuinha." disse sorrindo, e conseguiu sentir a careta feita pelo sonserino. "O que foi?"

"Esse apelido é irritante."

Também era irritante Ginevra gostar tanto quando ele a chamava de bruxa. Bruxa, quem era tão estranho para gostar daquilo além dela? Para sentir uma coisa boa no peito ao ouvir o nome sair dos lábios finos do rapaz - por que havia mesmo parado de se importar com os pensamentos estranhos que tantas vezes tivera quando ao lado dele?

Havia até mesmo parado de tê-los.

Era bom ficar ao lado do bruxo. Era tão errado, era como uma droga - Draco Malfoy dopava seu cérebro, era a melhor definição. Aqueles malditos beijos, aquelas malditas mãos, a voz: pura dopamina.

"Você não deveria estar na aula de animagia agora?" Ela dopava o dele também?

"Eu desisti de animagia." respondeu, retribuindo o beijo de antes, colando seus lábios na testa do sonserino, os olhos cinzas a observando com o sentimento que nunca mais fora embora desde o dia primeiro de abril. "Já faz mais de um mês, Draco." Não havia comentado aquilo?

Não, porque não havia comentado com ninguém ainda que era totalmente sem sentido continuar com uma aula que lhe preparava para ser um animago quando você já era um.

Por que não havia comentado esse fato? Por causa do animal tão peculiar que se transformara? Tão diferente do que ela esperava.

Quando seus lábios se afastaram, seus olhos acharam outra vez a expressão que mais lhe agradava ultimamente.

"O que foi?" o bruxo perguntou, deitando-se no colo da grifinória enquanto ela começava a brincar com os fios loiros - compridos demais naquele ano, quase brancos.

"Você está sorrindo outra vez." Adorava aquele sorriso espontâneo, que aumentou ainda mais com a observação. Não conseguia descrever o quanto o bruxo ficava bonito enquanto assim relaxado, o rosto tão diferente do sempre tão rígido, tão duro que via nos corredores.

"Não se acostume." Mas o sorriso continuou.

"Como se eu fosse me acostumar com esse sorriso ridículo, cara de fuinha." Estava acostumada sim com aquilo - não conseguia mais ficar um dia sem. "Assim como nunca me acostumaria com essa sua companhia irritante."

"Que bom, porque eu nunca me acostumaria com essa cor ridícula de cabelo, nem com essa mania boba de morder o canto do lábio que você tem." Se encostou mais na mão que envolvia seu rosto - a mão dele agora era tão quente!

"Nunca ia querer ao meu lado um canhoto que escreve com uma letra tão pomposa-" A voz arrastada a interrompeu enquanto o dono revirava os olhos.

"Você adora a minha letra, bruxa." Sim, Ginevra também adorava aquela caligrafia irritantemente perfeita, provavelmente resultado de treinos e mais treinos quando novo. "Já eu, nunca olharia para a sua e acharia bonito essas bolinhas que você faz no lugar de pingos nos i's." o bruxo provocou, o que lhe rendeu um tapa no ombro. "Você tem quantos anos, dez?" continuou, rindo.

Rindo. Ela mesma se uniu a risada, aquele sendo o melhor som do dia, sem dúvida.

"Nunca que eu admiraria qualquer coisa em você, cara pálida."

"Você é apaixonada pela minha cara pálida!" O silêncio dela era um sim velado.

"Você é apaixonado pelas minhas sardas!" E o dele também - e ela sabia. "Nunca que eu acharia bonito esses seus olhos que não conseguem se decidir de que cor são." Gostava tanto daqueles malditos olhos quanto da pele branca.

"Nunca que olhar seus castanhos me deixaria alegre." De olhos fechados, sentiu novamente a mão quente em sua bochecha e suspirou: como aquilo era tão fácil? "Nunca que eu desejaria morder seus lábios, nunca que eu colocaria minha boca em cada centímetro desse pescoço sardento." Não resistiu quando ele começou a puxa-la para baixo, a excitação pré-beijo a fazendo abrir mais um sorriso. "Nunca que eu te beijaria sem uma maldita poção do amor, Weasley."

