Entre o amor e a guerra escrita por Ania Lupin


Capítulo 14
52-C




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Sexta, 13 de outubro.

"Como você descobriu que Malfoy estava metido com sua amiga?" a pergunta veio do sonserino que dividia um banco com o aluno grifinório, ignorando os elfos domésticos que corriam ao seu redor para apressar todos os itens do café da manhã. "Você nunca me falou isso. Achei que estava me jogando um verde na quarta feira - e eu caí, claro."

"Teve um dia em que você parecia mais interessado em falar sobre minha amiga do que passar a mão na minha coxa." respondeu Colin, colocando a xícara vazia na mesa.

"Faz sentido." Blaise colocou mais uma torrada com manteiga no seu prato, enchendo novamente o copo do agora namorado de café. "Não sei como vocês conseguem beber isso." Fez uma cara de desgosto enquanto pegava novamente seu chá.

"Café é vida, Blaise Zabini. Um dia você aprende." Ele só revirou os olhos. "Ela tomou uma detenção porque eu toquei no nome dele, também." Aquilo o bruxo ainda não sabia. "Estava na cara que algo estava acontecendo, eu conheço essa bruxa."

"Nem me fale. Ele terminou com a Parkinson."

"Por causa de Gin?"

"Não tenho dúvidas disso." confirmou, lembrando-se de todas as vezes que ele aconselhara o amigo a acabar aquele relacionamento, e de todas as vezes que ele arranjou uma desculpa para manter sua diversão.

"Seu amigo passa minutos olhando para Ginevra durante as refeições." Algo havia mudado, com certeza, quando a Weasley entrou em cena. "Não sei como o irmão dela ainda não percebeu aquilo."

"Sua amiga mandou Malfoy sair da biblioteca e ele obedeceu sem falar uma palavra." Algo, definitivamente, havia mudado, e de uma maneira surpreendente.

"Gina sairia com a pessoa que enviou aquele poema para ela." Outra nova informação. "Foi Malfoy, não foi?" o loiro confirmou, balançando a cabeça ao ver mais uma vez a xícara do outro bruxo vazia. "Pare de me julgar, sonserino."

Blaise roubou um beijo rápido do grifinório, terminando depois com mais uma torrada. Malfoy estava apaixonado pela ruiva e, apesar das dúvidas do amigo, Zabini já não tinha mais nenhuma - e graças ao seu namorado, poderia dizer o mesmo da bruxa. Mas como sempre na vida daquele loiro, havia um problema. E um problema grande, que, tecnicamente, ele não deveria comentar sobre para ninguém.

"Ginevra vale muito a pena, não vale?"

Mas, se metade do que Draco falou era verdade, ele precisaria de mais ajuda além da de Zabini. E a pessoa que fosse ajudar precisaria saber da história real - ou pelo menos de tudo que ele por enquanto sabia.

"Valer a pena não chega nem perto de tudo que ela vale, Blai."

Respirou fundo, esperando que o amigo futuramente o entendesse.

"Colin, eu preciso te contar uma coisa."

...

Estava chovendo, mas os dois não pareciam se afetar com aquilo. Molhados, a única coisa que importava era o beijo, urgente, profundo, necessário.

A bruxa agradecia por estar encostada na parede, pois com certeza suas pernas não aguentariam se manter sem aquele suporte. Suas mãos corriam pelos cabelos loiros, pelo rosto, pelo queixo pontudo. Os ombros dele eram largos, os braços eram fortes, as mãos seguravam firme sua cintura enquanto o corpo dele a pressionava contra o muro.

"Draco," ela gemeu quando aqueles lábios acharam seu pescoço. "Isso é um sonho?"

"Claro." ele respondeu com um sorriso torto. "Eu só estou brincando com você, Weasley."

Ginevra acordou com o coração acelerado - já estava se acostumando com esse sintoma irritante.

Ótimo, agora até nos meus sonhos esse maldito sonserino me assombra.

O relógio na parede do quarto marcava dez para as seis da manhã quando sua cabeça saiu do travesseiro. Prendeu o cabelo em um coque descuidado e sentou-se, olhando para a mesinha de cabeceira ao lado de sua cama. Sobre esta, uma única margarida, um pouco amassada, repousava.

O primeiro que acerta minha flor favorita.

Suspirou, olhando para o céu, onde o sol já tentava timidamente se fazer presente. O dia, pelo visto, seria um ensolarado, talvez mais quente do que aqueles últimos dias chuvosos de outono. Lembrou da capa sonserina guardada dentro de seu baú, e sentiu outra vez aquele peso em seu peito.

