Além do Castelo escrita por LC_Pena, SpinOff de HOH


Capítulo 33
Capítulo 33. Durmstrang


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo de calmaria, antes da baixaria russa, vamos recapitular esse núcleo:

— Scorp e Rebeca irão competir no campeonato de poções na natureza, na Rússia;

— Chris Macmillan ajudou Scorp a ir na escola russa pela primeira vez, onde ele conseguiu outro diário misterioso de Jacob Thompson;
— Em troca, Chris se aproximou dos Arrhenius, apenas porque ele tem uma queda por Arthuria;
— Além disso, temos Thomas querendo vingança contra a garota que chutou o traseiro dele em um duelo polêmico e inesperado;

Enfim...



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Biblioteca Central Paracelso, Durmstrang, 04 de dezembro de 2021

— Acabamos de receber a carta “ler, chorar e queimar” de Cesc e parece que ela está pesada, física e emocionalmente falando. — Scorp balançou a correspondência na altura do rosto da namorada, compenetrada em um de seus livros complexos de poção.

— É muito errado a gente, de vez em quando, odiar nossos amigos? — Rebeca fez a pergunta retórica em voz alta, recebendo um sorriso cansado do namorado como resposta.

— Só se um desses amigos for essa pessoa incrível aqui. — Thomas Arrhenius também a respondeu, soprando as palavras no ouvido da garota, quase à fazendo cair da cadeira.

— Bem, talvez seja você, Arrhenius, já que agora deu para aparecer do nada, no meio da biblioteca, só para me matar de susto! — Rebeca fechou o livro com irritação, para poder olhar de frente para o intruso.

— Não apareci do nada, vim pela porta, só porque alguém me prometeu que me ajudaria na vingança contra minha arqui-inimiga lá na Falcoaria e até agora nada. — O rapaz mais velho olhou com desprezo do alto de seu mais de dois metros de altura para a garota sentada.

— É que sua vingança pode esperar até depois do campeonato de poções na terça, já que ela é fruto do seu tesão reprimido por Magjistaire! — A menina resmungou em voz baixa, já fazendo uma careta cínica em retorno aos pedidos de silêncio dos colegas Durm no recinto teoricamente silencioso.

Para Thomas ninguém se atrevia a pedir silêncio, que mundo injusto!

— Isso não é verdade, Limey, todo e qualquer tesão que eu tenha nessa vida pode ser resolvido em um estalar de dedos. — Thomas estalou o polegar e o indicador para estabelecer seu ponto, sorrindo charmosamente para a garota inglesa.

— Devo me preocupar com essa amizade esquisita de vocês? — Scorp havia pausado a leitura da carta prolixa de Cesc para encarar a namorada e o irmão de sua instrutora de duelos com uma sobrancelha pálida levantada.

— Sua preocupação não mudaria coisa alguma se eu quisesse pegar sua garota. — O sueco deu de ombros, demonstrando toda sua arrogância com o gesto. Rebeca o encarou com seu melhor olhar de morte.

— Não vou me dar ao trabalho de te colocar no seu devido lugar, Thomas, porque eu tenho uma mensagem de Merlin para você: usa seu cérebro para tomar as decisões e não outras partes menos importantes do seu corpo, que aí você vai conseguir pensar em um bom plano para se vingar de Magjistaire!

— Pois eu já pensei num plano, limãozinho, um plano que não me custou quase nada, já que desde que Cinder ganhou de mim naquele duelo injusto, eu estou mais pobre do que um primeiranista de Hogwarts! — Thomas fez seu biquinho nada convincente, arrancando um suspiro indignado de Rebeca.

— Primeiro de tudo, para de me chamar de limão e derivados, você nem sabe o porquê às pessoas chamam os britânicos disso! — A garota começou a enumerar, mas Thomas a interrompeu.

— Tem algo a ver com a guerra trouxa, mas isso não importa, porque não consigo pensar em um apelido mais adequado para uma garota como você: gostosa e azeda em partes iguais! — Ele falou sorrindo, fazendo surgir aquelas tão famosas marquinhas ao redor dos olhos.

— Segundo, se já tem um plano, por que não está lá cuidando da execução dele? — A garota fingiu que não ouviu a interrupção, fazendo uma cara falsamente angelical para o setimanista.

