Além do Castelo escrita por LC_Pena, SpinOff de HOH


Capítulo 34
Capítulo 34. Durmstrang/ Koldovstoretz


Notas iniciais do capítulo

Sim, já sei, fazem meses que não posto e não ficarei surpresa se vocês nem se lembrarem mais da fic, dou explicações no final, pq aqui vou usar apenas para recapitular a história brevemente, mas é muito bom está de volta!

Recapitulando:
— Em Durmstrang, Thomas Arrhenius encontrou uma rival que praticamente o expulsou de seu amado ranking de duelos mágicos em uma luta inesperada;
— O duelista sueco resolveu se vingar da garota, recrutando os sonserinos Chris Macmillan e Rebeca para ajuda-lo a se infiltrar no ranking dela, a Falcoaria.
— Chris, metamorfomago, foi treinado para se passar por um falcão com a intenção de tirar a paz de Cinder Magjistaire e sua hegemonia no esporte mágico.
— Scorp e Rebeca estão se preparando para o muito aguardado campeonato de Poções na natureza em Koldovstoretz, Rússia. Rebeca na equipe titular e Scorp como reserva.

Sobre as complexas tretas do Ocaso, espero que isso ajude, mas eu sei que é muita coisa para lembrar:

— Aidan Hataya fez besteira e acabou tendo duas versões de si na mesma realidade, mas com a ajuda suspeita de Erick Fábregas, ex-djinn e tio de Cesc por escolha, Tracy e Hui e uma pedra, ele aparentemente conseguiu consertar a bagunça;
— Scorp está em posse de um dos diários do infame Jacob Thompson, uma das primeiras vítimas do nosso vilão cheio de camadas: Lestrange/Bradbury, que ele conseguiu na sua visita a Rússia.
— Ficou acordado que esse diário seria entregue a Aidan, que está no Japão até o final do ano e é provavelmente o lugar mais distante do vilão, que parece ter muito interesse nos estudos do falecido Thompson;
Acho que com isso vocês conseguem entender o capítulo, boa sorte!




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/752501/chapter/34

Capítulo 34

Arena de duelos marciais, madrugada do dia 04 para o dia 05 de dezembro de 2021

Thomas Arrhenius andava de um lado a outro de seu tatame favorito, fingindo que estava apenas fazendo seus aquecimentos de rotina. Poderia enganar aos três britânicos sonserinos que mal o conheciam - com um sorriso e um levantar de sobrancelhas arrogantes - e conseguia convencer até mesmo seu irmão gêmeo de que não estava nervoso, mas Arthuria o conhecia melhor.

— Talvez ela não vir seja uma coisa boa, Thom. Ainda não me recuperei completamente do trauma que foi te ver quase morto no seu último encontro com ela. — A garota de dezesseis anos confessou com um dar de ombros solidário, que não agradou em nada seu irmão mais velho.

­­­­— Sua atual fé em mim é revigorante, Thuria. — Thomas desabafou sarcasticamente, depois olhou na direção de Scorp, com um sorriso irritante. — É assim que vocês perdedores se sentem todo o tempo com as pessoas ao redor os desacreditando?

O sonserino mais novo bocejou e coçou os olhos para afastar o sono, antes de dar uma resposta adequada ao colega de escola. Consertou sua postura na fria e quase vazia - a não ser por seus amigos - arquibancada da arena de duelos.

— Sinto que deveria ter algum lufa-lufa previamente chamado de perdedor por mim para aproveitar essa doce ironia do destino... — Scorp olhou ao redor, então focou em um Chris igualmente sonolento, sentado de pernas cruzadas no chão a sua frente. — O que acha de se voluntariar, Macmillan? Ouvi dizer que você é um lufa-lufa honorário.

— Que? — O setimanista perguntou ainda desorientado pelo sono.

— Perdedor. — Scorp sussurrou articulando bem a palavra, para que todos os critérios de sua ironia fossem completados. — Agora sim o universo pode considerar minha dívida paga, um lufa-lufa perdedor me viu ser chamado de perdedor por alguém ainda mais desconsiderado do que eu.

— Não acho que seja assim que funciona essa coisa de reparação histórica, Scorp... Do contrário, eu já teria feito há séculos. — Rebeca, que parecia ser a única que estava entendendo aquela conversa sem pé nem cabeça, resmungou pensativa para o namorado.

— Vocês já não estão mais fazendo sentido e até agora não sei por qual motivo resolveram vir assistir a esse duelo às 3 horas da manhã! — Arthuria deixou a pergunta subentendida, mas se passou quase um minuto inteiro antes de Chris Macmillan a responder.

— Queremos aprender a arte com o melhor. — Fez um gesto pouco entusiasmado em direção ao colega de classe. — Para cima deles, Thomas Peter!

