My Madness escrita por Beni Oliveira


Capítulo 2
Respirando um pouco.


Notas iniciais do capítulo

olá bbs ♥ tudo bom com vcs?
agradeço a todos que ontem tiraram um tempinho para ler e hj estão aqui novamente ♥
bom... eu não sei exatamente quando vou postar o próximo capitulo então...



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Só tinha se passado duas semanas, apenas duas semanas, mas eu sentia que toda uma eternidade tinha se passado enquanto eu estou aqui, presa neste hospício. Já não vivo mais, apenas existo. Tenho acordado por volta das seis e meia da manhã, mas não faço nada, não me levanto, já nem choro mais como fiz nos primeiros dias e vi que não era um pesadelo como eu queria que fosse, era real. Minhas esperanças de que minha avó se arrependeria e me tiraria daqui foram morrendo dia após dia, quando o sol aparecia e quando a lua aparecia, eu sabia que ela não iria tornar, não teria uma segunda chance, não adiantava me iludir com a ideia que eu voltaria para casa.

Eu estou anestesiada, não sinto mais nada. Já não ligo pro cabelo sempre bagunçado. Não ligo para minhas unhas grandes. Não sinto fome, a comida não é ruim, mas me recuso a passar mais do que quinze minutos convivendo com aqueles loucos, já me bastava Agatha, aliás ela some o dia todo (para minha sorte) volta apenas quando é necessário.

Ouvi o sino bater, era hora do café da manhã, já era oito horas da manhã. Encarei o forro de madeira do teto mais uma vez. Respirei fundo, me levantei e fui ao banheiro. Talvez eu tenha ficado duas horas no banheiro, não sei, só desejei que a água me derretesse e eu escoasse pelo ralo, meus dedos estavam franzidos, era hora de sair do chuveiro. Meu cabelo castanho estava ressecado e sem vida, assim como eu.

Sai do banheiro vestindo meu moletom azul que eu costumava usar quando ia para a escola, pela minha idade, eu devia está no terceiro ano do ensino médio, mas só havia feito metade do segundo, minha avó me tirou da escola para me dar aulas em casa, como fazia desde que eu era pequena, então, só fui para escola durante seis meses em toda minha vida. Pus minha calça jeans e nem me importei em cuidar do cabelo. Enquanto eu estava no banheiro, tinha ouvido a porta se abrir e fechar, pensei que era a maluca da varinha de condão, mas não era.

Pisquei. A figura loira de jaleco branco estava em pé com o rosto vermelho, mas ignorei sua presença e deitei novamente na cama.

— Eu... hum... – Ele começou a falar, apenas olhei para ele com tédio, sem dizer nada – Já faz três dias que você não aparece para tomar café da manhã – pisquei novamente. Um curto silencio se fez, ele viu que eu não ia falar nada, então continuou – Fiquei preocupado e te trouxe isto – ele me estendeu uma bandeja com gelatina, iogurte e um sanduíche. Não estou com fome, mas aceitei para que ele não ficasse ainda mais envergonhado do que já estava – Você pode ficar doente se continuar se recusando a sair desde quarto – revirei os olhos, me sentei na cama pondo a bandeja ao meu lado. -

— Vou ficar bem mais doente se tiver que socializar com aqueles loucos – disse seca – Alias você não tem vários outros malucos para ver? – arqueei uma sobrancelha, não lhe queria aqui comigo, na verdade, eu estou recusando conviver com qualquer outra pessoa, independentemente do estado mental dela. -

— Não, porque mesmo tento distúrbios mentais, as outras pessoas costumam sair do quarto... -

— Claro, e você tem a capacidade de memorizar o rosto de cada pessoa e ver quem está ou não presente - ele colocou as mãos dentro dos bolsos do jaleco branco. -

— Sei que está aqui contra a própria vontade, mas não pode se torturar ficando presa neste lugar minúsculo. Você precisa de ar fresco, conversar com outras pessoas, se hidratar... -

— Você sabe perfeitamente que o meu lugar não é este, mas não fez absolutamente nada para impedir que me internassem aqui. E quer saber? Não me venha com essa história boba e hipócrita de que está preocupado com meu bem-estar, porque se realmente estivesse, não tinha deixado tamanha injustiça acontecer – percebi então, que não estava totalmente anestesiada quanto pensei que estava. Ainda podia sentir raiva. Um longo silencio se fez, eu nem olhava para ele, apenas encarava o teto. -

— Sabe... – para minha surpresa sua voz não estava carregada com um tom de irritação, estava serena, calma, como quem já estivesse acostumado com esse tipo de situação – Eu apenas cumpro ordens, não posso dizer onde as pessoas devem ficar. Nem psicólogo eu sou ainda, estou fazendo um estágio aqui enquanto termino a faculdade de psicologia... e eu sei que você não devia estar aqui, mas não posso fazer absolutamente em relação a sua liberdade, ok? Tudo que está em meu alcance é tentar fazer você se alimentar e respirar – Ele estendeu a mão para mim – Já está tarde, e se quiser - ele fez um breve pausa – apenas se quiser, posso te levar para almoçar comigo na ala dos psicólogos e enfermeiros, assim você não tem que interagir com os outros – pisquei –

— Vou ter que comer junto de todos os outros enfermeiros e trabalhadores daqui? – falei olhando para minhas meias azul-marinho –

— Podemos comer no terceiro turno, sabe, a comida vai estar fria, mas é bem melhor que nada – segurei sua mão me levantando da cama – Podemos dar uma volta pelos jardins – recuei – Não se preocupe, não vou te forçar a ver gnomos –

...