"Nunca que eu te deixaria sem uma, Malfoy." Mentira.

"Você já deixou."

E ali estava ela, deixando outra vez. Ali estava a ruiva, sendo deitada na grama enquanto aqueles lábios nos dela lhe davam mais uma dose de conforto enquanto as mãos do bruxo corriam pelo seu corpo - bendita seja a dopamina.

A bruxa agradecia por estar encostada na parede, pois com certeza suas pernas não aguentariam se manter sem aquele suporte. Suas mãos corriam pelos cabelos loiros, pelo rosto, pelo queixo pontudo. Os ombros dele eram largos, os braços eram fortes, as mãos seguravam firme sua cintura enquanto o corpo dele a pressionava contra o muro.

"Draco," ela gemeu quando aqueles lábios acharam seu pescoço. "Isso é um sonho?"

"Claro." ele respondeu com um sorriso torto. "Eu só estou brincando com você, Weasley, você foi uma aposta. Uma aposta que fiz com Flint, e ganhei."

Flint.

Flint, ela lembrava de Marcos Flint.

Flint, o bruxo desprezível que corria atrás dela, Flint, o bruxo da floresta, o bruxo-

Aquela memória definitivamente não era agradável.

Aquela memória. Aquilo tinha acontecido, ela sabia.

"Você foi uma aposta."

Demoraram alguns segundos para o sonserino notar a falta de resposta da bruxa, só efetivamente percebendo quando Ginevra puxou o ar para os pulmões como se sufocasse.

Ela iria sufocar, de novo.

Onde estava aquele sentimento de conforto que tanto precisava? Onde estava sua maldita dopamina?

"Gin?"

Sentou-se, as mãos indo para a cabeça que já latejava.

Draco apostou com Flint que ficaria com ela. Mentira. Nunca que aquilo poderia ser uma verdade, uma lembrança.

"Gin, o que foi?" Era mentira, só podia ser mentira. "Bruxa, o que foi?" Até mesmo sorriu, tamanho absurdo que era aquilo. Nunca tinha falado com Draco antes para-

"Eu fui uma aposta com Flint?" perguntou, esperando encontrar naqueles olhos cinzas confusão. Esperando ver surpresa, seguida por uma negação e uma risada. Do que você está falando, bruxa? Aposta? Marcos Flint?

Algo quebrou em seu peito quando passaram-se segundos e o não foi ausente, os olhos do sonserino refletindo uma tristeza nova, e um desespero crescente ao vê-la se levantar.

"Não!" Aquela fora a primeira vez que afastava com ódio a mão que tentava segura-la. Ela realmente fora uma aposta. E se fora, e ele-

Malfoy tinha bagunçado a sua cabeça. Era dele, com certeza, a culpa de sua memória-

O que aquele bruxo havia feito com ela?

"Você não foi uma aposta Ginevra, me escuta-"

"Por que eu não lembro de nada?" Ele ia desfazer aquilo, e ele ia desfazer AGORA. As memórias daquele maldito semestre iam voltar AGORA. "Malfoy, por que eu não me lembro de nada?" Alguma poção, com certeza. O sonserino era ótimo com poções, viva se gabando disso, até mesmo agora-

Havia uma maneira de desfazer aquilo, não havia? Com certeza havia. Precisava haver um jeito.

"Porque usaram um obliviate em você."

Não havia.

"Gina, precisamos conversar." escutava o moreno falar. "Eu estou preocupado com você. Não dá pra continuar desse jeito, Gina. Me deixa te ajudar."

"Ele vai voltar, não vai?" perguntava numa voz chorosa enquanto virava-se para a janela. "Ele vai voltar, Cols. Me diga que ele vai voltar."

Colin Creevey andava tão estranho com ela.

Olhou para o chão. A grama estava tão verde naquele quase verão. Estava comprida, ainda úmida da chuva de ontem. Conseguia observar um conjunto de formigas levar uma migalha de talvez pão para um provável formigueiro. Haviam muitas migalhas ali perto. Qualquer coisa era melhor do que pensar no que estava acontecendo agora.