— Deles quem? — Alec Arrhenius questionou, dando a sua primeira e provavelmente única contribuição àquela conversa estapafúrdia. Chris o encarou exausto.

— Sua sorte é que você é muito atraente...

— Que?

— Ah gente, pelo amor de Merlin, o que a gente ainda está fazendo aqui? — Rebeca se levantou espanando uma poeira imaginária de seu saudoso pijama de Hogwarts. — Está mais do que óbvio que Magjistaire não vai vir! Pelo visto ela é muito mais esperta do que todos nós juntos e está, nesse exato momento, aproveitando o delicioso calor de suas cobertas!

— Bem que eu queria que isso fosse verdade. — Uma voz pouco conhecida para todos soou na arena, ganhando um eco dramático, ampliado pela estrutura vazia.

— Está atrasada, Magjistaire. — Arthuria constatou, apenas para ter um motivo para se aproximar da rival de seu irmão e avaliá-la. — Pensei que de onde você vinha as pessoas tinham respeito aos compromissos...

— Temos sim e por isso vim até aqui para dizer que não haverá luta. — A garota bonita, coberta por uma capa pesada demais para o seu biotipo pequeno, falou com um sorriso de lado. Thomas a encarou contrariado.

— Bem, então parece que vou ter que me dedicar mesmo a Falcoaria...

— Eu gostaria de vê-lo tentar. — A feiticeira provocou, mas antes que ele pudesse respondê-la, levantou ambas as mãos em um gesto de paz. Seus feitiços-tatuagens intrincados brilharam na meia luz das tochas. — Na verdade, odiaria vê-lo tentar, mas dada as circunstâncias, infelizmente vou ter que dar o braço a torcer.

— O que isso quer dizer? — Thomas perguntou intrigado. Rebeca encarou o namorado com uma careta, já prevendo o que poderia significar. Scorp deu de ombros.

— Bem, você obviamente está na Falcoaria apenas para me provocar, mas nosso professor tutor achou o seu falcão incrível... — os olhos escuros da garota se apertaram, escrutinando a expressão do rival. — A propósito, onde o conseguiu?

— O que? O falcão? É segredo. — O Durm provocou com um sorriso seco, cruzando os braços ao responder. Chris teve que se controlar para não revirar os olhos, porque era raro ter alguém se vangloriando de algo que era mérito seu, sem que ele pudesse reivindicar os créditos. — Eu tenho meus contatos.

— Que seja, independente da origem, sua ave deve ficar com os outros falcões. São as regras, só para você saber. — Cinder informou, recebendo um sorriso ainda mais desdenhoso de Thomas e um revirar de olhos de Chris. Dessa vez ele não conseguiu evitar. — E esperamos vocês dois na segunda.

— Como assim “vocês dois”? — Thomas perguntou nervoso, porque não era possível que Cinder Magjistaire tivesse adivinhado sua trapaça!

Maldito Macmillan, que fica exibindo suas habilidades mágicas para todo mundo com um par de olhos na cara!

A garota pareceu confusa com a pergunta, então Rebeca desejou poder lançar um avada no amigo. Que tipo de perguntar sem noção era essa? Só faltou ele olhar para Macmillan para completar a palhaçada!

— Vocês dois, você e seu falcão, Arrenhius. Quem mais seria? — Cinder perguntou, agora desconfiada. Thomas riu, aliviado.

— Eu nem sei o que eu pensei, estou com sono. — O setimanista falou ainda se divertindo com sua idiotice, esfregando o rosto. Era óbvio que a garota não havia desconfiado de nada, seu plano era genial! Porém, assim que compreendeu o que ela realmente estava dizendo, parou o movimento, sério. — Espera, mas isso quer dizer que não vamos duelar hoje?

— Eu literalmente falei isso a um par de minutos. — A feiticeira respirou fundo antes de lembrá-lo.

— Por que não?

— Porque eu não quero. — Cinder respondeu displicente, só não deu de ombros, porque isso parecia um movimento vulgar para alguém tão afetado como ela.

Scorp prendeu o riso, porque era bem divertido ver Thomas Arrhenius encontrar alguém ainda mais irritante e arrogante do que ele. Não é como se o Durm não merecesse um gostinho do seu próprio veneno, só para variar.

— Então vai ter que duelar comigo. — Alec falou em seu tom sempre sério, chamando a atenção de todos para si. Cinder sorriu com um ar de tristeza.

— Não. — Apesar do convite direto, não havia sido a garota da Falcoaria quem havia respondido.  Alec olhou para a irmã caçula com irritação. — Não a desafie.

Alec iria questioná-la, mas Arthuria fez que não, mais uma vez, agora apenas com a cabeça e o irmão respeitou a sugestão.

