Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 15
Hogsmeade




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Sábado, 14 de outubro.

Ginevra fez questão de cuidar um pouco mais do que o normal de sua aparência naquele sábado. Mesmo sendo com Storms seu encontro, queria estar bonita - precisava se sentir bonita - depois da semana infernal que tivera. Olhou satisfeita para o resultado que o espelho mostrava: unhas vermelhas, maquiagem cabelo perfeitos, saia e blusa de lã combinando junto de uma meia grossa. Não chovia naquela manhã, mas esfriara consideravelmente. Aquele era um clima bom para os casais.

"Não saia com Storms."

Era tão irritante ela simplesmente não conseguir focar naquele encontro.

"Gin, não saia com Storms amanhã."

Bufou, virando-se para a cama.

Quem eles pensam que são?

"Se arrumando para alguém, Gina?" A pergunta veio de Ravenis, que terminava de amarrar seu cabelo num rabo de cavalo.

"Aceitei o convite de Aeon." Ginevra respondeu dando um esboço de um sorriso enquanto colocava uma capa mais quente por cima das vestes. "Combinei ontem à noite de me encontrar com ele no Hall em," Olhou para o relógio. "Dez minutos."

"Você já vai com ele?" Ela confirmou. "Aaahh, quer dizer que nossa santa Ginevra vai desencalhar, finalmente!" a loira disse em tom de brincadeira. "Fico feliz que você tenha esquecido o Potter, Gin." Queria rir com aquele comentário: queria ver a cara da amiga se ela soubesse que suas provocações quanto a um sonserino estavam longes de serem apenas provocações. "Quero dizer, você esqueceu o Potter, não esqueceu?"

"Definitivamente." E infelizmente, completou mentalmente, colocando um cachecol vermelho por cima de tudo e sentando-se novamente na cama, enfiando dentro de um dos bolsos da capa um saquinho com alguns nuques. "Minha mente está livre de grifinórios por enquanto, então não se preocupe."

"Vê se chega um pouco depois da hora." Era a japonesa quem entrava no assunto. "Pelo menos dez minutos. Eles gostam de esperar." ela aconselhava. "Acha que ele vai te levar na casa de chá da Madame Puddifoot?"

"E por que ele me levaria lá?"

"Oras, vocês tem um encontro, não é mesmo? Todos os casais de Hogwarts vão para lá para terem um pouco de privacidade." provocou Sati.

"Nós não somos um-"

"Casal, ainda." Raven tratou de completar a sentença da amiga. "Gina, você vai sair com um dos bruxos mais cobiçados de Hogwarts!" falava, empolgada. "Se eu estivesse no seu lugar, tratava de fazer ele ficar logo enrolado no meu dedinho! Um bruxo desses comendo na sua mão é tudo que você precisa no momento."

Levantou-se para ver mais uma vez seu reflexo no espelho. Arrumou o cachecol no pescoço, passou a mão pelo cabelo solto - tão ondulado, obrigada Colin - e outra vez olhou para o relógio. Faltavam dois minutos agora.

"Acho que já vou descendo." disse, girando a maçaneta da porta do quarto. "Quero ver se consigo chegar lá em baixo antes de Ronald, vocês já sabem como ele é comigo e garotos, não sabem?" A última coisa que precisava depois de sua semana era um mini escândalo de seu irmão.

"Garotos, quem consegue entende-los?"

"E depois falam que nós somos complexas!" E a porta foi fechada.

...

Na mesa sonserina, Draco ainda tomava o café da manhã, mastigando uma torrada enquanto folheava o exemplar de sábado do Profeta Diário, tentando focar sua atenção em alguma matéria importante.

Manchete inútil, artigo inútil, alguma coisa do Ministério.

Virou a página.

Inútil, inútil, inútil, completamente sem nexo e inútil.

Outra página.

Quem anda escrevendo esse monte de lixo?

Com um suspiro frustrado, tacou o jornal num canto da mesa, pegando outra torrada. Olhando brevemente ao seu redor, notou que o salão estava praticamente deserto, e xingou quando ouviu a chamada sendo feita no Hall. Estava tão atento no papel tentando achar algo útil para ler, que nem mesmo percebera o Salão Principal esvaziando-se pouco a pouco.