— Porque eu preciso da sua ajuda para treinar o falcão que eu consegui! Ele é super inteligente, uma inteligência fora do normal, se me perguntar, mas não sabemos nada sobre a competição de falcoaria, então... — Thomas deu de ombros novamente, percebendo tardiamente a aproximação de seu colega de classe na mesa que estava encostado.

— Então deixa eu ver se adivinho: seu plano é ter Macmillan se transformando em um falcão para trapacear na competição? — Rebeca perguntou cética, vendo o sonserino ridículo mencionado puxar uma cadeira para se sentar ao seu lado. Scorp guardou discretamente a carta de Cesc no bolso e riu de leve para o absurdo da sugestão.

— Não fale como se não fosse o plano mais genial do mundo! — Chris saudou os sonserinos com uma empolgação contagiante, convidando Thomas Peter para um toque de punho, prontamente aceito pelo lutador sueco.

— E o que você ganha com isso? — Scorp fez a pergunta ao metamorfomago com bastante diversão no tom de voz.

— Simples: um encontro oficial com um dos irmãos de Thomas Peter! Eu nem sequer sou exigente, pode ser qualquer um! — O sonserino mais velho esclareceu animado, fazendo Rebeca se virar para o sueco sem vergonha ainda encostado na borda de sua mesa de estudos.

— Vai prostituir um de seus irmãos e acha que é um preço baixo a se pagar para ter sua vingança? — A garota questionou, já sabendo a resposta do idiota que estava chamando de amigo agora.

Rebeca tinha a impressão de ter algum ímã que só atraía amigos trastes.

— Ora, tanto Thuria quanto Alec sabem se defender sozinhos e podem fazer uso de um belo espécime de ser humano que pode se transformar em literalmente quem ou o que você quiser! — Thomas apontou para Macmillan, que se fez de ofendido em sua cadeira.

— Eu não vou mudar um centímetro da minha aparência, Thomas Peter, porque não dá para ser mais perfeito do que eu já sou! — O sonserino apontou para si mesmo, abrindo um sorriso com mais dentes do que uma boca humana deveria ter.

— Você quer dizer que não dá para fazer mais modificações corporais do que as que você já está usando, não é? — Scorp provocou, recebendo um olhar pouco amistoso do metamorfomago.

— Você não reclamou das minhas modificações corporais quando eu me transformei em seu papai, não foi, Malfoy? — Chris provocou, fazendo o sonserino mais novo fechar a expressão. — Falando nisso, descobriu algo daquele livrinho bizarro que eu te consegui?

— Que história perturbadora, mas infelizmente não é sobre mim, então... E aí, Limey, você vem me ajudar com meu falcão ou não? — Thomas falou, antes que Scorp pudesse dar a cortada que Macmillan bem que merecia por ser tão enxerido.

Não é porque tinha lhe feito um puta de um favor, que podia ficar expondo seus segredos desse jeito, afinal Scorp havia colocado ele no radar dos Arrhenius sem problemas! O favor já havia sido pago.

— Eu vou, mas para isso a gente tem que arrastar nosso querido falcão junto, não é? — Rebeca se levantou sorrindo cinicamente para o garoto ao seu lado, que a encarou com o mesmo nível de veneno.

— Vá indo na frente com Thomas Peter, Wainz, eu quero bater um papinho com seu namoradinho aqui. — Chris explicou, fazendo a garota quase retrucar, mas ele foi mais rápido. — Vai ser rápido, eu prometo.

Scorp a olhou, fazendo um gesto afirmativo com a cabeça. Podia lidar com Macmillan sozinho, mesmo com a fama de Sombra do garoto. Pelo pouco que podia compará-lo com Albus, o outro sonserino só queria saber mais e mais informações, sem necessariamente ter uma aplicação para elas.

— Te disse naquele dia e vou repetir agora, você não vai querer se meter nos meus assuntos, Macmillan, então é melhor esquecer toda essa história de livro. — Scorp falou assim que Rebeca e Thomas saíram pela porta da biblioteca.

— Mas você descobriu sobre o que o livrinho fala? E seus amigos perseguidores, como ficaram as coisas entre vocês? — O metamorfomago questionou com um sorriso sonso no rosto.