— Sempre um prazer tratar com vocês, Arrhenius. — Magjistaire assistiu à interação dos irmãos com pouco interesse, depois os cumprimentou, já se preparando para deixar o território inimigo. Olhou para seu maior rival antes de sair. — Te vejo na segunda.

Assim que a garota deixou de vez a arena, Thomas soltou um rugido frustrado e Chris resmungou em seu lugar privilegiado, agora sentado no primeiro degrau da arquibancada, ao lado de seus amigos sonserinos.

— Eu não quero treinar voo de novo, aquelas aves são más comigo! — O metamorfomago desabafou, fazendo Alec o olhar confuso. O sueco não pôde questionar o que ele queria dizer com aquilo, porque sua irmã o tocou no ombro, chamando sua atenção.

— Alec, você não pode desafiá-la, nem você, nem ninguém, porque isso é exatamente o que ela quer! — A sextanista de Durm começou a explicar, mas seu irmão mais velho a interrompeu.

—Thurie, ela está acabando com minha posição! Já caiu para o terceiro lugar, justamente por não ter lutado desde a vitória dela! Pelo ódio de Ekrizdis, deixa ele desafiá-la, ela não pode recusar o número um, está nas regras!  — Thomas argumentou, gesticulando com seu jeito expansivo. Scorp tinha certeza de que o Durm já havia acertado alguém na cara pelos corredores da vida, mas com certeza nem devia ter se dado conta.

Vai ver que esse era o motivo da raiva de Magjistaire.

— E de acordo com as regras, o que acontece com quem se recusa a duelar com um lutador em uma posição acima da sua? — Arthuria perguntou com um tom falsamente simpático. Rebeca levantou a mão, mesmo percebendo o humor sombrio da colega.

— Eu sei, eu sei! A pessoa perde todos os pontos e é banida do ranking até o fim do ano leti... Ah, já entendi o seu ponto. — A sonserina olhou com reconhecimento para Arthuria, depois com algo próximo a piedade para Thomas. — Nossa, essa garota é muito ardilosa!

— Qual das duas? — Chris perguntou divertido, prestes a acrescentar que Rebeca também se encaixava no grupo, junto com Cinder e Arthuria, mas foi interrompido por um Thomas furioso.

— ELA QUER FODER COM MINHA VIDA! Por que ela quer foder com minha vida, Thuria? Eu nem conheço ela! Por que ela quer jogar no lixo tudo o que eu construí? — O mais velho do grupo perguntou em um tom dramático, se apoiando na irmã, fazendo Chris se controlar para não mostrar para ele como é que se faz uma cena dramática de verdade.

— Essa é a pergunta que sempre me intrigou, tenho a impressão de que ela não tem um problema contra você e sim com o que você representa. — Scorp conjecturou, fazendo Thomas levantar a cabeça do ombro da irmã, em dúvida.

— Sucesso? Virilidade? Um charme capaz de derrubar a calcinha da garota mais...

— Com certeza é tudo isso aí que você falou. — Chris informou, se levantando da arquibancada, se espreguiçando como um gato. Completou o raciocínio quando mais ninguém, além de Thomas, concordou com sua opinião. — Não me refiro aos autoelogios e sim a essa sua persona irritante. Já azarei gente por muito menos.

— Que irônico. — Scorp falou com bom humor, recebendo um olhar de aviso do outro sonserino. Estalou os dentes para mudar de assunto. — Bem, toda essa discussão sobre o caráter de Thomas e as intenções de sua inimiga é mesmo muito edificante, mas eu vim aqui para ver um duelo e na falta de um, vou me retirar, porque eu tenho um torneio para vencer em menos de 48 horas. Boa noite para quem fica. Vem, Rebeca.

— Só um segundo, Scorpius. — Alec chamou, fazendo o sonserino parar sua marcha para a saída da arena, acompanhado da namorada. — Tem só mais uma coisa que eu gostaria de esclarecer: que falcão é esse que Magjistaire mencionou agora a pouco? Ele pertence a um de vocês?

Alec fez a pergunta para os sonserinos em geral, fazendo Thomas exibir uma leve careta e Arthuria o encarar intrigada, porque também queria entender melhor toda essa história de Falcoaria. Até onde sabia, seu irmão mais velho não tinha condições nem de manter a si mesmo na linha, quanto mais disciplinar uma ave de rapina em uma competição de alto nível!

— Sério que, de tudo isso que foi dito, essa foi a parte da conversa que mais te chamou a atenção? — Rebeca perguntou com sarcasmo, em uma última tentativa de desviar a curiosidade do duelista sueco.

Mas infelizmente Alec Arrhenius não era conhecido por ser uma pessoa que se distrai facilmente dos seus interesses.

