Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 16
E agora?




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Domingo, 15 de outubro.

"Você sabe que não pode ser vista comigo, não sabe? O Três Vassouras é logo atrás desse muro, lembro de suas amigas estarem lá dentro." Mas ela continuava parada na frente do sonserino, molhada dos pés a cabeça, os lábios vermelhos quase inchados, o cabelo completamente bagunçado. "O que?"

"O que eu faço?"

"Você vai pro Três Vassouras." O loiro, que não estava em um estado diferente, se limitou àquela resposta.

"Não, agora! Com a gente! O que eu faço agora?" Por um momento ela o viu hesitante, e então, o olhar irritado estava de volta.

"Você vai pro Três Vassouras, Ginevra. Já."

Foi uma cutucada no antebraço que a fez voltar a realidade.

"O que?"

"O açúcar, Gin."

Maldição. Por que ele agia daquele jeito? Em um minuto a salvava sabe-se lá do que ou de quem, e a beijava como ninguém nunca havia beijado antes, no outro a empurrava para dentro do bar do vilarejo e sumia pelo resto do dia.

"Eu sou problema, Gin. Eu sou uma bagunça."

Por que se importaria com aquilo? O sonserino deveria saber que ela não era muito diferente. Ginevra com certeza tinha sua própria bagunça, sua parte mais escura - fora sua penca de irmãos, claro, que era um bom problema para qualquer garoto que chegasse muito perto dela.

Passou o açúcar irritadiça, derrubando metade do pó branco no processo.

"Obrigado."

Quando entrou no Três Vassouras naquela já tarde de sábado, Colin a recebeu na porta ao mesmo tempo em que toda a atenção parou nela, molhada dos pés à cabeça, usando uma capa claramente grande demais para ser da bruxa. O amigo só perguntara se ela estava bem, deixando-a contar no seu tempo os detalhes daquela manhã incomum - o beijo de Aeon, o perseguidor, Malfoy. E não falara nada de reprovador de tudo aquilo. Ela estava num encontro aparentemente perfeito, levantou-se no meio de um beijo, deixou uns trocados e foi embora - ok. Ela saiu correndo na chuva, e uma pessoa começou a praticamente persegui-la - tome mais cuidado, mas ok. Ela foi puxada por aquele maldito loiro platinado para trás de um pilar, e finalmente foi beijada de verdade, o suficiente para sentir aqueles lábios ainda nos dela - totalmente compreensível, e ok.

"O que foi?" Colin perguntou depois de algum tempo com a grifinória o olhando.

"Você não vai falar nada?" Ginevra finalmente desabafou o que queria ter questionado desde a tarde de ontem. "Colin, você é meu melhor amigo, eu te contei tudo que aconteceu ontem e só recebi 'oks', e então parece que você deu um jeito de grudar em Raven e Sati até a hora de sumir para ver o seu sonserino."

"O que eu posso falar?" o moreno respondeu, suspirando e apoiando no prato o garfo que segurava. "Você quer que eu pergunte o porquê de você ter saído correndo de Storms no meio de uma chuva? Que eu encha você de perguntas sobre Malfoy? Que eu brigue com você, que eu peça para você criar o mínimo de juízo? Eu sei porque você saiu correndo do café - e foi uma decisão bem idiota, mas eu juro que entendo -, foi porque Aeon não era ele. E pelo estado que você apareceu no Três Vassouras, eu nem preciso perguntar o que aconteceu, ou se os amassos com o sonserino valeram a pena, porque pra mim a resposta estava clara. Agora, vai adiantar se eu pedir para você dar uma chance real para Aeon, ou se eu falar 'desista desse bruxo, ele é mais problema do que eu pensava'?" A ruiva se limitou em responder que não com a cabeça. "Imaginei."

Seus olhos foram da torrada que segurava para a mesa sonserina, tentando achar seu salvador no meio de todas aquelas cobras, mas achando apenas Zabini e dois bruxos que via algumas vezes andando junto de quem ela procurava.

"Eu não sei o que fazer, Cols." confessou, afundando a cabeça na mesa. "Eu não sei o que ele quer comigo, eu não entendo esse maldito bruxo, eu não faço ideia do que fazer!" A voz saía frustrada, a última lembrança dele a mandando para o bar voltando aos seus pensamentos.

