Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 26
Vermelho I


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu amei escrever esse capítulo! Espero que gostem também ;)
Deixem um comentário pra me dar a opinião se quiserem, vou adorar ler!

;*



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Quinta, 26 de outubro.

Se ficasse mais um segundo junto ao sonserino iria desabar por completo, sabia que iria. Sair foi libertador, e começou a andar ignorando por total seu amigo e as perguntas do mesmo: o que houve, o que Malfoy fez agora, por que essa cara? Chegou em minutos no salão grifinório, Colin não passando pelo quadro da mulher gorda junto à ela.

Respirou fundo, tentando fazer o oxigênio limpar as últimas memórias daquela noite. Odiava olcumência, odiava, odiava muito, malditas memórias, maldito Malfoy, não podia ter começado com algo mais fácil, não poderia ter sido mais fácil? Não, tinha logo que pegar em sua pior parte, na sua pior recordação, e aí tinha Colin atrás dela, a cada segundo reforçando tudo aquilo com sua voz - ela o havia quase matado, como o bruxo conseguia confiar nela, ser amigo dela? Quis gritar quando, ao invés de achar o salão vazio, achou um emaranhado de cabelos presos num coque desajeitado ao lado da lareira, a dona deles fungando como Ginevra fazia até minutos atrás, enquanto voava pelos corredores.

Não, a garota não sabia o que a havia possuído para tentar iniciar um diálogo amigável com aquela bruxa, que há alguns dias mal a olhava na cara. Uma distração? Alguém que poderia, por estar tão irritada, iniciar uma briga e fazê-la esquecer do incidente da noite?

"Hermione?" Quando deu por si, estava sentando-se ao lado da bruxa mais velha. E vendo o estado deplorável em que se encontrava a amiga - ainda poderia chama-la assim, não poderia? - a frustração de antes foi passando, até mesmo o aborrecimento em relação a jovem se esvaía de pouquinho em pouquinho. Colocou hesitante uma mão no ombro da grifinória, e agradeceu mentalmente quando esta não recuou.

"O que você quer?" Aqueles olhos castanhos estavam vermelhos, e por um momento se perguntou se os seus não estariam iguais.

"Você está chorando."

"Pare de falar como se você se importasse." Se estivessem, a bruxa claramente não fez questão de comentar.

"Quem disse que eu não me importo?" Ginevra rebateu, curvando a boca em um bico. "Você é-" suspirou. "Bem, nós éramos, pelo menos, amigas." E ela sentia falta daquela amiga. Sentia falta de ter aquele alguém para discutir sobre seus problemas, queria poder discutir com a bruxa mais velha sobre seus problemas - assim como escutaria de bom grado todos os que a faziam soluçar. "Sinto saudades de nossas tardes inúteis." confessou, dando um sorriso tímido, alegrando-se ao ver a morena copiar o gesto.

"Também sinto." a amiga falou, uma mão enxugando os olhos. "Eu não concordo, mas não quero mais brigar. Estou tão cansada de brigar." Ela também estava - e muito.

"Eu também não concordo com várias coisas." disse, a imagem do irmão vindo em sua mente. "Mas não precisamos concordar em tudo para sermos amigas, basta nos preocuparmos uma com a outra. Concorda?" O sorriso que seguiu foi um sim silencioso. "Agora me fale, qual o motivo?"

Victor, com certeza, era o nome que Ginevra estava esperando sair dos lábios da morena. Victor, e o término, e toda aquela felicidade que fora levada embora com a ausência do bruxo. Por um momento se colocou na situação da amiga, e foi assustador como o quanto a possibilidade do sonserino se afastar tirou seu ar. Se era aquilo que Hermione sentia, como estava conseguindo respirar ainda? A presença dele em sua vida era como uma droga, e não, não queria mais pensar em como seria uma abstinência de Draco Malfoy. Foi assim que ele se sentiu no dia em que a ruiva descobriu a marca em seu antebraço?

"Eu gosto dele, Gina." Mas não foi o nome do jogador profissional que seguiu. "Eu gosto do seu irmão."

...

Terça, 31 de outubro.

"Eu estou ridícula."

"Você está linda." contrariou a amiga mais uma vez, calçando as botas verdes.