Engoliu o que tinha na boca, tomou um último gole de seu café, e apressou-se para o Hall de Entrada. Seus olhos procuraram por uma cabeça ruiva, mas a única que eles acharam foi a de um rapaz que o loiro queria distância. Ginevra provavelmente já estava numa carruagem com Aeron, e quando Draco pensou nisso, ficou outra vez com uma enorme vontade de chutar aquele corvinal.

"Então, qual é o plano Malfoy?" Era Colin Creevey que perguntava - nem mesmo havia visto o bruxo chegar junto de seu amigo.

"Cara, não tem como fazer isso sozinho." Zabini se adiantou antes que o sonserino objetasse. "Colin não vai falar nada para Ginevra, mas ele precisava saber porque diabos precisamos colar na ruiva."

"Onde ela está?" o loiro perguntou ao grifinório.

"Dentro de uma das carruagens com Storms, provavelmente." Maldição. "Eu não sei porque tem um babaca fissurado na minha amiga Malfoy, masse alguma coisa acontecer com ela-"

"Grude nela. Com ela vendo ou não, não a deixe escapar de vista, Creevey." Foi a resposta dada, Draco se adiantando para uma das carruagens ao ver o rosto de um sonserino muito conhecido. "Eu vou fazer o mesmo com Flint."

...

Chegaram às onze em ponto no pequeno vilarejo. Ginevra olhou receosa para os cantos, a procura do irmão, e quando o viu saindo de uma das últimas carruagens, apressou o passo. Não pôde deixar de notar que ele estava junto de Harry e Hermione, e sorriu, tomando nota mental de perguntar a um dos três se aqueles dois finalmente se entenderam outra vez. Mas foi quando seus olhos acharam o loiro platinado que ela acelerou, quase arrastando o corvinal junto dela por uma rua transversal à principal.

"Então, onde você quer ir?" o bruxo perguntou, aparentemente ignorando a pressa repentina de Ginevra em sair dali.

"Para algum lugar mais quente, com certeza." ela respondeu, parando para sentir o vento gelado que batia em seu rosto pela primeira vez no dia. Merlin, estava frio!

Não objetou quando sentiu um braço em cima de seus ombros, a puxando para mais perto. Mas por mais agradável que o novo calor fosse, ela precisava admitir: Storms não cheirava a grama.

"Sei de um lugar ótimo para esse frio!" A ruiva deu um sorriso, tentando pela talvez quinta vez naquele dia tirar um certo sonserino da cabeça. Isso, o bruxo poderia tomar a iniciativa, poderia leva-la para qualquer lugar, desde que a distraísse daqueles pensamentos irritantes.

Eles continuaram a andar, passando pela Zonko's, pela Gladrags, parando rapidamente em frente à loja de equipamentos de quadribol, onde o batedor da Corvinal observou por um momento a vitrine antes de mais uma rajada de vento frio os fazerem continuar a andar.

"Hoje esfriou muito." Ela sentiu o braço apertar mais ao seu redor. Era irritante como aquilo tinha tudo para ser agradável, mas ainda assim não era. "Com o frio que está fazendo, é capaz que acabe caindo neve ao invés da chuva que está se formando!" Foi a primeira vez no dia que percebeu as nuvens não tão brancas no céu. "Mesmo estando ainda em outubro."

Pararam em frente à Madame Puddifoot - mais uma vez as garotas estavam certas -, e Ginevra olhou ao seu redor antes de entrar com sua companhia: não parecia haver ninguém conhecido nos arredores daquela casa de chá, e muito menos dentro, como percebeu após sentar-se ao lado de Aeon.

Pelo menos o lugar era quente - muito quente. Imediatamente ficou com calor com a capa a cobrindo e tirou-a, colocando-a junto com a do corvinal em cima da mesa. Não demorou para uma mulher de meia idade, um tanto robusta, vir atende-los, recolhendo os pedidos. O braço do corvinal estava na sua cintura, e ele falava de alguma coisa sobre quadribol que ela apenas concordava e sorria, sua mente a quilômetros de distância dali.

Não saia com Storms.

Fique com seus amigos.

Fique com seus amigos, não fazia o menor sentido o sonserino lhe falar aquilo. Como se ela não pudesse ficar sozinha! Quantos anos aquele bruxo achava que ela tinha, cinco? Não era como se estivesse andando sozinha pelas masmorras, afinal.

"Seu café," foram os pedidos chegando que voltaram Ginevra para a realidade. "E seu chocolate quente com marshmallows."