— O livro traz conceitos complexos demais para a gente entender, mas tudo bem, porque o importante mesmo é que ele não está nas mãos erradas e logo mais estará longe o suficiente para a gente até considerar que está nas mãos certas. — O garoto loiro falou com uma confiança que não sentia realmente, mas Macmillan não precisava saber disso.

— E os perseguidores?

— Não será um problema para você, então não tem com o que se preocupar. — Scorp mentiu, enquanto mexia distraidamente no livro que Rebeca havia deixado para trás em cima da mesa.

— Me pergunto se sua nova excursão para a Rússia agora é uma boa ideia, Malfoy. O dono do circo ainda pode estar por lá e o seu rosto não é exatamente fácil de esquecer em tão pouco tempo. — Chris sorriu, sabendo que o garoto já devia ter pensado nesse problema em relação ao seu tão esperado campeonato de poções.

— Eu estava de cabelo escuro na ocasião, vamos torcer para esse disfarce ser o suficiente. — Falou dando de ombros, continuando sua fachada de despreocupação.

— Lênin vai lembrar de você. — Chris falou sem rodeios.

— Se tudo der certo, Lênin vai estar distraído o suficiente com a organização da competição para se importar com um garoto magricela de Durmstrang. — Scorp falou com pouca convicção.

— Nós dois sabemos que você não é um magricela qualquer e que aquele cara não é do tipo que quer ver as confusões que resolveu de volta em seu território. — Macmillan o informou e Scorp teve que concordar mentalmente. Esperava de verdade que Lênin não o reconhecesse ou não se importasse com sua presença na Rússia.

— Não pode ir nessa viagem, você está ciente, não está? — O quintanista tentou, porque era a melhor linha de ação nesse momento. — Eu estando lá sozinho, cuidando da minha vida, é uma coisa. Nós dois estando lá... Ele pode achar que é sinônimo de problema.

— Não se preocupe, Malfoy, eu não vou a Rússia. — Macmillan garantiu, se levantando da mesa em que Scorp estava, dando um sorriso pouco simpático ao garoto mais jovem a sua frente. — Mas aceite esse conselho, que por incrível que pareça, é de graça: ache uma distração melhor do que o campeonato para aquele tal de Lênin ou você vai achar a confusão que parece estar procurando com tanto afinco.

Scorp não se deu ao trabalho de responder ao outro sonserino e Chris não parecia esperar uma resposta. Pegou novamente a carta de Cesc nas mãos, mas não a abriu, apenas a deixou bater de leve na ponta da mesa.

O amigo parecia otimista com os avanços do sistema de segurança de Fred nas empresas Dussel e com a solução para o problema esquisito de Aidan, que voltara a ser apenas um, seja lá o que isso signifique. Erick tinha tomado alguma parte no assunto e Cesc estava desconfiado de que ele também tinha agido no reestabelecimento de Hogwarts, mas o amigo não estava com tempo para divagar sobre isso.

Cesc estava concentrado apenas no jogo contra Beauxbatons nesse fim de semana, uma atividade bem comum, tendo em vista que a outra tarefa do pessoal na França era se certificar de que um ex-funcionário corrupto da escola não havia sido assassinado pela FerrZ e se a irmã de Bradbury sabia algo sobre o pobre homem foragido.

As Annes, que Scorp ainda não tinha tido o prazer de conhecer pessoalmente, haviam dado um pulo na clínica em que a irmã do pocionista supostamente trabalhava, mas a mulher estava de folga no dia.

De toda sorte, aquela pista parecia estar esfriando cada vez mais e ninguém parecia ter a menor ideia de como achar o verdadeiro Bradbury, já que o falso com certeza ia achá-los, mais cedo ou mais tarde.

Saber que parte da alta cúpula da FerrZ estava patrocinando um bandido que eles provavelmente nem sabem quem é verdadeiramente deixou todos os ânimos exaltados, mas todos concordaram que o saber era melhor do que o não saber e que isso era um problema menor no quadro geral das coisas.

Suas pistas precisavam ser devidamente organizadas para que pudessem coordenar melhor as ações, então era isso o que estavam fazendo agora:

O pessoal de Uagadou continuaria a investigar o que diabos queria dizer os escritos de Jacob Thompson. John estava cada vez mais certo de que tudo só faria algum sentido usando algum feitiço secreto, que nenhum deles tinha cacife para descobrir qual era, mas ele continuaria tentando mesmo assim.