"Você está linda." Hermione disse, observando a obra de arte que Colin a ajudara a fazer em seu rosto. "Eu estou um gato pomposo." a amiga riu, pegando nas mãos o rabo que usava. "Pareço o Bichento. Ridículo." e foi ouvido um miado indignado - ridículo era aquele gato parecer entender o que todos falavam. "Preciso perguntar quem deu, ou de quem foi a ideia de você ser um dragão, Gina?"

O vestido verde escuro cujo brilho remetia à escamas não era exatamente elaborado - a fantasia toda não era nem mesmo uma fantasia, visto que além do vestido usava apenas uma meia fina e botas que iam até seu joelho - mas Ginevra precisava admitir: aquela fora uma das poucas vezes que realmente se sentira bonita. A combinação inteira estava incrível, e tinha certeza, mas muita certeza, de que apenas o conceito fora do sonserino que beijava.

"Tem dedo de Colin tanto na roupa quanto no meu rosto, e você sabe." confessou, ainda examinando a as escamas prateadas que o amigo insistira em fazer na base de suas bochechas. "Meu Merlin, eu grito sonserina." admitiu, tentando se acostumar com aquele detalhe tão contraditório.

"Você quer gritar sonserina, não quer?" Ginevra não fazia nem questão de gritar, pra falar a verdade. Não que ela fosse se mostrar assim na frente de todo o castelo: mostraria a roupa que usava por debaixo de agora uma capa - sonserina - apenas para uma pessoa, durante toda a noite. "Ele te trata bem?"

"Draco?" Uma mão foi automaticamente para a boca, mas não havia mais ninguém no quarto além das duas. A cara que a amiga fazia ouvi-la chamar o sonserino pelo primeiro nome foi impagável. "Ele me trata bem." Deu uma volta em frente ao espelho, um sorriso surgindo nos lábios. "Do jeito dele." De um jeito que ela tanto aprendera a gostar. "Nós brigamos bastante, ele consegue ser insuportável e superprotetor."

"Não me surpreende a primeira parte." À Ginevra também não.

"Pergunta isso por causa de quinta-feira?"

Na última quinta de madrugada, de acordo com o relógio de parede à meia noite e doze, Ginevra encontrara Hermione no salão comunal grifinório, e desde então as duas estavam se falando novamente. Também na última quinta, de acordo com o relógio de parede, à meia noite e meia, Draco Malfoy surpreendeu as duas bruxas entrando no mesmo salão comunal, seguido de Colin e Zabini, quase começando um caos naquele espaço.

"Eu só quero conversar."

"Eu não quero conversar!"

"E eu quero os dois quietos, antes que algum maldito grifinório desça e nos veja aqui!"

Tinha que confessar que a cara da amiga vendo os dois bruxos dentro do salão comunal fora impagável, e que o charme de Blaise caía bem naquelas horas, funcionando até mesmo com Hermione. Também tinha que confessar que o bruxo com quem estava saindo, por falta de palavra melhor, ou era muito corajoso, ou tinha perdido completamente a noção.

E os dois foram obrigados a brigar em voz baixa enquanto o outro sonserino explicava com suas melhores palavras que Draco sabia a senha daquela casa muito, mas muito antes dele conhecer melhor aquela ruiva.

"Pare de me olhar assim!"

"Assim como? Como se eu gostasse do seu inferno de pessoa?"

E a cara de Hermione fora, novamente, impagável, ao ver um beijo entre aquele casal.

"Pare de fugir de mim, Ginevra. Eu gosto de você."

"Harry gosta de você."

"Ronald gosta de você." rebateu. "Por mais que ele esteja sendo um babaca, insensível, que não esteja falando contigo, que esteja tentando te esquecer com outras garotas e falhando miseravelmente, por mais que ele esteja sendo meu irmão, ele gosta de você."

"Os sentimentos de Harry vieram tarde demais, não é mesmo?" Sim - mas a bruxa não precisava responder.

Já andava em direção à porta quando falou.

"Os seus não, Mi. Então vá lá para o hall de entrada, encontre meu irmão e tente se divertir essa noite, ok?" e com um sorriso, fechou a porta do dormitório, colocando uma máscara no rosto enquanto seus pés a levavam para a já tão conhecida estufa.