"A gente pensa junto, Gin. Afinal, eu sou seu melhor amigo, não sou?" Voltou a levantar a cabeça ao sentir a mão do grifinório no seu ombro. "Agora, eu preciso perguntar," ele abaixou a voz antes de continuar. "O quão bom o sonserino é?" Como Colin sempre conseguia faze-la sentir-se melhor? "Porque se for que nem Blaise, garota," o bruxo pausou, ele próprio sorrindo. "Até agora me faltam palavras para descrever."

...

"Chega! Chega caralho, vocês estão piores do que o normal hoje, o treino acabou!" Flint gritou quando um dos balaços quase o derrubou da vassoura, o outro acertando a arquibancada em cheio e fazendo um enorme estrago.

Draco não sabia como estava voando ao lado daquele cretino naquela tarde nublada sem nem ao menos tentar mata-lo. Ele sabia que fora Flint quem perseguira a ruiva ontem, assim como Flint sabia que havia sido Malfoy o responsável por tira-la de seu alcance - e aquilo provavelmente só tinha tornado o jogo daquele psicopata mais estimulante. E agora os dois estavam ali, treinando quadribol como se nada houvesse acontecido, o sonserino mais novo tentando deixar sua mente vazia naquelas horas em que precisava focar apenas numa coisa.

Mas ele não chegara nem mesmo perto de achar o pomo.

Ginevra.

Marcus.

Lúcio.

Sua maldita tarefa.

A carta de Bellatrix.

Flint.

Gin.

Foi o artilheiro do time quem guardou o pomo de volta na maleta das bolas.

Desceu da vassoura e apressou-se para o vestiário, tentando em vão sair de lá antes que o capitão do time entrasse. Tirou o uniforme e sem nem mesmo uma ducha voltava para as roupas normais. Colocava a camisa quando Marcus entrou, a cara mal humorada de sempre transformando-se numa cínica ao avista-lo.

"Se divertiu ontem em Hogsmeade, Malfoy?" A última coisa que ele precisava era trocar qualquer palavra com aquele traste. Fechou a calça, calçando os sapatos com pressa e desviando de uma bota que acertaria sua cabeça. "Te fiz uma pergunta, imbecil!" Bota que foi devolvida com precisão para a cabeça do outro bruxo.

"Melhora essa mira, babaca. E esconde melhor esse antebraço, seu idiota." Mas Draco não conseguiu sair rápido o suficiente para deixar de ouvir as últimas palavras do bruxo.

"Não se esqueça que você não pode aparatar em Hogwarts." O sorriso do garoto mais velho era quase doentio.

Não mostre que você se importa, não mostre que você se importa. Repetiu mentalmente aquele mantra enquanto saía às pressas do vestiário, praticamente correndo do campo de quadribol.

A ideia era passar o resto do dia nas masmorras, tentando organizar um pouco seus pensamentos no salão comunal. O que faria, como faria, como tiraria aquela bruxa de sua vida e dos olhos daquele sonserino. Quem a conseguisse primeiro, sabia muito bem o que Flint queria dizer com aquelas palavras, assim como sabia - ainda mais depois de ontem - o quão fácil poderia ser conseguir aquilo. Mas o quanto ele tirar primeiro a roupa da grifinória faria o moreno desistir e se afastar? E quão difícil seria faze-la se afastar após aquilo? Ele sabia, sabia bem o porquê de precisar afastar a bruxa, os muitos porquês de precisar tirar aquela garota da sua vida.

Era ridículo não querer se distanciar.

Draco já se encontrava perto das estufas quando viu os cabelos ruivos que estavam mexendo com sua cabeça, e mais uma vez, quis matar a dona destes.

"Eu não acredito nisso." bufou, olhando rápido ao seu redor e agradecendo por não encontrar ninguém, e apressou-se para perto da bruxa. "Weasley!" gritou, chamando instantaneamente a atenção da jovem.

