Vida após a Morte escrita por Caty Bolton


Capítulo 5
E um monstro te esmagar feito inseto é divertido, certo!?




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O conceito de tempo não realmente existia quando se estava morto, mesmo assim Pip gostava de contas as semanas, os dias e as horas. Por causa dessa sua mania sabia que fazia um mês, uma semana e três dias desde que Damien lhe tirou do esquecimento, mais chamado de limbo.

Mas, nem por um minuto, o anticristo mudou a atitude excessivamente desagradável dele, tratando Pip da mesma forma desde que os dois se viram pela primeira vez. 

O loiro até tentaria algum tipo de aproximação, um pouco de conversa fiada para que o clima entre os dois ficasse menos esquisito, mas Damien não permitia nenhum tipo de aproximação sequer. Se trancava no quarto ou passava o dia fora, quando saía sequer dirigia a palavra ao britânico, apenas muito irritado com a presença dele.

Durante a maior parte da sua vida Phillip tinha se acostumado a ser tratado de maneiras bem semelhantes, mas ainda deixava aquela sensação ruim no estômago, mesmo sendo Damien. Sem falar que agora já não estava vivo.

Durante aquele tempo também viu Satã poucas vezes, já que ele sempre parecia estar muito ocupado com os assuntos infernais, mas nas poucas ocasiões ele sempre era gentil. Bem que o filho poderia ter puxado ou aprendido um pouco mais com ele...

Outro que aparecia com alguma frequência era Kenny. Havia descoberto sobre as idas e vindas constantes do loiro e sobre como a morte era uma companhia presente dele na Terra. Mesmo assim Kenny era só cheio de sorrisos tranquilos e Pip descobriu que ele não era tão ruim assim, ou pelo menos havia parado de lhe tratar mal.

Mas havia alguma coisa no fato de estar morto que não deixava aquela ponta de ressentimento sumir, coisas como "por que ele me tratava assim em South Park? Por que ele não foi legal comigo enquanto eu estava vivo?", porém Phillip tratava de mandar aquelas perguntas indiscretas para o fundo da sua mente. Não vinha ao caso, já estava morto.

Aquela dualidade às vezes fazia com que Pip sentisse que não era ele mesmo.

Enfim, Kenny estava sumido fazia alguns dias e nem mesmo Satanás ficou presente por um tempo considerável, sequer precisava comentar sobre Damien, por causa de tudo isso e pela repetição de sempre assistir alguma coisa na televisão Pip acabou ficando entediado

Já mudava os canais da TV há pelo menos vinte minutos – ao menos contou uns vinte minutos – e nada era particularmente interessante. Não havia ninguém com quem pudesse conversar e acabou se lembrando de Pocket. Será que o seu amigo estava bem...? Provavelmente sim, ele vivia em uma daquelas áreas seguras do Inferno.

Só era triste que não tivesse tido mais oportunidades de conversar com ele.

Enquanto olhava discretamente para a porta, lembrou do que Satã havia falado, sobre como tinha proibido demônios lá e Pip realmente não havia visto nem um sequer pelo tempo que ficou no abrigo, será que era realmente tão perigoso assim que saísse? 

Deus, estava mesmo considerando isso?

Respirou fundo e levantou-se do sofá, sentindo os músculos reclamando por causa do tempo que ficou parado praticamente na mesma posição. Com um pouco de hesitação pegou na maçaneta da porta e destrancou, puxando-a para dentro. 

Lá fora estava exatamente como se lembrava, sem nada a mais ou a menos, a mesma pedra vermelha e quente, quente como tudo que estava no Inferno. Pip não estava mesmo acostumado aquelas temperaturas.

E, sem ter certeza se iria alguma hora iria habituar-se ao calor, Pip aventurar-se inconsequentemente no Inferno.

 

[...]

Quando Damien saiu do quarto e não achou o francês em lugar nenhum da casa, começou a ficar preocupado e o seu humor apenas piorou. Se alguma coisa acontecesse com aquele garoto o seu pai não ficaria nada feliz. 