...

Balançou nas mãos mais uma vez a capa que usava, as presas incomodando levemente sua gengiva. O salão principal não estava tão cheio quanto sua expectativa, e pensou se era por conta do horário - muito cedo - ou se os alunos - ao menos os mais velhos - realmente não tinham se empolgado com a festa. Era melhor ou pior um salão com menos gente?

Sim, Colin Creevey estava nervoso, dava para ver pelas mãos que não paravam de cutucar uma cutícula no dedo indicador direito - se continuasse assim, conseguiria fazer daquilo um incômodo para o resto da noite. Mas então, Blaise poderia simplesmente dar um beijo para melhorar, e por um segundo o pensamento serviu para acalma-lo. Um beijo de Blaise Zabini no meio de todos aqueles bruxos - e pronto, estava duas vezes mais nervoso. Até três, quando avistou um outro vampiro, capa preta, presas curtas, cabelos loiro-escuro ridiculamente lindos e soltos.

Maldição, aquele sonserino era de tirar o fôlego de qualquer um. O que aquela maldita raça tinha de diferente?

"Eu esqueço que seu cabelo é assim comprido." disse quando o bruxo parou ao seu lado, torcendo para sua voz não falhar - tanto de nervosismo, quanto por vontade de beijar aqueles lábios irritantemente deliciosos. "Deveria deixar mais vezes solto."

"Se isso agrada meu namorado, seu desejo é uma ordem, meu vampiro." E pronto, sem nem mesmo pedir, o loiro pegou sua mão e beijou o dedo que tinha tanto sido cutucado, na frente de todos os malditos alunos. Colin sentiu a boca secar, e respirou fundo tentando recuperar a calma que fora tão dificilmente construída, tão facilmente dispersada. "Você está lindo." sorriu, mas tinha consciência de que fora um sorriso nervoso. "Apesar de eu te preferir sem roupa." E Blaise não estava ajudando em absolutamente nada.

"Você sabe que não se parece nem um pouco com uma garota, não sabe?" Não conseguiu mais segurar a fala, olhando ao seu redor, agradecendo silenciosamente por não achar nenhum par de olhos curiosos. Mas achou no segundo seguinte um par de azuis levemente incomodados, e a boca secou até mais.

Merda, ele acabaria estragando tudo, realmente acabaria estragando tudo aquilo, toda aquela noite. E não, Colin não estava esperando que Zabini se transfigurasse para parecer uma bruxa ao invés daquele deus maravilhoso que era - mas Colin nunca, em toda sua vida, beijara um bruxo na frente de uma platéia. Sim, todos sabiam de suas preferências, mas entre saber por comentários e saber por ver existia sim uma diferença. Ele provavelmente gastou todo seu autocontrole para não se afastar quando a mão que adorava o puxou pela cintura.

"Você sabe que eu decidi que não ligo, não sabe?" Meu Merlin, ele estava com os olhos delineados e aquilo estava tão sexy. Sentiu o coração acelerar outra vez quando a mão passou pela sua bunda e então parou na sua coxa, e não sabia mais o quanto daquilo era resultado do medo ou do maldito tesão que aquele bruxo lhe dava. "O quanto todos aqui saberem que você está com Blaise Zabini pode te afetar de uma maneira negativa?" Ginevra também não conseguia pensar muito claramente quando a outra cobra estava ao seu lado?

"Enquanto eu estiver com você, nada vai me afetar de uma maneira negativa." começou, tentando forçar a sua mão a parar de tremer para finalmente poder retribuir o gesto do namorado sem passar vergonha. "Mas se algum dia eu não estiver mais, não é como se o meu sobrenome tivesse alguma influência no seu mundo." Aquele sorriso era o mais lindo de todo o mundo, com certeza. "E as pessoas não são sempre gentis com quem não tem influência."

Viu Zabini balançar a cabeça, a mão novamente em seus lábios ensanguentados no segundo seguinte.

"Eu não quero estar no meu mundo sem você, porque o meu mundo é o seu mundo, bobo." Era oficial, suas mãos nunca parariam de tremer - talvez seu corpo inteiro nunca parasse de tremer depois daquele beijo, iniciado por ninguém menos que ele. "Colin Creevey, eu te amo, caralho."

