My Madness escrita por Beni Oliveira


Capítulo 1
Minha nova realidade.


Notas iniciais do capítulo

Bom, esse é o primeiro capitulo, claro, hum... não sei quando vou postar o outro mas espero muito que gostem ♥



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Sabe aqueles carros da polícia dos anos 70? Onde as pessoas eram levadas presas, e pela pequena janela do carro viam suas casas ficarem cada vez mais distantes, as algemas apertarem seus pulsos e um policial sentado em frente ao réu com uma pistola? Então, minha situação não é muito diferente...

Que grosseira a minha, deixe-me apresentar. Me chamo Alicia Lorena, tenho 16 anos. Nasci e cresci em uma cidade pequena, bem pequena mesmo, Ville Loves. Porque raios minha cidade natal se chama assim, eu realmente não faço ideia, mas parece que tudo em torno da cidade gira em torno do velho amor romântico, as ruas (Avenida Cupido é onde fica o prédio mais antigo da cidade, uma biblioteca), as lojas (você encontra promoção do dia dos namorados até no natal), as planícies das montanhas (Acredite se quiser, mas a montanha mais famosa de nossa cidade, tem um certo formato de coração), vamos deixar a cidade de lado e falar mais um pouco de mim.

Sabe aquele casal fofo e bonzinhos? Que ajudam pessoas idosas e crianças carentes? Estes são meus pais, que agora estão na África. Minha mãe é pediatra, e meu pai é dentista, mas levando em conta que já faz exatos 14 anos que foram para lá e não retornaram, imagino que eles esqueceram completamente que tem uma filha, apesar de uma vez ou outra ligarem para me desejar “Feliz Natal”, “Feliz dia da independência” e o clichê “Feliz aniversário filha, desculpe não estarmos ai, mas prometemos que ano que vem estaremos”, eles nunca estão. Sendo assim, fui criada pelos meus avós paternos.

Minha avó, Josete, é aquela senhora rígida, que com certeza ainda não percebeu o quanto o mundo mudou, que acha minhas roupas ridículas, que me vê como uma vagabunda juvenil. “Na minha época, depois das cinco da tarde eu não tinha permissão para sair, se desobedece era castigada”, então, minha casa fica trancada em cadeados bem antes das cinco da tarde. Minha avó e eu nunca nos demos bem. Para ela, se eu uso uma blusa preta ou batom vermelho, estou virando uma prostituta. “Algum dia, vou me livrar de ti” ela ameaçava “Deus te ouça” eu respondia.

Meu avô era um baita mão de vaca. Vendia joias. Em alguns cômodos da casa, era a luz de vela, porque “Colocar lâmpadas em todos os cômodos é desnecessário” segundo ele. Infelizmente, ele era um cachaceiro. Sempre chegava em casa com cheiro forte de cachaça e rindo à toa, cambaleando e derrubando tudo que via pela frente, isso quando ele não conseguia chegar antes das cinco e ficava do lado de fora porque minha avó já teria trancado toda a casa.

Acontece que o velho bateu as botas a exatos dois meses, e para minha infeliz sorte, ele deixou recursos suficientes para que minha amarga avó conseguisse me mandar para um hospício.

Acampamento? Internato? Escola militar? Pra que? Para ela eu já sou louca de pedra.

Ela e a diretora, dona, do hospício são amigas desde jovens, o que já faz muito tempo mesmo, e, incontáveis vezes ouvia ela se queixar de mim para a bendita Mariana, que junto a minha avó, não mediu esforços para conseguir me internar.

Mas claro que se me internasse em algum hospício da minha cidade, seria fácil eu fugir e voltar para casa, minha avó preferiu me colocar em um hospício em outra cidade, basicamente, em outro estado. Há 14 horas de viajem de Ville Loves ao leste, ficava a agitada e fria cidade, Moster Falls. Bem diferente da calorosa Ville Loves, Moster Falls sempre faz frio e neva, e no verão, o mais quente que ficou até hoje foi de 27° graus, não era cidade pequena como Ville, era grande, evoluída e agitada, porém, para onde eu estou indo, é longe de toda a agitação, no meio do mato praticamente, fica o hospício Mariana Falls.