— Sim, a ave me chamou a atenção, porque eu tenho uma leve suspeita de quem ela poderia ser. — Ele respondeu a Rebeca, porém olhando para Chris, que o encarou com inocência.

— Quem você acha que é? — O sonserino metamorfomago sussurrou em tom conspiratório, fazendo o Durm o encarar exasperado, o que era o máximo de emoção que ele já havia demonstrado para alguém que não era de sua família.

— Você tem alguma ideia do que vai acontecer se o professor de Falcoaria descobrir que você se transformou em um falcão para trapacear no campeonato deles? — Alec questionou ao britânico, depois olhou diretamente para o irmão. — Se acha ruim ficar sem renda, experimente ficar sem renda e tendo que limpar os poleiros dessas aves com as mãos nuas!

— Olha, é uma punição até que bem próxima das de Hogwarts... Durmstrang me decepcionou um pouco agora. — Scorp falou com deboche, fazendo Rebeca rir ao seu lado e trazendo a atenção do Durm furioso para ele.

— Acha isso engraçado, Malfoy? Eu estou apontando apenas o cenário mais favorável, porque esses dois idiotas aqui já são maiores de idade, então podem ser processados judicialmente! — Alec apontou para os dois garotos mais velhos, que estavam lado a lado, testando sua paciência com expressões de que não levavam nada daquilo a sério.

— E Chris seria processado pelo Estatuto do Dom, por estar usando sua habilidade mágica para cometer um crime e você, Thom, teria que dizer adeus a sua carreira como auror, pelo menos pelos próximos anos, até a poeira abaixar. — Arthuria ponderou, fazendo o irmão segurá-la pelos ombros.

— A ideia central aqui é “se” eu e Chris formos pegos, o que não seremos, porque o nosso plano é genial demais para ser desbaratado. — Thomas informou com confiança.

— Eu desbaratei em cinco minutos. — Alec respondeu ao seu gêmeo com impaciência.

— Isso significa dizer que você, meu caro irmão, é um gênio! — O duelista informou bem-humorado. Chris se juntou ao colega de confusão com um sorriso igualmente tranquilo.

— Não precisa se preocupar com meu bem-estar, Alec, querido, eu não serei pego, porque meus dias como falcão acabaram! Agora serei apenas um respeitável drag-

— Ei, como assim acabaram? Você ouviu Magjistaire, a gente tem que comparecer na Falcoaria na segunda! — Thomas o interrompeu, irritado. Chris o encarou incrédulo.

— Você não acha mesmo que eu vou arriscar o meu belo rabo na Falcoaria de novo, depois de todos os riscos terem sido gentilmente jogados na minha cara, não é? A propósito, obrigado pela preocupação, Alec, Arthuria, vocês são incríveis! — Chris piscou charmosamente para cada um dos irmãos Arrhenius remanescentes, que não pareciam querer arrancar sua cabeça do pescoço nesse exato minuto.

— Ah, não mesmo, Macmillan! Você não vai abandonar o barco e ganhar o favor de meus irmãos, como se...

Scorp pegou o pulso de Rebeca, que estava muito entretida com a discussão dos dois setimanistas para se lembrar de que tinha que ir dormir, então a arrastou para fora da arena de duelos, discretamente.

— Poxa, eu queira saber o desfecho da briga! Você sabe que eu estou diretamente envolvida nessa bagunça, não sabe? — Rebeca perguntou, fazendo biquinho, indignada por perder a fofoca dos amigos.

— E você sabe que ambos vão deixar seu nome de fora, caso cheguemos a uma punição por essa maluquice toda, não sabe? Chris e Thomas são idiotas, mas são idiotas com um mínimo de lealdade e vão te proteger. — A garota iria argumentar, mas Scorp foi mais rápido, colocando o dedo indicador sobre os lábios da namorada. — E sério, Beca, você não acha que temos problemas maiores para nos preocupar nesse exato momento.

A sonserina o encarou, então fez que sim com a cabeça.

— Verdade, Scorp... A gente precisa focar no nosso campeonato.

E o restante dos problemas que esperassem.

***

Escadarias de Koldovstoretz, Rússia, 6 de dezembro de 2021

A comitiva de Durmstrang, como era de praxe nos eventos intercolegiais, havia chegado à competição muito cedo, na segunda-feira pela manhã. Nem mesmo a equipe anfitriã estava no grande galpão preparado para recepcionar os jovens pocionistas, o que deu a Scorp a oportunidade perfeita de escapar de mais um discurso ameaçador de seu capitão, Le Rexha.

Infelizmente, o garoto simpático com pernas metálicas, não permanecia tão simpático quando a hora da ação finalmente chegava.

