Physalis escrita por Evelie Belinky


Capítulo 2
Resiliência


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, muito obrigada a todos que estão acompanhando, favoritaram, comentaram e visualizaram a história. Dedico este capítulo a vocês.



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Pela segunda vez, em meses, senti a necessidade de sair. Tão logo a vontade surgiu, ela foi embora. Passado alguns minutos decidi começar pelo que deveria ser fácil, levantar-me do chão. No entanto fui tomada por uma forte tontura, consequência das noites mal dormidas e da recusa por comida, que me obrigou a permanecer onde estava. Passada a tontura fiquei de pé e fui direto ao banheiro precisava tirar o gosto amargo e repudiante da minha boca, escovei os dentes, a língua e a bochecha com tanta força que sangraram. Após minha necessitada higiene bucal decidi tomar um banho, muito bem Katniss dois banhos em menos de 24hrs é uma evolução e tanto, minha consciência esnoba. Ela tem dialogado muito comigo ultimamente já que é a única pessoa da qual tenho dificuldade em fazer calar. O banho foi revigorante. Relutantemente olhei-me no espelho e me assustei com a imagem que vi. Eu estava absurdamente feia, não que isso me incomodasse, mas com certeza incomodaria qualquer um que me visse.

Estava muito magra, quase esquelética, e isso deixava meus olhos muito grandes. Meus cabelos estavam tão embaraçados que me recusava acreditar que um pente resolveria. Minhas unhas, agora limpas, estavam tão grandes que podiam ferir alguém facilmente, os enxertos de pele ainda aparentavam uma cor diferente que contrastavam com minha pele original. Definitivamente, se tratando de estética, esse era o fundo do poço.

Ao sair do banheiro vesti uma roupa qualquer e procurei uma tesoura na cômoda, por falta de opção melhor aparei as unhas com um canivete que pertencera ao meu pai, apesar dos anos ele ainda continuava bem amolado. Numa noite especialmente ruim cogitei tirar minha vida, logo desisti da ideia. Eu não merecia a morte, eu tinha que sofrer pra talvez assim conseguir me redimir. Também pensei no que meu pai sentiria ao saber que havia cometido suicídio. Certamente ficaria decepcionado, ele havia me ensinado a ser forte e não desistir. Então percebo que já o tinha decepcionado, desde a morte de Prim eu havia desistido.

— Me perdoa pai. Imploro, mas ele também não me responde.

Decido então pentear meus cabelos e percebo que só uma tesoura resolveria a situação, quem sabe um dia pediria a Greasy Sae que cortasse meus cabelos. Então me sento na cama inserta do que fazer a seguir. Termino por deitar e esperar.

Pouco depois Greasy entra com meu café da manhã, suco, bolachas, frutas e nada de pão. Isso me faz lembrar Peeta e meu coração mais uma vez se aperta. Levanto-me sento em frente à mesinha e começo a comer. Greasy não deixa passar despercebidos meus recentes cuidados e isso ilumina seus olhos.

— Sabe Katniss – ela começa – Está um dia lindo lá fora, é quase verão e... Ela hesita – Talvez você pudesse fazer aquela caminhada pelo distrito, muita coisa mudou por aqui ou ir à floresta, você precisa tomar um pouco de sol...

Ouvir Greasy Sae falando novamente foi um pouco reconfortante, ela não havia desistido de mim afinal, só estava cansada de insistir.

— E enquanto você estivesse fora eu poderia limpar o seu quarto – Ela continua esperançosa.

— Quem sabe outro dia – Falei, eu ainda não estava preparada para sair, já tinha feito um grande progresso hoje.

Após o café, percebendo minha falta de entusiasmo pela proposta, ela se despediu e fechou a porta prometendo voltar na hora do almoço. E eu passei a manhã sentada à cabeceira da cama pensando no que faria de agora em diante, antes que eu chegasse a uma conclusão Greasy retorna com o almoço. Dessa vez ela não insistiu no assunto e enquanto eu comia trocou os forros de cama. Assim a tarde chegou e passou e eu ainda não sabia o que fazer, mas isso não importava mais, porque com a noite vêm os medos. E eu estava mais uma vez paralisada.

Na manhã seguinte foi a terceira vez que senti a necessidade de sair desse quarto, mas dessa vez ela persistiu. Então quando Greasy chegou para preparar meu café se assustou ao me encontrar sentada à mesa da cozinha.

— Bom dia Katniss – Ela disse cautelosa, amedrontada com a ideia deu sair correndo a qualquer minuto.

— Bom dia – Eu disse.

Ela lançou-me um sorriso e pôs-se a preparar meu café, conversando trivialidades e me atualizando dos últimos acontecimentos no distrito. Eu assentia a todo o momento.

— O hospital está quase pronto – Ela falava empolgada – É tão grande e a escola inaugurou semana passada. Muita coisa ainda precisa ser feita é claro, mas pouco a pouco tudo se ajeita – O cheiro de bacon enche o ambiente à medida que ela os frita. Tinha me esquecido como era bom.

 Volto minha atenção para uma figura feiosa que adentra a cozinha, atraído pelo cheiro vai direto aos pés de Greasy Sae e faz um barulho horroroso para chamar sua atenção. Buttercup, havia me esquecido dele. Greasy joga um pedaço de bacon, ele pega e passa por mim indiferente. Gato feioso.

Após o café, não sei ao certo o que fazer. Decido então ajudar Greasy em seus afazeres, lavo os pratos meio sem jeito, tarefas domésticas nunca foram meu forte, e após quebrar dois copos ela sugere que eu faça outra coisa.

