Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 25
Oclumência




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Quarta, 25 de outubro.

Era possível aguentar o dia - e as terças com Severo - enquanto tivesse aquela visão em suas manhãs, em suas tardes, e sempre que possível, em suas noites. Ginevra - antes detestável admitir isso, agora bem mais fácil - tinha uma beleza que o atraía. Não, ela não era deslumbrante, não, o corpo dela não era um que fazia todos os homens virar o pescoço. Mas nunca vira olhos tão expressivos, cabelos tão vivos, um jeito tão irritantemente encantador. Até mesmo as sardas conseguiam ser ridiculamente perfeitas naquele conjunto. Linda, para ele.

Assim, por mais que Transfiguração fosse cada dia mais irritante para o sonserino, por mais que as aulas de Binns lhe dessem cada dia mais sono, por mais que sua falta de concentração lhe rendesse movimentos errados durante a aula de feitiços, e sua falta de paciência acabasse em detenções, justo em Poções - matéria na qual sempre se destacara -, Hogwarts era um lugar mais aturável - sua vida era uma mais suportável - por causa da ruiva Weasley. Sim, Draco Malfoy gostava de deixar seus olhos na mesa grifinória ultimamente.

E a visão da bruxa de lindas pernas, que usava aquele brinco de obsidiana verde - presente dele, tão bem aceito e tão bem retribuído no dia anterior - quase sempre compensava o perigo que ele corria perdido naquela mesa. Quase sempre.

Naquele momento, apenas tornava seu dia ruim em um dia péssimo.

Para todos, a ruiva não é nada sua. E isso é apenas um cumprimento entre dois amigos. Entre o filho da mãe do Potter e a tonta que não tem a capacidade de ver o quanto ele está dando em cima dela descaradamente.

Os olhos voltaram para seu almoço, que já não parecia mais tão apetitoso.

Apenas um amigo o caralho.

Não via nenhum outro amigo tão perto, tão alegre ao cumprimenta-la, tão revoltantemente feliz ao colocar um braço ao redor daqueles ombros pequenos. Por um momento procurou Parkinson - ela também era apenas sua amiga, não era? Ginevra não poderia sentir ciúmes de uma amiga, afinal, por mais próxima que a amiga estivesse.

Não seja mais babaca.

Se levantou sem mais tocar na comida, seu maior desejo no momento sendo o de ir até aquele quatro olhos maldito e tirar o sorriso ridículo que ele usava no soco. Sim, Draco Malfoy poderia não ser o melhor bruxo no castelo para uma briga sem varinhas, mas o sonserino sabia dar alguns bons socos antes de tomar um - como já havia mostrado para o bruxo em questão no começo daquele ano letivo.

Mas não, ele não poderia ir até lá realizar seu desejo por primeiro, aquilo não acabaria bem aos olhos da maldita ruiva, segundo, aquilo com certeza o faria tomar uma boa detenção, terceiro, Flint estava no seu caminho.

"O que você pensa em fazer, Malfoy?" Flint era poucos centímetros mais alto do que Draco, mas aquilo não o intimidava nem um pouco. "Gritar 'ei Potter, solta a minha garota'?"

"Ela não é minha garota." Ele respirou fundo pela primeira vez: violência física gratuita não leva a nada. Não leva a nada o caralho, e seu pai já havia provado mais de vezes que uma boa surra fazia milagres.

"Então por que você sempre me impede de foder com ela?" Ele respirou fundo pela segunda vez: impediria até o fim de sua vida Flint tocar em sequer um fio daqueles cabelos.

"Ela não é minha garota." Negaria veemente, seus olhos nunca fazendo contato com os negros do sonserino mais velho. Forçou passagem, esbarrando no ombro do bruxo - pronto, bastava ir embora, bastava sair dali, bastava ir para qualquer lugar longe de tudo naquele maldito colégio.