E antes de se concentrar da mesma maneira que Le no campeonato, Scorp precisava acabar logo com suas obrigações do Ocaso: verificar se Aidan estava realmente bem, lhe entregar o maldito diário de Bradbury/Lestrange/ ou-quem-diabos-o-homem-fosse-hoje e por fim, pedir encarecidamente para que o lufa-lufa ficasse no limite entre alguém desinteressante e uma pessoa extremamente irritante até o final do dia.

Que Aidan ficasse bem ali no meio... Só o suficiente para distrair Lênin de sua presença suspeita na escola de novo, mas sem enfurecer o cara por completo.

Sabia que com o lufa-lufa era pedir muito, mas, na verdade, tudo poderia ser bem pior. Ele poderia ter que contar com a capacidade de Cesc para não irritar os outros e aí realmente suas chances de sair vivo da Rússia seriam extremamente baixas.

O sonserino sorriu com a lembrança do amigo espanhol, então olhou em direção as “cebolas coloridas” da imponente construção da escola russa, só para deixar o sorriso morrer ao avistar aquele que seria o responsável pelo seu fim, tinha certeza.

— O que você está fazendo aqui, criatura? — Scorp questionou em um sussurro, realmente torcendo para não estar hiperventilando antes da competição mais importante de sua vida!

— Estou esperando nosso querido Aidan, assim como você. — Erick Fábregas o respondeu como se um ex-djinn bem longe de qualquer um de seus tutores, na longínqua Rússia - de todos os lugares do mundo! - fosse a coisa mais normal de todas.

— Por que está esperand- Espera um minuto aí... — Scorp falou desconfiado, apertando mais o pequeno livro misterioso sob sua responsabilidade, no bolso interno do uniforme oficial de Durmstrang. — Você veio aqui para pegar o diário de Thompson, não foi?

— A sua fé de que poderia me deter, caso eu realmente quisesse esse diário, é tocante, criança. — Erick respondeu sarcástico, depois desviou seu olhar para uma figura que se aproximava ao longe, muito animada para ser um outro competidor pocionista de qualquer escola. — Ah, aí está o nosso convidado!

— Eu não o convidei também. — Scorp retrucou só pelo prazer de ser desagradável, mas o ex-djinn o ignorou.

— Aidan, que bom reencontrá-lo! Vejo que está bem melhor do que da última vez que nos vimos. Fico feliz. — Erick terminou seu cumprimento com uma piscadinha simpática - uma piscadinha, pelo amor de Merlin! - fazendo a cabeça de Scorp girar com o surrealismo da coisa toda.

— Foi uma longa caminhada até aqui, mas estamos todos vivos e bem, então eu considero uma grande vitória! — O lufa-lufa fez um grande V com os dedos na testa, provando que o Japão não fez absolutamente nada para melhorar seu senso comum.

Mas Scorp tinha que admitir que era bom ver o amigo levemente sem noção de novo.

—Também fico feliz de ver que está bem, Aidan e pelo que parece, em uma versão única, pelo que sou bastante grato. — Scorp brincou, dando um empurrãozinho de leve no garoto meio nipônico a sua frente.

— Sim, somos um só agora! Pelo menos fisicamente... Sim, eu sei, cara, só estava falando o óbvio para não parecer estranho. E por quê você não me avisou antes? Tô avisando agora! — Aidan discutiu consigo mesmo, fazendo Erick e Scorp o encarar com diferentes graus de assombro. Logo em seguida o lufa-lufa explodiu em risadas! — Meu Deus, a cara de vocês! Nossa, eu devia ter filmado! Gente... Por tudo que é mais sagrado, não contem para Cesc, eu quero pegar ele também! Juro que eu vou gravar no celular para a posteridade!

O garoto continuou rindo sozinho, então Scorp apenas respirou fundo - a criatura pelo menos estava bem, não é? - e encarou o tio de Cesc, que estava com um olhar mortal para o pobre lufa-lufa inocente.

— Ao menos tem saúde, não é mesmo?

— O que me consola é que o futuro dele é tenebroso... — Erick respondeu displicente, fazendo Aidan parar de rir na hora.

— Você disse que a gente já tinha resolvido isso, cara! — O lufano acusou, fazendo o homem a sua frente sorrir com sarcasmo.

— Devia ter gravado sua expressão, está hilária! — Erick não riu, mas continuou com aquela expressão de gato que comeu o canário, fazendo Aidan se perguntar se aquilo era mesmo uma brincadeira da parte dele. —Você vai ter que esperar para descobrir, não é mesmo, criança?

— Ok, vocês dois, já chega disso, vocês estão me fazendo perder tempo. Aqui, Aidan, guarde com sua vida e, de preferência, com a vida de outros, porque nós dois sabemos que você não valoriza sua existência tanto assim. — Scorp concluiu com um tom debochado, depois estendeu o diário de Jacob Thompson - resgatado das mãos de Lestrange na última vez que estivera na Rússia - em direção a um Aidan ainda distraído com a ameaça velada de Erick.