Então me encolho no pequeno sofá da sala, feliz pelas cortinas estarem fechadas, é o que me mantém distante de tudo lá fora. E agora Katniss? Minha consciência questiona. Eu não sei.

Muitas horas se passaram até que eu tomasse qualquer decisão, Greasy já havia terminado seus afazeres e estava finalizando o almoço. Levantei do sofá sentindo todo meu corpo protestar e rumei para cozinha. Sou recebida com o maravilhoso cheiro da comida e minha barriga ronca.

— Estou quase terminando – Ela disse sorrindo.

— Vai ficar para o almoço? – Pergunto.

— Ah eu adoraria! – Ela exclama – Mas infelizmente não vou poder, preciso levar Sarah para escola. Ela está cursando o 2° ano do ensino fundamental agora – Disse com orgulho.

Sarah é a neta de Greasy Sae, há algum tempo não a vejo. Ela costumava vir aqui de vez em quando e brincava com buttercup, me lembrava um pouco a Prim. Não na aparência, mas na simpatia que emana. Seus pais morreram vítimas da Revolução, mais uma culpa que carrego.

— Como ela está? – Pergunto, tentando desviar a direção dos meus pensamentos.

— Está bem, fez sete anos semana passada. Ficou tão animada quando levei o bolo que Peeta fez para ela.

Meu coração sobressaltou ao ouvir o nome dele.

— Peeta?

— Ah sim, perguntei se ele poderia fazer um bolinho para ela, algo singelo pra não passar em branco. Ele fez o bolo mais lindo que já vi e Sarah ficou deslumbrada.

— Pensei que ele não estivesse mais no 12 – Questiono.

— Bem ele esteve algumas semanas fora por questões médicas – Ela disse.

— Ele está bem? – Meu coração dispara.

— Está sim, não se preocupe querida. Ele estar bem melhor agora – Ela me tranquilizou – Tá até pensando em reconstruir a padaria. Acredito que os tratamentos estão dando resultados.

Tento disfarçar meu entusiasmo com suas palavras. Peeta estava melhorando, será que o teria de volta? Não seja tola Katniss ele nunca vai voltar a ser o mesmo, minha consciência declara.

— Bem o almoço está pronto, preciso ir agora – Diz – Almoça direito querida, mais tarde eu passo aqui.

— Certo. Até mais.

Greasy vai embora e de repente tudo parece muito vazio. Não posso ir por esse caminho novamente, rapidamente faço dois pratos fartos e antes que me dê conta estou batendo na porta do Haymitch. Ninguém atende, abro a porta devagar e entro. Encontro Haymitch deitado no sofá dormindo, ao que parece, profundamente. Vou até a cozinha parcialmente limpa, alguém tem limpado a casa ultimamente, e deposito os pratos na mesa. Volto à sala e recolho as garrafas vazias do carpete, pelo visto a noite havia sido difícil pra ele também. E penso em uma maneira de acorda-lo.

— Haymitch acorda! – Opto pela maneira tradicional.

Ele resmunga.

— Vamos seu bêbado imundo acorda! – Não sou nada galanteadora.

Nada acontece. Termino por derruba-lo do sofá.

— Mas o quê!... – Ele exclama então para ao perceber que sou eu – Veio me assombrar docinho – Ironiza.

— A única aberração aqui é você – Estendo a mão para ajudá-lo a levantar.

Ele levanta meio cambaleante, resultado de uma noite de bebedeiras – Então a que devo essa honra? Pensei até que poderia estar morta – Ele brinca.

— Vim me certificar que seu corpo não estar apodrecendo no chão – Ironizo.

— Como pode vê – Ele se endireita – Não poderia estar melhor.

De fato ele não estava tão ruim, tirando fora a cara de ressaca e o mau cheiro, até pareceu-me saudável. Alguém tem cuidado dele.

— Eu trouxe comida – Falei.

— Maravilha – Ele fingiu entusiasmo – Por acaso não trouxe aspirina com você né?

Nem imagino pra quê sirva

— Deixa pra lá – Ele disse – Um café resolve.

Cambaleante vai para a cozinha e senta em uma cadeira, eu encho uma chaleira com água e coloco para ferver. Ele massageia as têmporas, me solidarizo com ele, há um tempo atrás estive na mesma situação. Nunca mais bebo álcool em minha vida.

Ficamos um bom tempo em silêncio, ele com a cabeça apoiada sobre a mesa e eu devorando meu almoço, que estava realmente delicioso. A chaleira começa apitar e levanto para fazer o café.

Após uma xicara de café forte Haymitch consegue comer um pouco do almoço que havia trago, depois ele volta a capotar no sofá. Lavo os pratos e dou uma leve organizada na bagunça da noite anterior, coloco um balde ao lado do sofá caso ele passe mal e decido voltar para casa. No caminho observo flores brotando sob o peitoril das janelas, todas as casas na Vila dos vitoriosos tem flores. Aproximo-me e perco o fôlego, são Evening Primrose. Peeta deve tê-las plantado novamente, meu coração enche de alegria quando percebo que por algum motivo ele ainda se importa comigo. Não são nem 3h p.m. quando entro, reúno toda força que adquiri e vou à procura da minha bolsa de caça. Eu iria à floresta hoje.


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Notas finais do capítulo

Gente vou tentar postar o próximo capítulo o mais rápido que puder e pra vocês que estão sentindo falta do Peeta garanto que ele vai aparecer em breve (no próximo capítulo pra ser exata). Comentem o que estão achando Blz. Até a próxima Bjs.



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