"Um dia, você não vai estar perto dela." Mas não foi rápido o suficiente para perder aquelas últimas palavras. "Nesse dia, é o meu nome que ela vai gritar."

Foi a gota, e Malfoy esqueceu-se totalmente da varinha no bolso da capa: acertar Marcos com uma azaração não faria nem um quarto de toda sua raiva desaparecer. Mas seu punho fechado acertando o queixo do rapaz faria milagres, assim como ir para cima do mesmo depois do moreno ir ao chão após mais três socos, apenas um acertando o loiro no supercílio - a pele com certeza fora aberta, dava para sentir.

Em segundos havia um amontoado de sonserinos ao redor dos dois, incentivando aquilo a continuar - não que ele fosse parar agora.

"Eu acabo com a sua raça!" mais um soco, Draco sorrindo um sorriso quase sádico. Estava até sentindo-se melhor, realmente, violência física poderia não levar a nada no caso, mas era desestressante pra porra. Não iria parar tão cedo, precisava daquilo, depois dos últimos dias precisava daquilo mais do que nunca, por mais que agora fosse ele quem estava no chão. Não notou Zabini entrando no meio da briga, e só parou de lutar quando um par de braços mais fortes o seguraram com quase raiva.

A voz que seguiu o fez sentir o quão fodido estava.

"Os dois, para a minha sala, AGORA!"

...

Seus punhos estavam cerrados enquanto olhava desacreditada para a cena. Que diabos?

Por um momento, esquecera-se de que aquele que começara tudo era Malfoy, o sonserino que amava chamar a atenção, que tinha como hobby implicar com alguém, o bruxo pelo qual a bruxa não poderia demonstrar qualquer coisa publicamente, não por ela, mas por ele, não agora e talvez nunca. Por um momento, aquele que batia e que também levava alguns socos, era apenas Draco, o jovem que a fizera esquecer de Potter, que lhe dera penas de algodão doce, que tinha o beijo mais delicioso do mundo, que não saía dos seus malditos pensamentos.

Então, por um momento, por um breve instante, Ginevra não computou que aquela ação seria considerada estranha. Não sabia por que Harry a olhava de um jeito estranho por ter arfado e colocado a mão na boca, por ter se levantado rápido demais e ido em direção ao círculo que era formado. Por naquele pequeno momento o bruxo envolvido na briga ser apenas o bruxo que ela amava, Ginevra estava a ponto de ter um ataque - Draco não precisava se machucar mais, não ali, não agora.

Nunca pensou que ficaria feliz em ver Snape. Agradeceu a Merlin quando ele e McGonagall separaram os dois alunos, antes que os danos continuassem. Mesmo Draco sendo o mais inteiro, Gina o viu levar uma boa surra na hora que a situação se inverteu, e o sangue escorrendo por um corte no supercílio assim como o queixo já um pouco roxo comprovavam aquilo.

Acabou. Calma Ginevra, sem motivo para ficar nervosa, sem motivo algum - ele não é ninguém.

Ele já era tudo - tarde demais - e Ginevra daria tudo para aquele rapaz, naquele momento, ser um bruxo qualquer, de uma família qualquer - e que se dane se fosse um sonserino, desde que não tivesse aquele sobrenome, aquela marca, aqueles impedimentos. Pois tudo que gostaria era ir até ele e perguntar o que tinha acontecido, era entrar na enfermaria - onde Draco provavelmente acabaria no final da conversa com os professores - e ver seu estado, ver o quanto tinha se machucado, vê-lo.

A situação estava se provando ser mais difícil do que nos tempos da ignorância de Potter.

Potter. Quase riu ao notar chamar o moreno pelo sobrenome - atitude tão do sonserino. Potter.

"Malfoy, sempre querendo chamar a atenção." foi a primeira fala de Harry, e Ginevra queria começar uma briga ela mesma agora. Como conseguia, como admitir assim fácil que era algo por atenção? Havia sido com Flint, não? Era nele em quem Draco batia, não era? O que havia acontecido agora, o que ele havia feito agora, Colin, onde estava Colin, ele com certeza sabia porque Blaise deveria saber, e ela só precisava acha-lo-

Respira.