— Ah tá! Agradeço a confiança e prometo que estará em segurança, porque esse é o tipo de trabalho do Ocaso que eu adoro: sem nenhum esforço envolvido — O lufa-lufa respondeu animado, mexendo nas pequenas engrenagens circulares do seu artefato romeno no pulso. O livrinho sumiu das mãos do sonserino em um pequeno vórtice alaranjado. — Oh, olha só! Magia espacial, baby!

Erick o olhou impressionado, mas Scorp apontou para o garoto como se ele tivesse cometido um crime brutal na sua frente.

— Não mexe com o espaço, Aidan! Você já ferrou com o tempo, deixa o espaço em paz! — O sonserino ordenou por entre os dentes, fazendo o amigo rir, compartilhando com Erick um momento de diversão com a inocência alheia.

— Relaxa, Malfoy, está tudo sobre controle, eu aprendi minha lição. — Aidan disse, enquanto ajustava novamente o Sonuit para sua configuração usual. — Estou apenas fazendo feitiços aprovados pelo Governo do mundo mágico japonês agora!

— Conhecido por ser, ironicamente, quando comparado ao trouxa, o menos estrito de todos os grandes governos bruxos. — Erick informou com diversão, deixando Aidan com uma careta culpada e Scorp respirando fundo, de olhos fechados, porque não queria ter que lidar com aqueles dois agora.

— Ok, Aidan, já vi que você está bem, até demais e você já está com o diário, agora só falta você pedir ao professor Lênin para te ensinar a colocar uma trava de segurança nesse seu... Troço esquisito e sua missão aqui acabou! — Scorp falou com esperança, mas o lufa-lufa o olhou ofendido.

— Não é um troço, é um Sonuit. E não vou colocar uma trava de segurança, vou apenas aprender o que são os símbolos que eu não conheço, para não acabar, você sabe, fazendo coisas ruins para pessoas boas, como eu. — Concluiu com um sorriso sonso.

— O seu título de pessoa boa está prestes a ser revogado, Hataya, não força a barra! — Scorp falou dando de ombros para o amigo cínico, outrora inocente, depois se dirigiu diretamente ao adulto ao seu lado. — E quanto a você, senhor Fábregas, espero que o que quer que você realmente tenha vindo fazer aqui, já tenha sido feito. Então, adeus.

O sonserino fez um gesto em direção a saída metafórica do lugar, arrancado um olhar irritado do tio de Cesc, por aproximação de tendência ao caos.

— Somos da mesma família pelo sangue, garoto!

— Para de ler a minha mente, Erick, ou eu vou mandar uma carta para o pessoal do Estatuto do Dom vir ver o que você está aprontando dessa vez! — Scorp ameaçou, fazendo Erick sorrir com crueldade.

— Aproveita e conta das suas aventuras com o garoto Macmillan. Ou melhor, denuncia essa criatura aqui. — Erick apontou para um Aidan entretido com a discussão. O garoto pulou surpreso.

— Eu?

— Sim, você! Ou ainda acha que é um bruxo ordinário, mesmo tendo que manter duas versões de si coladas por uma pedra mágica? — Perguntou com ironia, fazendo o lufano tocar em algo no peito, por baixo da camisa.

— Opa... Espera um minuto aí! O que você quis dizer com isso? — Scorp perguntou assustado, mas Aidan foi mais rápido, o pegando pelos ombros e o direcionando para a parte baixa da escadaria.

— Nada que você precise se preocupar agora, Scorp, como você disse antes, estamos te fazendo perder tempo e não queremos isso, não é? Você tem que ficar lá na reserva, torcendo para sua namorada talentosa! — Aidan o empurrou mais um pouco, mas o sonserino se desvencilhou do agarre, porque não cairia nesse truque de novo.

— Bela tentativa, Hataya, mas eu não vou cair nessa sua distração ridícula! O que ele quis dizer com versões coladas por uma pedra?!?! Achei que você tinha encontrado uma solução definitiva para o seu problema! — Scorp falou alarmado, fazendo o amigo o encarar com um sorriso cínico.

— É definitiva, com tanto que eu mantenha a pedra em segurança, o que, venhamos e convenhamos, não é uma tarefa tão difícil assim. — Aidan explicou, tirando importância da informação.

— Você só pode estar brincando... Essa foi a melhor solução que vocês encontraram? — Scorp perguntou, dessa vez para Erick, que podia até não ter muito juízo, mas era vaidoso o suficiente para se importar com um trabalho malfeito.

— Eu considero provisória. — O homem deu de ombros, displicente.