Tomou um gole, tentando com todas as forças focar no que Aeon falava - quadribol ainda, sério? - ao invés de deixa-la voltar para o tópico platinado a cada minuto.

Quadribol Ginevra, vamos lá, você gosta de quadribol.

Goles. Pomo - não, pomo não. Artilheiros. Pontuação. Campeonato.

Campeonato das casas. Aeon era o batedor da Corvinal.

Draco era o apanhador da Sonserina.

E lá vamos nós outra vez.

"Eu venho muito aqui." A mão dele na sua, agora sem luvas, era quente, agradável. Ele inteiro era agradável, ainda mais de se olhar. Então por que - por que - era tão difícil focar no que o bruxo estava falando? "Gina?"

"É agradável sim, muito." Nos seus pensamentos, ela gritava todos os xingamentos possíveis e imagináveis.

"Você é muito bonita, sabia?" A mão em sua cintura a puxou para mais perto, a outra acariciando seu queixo. Ok, então era isso - ela iria beijar o corvinal, e ela iria beija-lo agora. E aquilo a ajudaria a tirar todo o resto de sua cabeça - porque sério, se aquilo não resolvesse, não sabia o que mais poderia adiantar.

Colou os lábios nos deles ao mesmo tempo em que um casal conhecido entrou pela porta. Malditos sonserinos, maldito Colin Creevey que saía justo com o bruxo que parecia ser companheiro inseparável de Malfoy. Ele só pode ter a amaldiçoado de algum jeito, não era possível: estava beijando um dos garotos mais lindos do colégio e estava pensando em Draco Malfoy. Em como os lábios de Aeon não lembravam em nada os do sonserino - que ela teve contato por cinco segundos, se muito. Em como seu coração quase saía do seu peito quando estava próxima daquele loiro, enquanto com o moreno ele continuava no mesmo ritmo de segundos atrás. Em como Aeon cheirava errado.

O bruxo não entendeu quando ela separou-se segundos depois, levantando-se e agarrando sua capa.

"Eu fiz alguma coisa-"

"Me desculpe," o cortou, colocando na mesa a quantia de seu chocolate quente. "Eu não consigo, Aeon."

Estava chovendo - não nevaria naquele dia, como previsto pelo corvinal - quando Ginevra saiu do estabelecimento. Poderia estar caindo a maior das tempestades e ela ainda se negaria a voltar para dentro, mesmo sem um guarda chuva e com uma roupa que se encharcaria até chegar em qualquer outro lugar longe daquele. Então ali estava ela, molhando-se na chuva, rumando para o três vassouras - o local mais perto onde teria algum de seus amigos-, cortando caminho por uma rua que Ravenis e ela haviam descoberto ano passado.

Ela havia acabado de abandonar seu encontro, havia acabado de se levantar e abandonar o bruxo que passou a semana atrás dela, não conseguia pensar direito, por que havia feito aquilo? Em um minuto ela o estava beijando, e então aquele par de olhos cinzas dominou seus pensamentos, e seu coração estava prestes a acelerar quando ao invés daqueles olhos, achou apenas um par de verdes que não lhe causavam nada, absolutamente nada.

A chuva estava lhe deixando com mais frio do que imaginara antes de começar a enfrenta-la - era ridículo que só o pensamento no sonserino já lhe causava um mínimo de calor. O cheiro de grama molhada entrou rasgando pelas suas narinas, tanto pelo frio que duplicara, quanto pelas memórias que voltaram para sua cabeça.

"Se eu estiver necessitado, como você diz, eu certamente não vou te procurar, Weasley."

Claro que não iria.

"E desde quando eu sou seu garoto?"

Ele era um babaca, e ela deveria ter mantido aquele raciocínio em sua mente.

"Eu sei que não é problema meu, mas Potter não sabe o que está perdendo."

Um babaca.

"Eu faria isso um dia. Mas só se você me acompanhar."

Um total, e completo-

"O que você está fazendo aqui sozinha, Gin?"

Demorou alguns minutos para a ruiva perceber que não estava só naquela travessa. Apressou o passo, tentando tirar a paranoia de que aquela pessoa a estava seguindo de sua cabeça. Virou na próxima rua, e não demorou um minuto para o bruxo ou bruxa escondido pela capa e capuz fazer o mesmo. Virou em outra rua aleatória, e quando viu que o sujeito continuava a copia-la, começou a correr.