Já o trio de Ilvermorny ainda estava voando abaixo do radar depois da humilhação em praça pública que Albus se submeteu a fim de limpar o nome do Ocaso com os americanos. Nenhum dos colegas de lá deu muitos detalhes sobre a situação real, mas pelo que Cesc e Louise averiguaram com Rose Weasley na viagem até Castelobruxo, os Potter estavam lidando relativamente bem com toda a atenção indesejada.

Isso era um alívio, porque significava que Albus não estaria tão traumatizado a ponto de se tornar um inútil no grupo.

Scorp tinha uma ou duas críticas a fazer sobre a atitude do iconoclasta em revelar o segredo sujo dos colegas americanos apenas por uma matéria no Ocaso, a principal delas sendo pelo fato dele ter arriscado o bom nome do grupo em um plano mal executado.

Mas se o perguntassem diretamente, iria apenas se fingir de magoado com o grifinório, porque ele havia partido seu coração ou qualquer uma dessas coisas bobas pelas quais os amigos estavam chorando esses dias.

Scorp havia escrito uma carta de apoio à Albus, dizendo que ele era um idiota, mas que a ideia não era de todo um ruim. O sonserino acreditava que se a ideia tivesse sido discutida e aprovada pelo grupo, quando a consequência negativa viesse, ninguém o culparia.

Afinal, passar por cima dos sentimentos de algumas pessoas pelo bem maior não era exatamente um empecilho para os iconoclastas, o restante deles estava apenas sendo hipócrita sobre o assunto.

Scorp abriu novamente a carta de Cesc, porque no final havia orientações e perguntas que deveria fazer a Aidan assim que o encontrasse na Rússia. Sim, porque todo mundo havia concordado que alguém deveria ver pessoalmente se a criatura estava mesmo bem e pelo visto a Rússia era um ponto de encontro perfeitamente razoável, o mais próximo do Japão que alguém iria por agora.

Bem, isso e o fato de que Aidan já tinha assuntos próprios para resolver na Rússia. Scorp sentiu um arrepio, porque agora não confiava nem um pouco nos assuntos “inocentes” de Hataya, principalmente se estes fossem ser resolvido no mesmo lugar em que ele e Rebeca estariam.

Puxou um pergaminho em branco e usando sua pena do Ocaso, mesmo Fred pedindo para darem um tempo no uso, escreveu uma mensagem para o lufa-lufa no Japão.

Hataya, Cesc me disse que você tem assuntos a resolver na Rússia, eu quero o nome, sobrenome e registro da varinha desse seu “assunto", porque todos nós sabemos o quanto você não tem noção nenhuma e pode estar muito bem arquitetando nossa morte.

O sonserino se distraiu levemente lendo um pouco mais sobre reações químicas entre plantas aquáticas e compostos minerais, antes de ver a resposta em uma letra muito feia para ser considerada algo escrito por alguém perfeitamente alfabetizado.

Achei que estávamos proibidos de usar as penas

Weasley no máximo faz sugestões e eu decido se acato ou não. Mas e quanto a minha pergunta? O que pretende fazer na Rússia?

Sua desconfiança me machuca, Scorp, a pessoa não pode errar uma vezinha só, que já é tratado como se tivesse colocado o mundo todo em risco!

Para de enrolar e responde logo ou a primeira coisa que eu vou fazer com você é te azarar de um jeito tão cruel, que os russos vão achar que você faz parte dos ingredientes para poções deles!

Você é mau

HATAYA

Tá, eu digo, mas não é grande coisa, já vou logo avisando! Sabe aquele professor que você mencionou no seu relatório, que Cesc achou prolixo, mas eu achei super divertido, sobre o dia do dragão com Macmillan?

Macmillan se transformando em dragão naquele dia foi o de menos, Aidan, mas continue, eu sei a quem você se refere.

Sim, infelizmente Scorp sabia muito bem sobre quem Aidan estava falando e não podia ser só coincidência que ele e Macmillan tinham acabado de discutir justamente sobre o homem. Seria algum sinal do destino para ele acabar com a raça de Hataya antes que ele aprontasse alguma coisa que enfurecesse Lênin?