Ele não havia feito nada para impedi-la de ir, e a ausência de resposta havia machucado mais do que qualquer outra coisa. Como ele conseguia ficar longe? Se fosse ela na posição do sonserino, colar os lábios nos dele seria sua primeira reação.

Meu Merlin, eu preciso arrancar essa praga dos meus pensamentos.

Respirou fundo. Ginevra não iria chorar, não iria mais derramar uma lágrima depois de passar a noite sofrendo na cama. Ela nem mesmo sabia porque chorava! Algo apertava tanto dentro de seu peito e a bruxa estava tão, mas tão frustrada, e aquilo fora o melhor escape que havia no momento. Mas precisava parar, e parar agora. Seus olhos já estavam inchados o suficiente, e com o sonho se distanciando cada vez mais de sua memória, a raiva que se formava por aquele bruxo se tornava mais e mais presente.

Ótimo. A raiva era um bom sentimento a ser cultivado. Foi com aquilo em mente que levantou-se o mais silenciosamente possível, evitando acordar e ter a companhia de qualquer uma das colegas de quarto, e rumou para o banheiro. Olhou para seu reflexo no espelho - seus olhos estavam ridículos - e pensou em tudo que tinha para fazer naquele dia, quase tendo um ataque ao se lembrar da dupla de Poções e de seu relatório não terminado, logo nos primeiros horários. Precisava estar atenta naquelas duas aulas, já que a última coisa que desejava era mais uma detenção: a última coisa que precisava era mais uma noite naquelas malditas masmorras.

A culpa de tudo aquilo, daquela situação, com certeza, era daquele maldito local dentro daquele maldito castelo.

Recordou-se da promessa de um chocolate quente no sábado à tarde e tentou fazer seu coração se contentar com aquele par de olhos verdes. Aceitara o convite de Storms. Aceitaria o convite de qualquer um, desde que isso a fizesse esquecer Draco Malfoy por pelo menos um minuto.

...

Por mais cedo que tivesse acordado naquele dia, ali no almoço era a primeira vez que Draco encontrava o amigo.

"Tomando café da manhã com o namorado outra vez, Zabini?" provocou, seus olhos não deixando a mesa grifinória.

"Com ciúmes, Malfoy?" Ciúmes de ser tão simples para o amigo assumir um relacionamento com qualquer pessoa? Definitivamente. "Ela ainda não chegou para o almoço, então olhe para a porta, e não para a mesa."

"Eu não estou procurando a Weasley." Mas os olhos, que automaticamente foram para a porta, davam uma resposta diferente.

"Uhum, claro."

Como ele tinha se metido naquilo? Por que não falou para Flint fazer o que quisesse com a garota? Era simples, era só ele desistir e ir embora. Faça o que quiser, não era problema dele. Ele já dissera aquelas palavras antes, afinal.

Por favor, me ajude...

E ele nunca poderia fazer isso com ela. Justo uma Weasley. Ele estava apaixonado por justo uma Weasley.

Talvez tenha sido na hora que sentiu a coragem da garota que tudo começou. Coragem ou loucura, ele ainda não havia decidido qual das duas coisas a fizera beija-lo do nada, mas foi lá e beijou-o, Draco Malfoy, ela tinha perdido o juízo? Aceitou dar as aulas para ele, qual era o problema dessa bruxa? Algo com certeza estava errado naquela cabeça, não era possível. Assim como não era possível a presença dela ser tão agradável, a ponto de fazê-lo não querer mais tocar sua agora ex-namorada.

Só podia ser algum feitiço. Ou alguma poção. Amortentia? Porque em todos os lugares ele agora sentia o cheiro de penas de algodão doce, chuva e baunilha. E margaridas. Margarida era sua maldita flor favorita, e até isso ele agora sabia.

E por tudo isso, era muito errado o que seus olhos viam agora. Aquele corvinal apoiado na batente da porta, praticamente debruçado em cima de Ginevra, e a bruxa com um sorriso na cara, não parecendo estar nem um pouco incomodada com a situação. Ele estava entregando um buquê de tulipas para a ruiva, e Draco tinha muita vontade de fazer Storms engolir aquelas flores, uma por uma.

Estava com raiva, raiva o suficiente para tomar uma detenção por começar uma briga com o bruxo no meio do salão principal. Um duelo era o que ele mais queria naquele momento, seria, no mínimo, uma válvula de escape para todo o seu estresse - tinha ótimas azarações que gostaria de tentar. E o loiro já estava levantando-se de sua cadeira quando uma mão o segurou forte pelo braço direito.

"Me solta." Tentou arrancar a mão do amigo de seu braço, falhando e sendo puxado de volta para sua cadeira.