Cada pessoa tinha um gosto diferente, e Zabini, para o grifinório, tinha um gosto picante. Não sabia explicar, era como se fosse uma mistura de cravo com alguma maldita pimenta - porque sempre sua boca parecia picar, de um jeito maravilhoso, após cada beijo. Meu Merlin, ele estava beijando Blaise na frente de todos, ele estava realmente beijando Blaize Zabini na frente de toda a escola, agarrando aqueles cabelos como se sua vida dependesse disso, e realmente o beijando.

"Acho que me convenceu." Foram suas primeiras palavras quando se separou daqueles lábios, os olhos ainda fechados.

"Tenho outras formas de te convencer se essa não tiver funcionado." Sentiu um beijo no pescoço e respirou fundo, finalmente abrindo os olhos - e tensionou no mesmo instante.

Não, ninguém estava os encarando, ninguém parecia incomodado com aquele beijo, nenhum bruxo parecia estar comentando sobre a demonstração de afeto nem um pouco discreta. Mas havia um moreno indo em direção a saída, assim como um sonserino conhecido que deveria ficar naquele maldito baile e não vagar pelo castelo.

"Cols?" Maldito Malfoy, estava tão paranoico quanto ele quando o assunto era sua amiga. Blaise virou a cabeça para a onde o namorado olhava e viu Flint de relance, logo antes do bruxo passar pela porta. "Filho da mãe."

...

Mesmo com máscara, vestida de verde e prata, e com ainda por cima uma capa da casa do bruxo, Ginevra Weasley era totalmente reconhecível para aqueles olhos cinzas. Merlin, ela sabia o quanto ficava deslumbrante vestindo verde? Era quase bom aquela bruxa não ter entrado para sonserina - como se algum dia algum Weasley pudesse entrar para aquela casa - pois os tons de verde junto com os fios cor de fogo a tornavam-

"Única."

A grifinória sabia que ele estava bem atrás dela, e a filha da mãe não parava de jogar aquele cabelo de um lado para o outro, o maldito cheiro de baunilha ficando por onde passava. Não conseguiu evitar um sorriso vitorioso quando a bruxa passou por Potter e o irmão, e ambos viraram as cabeças como se Ginevra fosse uma desconhecida que valia muito a torcida de pescoço. Sua desconhecida.

"Incrível como as sonserinas andam bonitas." escutou o comentário do cicatriz quando passou atrás segundos depois e o sorriso só aumentou. O pensamento que seguiu foi inevitável: Draco Malfoy ganhara, enfim. E ganhara no que realmente valia a pena ganhar.

A saída, graças a enorme quantidade de alunos e a ausência de qualquer professor naquele momento, fora discreta, e em segundos estavam os dois nos jardins do castelo - e Ginevra era louca, definitivamente louca, pois no instante seguinte tirava a máscara que usava, a largando no meio da grama, e corria despreocupada em direção a estufa, olhando vez ou outra para trás, certificando-se que sim, ele ainda estava ali, a acompanhando. Como se houvesse alguma escolha, como se pudesse se livrar daquela doença vermelha algum dia.

Ela parou de correr quando chegou na entrada da estufa onde sempre se encontravam, e Draco esperava que tudo que havia posto ali algumas horas antes continuasse intocado. Ginevra entrou, ele logo atrás encostando a porta de ferro.

"Você está tão sonserina." disse as palavras que segurou todo aquele tempo, sua própria máscara indo parar no chão de terra. A resposta que recebeu foi quase engraçada, e fez o sorriso aumentar ainda mais - em momentos assim, temia em aquele repuxar da boca se tornar permanente.

"Wow." Viu a ruiva o observar de cima a baixo e agradeceu mentalmente Zabini e suas malditas dicas.

"Wow?" Pelo cabelo, penteado novamente para trás, pelo jeans preto que vestira após um dia de insistência, pelo - foda-se pelo que, ele realmente precisava beija-la.