Eu discordo, achei o dragão incrível, inclusive estou muito ansioso para ver Chris Macmillan na peça de Bertrand, porque nós dois somos amigos de cozinha, sabe? A família dele é toda lufa-lufa, o que faz dele quase um lufano honorário.

Não consigo ver uma ofensa pior do que essa para um sonserino, mas por favor, vá ao ponto, Hataya, não sei o quanto você está, ou melhor, é desocupado, mas eu tenho mais o que fazer da minha vida!

Pois saiba que eu também sou muito ocupado, só estava descansando a mão, porque fazia tempo que não tinha que escrever tanto e tão rápido. Você e Rebeca precisam de um celular, cara!

Alguém com senso poderia pensar que ir direto ao ponto evitaria essa dor na mão, mas não, você prefere ser exaustivo. VAI. DIRETO. AO. PONTO. HATAYA.

Antes de ir, eu tenho que dizer que jurava que nós dois já tínhamos passado do ponto de nos chamarmos pelo sobrenome, dado tudo que passamos juntos, sabe?

Scorp encarou o pergaminho com a mensagem desvanecendo, não mais com irritação e sim com preocupação, porque, infelizmente, Aidan havia passado tempo demais com sonserinos para não estar usando uma das táticas de distração de sua Casa.

Seja quem seus adversários esperam que você seja, até ser tarde demais para eles.

Aidan estava sendo deliberadamente obtuso e já tinha comprado tempo o suficiente para pensar em alguma resposta mentirosa, mas próxima o suficiente da verdade para ser factível. Droga, Cesc havia corrompido um lufa-lufa perfeitamente decente!

Scorp tomou seu tempo, antes de escrever uma mensagem que lhe traria exatamente a resposta que precisava saber.

O que você quer falar com o professor Lênin, que justificaria uma viagem do Japão para a Rússia?

Esperou a resposta pacientemente, porque se bem conhecia a criatura – e Scorp admitia que conhecia muito pouco Aidan Hataya – ele estava agora fazendo caretas e se martirizando por não poder fugir da pergunta como estava fazendo antes.

Tinha esperanças de que Aidan não levasse muito tempo para se dar conta de que não tinha uma alternativa, a não ser responder sua pergunta.

Nós dois temos um artefato romeno em comum e eu queria conversar com alguém que tem mais experiência no assunto do que eu, para aprender a usá-lo melhor.

Pronto, aí estava uma resposta perfeitamente comum e inocente, que deixou Scorp ainda mais preocupado.

E por que isso vale uma viagem para a Rússia?

Talvez eu esteja com saudades de você e Rebeca

Hataya

É que eu estou bastante comprometido com meus estudos, meu avô está bastante orgulhoso disso, inclusive, claro que saber mais sobre o artefato que me fez voltar no tempo e trazer uma segunda versão de mim também é um bom motivo, mas o principal é o conhecimento, você sabe o quanto isso é importante para o nosso futuro, não sabe?

Scorp encarou aquele monte de baboseira, isolando a única parte que importava: Aidan queria mais informações sobre o artefato que fez ele ter duas versões de si na mesma linha do tempo!

Acho melhor você não ir até a Rússia, Hataya. Eu e Rebeca vamos estar ocupados e não vamos poder evitar que você rompa o tecido do tempo novamente e cause o apocalipse que irá destruir o mundo como o conhecemos!

Agora você só está sendo gratuitamente cruel! Eu não preciso de babá, só vou fazer umas perguntas inocentes para o professor e pronto, estarei lá na torcida de Durmstrang antes que você consiga fazer sua poção chata da vitória!

Não, o que você vai fazer é irritar um cara carrancudo e sinistro, fazendo ele me reconhecer, me prejudicar e acabar com minha chance de ganhar o campeonato de poções!

Achei que você fosse da equipe reserva, não acho que minha visita ao professor vá mudar muita coisa no plano geral das coisas. Se vocês perderem, é porque não era para ser.

Scorp leu a resposta, então desejou que o sistema de comunicação não fosse tão eficiente, porque queria ter lido e relido aquela mensagem escrita por Hataya infinitas vezes, até o homicídio dele se tornar um crime justificável.

Respirou fundo e devia estar com uma expressão muito assustadora, já que um Durm passou por sua mesa e apressou o passo ao lhe encarar. Voltou a escrever para o lufa-lufa sem noção.