"Malfoy, não faça nenhuma besteira." o amigo advertiu, também observando o casal em questão. "Fique aqui sentado. Não olhe, Flint está a umas dez cadeiras de distância, ele também está olhando, fique na merda da cadeira."

Marcos Flint.

Eu só quero voltar para casa. Eu quero a minha mãe. Por favor...

Sacudiu a cabeça, tentando apagar aquela memória. Desviou o olhar para seu almoço, já sem vontade alguma de continuar comendo.

"Ele convidou Ginevra para sair, não convidou?" A resposta foi afirmativa. "Filho da mãe. Não basta eu ter que me preocupar com Flint-"

"Por que você não a convidou?"

"Zabini, pra que essa pergunta, sério?" sua voz saiu raivosa, suas mãos correndo pelos fios platinados. "Eu estou tentando me afastar, mas ninguém colabora para isso. Você incentiva, ela incentiva pra cacete, quem mais falta agora, o Creevey?"

"Já deu a aprovação dele."

"Você só pode estar de brincadeira." Soltou um riso irônico. "Eu apenas cheguei perto dela e já tem um psicopata fissurado pela bruxa. Eu nem estava interessado, e já consegui esse problema pra ela, Zabini!" Afundou a cabeça não mãos. "Eu nem posso me dar ao luxo de pensar nessas coisas esse ano. Por Merlin, você sabe que eu não posso." Mas não, Zabini não sabia. Não ainda.

Havia recebido mais uma coruja de Bellatrix na manhã daquela sexta, perguntando sobre seus progressos, e mais uma vez ignorou o pedaço de papel, deixando a carta sem resposta. Tentava afastar aquela preocupação por hora, e a cena que viu no segundo seguinte foi extremamente efetiva para seu desejo. Storms estava muito mais perto do que aguentaria ver. Ele colocava alguns fios ruivos para trás da orelha da jovem e estava, definitivamente, mais perto do que Draco algum dia gostaria que ele estivesse.

"Isso já é demais." Blaise não o segurou a tempo daquela vez.

Não, ele não iria começar um duelo. Ele não iria pular no pescoço do corvinal, ele não iria azara-lo, ele não ia estuporar o bruxo. Mas apenas esbarrar nas costas dele enquanto passava não faria mal algum, achou.

Ele só fez aquilo forte demais.

"Ops, foi mal." Aeon já se levantava e preparava-se para uma briga quando Ginevra segurou o braço do corvinal. "Seu namoradinho está bem, Weasley?" não esperou uma resposta antes de voltar a andar em direção as escadas.

Ele sabia que merecia aquele olhar de desprezo dado pela ruiva. Merecia aquilo, e muito mais. Mas ela não merecia aqueles olhos inchados.

...

Ginevra descia com raiva as escadas, nas mãos uma sacola de pano cinza. Segundo andar. Pelo que lembrava, Colin havia comentado com ela que os dois ficavam no segundo andar quase todo fim de tarde, na antiga sala de História da Magia.

Só mais um lance de escadas. Última sala a esquerda.

Quando chegou em frente a sala, abriu a porta sem o menor cuidado, os dois garotos separando-se de um beijo no mesmo instante.

"Por Merlin Gin-"

"Onde ele está?" Ela estava se controlando muito para não gritar. Muito. "Eu estou cansada de aturar gente bipolar na minha vida que acha que tem o direito de fazer o que quiser e quando quiser, então me fala onde ele está, Zabini!"

"Sala 52-C, mas você não acha que deveria-"

E a porta bateu no segundo seguinte.

Mais três lances de escada, que foram subidos pela bruxa em tempo recorde.

Passou uma, duas, e a terceira porta foi a que abriu, do mesmo jeito que fizera com a anterior minutos antes, achando Malfoy sentado em uma das cadeiras, em frente a uma mesa lotada de livros e pergaminhos.

"Weasley." Ela não esperou mais nenhuma palavra antes de começar a arrancar as coisas de dentro da sacola que carregava.

"Isso é seu." Arremessou a capa do sonserino quase na cara dele. "E isso." Os restantes doces de domingo passado. "E isso." A margarida, ainda mais amassada. "E isso aqui." O pedaço de pergaminho com o poema que agora ela mais odiava.

Pronto. Não tinha mais nada que remotamente lembrava-a dele. Respirou fundo uma vez antes de voltar a falar.

"Tem alguma coisa pra dizer?" Ela já segurava a maçaneta quando o sonserino resolveu abrir a boca.

"Não saia com Storms." Ela pausou por um minuto antes de finalmente responder. A bruxa tinha escutado certo aquelas palavras?

"Como?"