"Ele não estava querendo chamar a atenção de ninguém." E foi ridículo, ao menos ela achou ridículo, estas palavras saírem tão espontaneamente de sua boca, antes dela conseguir para-las - era ridícula. O moreno também deve ter achado aquilo completamente fora do comum, pois a olhava um tanto que desacreditado. "Será que ele se machucou?" No próximo segundo as mãos foram para a boca, será que tampada ela falaria menos besteiras?

Resolveu que o mais coerente em se fazer era voltar para a mesa como se nada tivesse acontecido.

"Você ouviu o que acabou de me perguntar?" Notou que a voz do bruxo saíra diferente do normal, carregada de uma provável raiva. Sim, ela ouviu bem o que acabara de perguntar - e realmente gostaria de uma resposta para o questionamento - e colocou quase meia panqueca inteira na boca para parar de expressar qualquer coisa, dane-se o quão ridícula parecia e o quão nojento estaria sendo vê-la mastigar tudo aquilo de uma vez. "Gina, é o Malfoy de quem estamos falando! E daí se o babaca se machucou?" Era tão certo, e ao mesmo tempo tão errado ouvir tudo quieta.

Lembrou-se de que, graças a Merlin, Harry não sabia de nada. Não sabia de nada, e não poderia falar de qualquer outro jeito.

E provavelmente nem falaria, mesmo se soubesse o que andava acontecendo: os bruxos se odiavam, e Malfoy, tinha que admitir, fora um maldito em todos aqueles anos. Com Harry, com Ronald, com Hermione, até mesmo com ela. O loiro não era flor que se cheirasse até semanas atrás, mas agora era tão diferente, era tão-

Será que ao menos sua família aceitaria a situação, sabendo dela por inteiro? Tendo ciência do que o sonserino sentia, do que havia feito, de quem e do que a salvara?

"Você anda estranha, Gina."

Sim, é que eu estou gostando de Draco Malfoy. Assustadoramente para Ginevra, a resposta quase foi dita em voz alta.

...

Seu queixo doía, assim como seu supercílio cortado e cuidado com pontos e anticéptico - ao modo trouxa, pois nenhum dos sonserinos merecia ficar sem os incômodos da briga daquela manhã. Ao menos Flint estava no mínimo três vezes pior - filho da puta, ainda iria matá-lo.

Respirou fundo, olhando para o relógio: ela estava atrasada. Maldição, pare de comer e venha logo, bruxa. Pare de conversar com seu amado Potter, na frente de todos, sem problema algum, sem medo algum, e venha ter logo sua maldita aula de oclumência, mas que merda.

Oclumência. Não estava nem um pouco confiante que a garota seria muito boa naquilo - era tão aberta, dava para ver naqueles olhos, na sinceridade que espalhava-se sempre em todo aquele rosto. Ele provavelmente teria um trabalho do caralho.

"Oi." A voz o fez olhar para a porta bem a tempo de vê-la sendo fechada pela ruiva - aqueles cabelos infernais ficavam lindos tanto soltos quanto como hoje, presos naquela trança. Linda, era ela linda, e viva, praticamente um fogo ambulante. Valia a pena.

"Até que enfim, bruxa." E ele sorriu o sorriso que a bruxa dizia tanto gostar, e foi a coisa mais natural do mundo pega-la nos braços e cumprimenta-la com um beijo nos lábios - e Draco deixou-se surtar mentalmente por cinco segundos com toda aquela naturalidade. Mais uma vez lhe veio à cabeça o pensamento tão recorrente: ele estava fodido. Ele estava fodido pra caralho. "Que cara é essa?"