O carro tombou outra vez me fazendo dar um pequeno salto do meu assento e pousar de forma bruta, causando dor em meu quadril.

— É sério, já disse que não sou louca, não preciso dessa coisa – me referi a camisa de força. O enfermeiro a minha frente revirou os olhos –

— E eu já disse que até chegarmos lá, não tenho autorização para te soltar – bufei, apesar, de no fundo estar agradecida pela camisa de força, que de certa maneira, me matem aquecida. Detesto frio. –

Quando eles chegaram em casa, coloquei o máximo de roupa possível dentro de uma mala, apesar de saber que minha mala passará por averiguação, então, posso dar adeus ao meu celular e mp3.

O carro parou.

— Viu? Chegamos. – Disse o enfermeiro abrindo as portas daquela espécie de ambulância. A claridade repentina fez meus olhos arderem, me forçando a tentar esconder meu rosto – Venha, não tenho o dia todo – ele disse me puxando para fora do carro. Observei os motoristas saírem de dentro do carro. Um homem barbudo e gordo, acompanhado de uma loira alta. Todos os dois de jalecos brancos.

Eles foram me buscar de madrugada, como eu disse cidade pequena, todo mundo conhece todo mundo, não, Josete não iria correr o risco de ser vista com uma ambulância de um hospício em frente à casa. Não haveria ninguém as duas da manhã na rua, talvez a meia noite, mas as duas não.

Ele retirou a camisa de força, estiquei meus braços e agarrei minha mala. Fui levada a uma espécie de recepção, onde tive que entregar minha mala a dois gorilas barbudos, que abriram ela imediatamente sem minha permissão.

— Gosta de renda? – Um deles falou esticando uma calcinha preta que estava entre minhas coisas –

— Isso é meu! – falei tomando da mão dele de forma bruta –

— Calma gracinha – um deles tentou acariciar meu rosto mas eu lhe dei um tapa em sua mão –

— David e Pedro, deixem ela em paz – a mesma loira que veio comigo no carro entrou em cena segurando uma prancheta, acompanhada de um jovem branco, loiro e de olhos claros. Os gorilas se retiraram, observei mentalmente – Então você se chama Lorena e tem 16 anos... – ela leu em uma das folhas da prancheta – Certo, sabe diferenciar a realidade da fantasia? – bufei –

— Obviamente, não sou doida e meu lugar não é este! – disse com raiva –

— Isso é o que os exames dirão... –

Então, durante aquela tarde, passei por vários exames, como “Que cor é essa?” só de raiva eu respondia errado propositalmente “Azul.” Era rosa. Me mostrou umas imagens borradas, me perguntava o que eu via nelas. “Alguém desastrado que derramou tinta”.

Tive meu celular e canivete confiscados. Meu mp3 ficou comigo, mas só depois que o rapaz loiro ouviu cada uma das músicas e teve certeza que elas não me influenciariam a fazer alguma besteira, como matar alguém, por exemplo.

— Certo, você não tem nenhum tipo de transtorno, além de um senso sarcástico – ela sorriu –

— Eu disse. Já posso voltar para casa? – seu sorriso se desfez e ela e o rapaz se entreolharam como se trocassem alguma espécie de código. Ele suspirou e se dirigiu até mim –

— Vem, vou mostrar seu alojamento – pensei em protestar e dizer (mais uma vez) que esse não é o meu lugar, mas, vencida pelo cansaço e fome, me rendi. –

O longo prédio cinza e sem vida exibia variadas portas, uma ou outra pessoa no corredor parava para ver a nova “doida” que chegava.