"Foi Colin, não foi?" perguntou quando reuniu coragem o suficiente para subir os olhos. "De todas as pessoas, justo ele."

O sonserino ao menos tinha a decência de olhar para o lago, ao invés de continuar observando-a com aqueles olhos tristes - e era surpresa que também via neles? -, mas outra vez, o silêncio era a única resposta que precisava. Sim, foi Creevey.

"Todo esse tempo, e eu me achando uma louca!" Tentava em vão não gritar. Tentava em vão não derramar outra vez todas as lágrimas, que provavelmente já derramara por aquele sonserino. "E você da droga do meu lado-"

Tudo que lembrara até agora era verdade. Todas as memórias nem sempre tão boas ao lado dele. E ela, ao lado do bruxo, por tanto tempo, por tantos meses-

Malfoy nunca lhe falara uma maldita palavra. Todo esse maldito tempo-

"Todo esse maldito tempo e você sabia."

—__

Não houve tempo para explicação alguma antes da bruxa sair correndo do canto que agora odiava - nunca mais pisaria ali, assim como nunca mais queria ver a cara do sonserino. Talvez depois de agora, o sentimento se alongaria para o moreno, que a olhava apreensivo enquanto sentado na beira do baú.

"Gina, precisamos conversar. Eu estou preocupado com você. Não dá pra continuar desse jeito, Gina. Me deixa te ajudar." lia com raiva as palavras que anotara no pedaço de pergaminho - se lembrava tanto daquela memória, se recordava agora tão bem de seus últimos minutos antes do bruxo bagunçar sua cabeça.

"Você-"

"Lembra?" bufou, seus olhos achando os esperançosos do amigo, que rapidamente refletiram as emoções mais cedo vistas nos acinzentados da cobra. Não, ela não se lembrava de quase nada, e as partes das quais recordava a deixavam ainda mais confusa. "Se eu lembro que você ferrou com a minha cabeça, ou se eu lembro do que você resolveu apagar?" Silêncios que lhe confirmavam suas suspeitas estavam se tornando uma das coisas que mais odiava. "Eu não recuperei magicamente todas as minhas memórias, se é isso que quer saber. Até porque é um pouco difícil, se não impossível, depois da droga desse feitiço!"

"Gina, pelo amor de Merlin, você está entendendo tudo errado-"

"Eu estou entendendo errado que você jogou um obliviate em mim?"

"Ele pediu-"

"Pior ainda!" Respirou fundo, sentindo uma pressão na cabeça - justo ela, que nunca tiveram uma enxaqueca na vida, estava prestes a ter sua primeira. "Eu fui uma aposta, Colin?" Esperava muito que houvessem palavras.

"Foi, mas você não sabia. Eu tentei colocar essa memória na sua mente-"

"Por que você não me falou?" Realmente não estava se importando com seus gritos naquela segunda. "Por que, ao invés de foder toda a minha cabeça, você não me falou?"

"Porque não iria adiantar nada falar isso! Porque você foi uma aposta por dias, e então se tornou a maldita vida do sonserino, e ele praticamente se tornou a sua! E mesmo se eu falasse sobre uma aposta ridícula, não seria capaz de mudar a droga dos seus sentimentos, e você continuaria-"

Sentiu-se bem por não ser quem chorava agora - estava queimando de raiva, nada conseguiria sair de seus olhos.

"Colin, eu não me lembro de meio semestre da minha vida! Eu vou falhar na metade das minhas provas porque eu não me lembro da matéria!" Era incrível como tudo agora parecia ter cem vezes mais importância do que antes. "Pior, eu lembro! Eu lembro de tudo errado!"

"Eu fiz porque sou seu amigo, Gin-"

"Não!" o cortou, finalmente encarando-o com todo o rancor que crescia em seu peito. "Não, Zabini teria feito isso porque Zabini é amigo dele! Você teria falado comigo se fosse meu amigo!"