O aviso sobre os demônios que com certeza iriam acabar com Pip se o vissem passeando por aí não foi o suficiente ou o loiro apenas não tinha preocupação com sua integridade física? 

Realmente não podia dizer qual era o caso e, depois que saiu de casa, não demorou muito tempo para achar o suposto anjo. Ele estava perto do lago de lava, em uma das áreas que deveriam ser seguras, só que mais afastadas de onde os moradores realmente viviam. 

Aquela aura brilhante de Pip chamava atenção e com certeza era capaz de atrair alguns demônios irracionais de nível inferior, as criaturas que nasceram no Inferno e não tinham nada para chamar de alma.

Mas nível inferior não significa necessariamente pequeno. A criatura era grande, do tamanho de uma casa de dois andares com um pescoço longo e escamas vermelhas, igual os olhos. Isso fora as garras nas patas dianteiras, as duas fileiras de dentes afiados e indiscutivelmente mortais.

Pip não sairia bem se tivesse que lidar com aquele maldito dragão sozinho. Era algum milagre – não ironicamente falando – que ele ainda estivesse inteiro e reconhecível.

O dragão havia erguido uma das patas dele para acertar o loiro francês caído no chão, que parecia em pânico, mas bastou Damien correr e se pôr na frente dele para que as garras do monstro parassem no ar.

Vai embora!

Gritou. O timbre da voz do anticristo não parecia ser exatamente o ideal para que mandasse em um dragão com vinte vezes o seu tamanho, era aguda demais, mas também não era como se isso tivesse alguma relevância diante do que a situação pedia.

No Inferno todo Damien só precisava responder ao seu pai.

Observou a criatura encolher aquela pata e se afastar, se virar rapidamente e rastejar para longe, enquanto precisou desviar para a cauda não lhe acertar em cheio. A cena era até mesmo um pouco ridícula.

Entediado, virou-se para onde Pip estava caído e o olhar chocado dele era, de longe, a coisa mais patética da situação inteira. Esse medo lembrava um pouco, bem vagamente na verdade, o estado dele no dia que o anticristo achou-o perdido no limbo, mentalmente estável demais para quem havia passado tanto tempo vagando pelo esquecimento absoluto.

Aquele suposto anjo era mais forte do que aparentava ser.

— Levanta daí.

Atordoado, Pip conseguiu sair do chão sem ajuda enquanto lhe encarava impressionado, mas estranhamente quieto. Ele também pareceu nervoso por um instante, mas logo tratou de agradecer, exatamente como o garoto demônio imaginou que ele faria:

— Damien, por Deus, obrigado-

— Será que eu tenho mesmo que te vigiar a porra do tempo inteiro!? — Interrompeu o loiro e viu ele se encolher um pouco, mas não poderia se importar menos com isso. 

— Você não me “vigia” o tempo inteiro. — Pip retrucou corajosamente, pelo menos na opinião de Damien, enquanto também fazia aspas com os dedos. — Eu só saí para caminhar um pouco-

— Não vigio, mas agora tô vendo que vou precisar! A gente te avisou sobre os outros demônios, você é idiota ou o que!?

Não era como se ligasse para que os caras lá em cima querem, toda essa preocupação era porque queria evitar problemas para si mesmo. Não sabia se os contrariar faria o Apocalipse começar mais cedo ou alguma merda do tipo, mas Damien realmente não tinha vontade de destruir o mundo.

— Ficar trancado o tempo todo não é exatamente agradável, Damien!

E um monstro te esmagar feito inseto é divertido, certo!? — Respondeu com a voz cheia de sarcasmo e viu Pip estremecer, então, por algum motivo, lembrou vagamente de como ele havia morrido. Mas não importava. — Vem logo, antes que algum outro bicho apareça.

O francês abaixou a cabeça e lhe seguiu de volta para casa, quieto.


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