Não ande sozinha.

Aquele não podia ser Aeon, podia? Tentava se lembrar se o corvinal carregava aquela vestimenta junto a ele enquanto se esforçava para suas pernas irem mais rápido, seu coração quase estourando dentro do peito. Ele poderia ter colocado o capuz por causa da chuva, não poderia? Ela mesma queria um capuz naquela hora.

Entrou em outra rua, bem menor, e conseguiu ser rápida o suficiente para virar em uma ruela antes de ver novamente seu perseguidor. Três passos depois, Ginevra parou de correr: não havia saída. Ela tinha entrado em uma maldita rua sem saída.

Não saia com Storms. Fique com seus amigos.

Sua respiração era rápida e seus pensamentos já começavam a ficar nebulosos. Ela estava em pânico, e agora, ali parada, estava se entregando a ele. A chuva caía até mais forte, tão forte quanto o ritmo de seu coração, que estouraria a qualquer momento se continuasse assim. Não tinha mais para onde correr, era aquilo, sentia seu peito pesar e por mais que inspirasse parecia que sufocava com a falta de ar.

Poderia ser paranoia de sua cabeça, não poderia? Poderia ser Aeon, poderia ser algum de seus amigos, poderia nem mesmo ser alguém atrás dela! Mas então por que os passos que ouvia eram de alguém que corria? E por que se aproximavam tanto?

Não tinha mais ninguém na rua.

Teria gritado se a mão que a puxou para trás de um pilar não tivesse acabado em cima de sua boca. Reconheceu aqueles olhos cinzas no mesmo segundo e nunca ficou tão contente por ver aquele bruxo: nem mesmo lembrava da discussão de ontem, e o quanto o queria morto até minutos atrás. A mão continuava tampando sua boca, os lábios do jovem falando um inaudível 'quieta', enquanto seus olhos azuis acinzentados observavam algo a sua direita.

Quando imaginaria que ficaria tão feliz em vê-lo, justo ele? Quando se passaria por sua cabeça que aquilo - ele assim perto - seria uma coisa tão desejada pela jovem? Ela sentia-se quente outra vez, mesmo com a chuva caindo sem piedade em cima dos dois.

Menos de um minuto deve ter se passado até ele deixar livre os lábios da grifinória, agora ambas mãos na parede, cada uma de um lado do corpo da bruxa. O sonserino estava de olhos fechados, e os fios loiros totalmente molhados pareciam um tom mais escuro. Tinha uma expressão de alívio em seu rosto, que rapidamente se transformou em uma raivosa. Ele tinha razão, ele tinha total razão em gritar com ela - pois era isso que, com certeza, viria. Tinha a mais completa razão em jogar um 'o que eu te falei?' na cara dela, enfatizando palavra por palavra. Uma coisa que Ginevra aprendera naquela semana fora que Draco Malfoy gostava - e muito - de comunicar-se naquele tom.

Mas o bruxo abriu os olhos - e sim, eles também refletiam sua irritação - e permaneceu quieto, para a surpresa da jovem. O coração de Ginevra mantinha o mesmo ritmo de antes, quase saindo pela boca, e por mais que ela tentasse, não conseguia desacelera-lo por nada. Como se manteria calma com ele assim tão perto? A testa dele quase tocava a dela própria, ele mesmo respirava pesado, as mãos tremiam enquanto prensavam o corpo da bruxa contra o pilar.

"Ginevra." A voz saiu rouca, aqueles olhos cinzas tão profundamente nos seus - olhos castanhos que provavelmente lhe contavam tudo que ela desejava naquele momento. "O que foi que eu te falei?"

Não foi um grito, nem mesmo alto aquela voz saíra - ao contrário, tinha sido quase um sussurro. Queria falar tudo que estava preso, tudo que estava entalado na sua garganta: você é irritante, odeio como você faz eu me sentir, gostaria de nunca ter te conhecido, pare de me afastar, me beije.

Ela nunca conseguiu responder.

...

Ele queria mata-la. Ele realmente queria mata-la. Draco Malfoy queria pegar aquela bruxa, gritar com ela dando o máximo de seus pulmões, e mata-la, quando os alunos da última carruagem desceram e nenhum deles era Ginevra Weasley.

E ele a procurou - por quase uma boa hora, depois de mandar seu amigo e o namorado deste fazerem o mesmo - até seus olhos encontrarem o bruxo que estava causando na sua vida. E não, não era Flint.