Hataya, não estamos em posição de dar margem para o azar. Se você tem um artefato perigoso que não dá conta de usar, dada as nossas circunstâncias, envolvidos até o pescoço com esse lance da profecia e tudo mais, você não acha que o mais seguro agora é apenas deixar isso em paz?

Eu e Cesc achamos que eu ainda não estou envolvido diretamente nesse lance da profecia, provavelmente porque o destino não sabia muito bem o que fazer com duas versões de mim, mas agora que eu voltei a ser um só, eu também estou indo para a Rússia para pegar o diário de Thompson da sua mão ou você se esqueceu disso?

Por Merlin, havia esquecido desse detalhe.

Apoiou a testa na mesa de madeira por alguns segundos antes de escrever novamente, lembrando do que Macmillan havia acabado de sugerir como plano de contenção de danos com Lênin.

Está bem, Aidan, vamos fazer o seguinte: eu te dou o diário, você o guarda com você e se mantém afastado, distraindo Lênin para que ele não me reconheça, o que acha? O importante aqui é que nós dois não podemos ser vistos juntos por ele, entendeu? Ou do contrário ele não vai te dar resposta alguma e vai arrancar o meu belo couro Malfoy.

Ok, temos um plano, então. Vou torcer por Castelobruxo.

E eu vou torcer o seu pescoço.

***

Ancoradouro do Lago Scandza

Rebeca olhava de um setimanista para o outro, os dois supostamente diferentes, de países, influências culturais, escolas e sexualidades diferentes, mas unidos por algo mais forte do que qualquer uma dessas coisas:

— Vocês são dois idiotas! — A sonserina declarou irritada e antes que Macmillan – porque Thomas nem tentava mais argumentar contra fatos – pudesse discordar, ela continuou. — Tem duas coisas que eu detesto mais do que tudo nessa vida, pri-

— Feiura e solidariedade. — Chris a interrompeu com um sorriso cínico, fazendo a garota calar a boca e repensar sua resposta.

— Duas coisas que eu detesto e que não são moralmente reprováveis: desistência e fracasso! E vocês me enviaram nesse plano ridículo, que com certeza vai acabar em uma das duas coisas! — Ela concluiu exasperada, olhando de um para o outro. Esfregou uma mão na outra para aquecê-las do frio, esperando para ver qual dos dois teria coragem de contradizê-la.

— Você até agora não falou porque o nosso plano não é bom. — Thomas resmungou como uma criança pequena e Rebeca o encarou incrédula.

Ele a tinha tirado de seus estudos para isso? Porque ela tinha roubado o livro de Cetraria para estudarem um pouco mais sobre o esporte, tinha se dado ao trabalho de conseguir luvas de couro e o apito para treinar os voos do falcão de mentirinha, enquanto os dois arruaceiros na sua frente não haviam feito absolutamente nada!

— Vocês ao menos leram as regras da competição de falcoaria? Não? Então eu vou fazer um resumo para vocês, a prova de estupidez, vamos lá: temos 3 modalidades, velocidade, elegância do voo e caça e o somatório dos três gera o prêmio mais importante da competição. — Rebeca listou se fingindo de paciente, recebendo a devida atenção dos rapazes mais velhos. —Alguma dúvida até agora?

— Temos que participar de todas as provas? — Chris perguntou incerto, porque não queria ter que gastar muito tempo treinando como falcão, sendo que devia estar aperfeiçoando sua técnica como dragão para a peça de Bertrand.

— Bem, em uma pesquisa de literalmente 30 segundos eu descobri lá no livro dos rankings que nossa querida Magjistaire é brilhante na caça, boa no voo e razoável na velocidade, o que sempre a deixa entre os cinco melhores. — A garota informou com um sorriso sarcástico, assistindo a careta de Thomas. — Podemos tentar superar ela apenas onde dói mais, esse seria um curso de ação racional.

— Então temos que ser melhores do que ela na... Caça? — O bruxo sueco perguntou esperançoso, fazendo Chris o encarar com irritação, soprando fumaça de frio no ambiente gelado do Lago Scandza.

Odiava aquele lugar congelado onde Alec adorava colocá-lo para nadar sem nenhuma promessa de coisas boas, a não ser sua própria figura incrível em uns calções de banho muito compridos para seu gosto.