Mas ele sabia que não havia ninguém ali perto por enquanto. Assim como sabia que Marcus poderia estar a caminho, que qualquer sonserino poderia estar voltando do treino de quadribol, que sua ex-namorada, presente nas arquibancadas naquela tarde com suas amigas, poderia estar atrás dele em segundos. Então não, a sua reação ao encontrar a jovem não foi exatamente boa: o sorriso que se formava nos lábios da grifinória desapareceu quando uma mão fechou firme em seu pulso e começou a puxa-la.

"Draco, eu-"

"Fica quieta!" Outra vez falava como se quisesse liquidar a bruxa - ela ser puxada por ele estava se tornando uma constante. Por que ela não entendia?

"Quem você acha que é-" Por que ele se importava tanto?

"Ginevra, por tudo que você considera mais sagrado, fica quieta e vem comigo!"

Soltou-a quando conseguiu faze-la entrar na estufa número 4, fechando atrás deles o pouco que abrira da enorme porta. Não, ele não estava feliz: não era assim que planejava seu fim de tarde. Mas não, ela também não parecia nada feliz, e mais uma vez teve sua capa arremessada na cara por uma grifinória tão descontente quanto o bruxo.

"Que merda você está fazendo?" Era visível o quanto ele se continha para não gritar.

"Eu estava atrás de você para devolver sua capa estúpida!" Ginevra falava com a mão já na porta, ameaçando-a abri-la a qualquer momento.

"Você não pode estar falando sério." Foi só ao ouvir suas últimas palavras que percebeu o que havia de estranho na aparência da bruxa: vestia uma capa sonserina, muito maior do que ela. A capa dele. Colocou a mão também na porta, impedindo a ruiva de abri-la e recebendo um olhar nada amigável. "O que você está fazendo sozinha vestindo uma capa sonserina?"

"Andando." Draco respirou fundo, antes de tentar outra vez a pergunta.

"Por que você está andando sozinha?" Como ela conseguia aquilo? Como conseguia ser tão desejável e ao mesmo tempo tão irritante?

"Eu estou andando sozinha nos jardins do castelo nesse domingo nublado com a droga de uma capa sonserina porque eu posso andar sozinha vestindo o que eu quiser!" Fechou a mão que apoiava na porta, franzindo o cenho com a irritação que crescia a cada segundo. 'Não, você não pode', queria gritar, 'você não pode andar sozinha, e a culpa provavelmente é minha'. "Por que você me mandou ficar com meus amigos, Malfoy?" Ginevra voltou a falar, desistindo de tentar abrir a porta e encostando-se na mesma. "Quem estava atrás de mim ontem?"

"Quer dizer que voltamos para o Malfoy agora?" Draco perguntou, tentando desviar o rumo que aquela conversa estava tomando.

"Como você sabia que tinha alguém atrás de mim?" Inutilmente.

Respirou fundo outra vez, passando as duas mãos pelos cabelos enquanto virava as costas para a grifinória, caminhando até uma parede feita de vasos empilhados. Ele poderia contar toda a verdade, e faze-la se afastar. Faze-la grudar em seus amigos e nunca mais olhar na cara dele. Não era nem tão difícil a explicação: 'você é uma aposta, eu ganhei, agora Flint, meu amigo comensal, também quer provar um pedaço'.

"Você não estava mais com Storms." Mas fazia alguns dias que a garota não era mais uma aposta. E Draco não conseguia mentir sobre aquilo - mesmo não olhando naqueles olhos castanhos - nem falar qualquer coisa para afasta-la dali. Por que era tão difícil?

"E?"

"E o que, Weasley?"

"Sério Malfoy, eu tenho que arrancar tudo de você?" Outra vez a ruiva se aproximava com raiva, outra vez com o dedo apontado para ele - se ela soubesse o quanto o sonserino queria arrancar aquele dedo! "Você não pode falar por que diabos tinha alguém atrás de mim?" Nada entre os dois jamais daria certo. "Como conseguiu me achar?" Então por que era tão impossível faze-la ir embora? "E qual, por Merlin, qual a necessidade de você, que segundo Grossinger é melhor do que eu em Latim, me pedir aulas?"

"Porque eu estava tentando te ajudar, maldição!" ele praticamente gritou, fazendo a mão de Ginevra abaixar no mesmo instante, aquele par de olhos já não mostrando mais irritação, mas confusão.