"Wow." A expressão veio novamente após os lábios se separarem, as mãos da grifinória acariciando seu pescoço - ela era tão mais baixa, como em todos aqueles anos nunca reparara nisso? Como em todos aqueles anos nunca reparara nela? "Você realmente fica lindo de preto."

"Você realmente sabe como massagear meu ego, bruxa." Um beijo naquele pescoço cheio de sardas e Draco se separou, abaixando-se para pegar as garrafas que escondera atrás daqueles vasos - felizmente ainda ali. "Não seria um baile sem um pouco de bebida." falou, abrindo as bebidas.

"Da onde surgiram essas cervejas amanteigadas?"

"Tenho meus meios." Entregou uma das garrafas para Ginevra que tomou um gole muito maior do que ele esperava - será que a ruiva gostava, além de tudo, de beber? Deveria descobrir aquilo um dia, definitivamente. "Tenho você só pra mim até a meia noite, então?"

"Praticamente um encontro! Estufa número 4, o sonho de toda garota." a bruxa disse enquanto dava alguns passos para frente, recebendo um olhar desgostoso do loiro. "O que foi? Tenho boas memórias desse lugar, não estou sendo sarcástica!"

"Não está né, imagina." Ótimas memórias, claro. Ali que ele a havia arrastado pelo braço na primeira vez, ali que ela vira o símbolo que o prendia ao lado errado daquela guerra, ali que-

"Foi aqui que você me mandou embora pela primeira vez - e não me deixou ir. Foi aqui que você pediu desculpas pela primeira vez, também. Foi aqui que você foi totalmente sincero comigo, e me mandou embora - de novo, Malfoy." Ginevra lhe deu as costas, caminhando para uma parte mais iluminada da estufa. "Foi aqui que eu escolhi ficar com você, seu bobo. Eu realmente gosto desse lugar." Visões poderiam, mesmo, ser muito diferentes.

O sonserino realmente gostava dela. E realmente gostava de observa-la naquela roupa verde, sob a luz da lua que entrava pelo teto de vidro. E quando a ruiva virou-se novamente para o bruxo, foi sua vez de ficar sem palavras. Ginevra brilhava, tudo nela parecendo perfeito: aquele cabelo, as sardas irritantemente beijáveis, os olhos que transbordavam sempre todos aqueles sentimentos, o corpo que o atormentava diariamente. Foi naquele segundo que soube: estava perdido. Achava que já tinha conhecimento daquilo, que sabia a magnitude daqueles malditos sentimentos que cresceram tanto nos últimos dias, mas exatamente às sete e trinta e sete do dia trinta e um de outubro de mil novecentos e noventa e seis, Draco Malfoy teve a certeza de que não tinha mais volta. Não tinha mais como parar de sentir aquilo.

"Caralho." Foi seu melhor jeito de se expressar. "Você é linda." Não demorou mais um segundo para ir para o lado da grifinória - queria, precisava provar outra vez aqueles lábios. Era como se a maldita Weasley fosse seu maldito ar, impossível de continuar sem.

E ainda assim, o toque dos lábios dele nos da bruxa era suave e as mãos que a puxavam para mais perto eram delicadas. Fechou os olhos e sentiu-se ridículo ao não conseguir conter um arrepio quando as mãos dela o trouxeram com muito mais urgência para perto, os lábios da ruiva já caminhando para seu pescoço - ousada, melhor, corajosa: gostava daquilo.

"Acho que poderia beijar você pra sempre."

"Não estou te impedindo." O sussurro ao pé do ouvido desencadeou mais outro tremor.

"Eu sei que não." separou-se com certo esforço, sorrindo ao ver o bico que já achava adorável nos lábios rosados. "Mas eu tenho que te dar uma coisa primeiro." falou enquanto a levava para um canto forrado com um cobertor.

"Como eu não percebi a manta e as almofadas antes?" escutou a grifinória falar, mais para ela mesma do que para ele.

"Meu charme faz todo o resto passar batido, eu sei." respondeu enquanto a puxava para uma almofada. "Eu disse que faria de tudo para te proteger, não disse?" o sonserino acomodou-se na frente da grifinória e tirou uma pequena caixa de madeira do bolso da jaqueta - aquilo daria certo, aquilo tinha que dar certo. "Você confia em mim?"