Ginevra talvez estivesse com o mesmo problema que ele: simplesmente faltavam palavras. E não, não era de uma forma romântica que vinha a ausência, pelo contrário: tudo era tão novo e tão improvável, e tão difícil, que muitas vezes não tinha o que ser falado. Mas o sonserino se contentava com os olhos castanhos e sua enxurrada de emoções.

Os dedos que traçavam seus lábios eram delicados, quase temerosos - era pelo corte perto do canto esquerdo?

"Não se preocupe." disse, mantendo o mesmo sorriso. Não se preocupe, vai dar tudo certo, ele faria tudo para tudo correr bem, nem que morresse tentando. "Não dói."

"Eu quase surtei quando vi você no chão." A confissão finalmente veio, assim como seus lábios enfim acharam a mão que percorria seu rosto. "Eu queria sair correndo até onde você estava. Eu queria ir atrás de você quando foi embora. Eu queria-" Malditos olhos, tão expressivos, e tão marejados. Os dedos tocaram a pele próxima ao corte e o bruxo suspirou, fechando os olhos. "Você me deixou tão preocupada, seu idiota!" Se a ruiva ficava preocupada com uma briga estúpida, não queria ver quando a briga fosse-

"Não foi grande coisa." se limitou a responder, apertando a mão que segurava.

"Para mim, foi."

O beijo que seguiu não teve nada de terno, e foda-se seu lábio ainda dolorido, fodam-se todos os pensamentos que os assombravam tanto. Precisava daquilo, daquele beijo, era como se sua vida dependesse disso, uma necessidade quase selvagem - e foda-se oclumência, não era exatamente a mente da ruiva que Draco gostaria de ter naquele momento.

Era quase engraçado - já não estivesse um pouco desesperador, e não houvesse graça nenhuma na situação vista em sua totalidade - como aqueles dois sempre acabavam querendo se livrar das roupas ultimamente. E ele deveria deixar Ginevra continuar a tentar tirar sua camisa, a dela já alguns botões abertos, e sim, foda-se oclumência, e as ordens de Snape, e foda-se que os dois tinham menos de uma hora ali naquela sala e que seu lábio já pulsava de dor, assim como outras partes de seu corpo. Merlin, se continuasse assim, não conseguiria parar mais naquela noite, sabia que não conseguiria assim como sabia que suas dúvidas eram quase certezas, e ela com certeza merecia mais do que um chão qualquer e meia hora de seu tempo em sua primeira vez.

E sim, foi engraçado a cara confusa da grifinória ao ser sentada na cadeira, as mãos de Draco a segurando ali pelos ombros.

"Precisamos começar com isso, e não dá pra eu me concentrar com você assim."

"Não precisa se concentrar." a resposta da bruxa veio num tom aborrecido.

"Acredite, eu quero rasgar a sua roupa tanto quanto você parece querer rasgar a minha." riu ao ver a vermelhidão se espalhar naquelas bochechas. "Mas acredite, bruxa, eu preciso que você saiba se defender pelo menos um pouco."

"Eu sei me defender!" O sonserino revirou os olhos com a afirmação.

"Sabe o básico de oclumência?" perguntou, ele mesmo sentando-se numa cadeira em frente à bruxa.

"Oclumência é a defesa mágica da mente contra invasões externas. Você usa basicamente para esconder suas mentiras, mas para isso você precisa esvaziar a sua mente." a grifinória disse, parecendo orgulhosa de si mesma pela explicação.

"Na teoria, parece muito fácil. Alguém já tentou invadir a sua mente?" Por um momento ele congelou: que olhar era aquele? Alguém realmente já tentara? Mas no segundo seguinte ela o olhava com apenas curiosidade - deveria estar vendo medo em tudo, até mesmo naqueles olhos. "Você com certeza não vai conseguir hoje, e provavelmente também não na semana que vem, e nem na outra. É treino, e eu preciso que você treine."

"Como sabe que não vou conseguir?"