Aquela sim era uma dor de cabeça. Era com aquilo que lidava o sonserino, nas vezes-

"Sai daqui." disse, deitando-se na cama. Até quando o traria toda hora para seus pensamentos? "Sai daqui, Creevey. Me deixe dormir."

—__

Segunda, 04 de junho.

Aquela saia parecia larga demais na cintura - achava que tinha perdido alguns quilos. Também, Raven e Sati não guardavam bolinhos de chocolate como Colin e Hermione costumavam fazer. Chegava no café da manhã e só haviam sobrado os de limão - mas tudo que era cítrico lhe dava asco -, então muitas vezes se contentava com um copo de leite. Pulava a torrada, que nunca lhe caía bem antes do almoço. Pulava a sobremesa, que deixava para comer no jantar. E muitas vezes estava tão cansada já às seis horas que ia direto da biblioteca para sua cama - e pulava o jantar.

Ginevra não iria conseguir boas notas em nada, senão Poções e DCAT- e odiava com todo seu ser aquelas duas matérias, tanto quanto odiava as pessoas que dia após dia tentavam falar com ela.

Rony não sabia o porquê dela não estar falando com sua namorada, e sim, a ruiva considerou contar inúmeras vezes para seu irmão o quanto sua amiga sabia de Malfoy e sabia do obliviate e ficara quieta por quase meio semestre. Para Ginevra, Hermione era tão culpada quanto Colin - se não mais, por todo o tempo que conviveram desde o início daquele ano, por tudo que a filha de trouxas vira a amiga passar em silêncio. Filha da mãe.

Rony também não conseguia entender o porquê de Gina precisar desistir de quadribol uma semana antes da final - seria tão mais fácil ela contar tudo para o irmão, por que não o fazia?

Estava com fome, mas pularia o jantar outra vez. Já conseguia sentir as lágrimas lhe molharem os olhos quando fechou a porta do salão comunal - infelizmente não vazio, como esperava.

"Gina-"

"A final foi sábado, Harry." disse, fazendo todo esforço possível para a voz sair firme. "Você pode parar de tentar me convencer a voltar para o time, a Grifinória venceu sem mim, não faço falt-"

"Eu não estou aqui pra te convencer, Gin." Gin.

"Não me chame assim." Não aguentava ouvir aquele apelido. "Por favor."

"Tudo bem. Senta aqui comigo por um minuto, prometo que vou ser rápido." o bruxo emendou quando a viu abrir a boca para protestar.

Suspirou, conseguiria segurar as lágrimas mais um pouco, era só não pensar. Falar com Harry era não pensar. Harry, afinal, não sabia de nada.

Sentou-se ao lado do moreno no sofá - Harry não sabia de nada.

"Gina, o que fizeram com você foi errado," Harry sabia. "Mas você precisa parar de afastar todo mundo e precisa deixar a gente tentar te ajudar. Hermione-" Respirou fundo enquanto se levantava - Harry também sabia! Harry também sabia e-

"Por que você não me falou nada?" gritou ao sentir uma mão segurando seu pulso. "Por que você apenas assistiu por quase um semestre-"

"Porque eu fiquei sabendo ontem! Gina, senta e me escuta, por favor!" Os olhos verdes sinceros que a fizeram voltar para o sofá vinho. "Hermione teve uma ideia que pode ajudar. Nós podemos doar nossas memórias do semestre passado para você. Dumbledore tem uma coisa chamada penseira-"

"Eu sei o que uma penseira é." interrompeu ríspida, mas sentiu seu coração um pouco mais calmo, como há dias não estivera. "Desculpa."

"Colin, Mione e eu temos muitas lembranças com você. Já fizemos até uma lista!" o grifinório fazia um esforço para a voz sair animada, e a felicidade forçada acabou arrancando um sorriso da bruxa - que não durou muito tempo. "Eu falei com ele também. Esse bruxo é o que mais te deve, e ele concordou em te passar somente o necessário, se é isso que você-" E as lágrimas caíam, enfim. Maldição, tinha conseguido segurar por tanto tempo! "Gina," O abraço que seguiu definitivamente não a ajudava a parar de chorar, não, apenas aumentava seus soluços. "Vai ficar tudo bem."

