My Madness escrita por Beni Oliveira


Capítulo 3
Apenas existindo, não vivendo.


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos ♥
bom, eu realmente sinto muito pelos dias que passei sem escrever, sorry ♥ (bom, minha semana foi uma loucura entre livros e matérias :( )
mas cá estou eu de volta com mais um capitulo ♥



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Uma semana havia se passado desde a primeira vez que Nathaniel viera no meu quarto e me fizera comer. Desde então, durante todos estes dias temos feito a mesma coisa. Não vou para o café da manhã, mas Nathaniel sempre aparece com alguma fruta ou biscoito com suco. Durante os dias que se passaram, eu passei a conversar mais com ele, não que eu esteja virando uma ave tagarela, mas comparada as poucas palavras que eu disse quando almoçamos pela primeira vez, tenho feito um grande avanço, segundo Nathaniel.

Ele é um rapaz adorável. Sempre simpático, responsável, cavalheiro e muito bom para conversar. Imaginei que se minha avó conhecesse Nathaniel, quem sabe não acabaria gostando dele, pelo seu comportamento exemplar. Não, minha vó não gosta de ninguém jovem.

Passamos a almoçar no segundo turno dos funcionários, tinhas poucas pessoas neste turno, pois a grande maioria dos funcionários gostava de comer enquanto a comida ainda estava quente, e as que estavam no segundo turno eram apenas porque não conseguiram comer no primeiro. Nunca mais havíamos visto o rapaz novamente, pelo menos eu não o havia visto.

Um pouco antes e depois do almoço, dávamos uma volta pelos jardins do hospício. Em particular, eu gostava de quando estávamos perto do hospital, porque era quieto e ninguém nos perturbaria ali, as vezes Nathaniel era chamado para ajudar alguém, mas retornava logo. Enquanto Nathaniel se ausentava, eu ficava olhando para o hospital, para ser mais clara, para a porta dele. No fundo eu ficava na expectativa de ver o rapaz sair dali novamente, mas nunca tornou a acontecer.

Hoje caminhávamos tranquilamente perto do refeitório, já tínhamos almoçado, Nathaniel me mostrava os casos de loucos mais conhecido, e claro, Agatha estava no meio.

— Aquela é Paulina, bem, ela acredita ser um alienígena – observei a mulher, parecia ter seus 40 anos, o cabelo loiro estava dividido ao meio, uma parte estava comprida e a outra parte do cabelo estava na altura das orelhas –

— Quem cortou o cabelo dela? – perguntei, porque apesar da enorme diferença de comprimento, parecia estar cortado simetricamente, com perfeição –

— Bem... algumas empresas de salão de beleza mandam uns estagiários pra cá, sabe, para servir de experiência para eles. Eles tem de cortar e maquiar alguns pacientes da forma que eles querem. Também conta como uma boa ação, o que deixa as empresas com uma ótima reputação –

— Eles vem sempre? –

— De três em três meses. Talvez eles venham no próximo mês. Como Agatha tem se comportado? –

— Ontem de noite ela disse ter visto... um duende embaixo da minha cama, ela me fez sair da minha cama, e ficou deitada embaixo dela, ela dormiu lá, então acho que ela está normal... Algum deles consegue se curar? – ele arqueou as sobrancelhas, como quem não entendeu – Sabe... eles param de ver coisas inexistentes? –

— A mente não pode ser curada como um joelho ralado. Sabe, depois várias seções de terapias e remédios... Alguns melhoram bastantes, até saem daqui, podem viver tranquilamente em sociedade, mas isso não significa que em algum momento eles não possam... – ele fez uma pausa – que não possam ter uma outra crise em raras ocasiões. – Observei um homem sentado na grama lendo uma revista, parecia normal –

— Algumas pessoas parecem bastante normais, porque estão aqui? –

— Bipolaridade, depressão, traumas, ansiedade, estresse, existem vários motivos... Nem todas realmente estão loucas, algumas só precisam de um tempo para se recuperar, mas nem sempre os familiares tem paciência e então... – ele suspirou –

— Então mandam elas pra cá, para serem internadas sem mais nem menos... –

— Bom, na verdade, se for comprovado que a pessoa sofre de altos níveis bipolaridade ou coisa assim, os familiares podem sim internar elas – ele comentou –

— Mas nem sempre é assim, não é mesmo? – então percebi que eu estava preste a ultrapassa nossa barreira. Nathaniel e eu sempre evitávamos qualquer assunto que pudesse ser relacionado com minha internação forçada, essa era nossa barreira, ignorar o fato de que estou aqui injustamente, para evitar qualquer conflito, qualquer crise de raiva, qualquer enxame de acusações. Percebi que estava com o punho fechado, e que minha unhas machucavam a palma de minha mão – Desculpe... - falei por fim – Você conhece todos casos? – Ele balançou a cabeça negativamente –

— Comecei a estagiar faz pouco tempo, só sei os mais populares –

— Aquele rapaz... que almoçou conosco uma vez... qual a loucura dele? – observei que Nathaniel pôs as mãos no jaleco e respirou fundo. Ele estava visivelmente desconfortável pela menção do rapaz –

— Até onde sei... Nenhum. – Pisquei – Desde que estou aqui, ele nunca apresentou nenhum sinal de loucura. Até estive com a psicóloga uma vez quando ele foi chamado para um exame de rotina e bem... Ele não apresentou nenhum sinal de distúrbios mentais. Se importa em mudar de assunto? – Aquele rapaz é como eu, pensei.