"Porque você é orgulhosa e sentimental." Novamente a cara aborrecida. "Não faça esse bico, você sabe que é."

"Você também é!"

"Orgulhoso." admitiu, orgulhoso pra caralho, inclusive. "Nem um pouco sentimental." Ao menos, não até aqueles últimos dias. "E desde pequeno, eu aprendi a ser contido." Contido. Sim, era aquela sua salvação, saber ser contido. "Ajuda muito."

"E eu preciso aprender isso mesmo por que?"

"Porque você tomou a decisão estúpida de continuar comigo, e por mais que eu me esforce, e por mais que todos te protejam, um dia pode não ser o suficiente. E quando isso acontecer-"

"Se isso acontecer." ela interrompeu.

"Se isso acontecer," bufou, contorcendo a boca. "Eu preciso que você saiba contar a sua melhor mentira na frente das piores pessoas." disse, e Ginevra sabia muito bem a quem ele se referia. "Se eu não tiver sido descoberto, você é minha parceira - e assim, ninguém pode te tocar."

"E por que desde sempre eu não posso ser sua parceira?" Meu Merlin, ela realmente não entendia no que estava se metendo, entendia? Realmente não entendia que aquilo tudo poderia ser tão além de sua família, da família dela, da aceitação que provavelmente nunca viria, dele poder protege-la para sempre da parte mais cinza daquela guerra por ter aquela maldita marca no antebraço.

"Porque se eu for um traidor descoberto, você precisa me negar até o fim. Então é melhor ninguém associar você à mim, porque se algo der errado-" Se amaldiçoou pelo pensamente, mas seria tão mais fácil se a ruiva tivesse se contentado com Potter. "Vamos focar apenas em tentar me bloquear hoje, ok?"

A viu respirar fundo antes de dar uma resposta positiva.

"Eu vou forçar, não me deixe entrar."

"Ok."

"Pronta?" Ele mesmo respirou fundo ao ver o sentimento de antes refletido no rosto da jovem. Ginevra, tão transparente, assustada pra caralho. O que diabos tinha dentro daquela mente que ela poderia não querer que o sonserino visse? "Esvazie sua mente, Gin. Não pense em nada. Fique calma." Esperou um aceno de cabeça da grifinória antes de enfim começar. "Legilimens!"

Draco sentiu algo morno em seu peito, ao mesmo tempo em que viu cinza - merda Ginevra, aquele começo por si só já era tão errado, tão facilmente interpretável! Ela estava feliz, mas havia algo ali, havia um sentimento contraditório e tão facilmente acessível. Não precisou cavar muito mais fundo para ver suas piores lembranças - aquelas que a jovem deveria estar querendo tanto esconder, e sendo assim as deu de bandeja para ele.

O bruxo deveria ter parado ali, a ruiva estava com medo, ele sentia o medo antes mesmo de ver qualquer coisa. A via escrever, escrever muito, e via o cicatriz muito mais novo - era o primeiro ano dela em Hogwarts? O que aconteceu de tão ruim no seu primeiro ano? Era o segundo ano dele. O garoto Creevey havia sido transformado em pedra junto com todos aqueles outros alunos, era o ano da câmara secreta, do herdeiro de Slytherin, claro que aquele fora um ano ruim para a grifinória - mas por que querer esconder aquilo? Se ela estava pensando naquilo era porque queria esconder, óbvio que ainda não sabia dos truques, óbvio que não sabia nada de oclumência, e então estava num lugar tão úmido, e parecia tão fraca - o que havia acontecido com Ginevra em seu primeiro ano? Aqueles olhos verdes a observavam com uma dó que era angustiante, ela odiava aquilo, não queria mais ver aquilo.