Não, não ia ficar tudo bem. Ninguém conseguia entender o que estava se passando em sua cabeça, conseguia? Sim, era desesperador não se lembrar de quase nada, sim, não saber a matéria lhe deixava a beira de um ataque de nervos. Mas o que lhe tirava o ar, o que acabava com seu sono, não era nem mesmo o feito do melhor amigo: era o sonserino ter pedido aquilo. O maldito amor que ela sentia por aquele maldito bruxo não fora embora com suas memórias - estava ali o tempo todo, e bastou o rapaz se reaproximar para outra vez o sentimento tomar conta de todo o seu maldito ser.

Então como, por Merlin como, para Draco, foi tão fácil tira-la de sua vida?

A única explicação possível era a que o bruxo não retribuía aquele sentimento - não tanto, não tão perdidamente quanto ela. E sendo assim, Ginevra não deveria ama-lo - o loiro nem mesmo fora atrás dela desde o dia da descoberta! E foi esse provavelmente o pensamento que desencadeou o seguinte ato.

Os lábios de Harry não eram finos, mas o bruxo era confortável de se beijar. Diferente do mar tempestuoso que estava acostumada, Harry era um lago calmo: delicado, carinhoso, previsível. E foi naquele momento que Ginevra descobrira que odiava a calmaria em sua vida.

"Eu sei que você gosta dele, Gina." escutou o moreno falar assim que se separaram, os lábios colando em sua testa num beijo amigável. "Não posso dizer que fico feliz com isso, mas também não posso te fazer esquecer. Nem mesmo tentei, mas já sei que não tenho esse poder." fechou os olhos quando as mãos do grifinório secaram suas lágrimas. "Eu não acredito que vou te dizer isso, mas dê uma chance para ele se explicar, ok? Seu coração vai ficar mais leve no final."

"Eu não queria gostar dele."

"Eu não queria gostar de você. Mas a gente não consegue mandar muito nessas escolhas."

E naquele momento Ginevra queria muito, mas muito, ter continuado a querer ver os olhos verdes, e não desejar desesperadamente se perder nos cinzas.

—__

Estava com a lista em uma mão, a garrafa de firewhisky na outra - a pena já perdida no chão. Relia todos aqueles momentos pela terceira - ou já era quarta? - vez, cada gole tomado do gargalo amenizando a porra da dor que sentia no peito em relembrar todos aqueles malditos segundos de vermelho.

Precisava entregar aquela lista agora, precisava tirar aquelas memórias hoje - mas como diabos faria isso no estado em que se encontrava? Ali estava ele, Draco Malfoy, falhando ainda mais uma vez com a bruxa que ele amava pra caralho. Era bem óbvio agora porque ela nunca mais retribuiria aqueles malditos sentimentos.

Então que merda a ruiva estava fazendo na sua frente?

"Você está me seguindo, Weasley?" perguntou, irritando-se ao ouvir sua voz tão mais enrolada do que esperava - realmente engolir meia garrafa não fora muito esperto de sua parte.

"Você está bêbado, Malfoy." Talvez estivesse um pouco bêbado, afinal. Não que fosse admitir aquilo, justo para aquela bruxa teimosa, insistente, que vestia um vestido verde de verão por debaixo da capa aberta - ela sabia o quanto era maravilhosa naquela cor? Deuses, ela tinha ideia do quanto ele a queria naquele maldito vestido? Do quanto queria ter o direito de toca-la outra vez? Do quanto doía acha-la em todos os malditos lugares daquele castelo e manter-se longe?

"Não bêbado." Jogou a garrafa meio vazia de firewhisky no chão, indo para o mesmo, encostando-se na parede mais próxima à janela. Beber no ritmo que estava bebendo tendo apenas dezesseis anos não deveria ser um coisa muito sábia - mas então, poderia muito bem não passar daquela noite. "Apenas relaxado."

