Além do Castelo escrita por LC_Pena, SpinOff de HOH


Capítulo 32
Capítulo 32. Castelobruxo


Notas iniciais do capítulo

Sim, estou viva, apesar dos pesares desse ano, então para a gente não fechar esse 2020 sem capítulo, vamos de atualização nessa fic quase esquecida por Deus!

Recapitulando:

— Cesc, Louise e Rose foram para Castelobruxo para o aniversário de Tony;

— Mas os gêmeos tinham outros planos por lá: verificar se os FerrZ ainda tinham algo a ver com Bradbury, que na verdade é Lestrange (dããã);

— Também querem verificar como está o andamento da filial brasileira do Ocaso, vendo até a possibilidade de Yolanda Calixto, a herdeira de Iara no trono de CB, entrar no grupo, para equilibrar as coisas;

— Além de tudo isso, temos Erick no Japão tentando juntar os nossos queridos Aidan em um só, não sabemos o que rolou lá, sendo que as duas coisas foram no mesmo final de semana;

Espero que ainda se lembrem da profecia, das mortes, da caixinha e todo o resto, se não lembrarem, é melhor reler alguns capítulos, mas eu acho que ficaremos ok só com isso.

Vamos lá!



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Quarto de Tony, Pavilhão Dormitório 2, 20 de novembro de 2021 (sábado)

Louise estava impressionada. Assim que Rose deu adeus a todos em uma chave de portal na forma de uma xícara velha, com a alça quebrada, Cesc havia arrastado Tony de volta ao dormitório, tagarelando cerca de mil palavras por minuto.

Os brasileiros, que os seguiram pelos corredores, não estavam entendendo nada de seu inglês cheio de sotaque, mas as poucas coisas que conseguiam decifrar prediziam que aquilo tudo era só um vislumbre do que os iconoclastas eram.

E aparentemente eles eram muita coisa...

— E então quando eu vi aqueles dois Aidans bonitinhos na tela da televisão, eu falei “Espera, eu não bebi tanto assim", daí eu xinguei Enrique para ele vir me explicar essas merdas todas e Erick só soltando charadas na minha cara e eu ficando cada vez mais e mais puto e-

— Espera, essa coisa de Aidan do bem e Aidan do mal eu não entendi direito, foi Enrique que dividiu ele em dois? — Tony perguntou confuso, aquela que tinha sido uma das coisas contadas pela metade nesses últimos meses, via carta e, posteriormente, via mensagem de texto.

— Não, cara, foi como eu te disse naquela ligação, não são duas metades, são literalmente dois Aidans! O bom e o mau foram coisas da cabeça de Akira, você sabe como aquele garoto tem uma mente meio perturbada. — Cesc relembrou o jovem sonserino de doze anos e Tony fez que sim com a cabeça, se sentando na cama ao lado do amigo.

— Certo, certo... E o plano então é juntar os dois no mesmo corpo? Isso é ao menos magicamente possível? — O britânico perguntou confuso, tentando imaginar toda a situação bizarra.

— Eu não sei, mas vamos aproveitar que você tem celular e dar uma telefonada para Dood, que é o Aidan da Yakuza. — Cesc falou animado, tirando seu Caveira do bolso para fazer a chamada.

— Dois altos vocês dois! Yakuza como na máfia japonesa? — Gui perguntou assombrado, fazendo os dois sonserinos finalmente se darem conta de que não estavam sozinhos no dormitório de Tony. Louise os encarou com sarcasmo.

— Eu estava só esperando o momento exato em que os dois imbecis iam se dar conta de que Rose não é a única pessoa que não devia ouvir tudo que vocês têm a dizer um para o outro. — A corvinal apontou aquela falha no sigilo do Ocaso - mais uma para a coleção!  Quando Fred descobrisse... – fazendo os amigos se entreolharem constrangidos.

— Você já havia falado com eles sobre os iconoclastas, certo, Tony? — Cesc perguntou inocentemente, sorrindo para a irmã como se não tivesse culpa alguma na vida.

— Eu meio que fiz a gente parecer um pouco mais normais do que somos de verdade. — Tony esclareceu, olhando para os amigos brasileiros com um sorriso sonso. — Não somos nem tão inocentes quanto eu fiz soar e nem tão ruins quanto Cesc deu a entender. Estamos no meio termo.

— Pendendo para a inocência, claro. — Cesc acrescentou, intensificando seu sorriso inocente, que não funcionava desde que era só um arrozinho na pré-escola.

— Mas só para eu entender direito: no grupo tem um cara que fez uma segunda versão de si, que trabalha com a máfia japonesa, é isso? — Sofia perguntou cética e os sonserinos se entreolharam de um jeito suspeito, o que fez Louise cruzar os braços para os dois.

— É isso, mas Aidan é, sem sombra de dúvidas, o melhor de nós, ele só é um pouco desastrado. — Cesc defendeu, então Sofia se voltou para Louise, que parecia um pouco mais lógica do que o irmão e seu colega de time, Tony, que até algumas horas atrás era muito sensato, na sua opinião.