— Eu não vou sair por aí matando pobres criaturinhas inocentes, eu tenho princípios! — Reclamou horrorizado, fazendo Rebeca revirar os olhos, porque Macmillan era a pessoa com menos princípios que ela conhecia.

— Ok, vamos ver o seu voo então. — Falou cansada e o pior é que eles mal haviam começado a treinar!

— Mas eu não vou comer nada vivo, que fique bem claro. Ou morto, porque provavelmente vai estar cru. — O sonserino fez cara de nojo, então mudou a expressão rapidamente. — A menos que seja sushi, aí eu como cru, mas só se for assim.

— Certo, certo, apenas se transforme na maldita ave, Macmillan e aí a gente parte do básico, que tal? — A garota perguntou cansada, já prevendo uma sucessão de reclamações do colega sonserino.

Estava começando a preferir quando Thomas apenas quebrava o gelo do Lago com Aleksander e todos – menos Scorp que ainda estava proibido por Alec – chapinhavam na água congelada para ganhar resistência física para os duelos.

Bons tempos... Que voltariam na quinta-feira, infelizmente.

— Virem de costas então, não gosto de me transformar com plateia.  — Chris exigiu, sendo prontamente atendido por um animado Thomas e uma Rebeca pouco convencida do sucesso daquele plano esquisito.

Quase dois minutos se passaram antes de um pio encorajador ser ouvido, fazendo a Sonserina e o Durm virarem para encarar o belo falcão no lugar onde antes estava um belo, porém irritante, rapaz. Thomas comemorou satisfeito com o resultado, porque não tinha certeza se um metamorfomago conseguia se transformar mesmo em outras criaturas.

— Se fosse um concurso de beleza, com certeza você ganharia o prêmio de falcão mais bonito, mas precisamos saber se você sabe voar, Chris. — Rebeca provocou, fazendo a ave soltar um grasnido indignado no chão, aceitando se empoleirar no braço da garota.

O jovem falcão alçou voo com alguma dificuldade, mas uma vez no ar, parecia que havia nascido para aquilo. Ok, tinha que admitir, o filho da mãe era bom nas transformações, seria um dragão impecável na peça de Bertrand.

Rebeca convocou o livro de Cetraria para iniciantes que havia surrupiado da biblioteca, na sessão de obras que não podiam sair do recinto, apenas para observar as técnicas de voo registradas nas figuras animadas do livro e compará-las com o estilo de voo do colega de Casa.

— Temos uma ótima notícia aqui, pessoal: toda a fase de amansamento da ave pode ser pulada, porque Chris compreende que tem que voltar sempre para a luva do seu dono, que no caso é Thomas. — Rebeca explicou, chutando com sua bota com borda peluda – bem diferente do estilo Durm – a luva de couro que protegeria o braço dominante do duelista.

Chris ignorou a informação, pois agora sobrevoava a borda do Lago, parecendo bastante contente de poder voar. Certamente deveria ser uma sensação incrível, mas Rebeca usou o apito de adestramento para chamar a atenção do garoto transformado em ave.

— Você precisa aterrissar sempre aqui. — Bateu de leve no antebraço de Thomas coberto pelo couro, assistindo satisfeita Chris obedecer a orientação. — O legal é que você não vai precisar de petiscos, de viseira, de apitos... Tudo isso porque tem uma mentezinha humana dentro desse crânio minúsculo de falcão.

— Eu tenho uma dúvida quanto a isso... Chris agora tem um cérebro de falcão, será que ele manteve mesmo a inteligência humana? — Thomas perguntou para Rebeca, mas o próprio Chris em forma de ave soltou um par de pios indignados, fazendo Rebeca sorrir para o mal humor do colega de Casa.

— Isso provavelmente é um sim, Thomas. Não se esqueça que a transformação dele é mágica e natural e embora ele tenha que se atentar a toda fisiologia do animal para se tornar uma réplica perfeita, a mente dele se mantém humana e sua magia permanece intocada.

— É, mas eu achava que só os animagos eram capazes de uma transformação tão perfeita... — Thomas sussurrou verdadeiramente encantado, avaliando a ave empoleirada em seu braço com admiração.