Fechou os olhos ao encostar a cabeça na parede de pedra, agora eram o que, seis? Precisava estar sóbrio até que horas, dez? Provavelmente conseguiria.

"Claro, não bêbado." escutou a voz que tanto amava, e escutou o barulho da garrafa sendo tirada do chão. "Imagina."

"Sarcasmo não combina com você, Ginevra." mentiu. O pior era que combinava - e muito. Quase tudo combinava com aquela maldita bruxa, pensava enquanto tudo parecia rodar.

Minha boca combina com a sua. Mas conseguiu deixar aquelas palavras serem apenas pensamentos - realmente não tinha mais o direito de pedir aquilo.

"Já que está aqui, eu tenho uma coisa pra você, Weasley. Seu precioso Potter foi quem veio me pedir." falava para evitar de outras palavras saírem, voltando a focar no pedaço de pergaminho que ainda segurava. "Primeira memória com Ginevra: você passando pelos jardins com o belo par de pernas que tem." começou, seus olhos indo involuntariamente para as pernas que a grifinória exibia naquele vestido - maldição. "Segunda: eu beijando o seu pescoço na biblioteca antes de você cair de bunda no chão." Forçou os olhos a voltarem para o papel - deveria tê-la segurando. "Terceira: você me beijando na frente da Grifinória." Deveria tê-la beijado de volta já naquela noite. "Quarta: eu te pedindo aulas de Latim - sim, eu menti sobre não saber Latim. Quinta: nós deitados na grama num domingo, a primeira vez que eu quis realmente beijar você."

Fechou os olhos, encostando a cabeça na parede: sabia de cor a merda daquela lista. E cada palavra, cada lembrança era como um maldito espinho do diabo dilacerando o que sobrava da merda de seu coração.

"Eu te beijando em Hogsmeade. Você ficando comigo mesmo depois de saber quem sou. O primeiro dia de oclumência, que me mostrou o quanto você é forte. Seus brincos, meu piercing. Seu maldito cheiro em todas as minhas peças de roupa. Nós brigando - brigávamos muito, mas ainda assim eu te-" As palavras entalaram em sua garganta. Amava. Amo. Vou amar até o último dia.

Sentiu algo quente segurar seu rosto, e deu de cara com olhos chocolate e cabelos vermelhos quando voltou a abrir os olhos: Ginevra estava tão perto que ele praticamente respirava baunilha. Se a tocasse, a bruxa iria gritar? Se acariciasse aqueles fios de fogo, aquelas malditas sardas, aquele corpo, isso a faria sair correndo? A faria esfregar na cara dele tudo que merecia ouvir? Canalha, maldito, mentiroso, monstro, comensal. Porque se sim, ficaria contente em apenas ter aquela visão por mais alguns minutos.

Sua mão queimava, segurando-se para não retribuir o toque - tão suave. Por que ela o olhava daquele jeito, tão confusa e tão desejável? Por que não ia embora - mas que merda, nem um obliviate adiantava para mante-la longe! Ginevra já sabia, sabia da maldita aposta, sabia que ele mentira, sabia que fora o responsável pela ideia que lhe roubara tantas memórias, tantas-

Ela estava com a garrafa de firewhisky em uma das mãos, e no segundo seguinte o gargalo tocava aqueles lábios que tanto queria nos dele.

"Vai embora, Ginevra." foi quase uma súplica, e daquela vez ele não a segurou - e daquela vez ela não partiu, tirando do bolso da capa um pedaço de papel dobrado, sentando-se frente ao sonserino.

"Meu precioso Potter disse para eu te dar uma chance de se explicar." Ironia definitivamente combinava com a ruiva. "Eu fui uma aposta: verdade ou mentira?"

"Você foi uma aposta." confessava para ela pela primeira vez. "Você deixou de ser há muito tempo."

"Você é um comensal: verdade ou mentira?"

"Eu tenho a marca."

"Me mostra." E por um momento considerou não levantar a manga - e outra vez o pensamento: ele devia isso a bruxa. "Você fez isso?" As palavras vieram quando os olhos castanhos acharam a enorme cicatriz no antebraço esquerdo.