Puta que pariu, a bruxa tinha estado na câmara. E um Voldemort tão mais novo, antes de corromper a alma a ponto de se transformar no monstro que era hoje, estava ao seu lado, e estava na cabeça dela mesmo agora, sempre sussurrando coisas, sempre a influenciando, entrando em sua mente, em seu corpo, e era tão claro agora o porquê do medo nos olhos castanhos, assim como era tão óbvio que aquele objeto, o diário, tinha algo de errado, tinha algum feitiço, alguma coisa escura, onde tinha visto aquele diário?

Rompeu a ligação quando comprovou suas desconfianças com aquela última memória. Merda.

Era com Lúcio.

"Como você-" Era ela a dita herdeira de Slytherin. "Gin, eu não sabia." Pior: era ela quem havia sido manipulada para ser tal, para fazer tudo aquilo, para transformar aqueles alunos em pedra, seus colegas, seus amigos. "Eu não sabia que tinha sido você quem abriu a câmara."

Era com Lúcio que ele havia visto aquele diário. Há muito tempo atrás, como se recordava nem ele mesmo sabia, mas tinha total certeza que o objeto era o mesmo de suas lembranças.

"Você viu tudo que eu vi?" A voz estava tão baixa, e Draco xingou ao ver as mão da bruxa tremerem. Foi uma lágrima que o sonserino viu escorrer que o fez se levantar e envolver as mãos trêmulas com suas grandes. Por que ela não o olhava? Estava com vergonha, com medo, estragara, afinal, tudo aquilo? A grifinória, com aquelas memórias tão frescas, enfim percebera no que se metia? No que estava entrando cada vez mais, no que ele era, para quem ele havia jurado lealdade?

Ou pior, de quem ele era filho. Sim, Ginevra sabia muito bem quem era o pai de Draco Malfoy - e ela sabia, lá no fundo ela sabia, que fora Lúcio o responsável pelo inferno de seu primeiro ano.

"Não me olhe com dó, Draco." a grifinória disse, livrando suas mãos das dele. "Não me olhe diferente de-"

"Você acha que eu estou pensando no que agora, Ginevra?" pela primeira vez, a voz do loiro era suave, mas aquilo pareceu despertar ainda mais a raiva na bruxa, que praticamente cuspiu as próximas palavras.

"Em como a pobre Weasley foi manipulada em seu primeiro ano! No quanto ela era fraca, e ridícula, e tinha uma paixonite idiota que só lhe dava vergonha!" ela quase gritava, fungando enquanto tentava segurar as próximas lágrimas. Por um momento considerou novamente entrar naquelas memórias, conseguiria ele saber o que a jovem estava sentindo? Se estava com raiva, com medo, se queria ir embora, se queria que ele fosse. "Você mesmo caçoou disso!" Ele? "Você não lembra, mas eu lembro como se fosse ontem, eu lembro de tudo que consigo lembrar daquele ano, e eu não queria-" Se amaldiçoou por ter começado com as aulas justo hoje, sem dúvida deveria tê-la deixado tirar sua roupa.

"Eu não estou te olhando diferente, Gin." se esforçou inutilmente para não levar as mãos as têmporas, ambas massageando sua testa no minuto seguinte - maldita mania para tentar recuperar alguma maldita calma.

"Está sim!" Agora a bruxa estava gritando. "Está me olhando com os mesmo olhos dele, está me olhando como ele me olhou durante todo meu segundo ano, e o meu terceiro, pobre Ginevra, tão nova para passar por tudo aquilo! Como se eu não fosse forte!"

Os olhos verdes enfim fizeram sentido.

"Preciso ir, continuamos depois." O sonserino não fez nada para impedi-la de sair pela porta.

A ruiva havia aberto a câmara. A ruiva havia convivido com um pedaço da alma do bruxo que todos tanto temiam durante um ano inteiro, havia aberto a câmara, havia quase morrido - e ali estava ela. Firme. Tenaz. Viva.

Naquele momento Draco Malfoy nunca mais duvidou da força que Ginevra Weasley possuía.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado de mais esse chap, e comentários sempre alegram meu dia, então pra quem puder, fique a vontade! ;*



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