— A animagia é outra história, a pessoa revela a criatura que arde em seu cerne, então vê, sente e age como um animal, embora conserve sua mente humana. — Rebeca também avaliou a ave mais de perto, com o cenho franzido. — Não sei o quanto das habilidades de um falcão Chris foi capaz de evocar apenas copiando a aparência das partes isoladamente...

— Ele sempre modifica os olhos e os dentes, faz uma avaliação criteriosa das mudanças e nota se melhora ou piora os sentidos. — Thomas informou, rindo para a expressão de confusão de Rebeca. — Ele me contou quando eu levantei a suspeita sobre seus bons resultados nos treinos de Alec. Meu irmão se irrita com as modificações corporais, mas eu acho incrível que ele possa testar todas as possibilidades em uma mesma luta, se adaptando ao adversário.

— Bem, incrível ou não, a gente já pode dar um passo em direção a sua tão sonhada vingança. — A garota declarou animada, abrindo o livro na página certa que queria mostrar para o falcão falsificado. — Aqui, Chris, tá vendo esse movimento? Vê como o falcão desce e sobe formando esse arco bem definido? É isso que os juízes procuram, se você for capaz de reproduzir isso ainda hoje, poderemos intimidar Magjistaire até o final da tarde e se tudo der certo, você nem precisará competir!

— Como assim? — Thomas questionou, porque não havia entendido nada desse planto torto da amiga.

— Vamos lá na Falcoaria novamente depois do campeonato, dessa vez você vai todo pimpão exibir seu falcão novo e mostrar o truque que o ensinou nessa semana. — Rebeca começou, depois sorriu satisfeita com a sua própria genialidade. — Está óbvio que não tem como ganhar de falcões de verdade, mas se você mostrar a Magjistaire um avanço tão grande em uma semana, é bem provável que ela fique super brava com sua aptidão para o esporte!

— Mas não seria mais satisfatório ganhar dela da mesma forma que ela ganhou de mim? — Thomas perguntou incerto, encarando Chris, que lhe deu o mais próximo de um dar de ombros que um par de asas poderia prover.

— Seria, mas não é possível, primeiro porque Chris não é um falcão de verdade, segundo porque mesmo que ele fosse e tivesse todas as habilidades necessárias, a gente está falando de animais que dominam a arte de voar desde sempre, enquanto Chris, como humano, aprendeu outras coisas essenciais para a nossa espécie, tipo fofocar.

— Já entendi, por melhor que ele seja, não dá para ele ser melhor do que um falcão de verdade. — Thomas concluiu chateado, então olhou para o rapaz transformado em ave no seu braço. — Desculpe, amiguinho, mas você teria que ter nascido nessa forma para isso dar certo.

— Bem, a boa notícia é que a gente não precisa ganhar para que o plano funcione, só parecer que podemos! — Rebeca falou animada, então continuou com um sorriso sonso. — Se Magjistaire enxergar um potencial em vocês, tudo o que eu terei que fazer é insinuar que você não insistiria na Falcoaria, se pudesse ter o seu lugar no ranking de volta! Simples assim.

— Acha que isso vai funcionar? Que ela toparia um novo duelo contra mim?

— Depende do motivo pelo qual ela te jogou para fora do ranking, para início de conversa. — Rebeca conjecturou, porque não fazia ideia da motivação da garota contra Thomas.

— Vamos esperar que seja uma coisa boba, porque eu adoraria me vingar dela na mesma moeda, mas você tem razão, vou gostar ainda mais de ter uma segunda chance contra ela na arena! — Thomas falou já se mostrando animado com a perspectiva de enfrentar novamente Cinder Magjistaire em seu próprio território. — Ok, vamos lá, Chris, vamos fazer aquela feiticeira estúpida tremer na base com o nosso poder!

— Com o poder da enganação, não é mesmo? — Rebeca riu, então abriu o livro novamente na página certa. — Esse aqui é o movimento, Chris, vamos tentar?

Thomas o impulsionou para cima, assistindo com otimismo as primeira tentativas do rapaz em por alguma elegância no seu voo. Rebeca estava certa, treinar um humano para voar como um falcão parecia impossível e mesmo assim lá estavam eles tentando.

O que o desejo de uma boa vingança, ou melhor, reparação, não fazia, hein?


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo (inútil), né? Quantos mimos.

Bjuxxx



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