"Sim."

"Doeu?" Pra caralho.

"Não mais do que perder você." deixou-se falar, e viu o olhar da grifinória suavizar por um segundo.

"Você me salvou de Flint na tarde em que ele me atacou."

"Mentira." Por mais que quisesse que fosse verdade. "Foi Snape quem o estuporou. Eu cheguei depois." E era por isso que o moreno continuava vivo.

"Você pediu para Zabini apagar minha memória." As mãos correram pelos cabelos, os olhos fechando.

"Verdade."

"Você me prometeu que não faria isso."

"Verdade."

"Você mentiu pra mim."

Se limitou em assentir com a cabeça - aquilo estava sendo a pior tortura. Sim, tinha mentido para ela, mas a ruiva tinha ideia do quanto ele também estava sofrendo? Ela lembrava o quanto ele era atormentado naquele maldito ano? O quanto tudo aquilo havia sido pensado para a ruiva não acabar tão fodida quanto ele no final? Sentia um peso na boca do estômago, aquela gastrite já se tornando crônica como suas enxaquecas.

Os olhos castanhos suavizaram mais uma vez, a mão pequena soltando o pedaço de papel e tocando pela primeira vez a cicatriz exposta - outra vez gastou todo seu controle para não puxa-la para si.

"Você me deu um colar."

"Esse aqui?" perguntou, tirando de dentro da capa a joia prateada, quase se atrevendo a sorrir quando viu a ruiva tocar curiosa o pingente. Antes que percebesse - antes de pensar se ela gostaria ou não de ver o que havia dentro - se viu abrindo o medalhão, revelando a foto que andava observando naquelas últimas manhãs. "Creevey pegou de volta." explicou a ausência da joia enquanto a bruxa examinava a foto. "Eu o carrego comigo todos os dias."

Viu o sorriso que tanto sentia falta enquanto a bruxa examinava a figura dos dois, e quando percebeu devolvia o colar para a dona original, agradecendo quando ela não se opôs a vesti-lo outra vez em volta do pescoço. Os lábios estavam outra vez tão próximos no final daquele gesto que bastaria se aproximar mais um pouco-

"Você me ama?" Mais um pouco e tocaria com os seus os que lhe causavam tanta saudade. "Você me ama, Draco?" Não conseguiu responder a tempo, no segundo seguinte sua língua sentia o gosto de álcool e baunilha - outra vez ela, tão corajosa.

Quando se deu conta estavam no chão, Draco envolto por aqueles fios vermelhos que pareciam dançar em cima de seu rosto - vida própria, sabia. Como conseguia ter aquela jovem outra vez em seus braços? Que feitiço a fazia parecer tão receptiva para perdoa-lo?

"Bruxos malvados têm bons lábios." escutou-a sussurrar as palavras que tinha lhe falado há tantos meses atrás por entre beijos, e tinha que se conter, precisava se conter para não jogar aquela ruiva no chão e mostrar o quão boa poderia ser sua boca.

Sua coerência estava acabando rapidamente ao senti-la por cima dele - por Merlin, como que acabaram naquela posição? -, quase no fim ao sentir as mãos tão delicadas e ao mesmo tempo tão urgentes debaixo de sua camisa. A bruxa conseguia sentir suas cicatrizes ao passar por suas costas, seus ombros? Haviam tantas novas, tantas que ela nunca vira, manchando aquela pele branca - ela se importaria ao vê-las?

Por um momento viu Ginevra recobrando a consciência e se afastando, quase assustada, como se se perguntasse o que fazia, o que estava acontecendo para estar ali, beijando justo aquele sonserino. Graças a Merlin pelo firewhisky, pensou em seguida enquanto a colocava com toda a delicadeza possível no chão, a boca indo dos lábios para as bochechas, o nariz, o pescoço - e novamente ela estava entregue.