— Entende agora o porquê de eu ter que aprender mais sobre o Sonuit, que deve ser o melhor artefato mágico criado desde... Bem, eu não tenho nenhum outro artefato mágico favorito, então vamos dizer desde a máquina de fazer algodão doces!

Erick riu da comparação, mas parou assim que viu que o garoto loiro a sua frente estava levando a situação mais a sério do que ele, que supostamente era adulto e tinha que se provar responsável, a fim de reivindicar sua independência dos Dussel na sua próxima ida ao Winzegamot.

— Ok, chega de drama, porque o que está feito está feito. A pedra nos ganhou tempo para pensar em algo mais definitivo e, enquanto isso, Aidan aqui pode ir aprendendo tudo o que uma mente, alma e magia duplas tem a lhe oferecer para se tornar um bruxo poderoso no futuro. — Erick disse, em tom conclusivo.

— Como assim magia dupla?!?! —  ­Scorp perguntou, agora realmente preocupado com a repercussão dessa merda. Cesc tinha dito que isso tudo já está resolvido, aquele filho da mãe mentiroso!

— Se você parar para pensar que as formigas podem carregar até 50 vezes o seu próprio peso, o dobro de mente, alma e magia não é lá muita coisa... — Aidan desconversou, coçando a nuca com desconforto, depois franziu o cenho ao ver alguém subindo as escadarias até o patamar onde estavam. — Scorp, parece que você tem um fã te procurando, olha!

— Não mude de assunto, Hataya! Eu não acredito que você-

— Malfoy, onde você se meteu esse tempo todo? — Le Rexha o chamou antes mesmo de estarem no mesmo nível, dando um olhar desconfiado para os acompanhantes de seu colega de equipe. Voltou a encarar o garoto pálido a sua frente, assim que o alcançou. — Mudança de plano, você vai entrar agora no primeiro tempo, precisa se preparar!

— O que? Mas eu só tinha chance de entrar no segundo tempo! — O sonserino estava confuso, mas Le desfez da dúvida com um gesto de descaso.

— Vai entrar no primeiro tempo, porque a equipe de Castelobruxo seguiu o exemplo dos russos e vão começar o jogo com um rastreador e um reconhecedor, então é obvio que eles acreditam que os russos vão...

Le Rexha começou a explicar a sua teoria sobre o campeonato para um Scorp ainda confuso e Aidan não pôde deixar de pensar que aqueles caras estavam levando muito a sério um campeonato de poções. Erick fez um gesto discreto para que o lufano o seguisse escada acima.

Assim que os dois saíram do alcance das vozes dos dois estudantes de Durmstrang, Erick o encarou com uma expressão calculada.

— Ainda bem que Rexha estava complacente e aceitou minha sugestão, eles iriam perder feio caso contassem apenas com a boa vontade dos russos de esconder ingredientes em sua floresta encantada. — O ex-djinn falou sonso, depois completou com um sorriso enigmático. — Sim, eu sei, não devia ficar mexendo em coisas bobas como essa, só fiz porque não afeta muito o curso das coisas, posso garantir.

— E vocês reclamando que eu fico mexendo no tempo... — Aidan resmungou, enquanto seguia Erick para dentro da escola russa, que havia visto apenas de relance em sua chegada.

— Quem reclamou foi Scorp, eu achei genial! — Erick confessou, depois sorriu enigmaticamente. — Na verdade, jovem criaturinha, ultimamente você é a pessoa que mais me tem dado oportunidades de desenvolvimento de personagem!

— Você quis dizer de desenvolvimento de caráter, não? — Aidan perguntou em dúvida, recebendo um riso divertido do outro.

— Eu quis dizer o que eu disse e acrescento ainda que finalmente vou saber o que é este estranho nó que não afeta muito as ações a curto prazo, mas deixa as minhas previsões a médio prazo completamente bagunçadas! — O homem falou mais para si mesmo do que para o garoto ao lado, mas Aidan aproveitou a deixa para segurá-lo pelo braço e pará-lo.

— Ok, Erick, eu sei que essas coisas misteriosas são meio que seu lance, mas você vai precisar ir direto ao ponto comigo, porque eu não sou muito bom em entender mensagens subliminares. — Aidan confessou em um tom sério, fazendo Erick revirar os olhos com a idiotice.

— Quando eu quiser que você entenda, você vai entender, não se preocupe.

— Então para que falar em voz alta, se não é para eu entender? — O lufa-lufa questionou espertamente, então o bruxo mais velho apenas o encarou com exasperação.

— O dia vai ser bem longo se você ficar com essas perguntinhas imbecis. — Falou com irritação e levantou uma mão, para interromper a resposta espertinha que o garoto já se preparava para dar. — E agora vamos focar nas atividades do dia, jovem Hataya. Primeiro, encontraremos o tal do professor Lênin, para descobrirmos um pouco mais sobre o seu artefato intrigante.