Ele é normal. Ele não deveria estar aqui. Ele está na mesma situação que eu. Qual seria o nome dele? Com deveria ser sua família? Onde era o dormitório dele? Em qual andar ele ficava? Onde ele está neste exato momento? O que ele fazia da vida? Será que ele se sente como eu? ... Demorei um pouco até perceber que Nathaniel me chamava pelo nome há algum tempo.

— Hum? Desculpe... Eu me... Eu estou um pouco distraída hoje – Nathaniel retirou a mão esquerda do jaleco e olhou o relógio –

— Bem... Tenho que ir, preciso passar em casa e me aprontar para a faculdade – Algo dentro de mim quis que ele, apenas por hoje, resolvesse ficar o dia inteiro. Porque era apenas quando Nathaniel estava, eu me permitia sair daquele quarto minúsculo. Mas logo depois que ele ia embora, eu voltava a me esconder entre o espaço apertado daquelas quatro paredes frias. –

— Então... Até a manhã... – ele deu um leve mais ainda sim notável suspiro –

— Desculpe... Não vai ser possível que eu venha amanhã... – ele me encarou por um momento, e talvez imaginado que eu quisesse uma explicação, continuou – Preciso por meus trabalhos de faculdade em dia...  Acho que vou precisar de dois ou três dias... – Três dias trancada naquele quartinho... –

— Certo... Então até... qualquer hora. – e ele se foi.

...

Atravessei o percurso até a recepção onde eu subo as escadas até meu dormitório em passos lentos e pesados. Ao chegar na recepção, olhei para porta de vidro que revelava o estacionamento. Vi um carro grande e bonito sair pelos mesmo portões por onde eu fui trazida, talvez era o carro de Nathaniel. Imaginei estar no lugar dele. Me imaginei com as mãos no volante, vidros abaixados, vento bagunçando meu cabelo, a paisagem verde das arvores se transformarem em paredes e avenidas da cidade movimentada. Me imaginei chegar em casa, tomar um banho no meu próprio banheiro, escolher a roupa que eu quiser para sair, chegar na faculdade, cumprimentar meus amigos, sentar em uma cadeira, anotar o assunto que o professor passasse, me imaginei com uma garota normal, me imaginei livre.

Olhei para o lado e vi que a recepcionista estava com os olhos atentos em mim, então percebi surpresa, que eu havia me aproximado muito e encostado o rosto na porta.

A dura realidade me puxou de volta ao chão. Eu não colocaria as mãos em um volante. Eu não abaixaria os vidros e sentiria o vento bagunçar meu cabelo. Sabe lá se algum dia eu voltaria para casa, se algum dia eu vou sair daqui, se algum dia vou poder ser... normal.

Senti meu rosto quente, molhado. Um grande soluço se perdeu em minha garganta. Tentei segurar o choro, mas doeu, doeu em minha garganta e doeu em minha alma.

Subi as longas escadas correndo, me sentindo desabar, sentindo minha falsa anestesia desmoronar e tudo o que eu não havia me permitido sentir vindo à tona. Ai eu esbarrei nele... meu corpo foi para trás, minhas mãos gelaram e suaram ao me imaginar caindo escadas a baixo em frações de segundos. Porem eu senti borboletas no estômago quando ele agarrou minha cintura e me puxou para perto dele.Em frações de segundos, milhares de pensamentos invadiram minha mente, a dor que eu sentiria ao cair, o medo que me congelou a espinha, a tristeza que repentinamente deu lugar ao susto, meu coração acelerado. E todos eles sumiram quando olhei para ele.

Meus olhos claros se fundiram na escuridão dos olhos dele, eu podia sentir a respiração dele perto de meu pescoço e estranhamente me senti como a garota mais sortuda do mundo, desejei ouvir sua voz rouca novamente. Ei, lembrei, tenho que respirar, porque até então eu não havia percebido que prendia a respiração. Tomei o cuidado de soltar a respiração devagar, como se ao respira muito rápido, ele sumisse dali. Ele ficou me segurando por um tempo, olhando firmemente para meu rosto, mas de repente, ele me empurrou contra a parede e continuou a descer as escadas. Fiquei parada na parede tentando entender o que tinha acabado de acontecer, até que quando finalmente pareci ter compreendido, meu rosto esquentou ao perceber o quanto ele deve ter pensando que sou esquisita.