"Não saia com Storms." o loiro disse, levantando-se enquanto jogava a capa em cima da mesa. "Fique com seus amigos." Ela não conseguia acreditar naquilo que ouvia. Como ele se atrevia a lhe dar ordens? "Não ande sozinha." Ele já estava na sua frente. "Tenha cuidado amanhã-"

"Quem você acha que é para me falar o que fazer?" A voz de Ginevra saía com raiva, assim como o dedo que apontava para o sonserino.

"Weasley-"

"Sério Malfoy, quem você acha que é?" Ela chegou perto o suficiente para um empurrão, do qual ela esperava uma reação que nunca veio. Então ele iria ficar ali parado apenas, deixando-a gritar o quanto quisesse com ele? "Com quem eu saio e com quem eu deixo de sair, não é problema seu!" Ótimo, ela não iria reclamar daquilo: iria aproveitar aquilo. "Quem você pensa que é pra se meter na minha vida?" Aproveitar até olhar nos olhos que ela tinha aprendido a gostar, e ver algo que fez sua voz sumir. "Quem você acha que é pra-" Aquilo era preocupação?

Aquele nó na garganta, outra vez.

A porta bateu como minutos antes no andar de baixo.

...

Naquela noite, na janta, Colin achou a mais nova das Weasleys sentada na mesa grifinória com um olhar matador enquanto seu garfo espetava violentamente os legumes em seu prato. Se ele não imaginasse o que ela deveria estar passando, a vontade de mata-la após aquele susto vespertino seria imensa.

"Achei que não fosse te encontrar aqui." disse, sentando-se ao lado da amiga e recebendo um olhar não muito amigável no mesmo instante.

"Colin, você precisa me prometer que não vai falar nada do que eu estou te falando para ela." O moreno assentiu com a cabeça. "E não se exalte agora, mas tudo isso começou com uma aposta estúpida dele e de Marcos Flint. Você sabe quem é Marcos Flint, não sabe?"

Que inferno. Não acreditava que iria falar aquelas próximas palavras, ele, que no começo da semana torcia para aquilo dar certo.

"Gin, não saia com Storms amanhã."

"Mesmo sendo contra, eu jurava que não teria problema nenhum. Eu jurava que Malfoy iria sair com a sua amiga, se divertir um pouco, ganhar essa merda de aposta e continuar com a vidinha que leva. Você sabe que uns beijos não fazem mal a ninguém, não sabe?"

"Colin por favor, não você também." Sabia que a amiga não reagiria bem ao pedido. Mas, não você também? Quem mais poderia ter pedido para ela não sair com o colírio da corvinal?

Malfoy.

Como ele queria matar Malfoy.

"Eu não sei quando que ele começou a gostar de Ginevra." o sonserino confessou, passando uma mão pelos fios loiros compridos. "Mas ele começou a se interessar bastante. Só que ele não foi o único que começou a observar a sua amiga com outros olhos."

"Fica com a gente Gin, sério. Podemos sair nós dois, como nos velhos tempos, o que acha?" O bruxo não tinha outra opção a não ser insistir.

"Eu não sei como Malfoy sabe do que ele está afirmando, mas eu confio nele, e confio no que está falando, porque se ele não estivesse nem aí, já teria saído dessa história assim que começou a dar merda."

"O que você tem contra o Storms? Você prefere o que, que eu saia com Malfoy? Que eu invista nele?"

"Flint quer ficar com a sua amiga também, mas ele não faz questão que seja recíproco. Você entendeu o que eu quis dizer, não entendeu?"

"Ah não, espera: não tem como eu sair com Malfoy."

"Draco não consegue desistir da aposta, e ele não me fala por nada o que está acontecendo além disso. Mas ele gosta dela, Cols. Acredite em mim, eu prometi nunca mentir para você, e não vou."

"Porque ele simplesmente não quer." A amargura na voz da amiga não passou despercebida por ele. "Então sim, eu vou sair com Aeon. Eu vou para aquele maldito povoado, vou passar minha manhã com vocês - se eu quiser - e a tarde vou ter um encontro agradável com alguém que realmente queira sair comigo."

"Eu nunca vi ele olhar para ninguém do jeito que olha pra ela."

"Você tem alguma coisa para acrescentar?"

"Nada não. Besteira. Continue comendo, vai esfriar." Ela praticamente jogou os talheres no prato ainda cheio, levantando-se em seguida.

Suspirou. Ginevra não cederia sem saber da história completa, e não era dele o direito de conta-la. Teria que mudar os planos de amanhã com Zabini.

Comeu mais um pedaço de carne, seus olhos achando dois pares que não pareciam nada felizes na mesa das cobras.

Como ele conseguiu se meter naquilo?


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