"Já deveria saber que sim." Com certeza deveria, pensou enquanto revelava o conteúdo para a bruxa. "Um par de brincos?"

"Um par de brincos." Mais precisamente o antigo par de brincos da ruiva, que Creevey conseguira dias atrás. "Eles não saem tão facilmente - eu vou me certificar disso - e eu consigo te achar onde quer que você esteja com eles - Zabini se certificou disso." explicou, colocando ambos nas mãos de Ginevra. "É como se eu te rastreasse com um fio invisível - ninguém pode ver, mas eu posso sentir."

Por um instante a viu olhar desconfiada para os dois pontos dourados.

"E como você me acha com isso?"

"Eu preciso colocar em você para te explicar," começou, aquela próxima parte seria divertida de se mostrar - ele mesmo ainda não acreditava que uma Weasley o levara a fazer aquilo. "Mas é basicamente com isso." E Draco abriu a boca, levantando a língua - e o olhar confuso e surpreso que recebeu foi impagável.

"Você tem um piercing na-"

"No freio da língua, agora eu tenho." E fazê-lo na raça, ele mesmo, havia sido a pior coisa da semana, com certeza. "Isso é como se fosse um rastreador." começou a explicar outra vez, entendendo a desconfiança da ruiva como hesitação em deixa-lo terminar aquilo. "Enquanto estiver no seu corpo uma parte dele, e enquanto eu também usar a outra, consigo te achar num raio considerável de distância - pelo menos é para isso que encantamos esse ouro. Então caso você esteja com medo, em perigo, é só me chamar que vou sentir e saber, ok?" Ginevra fez que sim com a cabeça e o sonserino continuou. "Vou ter que fazer um furo novo na sua pele para isso dar certo. Dois, para garantir."

"Você não acha melhor-"

"É só eu colocar onde precisa furar que a joia faz o resto, Gin." As palavras pareceram tranquilizar um pouco a bruxa. "Vai ser rápido, ok?" disse, voltando a pegar o par de brincos e se ajoelhando mais perto da grifinória. "Não se mexa."

Aproximou as mãos de uma das orelhas, e o furo, logo acima do brinco de obsidiana verde - que ele reparou que, para seu contentamento, ela ainda usava todos os dias -, foi mais rápido do que imaginara. A jovem fez uma careta no segundo furo, as mãos pequenas o fazendo respirar fundo quando apertaram forte sua coxa - e por um instante seus hormônios novamente gritaram para mandar tudo pro inferno e joga-la naquele cobertor.

"Não foi tão ruim." As palavras o trouxeram de volta. "Como estou?" Ginevra perguntou, exibindo os novos furos, as orelhas levemente vermelhas.

"Perigosamente sexy." Era a verdade. "Vou checar se consigo tirar - eles não devem sair mais, ok? Me fale se eu estiver machucando." Ela assentiu com a cabeça antes de Draco voltar as mãos para um dos lóbulos.

"Por que o seu é tão escondido?" a bruxa perguntou, mais uma careta quando o sonserino forçou um pouco a joia.

"Para ser mais difícil de achar." Claramente a grifinória não entendeu. "Se algum dia algo der errado, provavelmente vão procurar em mim brincos, e então colares, e furos um pouco mais óbvios e expostos." Claramente, pela expressão que seguiu, teria preferido ficar sem entender. "É apenas precaução, pequena." o loiro disse, levando uma das mãos da bruxa até seus lábios. "Como eu disse, e como me certifiquei, os brincos estão encantados para não saírem, então não tente forçar."

"Ok. E agora?" a bruxa perguntou num tom ansioso, se acomodando melhor sobre uma almofada. "Eu falo alguma palavra mágica, penso em você e a magia toda acontece?" Ele deixou uma risada escapar, confirmando ser verdade o que Ginevra falou brincando. "Assim previsível?"

"Assim previsível. Pronta?"

"Outra vez essa infame pergunta." Draco se limitou a revirar os olhos.

"Procure." testou a palavra em sua boca, seus olhos fixos nos castanho escuros, que mostravam que, como ele, a jovem não esperava, definitivamente, a intensidade daquilo.