Nathaniel. Esse era o nome dele. Ele me levou para uma parte um pouco afastada de todos, perto do hospital. Ele me fez sorrir pelo menos duas vezes depois que me tirou do quarto. Me fez sentar na grama ao seu lado. Me disse que tinha seus 19 anos e está no segundo ano de faculdade. Ficava no hospício apenas pela manhã e de tarde ia para a faculdade. Tinha uma vida de responsabilidades. Diferente de mim, que apenas acordo, como, e volto a dormir. Nathaniel tem uma vida de verdade, eu não.

— Você foi crida por sua avó? – ele tinha algumas pedrinhas na mão que ativara para longe –

— Sim e você? – não queria falar sobre ela –

— Pelos meus pais, tem irmãos? – balancei a cabeça negativamente – sorte sua, minha irmã é um praga, você nunca vai saber o que é odiar alguém e amar ao mesmo tempo até ter um irmão –

— Ela se parece com você? – na infância, durante anos pedi secretamente ao Papai Noel que me enviasse uma irmão ou um irmão de presente, alguém com quem eu poderia brincar –

— Fisicamente se parece um pouco, mas na personalidade não. Ela é barulhenta, teimosa, infantil e escandalosa, não sei se você aguentaria um dia com ela – eu tentei esboçar um sorriso –

E então eu vi ele. Enquanto Nathaniel me falava sobre seu convívio em faculdade, eu tinha virado o rosto para observar o hospital, quando vi a porta se abrir e ele sair de lá. O cabelo preto, curto e bagunçado, segurava um caixa de remédios e tinha os fones de ouvidos conectados com algo que me pareceu um mp3. Eu pensei que eu era a única que tinha mp3 aqui.

— Vocês fazem cirurgias? – ele arqueou as sobrancelhas – Sabe, no hospital... – indiquei para lá com a cabeça –

— Ah, não, não. Aplicamos injeções, fazemos consultas, damos remédios, algumas internações, coisas do tipo. Se o caso for sério a pessoa é encaminhada para um pronto socorro. – um pequeno silêncio se fez. Quando começou a se tornar constrangedor, Nathaniel voltou a falar – Melhor começarmos a ir, o terceiro turno do almoço já vai se iniciar – ele me estendeu a mão para que eu me levantasse e eu aceitei, não porque queria tocar em sua mão, mas sim por educação, caso ele ficasse constrangido se eu recusasse –

Caminhamos em silencio, eu apenas o seguia. Vi que ele caminhava em direção ao refeitório onde vi algumas pessoas sentadas segurando algo que parecia mole. Pensei em dizer que se era intenção dele que eu me entrosasse com aquelas pessoas, ele estava completamente enganado, mas eu não disse nada. Ao nos aproximarmos, vi que eles estavam moldando argila. Nathaniel se aproximou de onde costumava ficar os “self serve-se” passou por trás deles e pegou dois pratos que estavam na mesa ao seu lado e me entregou um. Fomos nos servindo em silencio. Ao terminar, ele me encaminhou para uma porta onde eu imagino, que ficava a cozinha, para minha surpresa, não tinha mais ninguém além de nos dois.

— As cozinheiras costumas sair da cozinha para os outros funcionários ficarem mais à vontade – ele explicou, fechou a porta atrás de mim e nos sentamos na enorme mesa. Outra vez ficamos em silencio total.

A porta se abriu de repente, me dando um pequeno susto, a figura que surgiu era mesma que eu havia visto sair do hospital. Até então, eu só havia visto seu cabelo escuro, suas costas largas, mas agora, com ele de frente, pude ver seus lábios carnudos, seus olhos que transmitiam o escuro infinito do universo, suas maçãs rosadas, seu cabelo bagunçado com de quem acaba de acordar. Ele olhou para mim por um instante e logo em seguida encarou Nathaniel. Ele usava um moletom preto e segurava um prato.

— Não sabia que estaria aqui – sua voz era rouca e vinha carregada com um tom de seriedade. Após um breve momento, Nathaniel respondeu –

— Acabei resolvendo almoçar mais tarde – o rapaz deu de ombros e se sentou duas cadeiras ao meu lado. Ele e Nathaniel se encaravam em silencio, me senti invisível. Nathaniel abaixou os olhos até seu prato e voltou a comer, após um breve momento, o outro fez o mesmo. Um silencio extremamente pesado me fez querer parar de comer e sair o mais rápido dali, mas pensei que isso seria falta de consideração depois que Nathaniel esperou por tanto tempo para almoçar por minha causa. Apesar de que em momento algum eu lhe pedi que fizesse isso.

Quando Nathaniel terminou de comer, me levantei ao mesmo tempo que ele, cada um lavou sua louça e saímos dali deixando o rapaz sozinho.

Quando escutei as vozes das pessoas que estavam no refeitório, ainda fazendo argila, senti o ar incrivelmente leve.

— Bom, acho que está na hora de ir para a faculdade – disse Nathaniel que me ofereceu um sorriso simpático, eu retribuir, em silencio, ele foi caminhando para longe –

— Boa sorte na faculdade – elevei um pouco a voz para que ele me escutasse de longe, ele apenas se virou, sorriu, e voltou a andar -


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Notas finais do capítulo

Até qualquer hora bbs ♥



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