"Você não estava com a Weasley hoje?" perguntou para o corvinal, ele mesmo colocando o capuz que havia na capa por cima da cabeça, tentando se proteger da chuva forte que caía. Nem mesmo notou o grifinório moreno que andava de dentro do estabelecimento em direção à porta.

"Cara, ela saiu correndo, não sei o que-" mas Storms não teve a chance de terminar a frase antes de Malfoy disparar numa corrida.

Merda. Só esperava estar indo para o lado certo. Merda, merda, merda. A ruiva poderia pelo menos - já que tinha saído com o maldito corvinal - ficar com o maldito corvinal até o fim daquele maldito dia.

Ouviu um trovão ensurdecedor junto de um raio que cortava o céu, e só xingou mais alto - ninguém ouviria um maldito grito naquela tempestade, nem mesmo ele. Quase não enxergou um borrão preto bem à sua frente, finalmente lhe dizendo que corria na direção certa. Ginevra deveria estar logo a frente, com certeza. Ele precisava tira-la dali, qual rua era mesmo aquela? Como era mesmo o mapa daquela parte do povoado? Para onde ela poderia estar correndo, para onde ele teria que ir?

Destinação, determinação e deliberação. O indivíduo deve ser completamente determinado em atingir seu destino, e mover-se sem pressa, mas com deliberação. Havia um beco sem saída. Quais as chances dela parar justo naquele beco?

Com a sorte que andamos ultimamente?

Ele já havia feito aquilo antes, na verdade, uma das coisas treinadas exaustivamente no seu verão fora como aparatar sem deixar algum pedaço seu para trás. Conseguiria fazer outra vez, era só aparecer atrás daquele pilar naquele beco onde Ginevra com certeza iria parar. Porque afinal, sorte.

Todas.

Por mais vezes que já houvesse feito aquilo, a sensação de enjoo quando chegava ao destino nunca desaparecia por completo - mesmo sendo registrado, graças a Lúcio e os tantos bruxos que lhe deviam favores, aparatar com certeza era seu meio de locomoção menos favorito. Respirou fundo uma, duas vezes, lidando com a náusea por alguns segundos antes de abrir os olhos.

Ele conseguia escutar passos rápidos mesmo no meio da tempestade. Ela deveria virar ali em três, dois...

Graças a Merlin!

Draco a puxou para trás do pilar que o escondia no momento em que ela ficou suficientemente próxima, tampando seus lábios automaticamente para abafar qualquer grito que sabia que viria, enquanto seus olhos mantinham-se à sua direita, observando as sombras no chão. Seus lábios se mexeram formando a palavra 'quieta', sua mão suavizando um pouco o aperto quando sentiu os lábios da jovem formarem um sorriso.

Não notou que prendia novamente a respiração até solta-la ao perceber Flint finalmente passando reto pela ruela e virando na próxima rua, deduziu pelo som que conseguia ouvir e pelas poucas sombras que conseguia ver. Fechou os olhos e colocou com raiva a mão, que antes silenciava a ruiva, na parede, praticamente apoiando-se nesta. O que ele havia falado, qual fora a única coisa que ele havia pedido para aquela maldita grifinória teimosa?

Não ande sozinha. Fique com seus amigos.

Ele poderia esgana-la naquele momento! Abriu os olhos, observando pela primeira vez o estado da jovem à sua frente: encharcada dos pés a cabeça, o cabelo molhado grudando quase em cima de um dos olhos, respirando pesado pela boca. Sorrindo. Ela estava tão perigosamente perto outra vez. E ela estava lhe dando um maldito sorriso, seus olhos grudados nos dele.

"Ginevra." Draco queria gritar, queria socar aquela parede. "O que foi que eu te falei?"

Foi quando as mãos da bruxa tocaram sua cintura que ele soube que havia perdido sua batalha interna - naquele momento era impossível continuar longe. Foda-se sua missão, foda-se seu sobrenome, foda-se Flint.

Seus lábios colaram nos dela, seu corpo pressionando o da bruxa contra a parede molhada. Era um beijo urgente, necessário, e cada vez mais encorajado pela grifinória. Não conseguiu esconder um gemido quando sentiu a língua da bruxa tocar seus lábios, as mãos dela agora grudadas em seu cabelo.