O sonserino engoliu seco, fechando os olhos e se dando alguns segundos para absorver e se acostumar com a força invisível que parecia puxa-lo para a bruxa sentada a sua frente - Ginevra sentia o mesmo? Agradeceu por aquela sensação ser muito mais forte onde se localizava a joia do que em outras partes do seu corpo, e respirou fundo. Sim, ter aquilo fixado em seu umbigo ou qualquer outro lugar mais abaixo seria enlouquecedor - além de inútil.

Seu coração já batia acelerado quando se atreveu a levantar uma mão para toca-la, mas não era assim que o feitiço era quebrado, sabia - e sabia como quebra-lo, e o que deveria fazer, mas aquela maldita sensação enlouquecedora estava boa pra caralho. E sim, ela sentia o mesmo, sabia ao olhar naqueles olhos tão ridiculamente expressivos - quase pretos naquele momento. Estariam os dele iguais?

"Wow."

O toque deles foi como um choque - realmente, wow: não haviam palavram para descrever a sensação. E ele precisava beija-la, novamente aquela comparação estúpida em sua mente - Ginevra era tipo a porra do seu oxigênio. E no segundo seguinte os dois estavam no chão, ao lado da jaqueta e da capa sonserina - sempre tão gigante na grifinória -, ela achando suas costas por debaixo da camiseta - logo acompanhando a jaqueta e a capa -, e não estava mais frio, estava tudo menos frio naquela estufa.

Achou que tudo aquilo fosse ter fim quando seus lábios alcançassem enfim o lóbulo ainda tão vermelho da bruxa, quando as jóias se tocassem, mas mesmo com o encanto quebrado a vontade de ambos não havia diminuído, as mãos da ruiva explorando seu peito, seus pontos sensíveis - e ele parecia derreter com aquele toque. Soltou um gemido que nem sabia que segurava quando as mãos quentes acharam o cós de seu jeans, fazendo seu corpo automaticamente pressionar mais forte contra o dela. Afastou a boca do pescoço que beijava - aquele cheiro tão dela sendo tão inebriante - quando sentiu seu cinto ser aberto.

"Se você tirar mais alguma coisa, eu não vou querer parar." avisou, e por Merlin, tinha conhecimento da resposta que viria só de olhar para aqueles olhos.

"Eu não quero que você pare."

Tenacidade. Ruiva teimosa pra caralho, cara de pau pra caralho, que iria provoca-lo até sua morte, e ele sabia que teria que parar se a bruxa mudasse de ideia, por mais que não vestisse peça alguma quando - e se - aquilo acontecesse. Mas foda-se, porque valia a pena cada segundo daquele toque, cada milésimo daquela pele contra a sua, e Draco não conseguia mais pensar quando ouviu o som que a grifinória fez quando suas mãos foram da cintura para cima, copiando a exploração dela de segundos atrás.

"Não pare." Como se fosse conseguir aquilo agora. Como aquela bruxa conseguia fazer com que apenas toca-la fosse assim tão bom? "Por Merlin, não pare." Nunca havia sido bom tocar em nenhuma outra - bom era ser tocado, bom era o ato em si. Então sim, era ridículo sentir tudo aquilo com sua mão roçando em um dos seios da bruxa, era patético sentir-se inebriado ao tocar a pele sardenta daquele pescoço com os lábios.

A deixou empurra-lo para baixo, e novamente a ruiva jogou aqueles cabelos vermelhos - eles tinham vida própria, e era um quase espetáculo vê-los se mexendo daquele jeito contra a luz da lua. Mais uma vez sentiu-se patético ao hesitar em abrir o zíper do vestido verde - que gostaria de, falando bem a verdade, rasgar - e suas mãos demoraram para achar o fecho traseiro - sentia as mãos tremerem só de pensar que enfim veria até onde aquele corpo era coberto pelas sardas.

No momento seguinte agradeceu pelas mãos patéticas, e pelo vestido ainda fechado da grifinória.

"Gina?"

Draco conhecia aquela voz - bem demais. Sorte filha de uma puta.

"Você só pode estar de brincadeira." bufou, colocando a ruiva de seu lado ao sentar-se enquanto encarava os olhos verdes desacreditados. "Me deixe adivinhar, também não posso estuporar esse aí, certo?"


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