— Sobre isso, tava aqui pensando agora, você sabendo um monte de coisa antiga, será que não sabe nada sobre...

— Segundo, daremos uma olhadinha nesse diário, para ver o que ele tem de tão especial, tenho certeza de que posso desvendá-lo. Eu particularmente não gosto nada desse personagem, Jacob Thompson, mas tenho que admitir que seus estudos são muito intrigantes e uma olhadela neles não fará mal a ninguém. — Erick confessou, fingindo que não havia interrompido o garoto ao seu lado. Aidan o encarou desconfiado.

— Eu não sei não, Erick. Cesc foi tão enfático sobre deixar você longe do diário... — Aidan começou, mas o bruxo mais velho o interrompeu novamente.

— E o que meu querido sobrinho sabe sobre qualquer coisa que não seja como se colocar em ridículo? — O ex-djinn perguntou mal-humorado e Aidan tinha que admitir que ele tinha um ponto. Tirando o suposto crime pelo qual ele havia sido severamente punido, Erick não tinha feito nada mais do que os ajudar, em troca de absolutamente nada! — Exatamente.

— Você tem que parar com isso de ler mentes, cara, isso não faz nada para melhorar sua imagem de vilão... A não ser que você sofra muito com isso, porque aí o dom se torna maldição e te angaria alguma simpatia das pessoas.   

— Eu adoro ler mentes, não é sofrimento algum. Sofrimento para mim seria ficar na eterna ignorância, como uns e outros. — Erick falou divertido, tocando de leve na testa do garoto ao falar. — A propósito, eu acreditei naquela sua encenação de mais cedo, justamente porque sinto duas mentezinhas bobas brigando aí nessa sua cabecinha. Você não está se sentindo nem um pouco estranho depois da fusão?

— Na verdade não. Por que? Deveria? — Aidan perguntou alarmado.

— Eu não sei. Como disse antes, você está me permitindo experienciar coisas novas. Que excitante! — O ex-djinn informou animado, fazendo Aidan o olhar com estranheza. — Agora voltando para os nós nas linhas do tempo: hoje algo muito importante vai acontecer, porém eu não consigo definir bem o que.

— Isso costuma acontecer com frequência? — Aidan perguntou levemente distraído, observando a paisagem cavernosa de Koldovstoretz por uma das janelas das torres com o topo acebolado.

— Sim, infelizmente, mas nunca com algo tão importante. Geralmente eu consigo resolver o enigma acessando os acontecimentos que sucedem o nó em todas as suas possibilidades, então a diferença entre eles me diz qual é o catalisador que estou procurando. — Explicou, fazendo Aidan o olhar de novo, se certificando que escolhia a direção correta para o escritório do professor Lênin.

— Não entendi.

— Imaginei que não entenderia, mas não importa. Em resumo, a diferença entre os nossos dois cenários principais é gritante e a nossa presença aqui certamente é um dos combustíveis para a reação catalisadora, mas analisar os futuros não tem me dado a resposta do que aconteceu no... Bem, no nosso futuro imediato.

— Tá, então você se cansou de brincar com as possibilidades do multiverso da loucura e resolveu pegar o destino pelas mãos hoje, é isso? — Aidan sorriu, sabendo muito bem que aquela era uma referência pop que seria desperdiçada com o tio de Cesc.

— Na verdade está mais para “o seu futuro começa hoje”, o que me faz optar pela escolha que... Bem, não importa, o que importa é que eu estou fazendo minha parte, você está fazendo a sua e agora só resta ao caríssimo professor Lênin fazer a dele.

Aidan não sabia se ele fazia isso propositalmente, mas assim que Erick terminou de falar, apontou para a porta a frente, justamente aquela que pertencia ao escritório do tal professor misterioso, em uma das áreas mais isoladas e altas do castelo cavernoso de Koldovstoretz. O lufa-lufa o olhou nervoso.

— E então, criança, pronto para o começo do fim?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Minha gente, nem preciso contextualizar a pandemia para vocês, pq sei que todos estamos vivendo esse evento apocalíptico. Tenho a esperança que já estamos mais perto do fim do que do começo, porém, embora eu tenha saído praticamente incólume - sem pegar covid e nem perder ninguém próximo, pelo que sou grata - minha saúde mental e criatividade foram para o espaço!

Enfim, pretendo retomar aos poucos a escrita e faço isso como sempre fiz, para me divertir e divertir vocês, então se puderem dar um oi, para eu ao menos saber que estão bem, mesmo que não queiram voltar a ler a fic, ficarei muito feliz em ouvir notícias de vocês!

Bjuxxx



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Além do Castelo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.