Ao chegar no topo da escada, me permitir olhar para trás, e me deparei com ele me olhando ao fim da escada, ele pareceu não se importar ao ser pego me olhando, apenas voltou a andar naturalmente e sumiu do meu campo de visão.

Entrei no meu “quarto” ainda pensando no tal rapaz, e tamanha foi a minha surpresa ao me deparar com minha cama com vários pacotes de biscoito e salgadinhos em cima dela, alguns livros. Olhei para Agatha que estava deitada de bruços na cama ao lado, ela segurava um caderno de desenhos e lápis de cor ao redor dela.

— Seu amigo Nathaniel veio aqui quando você não estava e deixou isso tudo ai – ela explicou com os olhos atentos no caderno – Meus amigos disseram que ele gosta de você... –

— Os gnomos? – perguntei com indiferença observando a capa de um dos livros –

— Não... – ela olhou serio para mim com uma sobrancelha arqueada – Os reais...

— Ele não gosta de mim, nos conhecemos a uma semana só – argumentei jogando um saco de salgadinhos para ela e abrindo outro para mim –

— Ele não parece pensar assim... –

— Mas deveria – não dei atenção para o que Agatha falou, ela é louca, não sabe nada sobre esses tipos de assuntos. Ele só deve sentir pena de mim, apenas isso. –

...

Era um livro de romance policial, até pelo que eu entendi, uma investigadora se apaixonou por um dos suspeitos do assassinato do próprio marido. Sempre gostei de livros, desde pequenina, mas nunca conseguir ter mais de quinze.

Sabe, meus pais me mandam dinheiro todo mês, uma quantia suficiente para eles acharem que isso pode justificar a falta deles. Acontece que, eu sendo de menor, minha avó toma conta do dinheiro, ou melhor, tomava. O dinheiro que eles mandam, fica em uma caixa, dentro do quarto dela, no fundo do guarda roupa. Certa vez, fingi estar com febre, e quando ela saiu para ir na padaria, entrei em seu quarto, eu sabia que ela chegaria logo, mas eu não podia demorar, tinha de ser rápida e não podia deixar rastros, eu sabia onde estava, porque meu avô me contou quando estava bêbado certa vez. Era uma velha caixa de madeira, media. Quando abri, me assustei com a enorme quantia.

 Ela Odeia minha mãe, ela me diz que sou fruto de um terrível erro do meu pai, ele nem era casado com minha mãe quando ela descobriu a gravidez.  Ela odeia a bondade genuína da minha mãe, o seu amor pelas pessoas, antes dela, meu pai vivia e morreria pela minha avó, mas quando conheceu minha mãe, conheceu a bondade, a pureza, conheceu o amor. Segundo minha avó, minha mãe era uma cobra que havia tirado meu pai dela, ela fez meu pai embarcar em um avião para outro país. Eu sabia, quando minha avó me via, enxergava o motivo pelo qual seu único filho estava longe há anos, ela via o amor dele por minha mãe em pessoa. Era por isso que nunca tocou no dinheiro que eles mandam para mim, era orgulhosa de mais para isso.

 E ali estava, o dinheiro que meus mandavam por mês durante toda uma vida. Eu não podia tirar muito, ela perceberia, tinha de ser pouco. Quando entrei em meu quarto, segurando algumas notas de cinquenta, o sentimento de vergonha inflamou em meu peito. Mas não era roubo, aquilo era meu, por direito.

E fiz isso durante todo esse tempo, desde meus doze. As vezes passava dois ou três meses sem pegar, para que ela não desconfiasse de uma falta de cédulas na caixa. E foi assim, de pouco em pouco, consegui comprar algumas coisas, como meu celular, meu mp3, batons baratos e alguns livros. Claro que ela descobriu. Ela pegou minhas blusas, calças e os tão poucos shorts que eu possuía, amarrou em uma sacola e tentou atear fogo neles, meu avô chegou a tempo de conseguir salvar algumas coisas. Ele me defendia. Apesar de alcoólatra, em casa era o que mais tinha respeito. Uma vez ao mês ele me deixava pegar um pouco do dinheiro, minha avó sabia disso, mas ele sempre fazia quando ela não estava. Infelizmente, nos dias que ele saia para beber, como castigo ela me agarrava pelo braço e me trancava no porão, queimava algumas de minhas roupas. Ela nunca soube que era no porão que eu escondia meu celular, mp3, os livros e boa parte de minhas roupas, as que ela queimava, eram as que eu menos gostava.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo bbs ♥
obs: vcs vão ficar bastantes surpresos huahahahhaha



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