O jovem me disse que eu estava em uma área segura, e que nessa parte do prédio, ficavam os casos menos graves, como pessoas que imaginavam ter super poderes ou verem gnomos, loucos que não faziam mal a ninguém.

Era fácil descrever esse local. A parte da recepção, onde fui mandada é a fachada do prédio, no primeiro andar. No segundo e terceiro andar ficava os alojamentos.

No extenso jardim, ficava o refeitório, onde, as vezes, servia de oficina artesanal.

Do outro lado do jardim, tinha um prédio de dois andares, também cinza, era onde servia de hospital psiquiátrico.

Após o hospital, tinha um enorme muro com um portão de ferro, onde havia um prédio branco, e lá, ficava os casos mais graves, pessoas que estavam em estados avançados de loucura. Minha espinha congelou ao saber que eu estaria praticamente no mesmo espaço que um maníaco. Porém, o jardim era bem grande, quase um estádio de futebol (bom eu acho que tem esse tamanho, nunca estive em um estádio de futebol mesmo), tinha flores, plantar e arvores, o que trazia vida em meio ao ambiente cinzento, ele me disse que eu não devia me preocupar, pois, depois daqueles enormes muros, era como se fosse um espaço apenas para eles, onde eles não poderiam invadir ou ir para o nosso.

Mesmo eu estando na área tranquila, o jovem me alertou que qualquer tentativa de fuga era impossível, pois havia segurança nos corredores e jardim.

— Você fica aqui – ele disse parando em frente a uma das incontáveis portas do corredor do segundo andar. Ele escancarou a porta revelando o pequeno cômodo. O chão, coberto por um longo tapete branco. As paredes pintadas de branco, um branco velho, sujo e apagado. Dois pequenos armários. Duas camas pequenas e apertadas. Me sentei em uma delas e senti o colchão fino, quase revelando a figura metálica da estrutura da cama. Não tinha travesseiro. –

— Olá! – de dentro da porta, onde imagino ser a do banheiro, uma figura rosada, com um vestido curto de purpurina lilás enfeitado de incontáveis laços coloridos, olhos azuis-violetas, o cabelo longo cor-de-rosa, uma jovem de talvez seus 23 anos surgiu – Quem é você? –

— Está é Agatha, sua companheira de quarto – o rapaz explicou vendo minha notável confusão – Escute, duas vezes por semana vamos vim aqui para ver como está o convivo de vocês e se estão deixando tudo organizado, não toleramos encrenqueiros, daqui você se vira, boa sorte – e ele se foi me deixando a sós com a maluca do vestido de brilho –

— Você não me respondeu, quem é você? – observei que ela segurava uma espécie de varinha de condão –

— Sou Alicia Lorena – falei por fim –

— Alice. – ela falou –

— Não, Alicia – corrigir, mas ela sorriu –

— Os gnomos me disseram que gostaram de Alice – Gnomos? – Eu me chamo Agatha, e sou uma fada, mas não conte a ninguém, eles pensam que sou louca – ela sussurrou.  Ah, isso explica tudo – Em vim do pais de Gloryn e você? –

— Eu vim do pais da realidade – falei abrindo minha mala e colocando ela em cima da cama, logo em seguida abrindo um armário vazio, passei o dedo e vi a fina camada de poeira, não me importei e coloquei minhas roupas lá – O que vocês fazem aqui? – perguntei me sentando na cama e pondo o moletom que peguei da minha mala –

— Temos aulas de pintura, teatro, clube do livro – estou em um acampamento nerd! Oh céus, o que eu fiz para merecer esse castigo? Hum, lembrei, comprei short, batom, esmalte, tênis, blusas regatas, tentei ser normal. Acho que ela citou mais outras atividades, mas eu queria sair desse quarto deprê e sei lá. Respiro fundo. Quem estou querendo enganar?

Esse quarto branco, paredes cinzas, gente maluca, isso é minha realidade. É o meu lugar agora, minha casa.


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Notas finais do capítulo

Então até o próximo ♥



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