"Eu poderia matar você," Ela tinha um gosto tão doce quanto o cheiro. "Eu poderia matar você, sua bruxa!" Sentia as mãos nas suas costas o puxando para mais perto - como se aquilo fosse possível.

Não conseguia parar, e sinceramente havia desistido de tentar desde que se rendera ao beijo. Não conseguiria parar nunca mais, não se Ginevra continuasse a esfregar o corpo no dele daquele jeito enlouquecedor. Suas mãos pararam na curva delicada do quadril da grifinória e a puxavam para ele com tanta necessidade quanto ela parecia ter. Sua boca desceu até a curva do pescoço da bruxa e ele mesmo sentiu um arrepio ao escutar os sons que saiam daqueles lábios.

"Melhor do que nos meus sonhos." A ouviu confessar com uma voz rouca enquanto descia com os lábios até sua clavícula. Não conseguia pensar direito com ela daquele jeito, tão perto, a única coisa que era capaz de registrar eram as mãos da ruiva debaixo de sua camisa, as suas praticamente copiando o gesto. A pele daquelas costas era macia, quase tão macia quando os lábios que voltara a beijar.

O barulho de algo caindo próximo que o fez voltar a realidade. Olhou ao seu redor apenas para encontrar um gato em cima de uma lata de lixo - provavelmente vindo do telhado. Quando seus olhos voltaram para Ginevra seus lábios quase fizeram o mesmo. Se lhe falassem há um mês atrás que aquela bruxa teria aquele efeito nele, teria dado a melhor risada de sua vida.

"Eu não consigo parar de pensar em você." Foi ela quem confessou, suas mãos ainda debaixo da camisa do sonserino. Merda, qual era o problema daquela bruxa, ela era louca?

"Você deveria tentar mais." E ele deveria ter parado ali, sabia. Deveria ter falado aquilo e se afastado, deveria tê-la levado até Creevey - ou até mesmo Storms - e largado-a com ele. Mas o que havia de tão bom na bruxa que ele simplesmente não conseguia ir embora? "Eu sou problema, Gin." continuou, encostando a testa na dela, fechando os olhos. "Eu sou uma bagunça."

Não percebeu o sorriso que se formou com a resposta da grifinória.

"Eu também sou."

E os lábios voltaram a se achar.

...

Os dois bruxos não estavam na sala habitual naquela noite, mas sim em uma em que a janela era suficientemente ampla para ambos observarem as estrelas, enquanto sentados no chão de pedra.

"Temos sorte por não precisarmos nos preocupar com nossas famílias." Era o loiro quem falava.

"Fale por você!" O moreno deu uma pequena risada. "Minha mãe só sabe que Blaise é uma ótima pessoa," ele continuou, uma de suas mãos brincando com os fios claros do bruxo que estava com a cabeça em seu colo. "Ainda não sabe que Blaise é um ótimo garoto."

"E você acha que isso vai mudar alguma coisa?"

"Espero que não." Colin respondeu, a mão ainda enroscada no cabelo comprido, naquela noite livre do coque sempre usado pelo sonserino. "Porque eu não estou disposto a me livrar desse bom garoto." Um beijo. "Você acha mesmo que esses dois são uma boa ideia?"

"Você não escolhe de quem gosta, Col."

"Mas você pode tentar-"

"Pode mesmo?" Zabini colocou-se sentado ao lado do namorado, um olhar sério. "Você acha que eu escolhi gostar de você? Acha que eu queria um namorado grifinório, que deixaria minha vida ainda mais difícil?" Ele provavelmente queria tanto um namorado grifinório quanto Colin desejava um sonserino. "Malfoy com certeza não escolheu gostar da sua amiga. E ele tentou - eu te garanto - se afastar." O loiro voltava para a posição inicial, Colin voltando as mãos para seus cabelos.

"Tentou?" perguntou, desconfiado.

"Do mesmo jeito que eu tentei me afastar de você." Mais um sorriso torto, e mais um beijo - ele talvez nunca se cansaria daqueles lábios.

"Não te vi tentar muito." Na verdade, nem ao menos se lembrava de algum esforço do bruxo de se afastar. "Acho que vocês sonserinos não são muito bons nessas tentativas." observou, voltando a olhar as poucas estrelas naquele céu pós chuva.

"Ou nós não somos muito bons," começou o sonserino. "Ou vocês grifinórios que são bons demais para tentarmos."


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