Por que aqueles olhos tinham que ser tão expressivos? Como ela conseguia tudo que queria, dele? Aquilo era perigoso, ela era perigosa - e lá estava ele, abrindo a boca.

"Marcus Flint é quem está atrás de você. Era ele quem estava te perseguindo nas masmorras, e não, eu não sei porque ele está tão fissurado por uma Weasley." contou, aproximando-se alguns passos. "Eu te achei por sorte, porque conheço aquele povoado e imaginava que você fosse conseguir se encurralar numa rua sem saída - você é um desastre! E eu imaginei que pudesse estar com problemas quando vi aquele maldito corvinal sozinho." terminou, já ao lado da garota, a envolvendo com a capa antes arremessada nele. "Você vai congelar lá fora só com essa blusa, sua estúpida."

"Por que você se importa?"

"Porque sim."

"Por que você está me ajudando?"

"Ginevra, vamos lá, eu-"

"Por que você não me deixa em paz Malfoy, por que-"

"Eu acabei de-"

"Por que você está me deixando falar tanto? Por Merlin Draco, por que você está me deixando falar?"

Draco Malfoy não iria beija-la. Havia prometido para si mesmo, no fim da noite de sábado, que nunca mais beijaria Ginevra Weasley, e ele orgulhou-se por conseguir honrar aquela promessa por quase quatro segundos inteiros após as últimas palavras da bruxa. Haviam sido quatro segundos longe daqueles lábios que outra vez estavam tão próximos, seis segundos de paz antes daquelas mãos quentes entrarem debaixo de sua camisa, onze segundos até encostar a jovem na parede e beija-la de volta com tanta urgência quanto da primeira vez.

Ele estava perdido, teve certeza quando ouviu seu nome sair da boca da ruiva. Era desesperador o quanto aquela bruxa o afetava, o quanto seu coração acelerava perto dela e como seus pensamentos ficavam nebulosos com aquele toque. Seria tão fácil ganhar aquela aposta agora, seria tão fácil continuar subindo uma de suas mãos pela coxa da grifinória, enquanto as dela mesmo brincavam com os botões de sua camisa - o primeiro já fora da casa.

Ginevra era uma droga da qual ele sabia que não se libertaria tão fácil. Assim perto ela era sim a melhor distração que poderia ter naquele ano - não conseguia pensar em nada além daqueles lábios em seu pescoço, em seu queixo, nos dele.

Essa bruxa ainda seria seu fim.

Se afastar foi quase doloroso. Outra vez a jovem estava com os lábios inchados e o rosto corado, e outra vez ele queria voltar a beija-la, pois nunca parecia ser suficiente.

"Vai ser sempre assim?" Foi ela quem falou primeiro, ainda ofegante. "Você vai me encontrar no meio do nada, sozinha, me puxar para um canto escondido e acabar comigo?" O bruxo descansou a cabeça na curva do pescoço da grifinória, o cheiro de baunilha invadindo outra vez suas narinas, suas mãos sentindo ainda aquela pele quente.

Acabar com ela? A bruxa não havia visto nada ainda.

"Por que você não vai embora, Weasley?" disse, num tom quase sofrido. "Por que você fica falando e nunca vai embora, bruxa?"

"Não consigo." ela respondeu, frustrada, as mãos finalmente soltando a camisa sonserina. "Por que você não me manda embora, Malfoy?" A sentiu tremer quando seus olhos finalmente voltaram para os dela.

"Vai embora." E por um momento, Draco viu desapontamento nos castanhos. E a bruxa tentou partir, mas as mãos do sonserino não conseguiam soltar sua cintura. "Vai embora, Gin. Sai daqui, se afasta de mim. Me esquece." E ele a puxou para mais perto, encostando a testa na dela. "Eu consigo te mandar embora, mas não consigo te deixar ir, estúpida."

Não, ele não teria problema em acostumar-se com aquele sorriso. Ele mesmo não estava tendo muitos problemas em retribuir com um tão sincero quanto.

"E agora?" Aquela mesma pergunta de ontem. "E agora, Draco?"

E agora ele não tinha ideia do que fazer.

Mas era tão bom ouvir a Weasley chama-lo pelo seu nome.


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