"Só mais um beijo, Gin." praticamente implorou, os lábios colados no pescoço sardento, as mãos achando as curvas dos seios da grifinória - os sons que ela fazia o deixando à beira de perder o resto de seu pouco controle. "Por mais que eu não mereça, sua boca foi a melhor coisa que já provei na vida," Ela tinha noção do quão sensual eram aqueles malditos gemidos? "Então só mais um, por favor."

Foi quando a própria mão de Ginevra terminou de abrir a camisa que o sonserino vestia que ela parou, respirando fundo e terminando o beijo que ele tanto precisava - tão linda quando corava, tão lindos aqueles lábios entreabertos, tão enlouquecedor não conseguir pensar direito ao redor da ruiva.

"Eu nunca-" As palavras vieram com vergonha, as mãos trêmulas. Claro.

Não sabia de onde tiraria forças para sair de cima da grifinória, embriagado como estava, queimando de vontade de arrancar cada peça de roupa e gritar que sim, ela já havia feito aquilo, eles já haviam feito aquilo, uma, duas, dez vezes! Mas era por causa dele que a ruiva não se lembrava da noite no vestiário, da noite que ele a fizera sentir-se bem pra caralho - sim, Draco lembrava de cada palavra, de cada sensação.

"Desculpa." Quis gritar quando ouviu o pedido - por Merlin, era ele quem deveria se desculpar por ter dado aquela ideia, por ter tirado aquela memória tão importante da bruxa! Porque sim, era o responsável por tudo aquilo e queria implorar um perdão, implorar pelo maldito amor que ela não se lembrava ao certo de ter, porque doía tanto não ser mais o dono da merda daquele coração - e outra vez tomava um gole de firewhisky encostado na parede, as coisas com certeza melhorariam depois de mais alguns goles da bebida, que descia queimando pela garganta.

Mas a garrafa foi tirada de si pela última vez e jogada em um canto daquela sala, mãos pequenas impedindo as suas de voltar a fechar a camisa enquanto a baunilha outra vez o invadia.

"Nós fizemos amor no vestiário naquela tarde." a bruxa mais afirmou do que perguntou, sentando-se no colo do sonserino enquanto o ajudava a se livrar da capa e camisa - a da ruiva já no chão.

Se alguma vez achara que o desejo por aquela bruxa atingira seu limite, aquele dia veio para prova-lo errado. Seus olhos foram para os dela quase receosos, quase com medo de tocar a pele nua daqueles braços sardentos - com certeza Ginevra tinha ideia do quanto ele a queria, com certeza sentia o quanto precisava dela, enquanto a bruxa voltava a achar seus lábios.

"No vestiário, na estufa," de olhos fechados, as mãos enfim achando o par de braços, Draco dizia entre os beijos que se tornavam mais necessários a cada segundo. "Na sala precisa," Prendeu a respiração ao ver que a grifinória usava a mesma cor por baixo daquela peça de roupa - Merlin, quando ela havia tirado o vestido? "Na sua detenção, Ginevra por favor-" implorou ao sentir as mãos achando o fecho de sua calça, mas um único olhar foi o necessário para cala-lo.

Ela queria aquilo tanto quanto ele precisava.

Entre toques, se livravam das últimas peças de roupa, suas mãos se lembrando de todos os lugares que a faziam soltar os melhores sons.

"Você me ama." escutou quando a deitou sobre sua capa - não era mais uma pergunta.

"Sim." A ruiva nua sempre era a visão mais perfeita de sua vida - nada nunca mudaria aquilo. "Eu amo você." A expressão que via naquele rosto no primeiro segundo que se uniam sempre o faria beirar perder o controle. "Eu amo você, bruxa." repetia como um mantra enquanto beijava cada parte daquele corpo - nunca mais conseguiria parar de falar, como imaginara. "Eu amo você."

Não soube ao certo quanto tempo passou até deitar-se exausto ao lado dela, muito menos em qual momento fechara seus olhos após puxa-la para perto, se entregando a um sono necessário - um que não tinha há dias, senão meses. Mas sabia que o relógio marcava dez horas ou mais ao acordar com o barulho de uma explosão.

A sala estava vazia.


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