Como as pessoas podiam enganar!

— O pior é que é verdade, Aidan é o melhor de nós, mas ele ultimamente está com uma tendência para se meter em confusão que não está escrito nas runas! Tudo começou quando ele usou um artefato do pai para assar um peru de Natal, que fez com que os Inomináveis o processassem e daí para frente foi só ladeira abaixo. — A espanhola explicou com uma expressão de consternação.

— Eu nunca entendi essa história de Aidan com o peru e sinceramente acho que nem ele entendeu! — Tony falou sacodindo negativamente a cabeça, depois completou. — Acho que nenhum dos dois Aidans entendeu, na verdade.

— Bem, independente disso, agora que o caso dele é de domínio público dos iconoclastas, nós todos estamos mais aliviados, principalmente porque eu já tenho um homem no caso. — Cesc informou, depois resolveu esclarecer melhor as coisas. — Um homem, Enrique, meu namorado e Erick, a cria do capeta, que também está ajudando, o que é sempre bastante ruim, mas, né, a gente não está podendo desprezar a ajuda de ninguém nesses tempos sombrios...

 Desabafou, dando de ombros, porque seu tio ex-djinn era toda uma história a parte.

— Quem é esse tal de Erick, meu Deus do céu? — Gui perguntou aflito e Tony fez uma careta ao ver a expressão de empolgação que surgiu no rosto de seu melhor amigo.

— Que bom que perguntou, jovem cosplay da coelhinha de Zootopia! — Cesc apontou animado para um Gui usando orelhas de coelhos felpudas, depois olhou para o teto, falando consigo mesmo. — Judy Hopps o nome, obrigado pela informação, Mauduk.

— Você chama a si mesmo de Mauduk agora, Cesc? — Clara questionou intrigada, porque não lembrava do garoto espanhol ser tão fora da caixinha há um ano, quando eles se conheceram. E olha que ele já parecia meio doido, se fosse parar para pensar bem.

— Claro que não! Mauduk é o feitiço duplamente hackeado que eu tenho implantado no meu pobre cérebro, que capta informações ao meu redor e armazena para uso posterior. — O bruxo europeu falou como se não fosse grande coisa, então Clara o encarou com seriedade.

— Você já tinha isso em você quando nos conhecemos?

— Sim, mas ele só tinha sido hackeado uma única vez e eu não sabia de nada. — O garoto concluiu, depois sorriu animado. — Meu tio Erick, de quem eu falei antes, fez o primeiro hack quando ainda era um djinn sem corpo lá em Uagadou e Fred, um dos nossos companheiros de Ocaso, hackeou o feitiço na segunda vez, porque ele meio que queria que eu ouvisse uma... Olha, essa parte da história na verdade é meio tensa.

Louise observou o irmão criticamente, depois olhou a todos os novos – com certeza não iriam mais querer ser – recrutas do Ocaso com sua melhor expressão diplomática. Tony prendeu o riso, porque tinha sentido falta daquela maluquice toda em sua vida.

— Parece complicado e é, e com certeza teremos que contar várias histórias sobre o Ocaso, sobre os iconoclastas e sobre futuros apocalípticos, mas hoje, na verdade, nós meio que estamos sem tempo, porque a gente ainda tem que se arrumar para o jantar na FerrZ e tudo mais... — A corvinal fez uma careta de desculpas, então sorriu simpaticamente. — A gente pode tirar as dúvidas principais sobre isso amanhã, que tal?

— Eu não tenho dúvidas, só uma certeza: acho que não temos cacife para entrar nesse grupo não. — Alissa declarou assombrada, mas depois sorriu debochada. — Só que aí a gente come feijão com arroz e dá tudo certo. De qualquer forma, Louise tem razão, eu e Sofia também precisamos nos arrumar, porque hoje nós não vamos nos deitar para ninguém nessa festa, meus amores!

— Porque vocês querem marcar presença no meu aniversário, certo? — Tony acrescentou com sarcasmo e Sofia fez que sim com a cabeça, com bastante veemência, mas Alissa só deu uma piscada marota já na saída do quarto 17.

— Isso também, Tony, isso também.

***

Sala das fogueiras, fogueira 12, Castelobruxo, 20 de novembro de 2021

Tony encarava, mal-humorado, um Cesc tentando destruir a gola de uma de suas melhores vestes “esporte fino", que ele havia lhe emprestado, apenas porque o melhor amigo era cabeçudo demais para trazer qualquer coisa diferente de um moletom na bagagem.

O sonserino também estava chateado porque sua Baunilha teve que partir para uma das estúpidas escolas americanas cedo demais para o seu gosto, verdade fosse dita, mas isso Tony não comentava, porque não tinha como usar contra Cesc no momento.

— Não me olhe assim, Tony, eu avisei que eu não me dou bem com roupas chiques de bruxos tradicionais! — O garoto espanhol implicou, quase desistindo de tentar afastar aquele tecido piniquento da sua pele do pescoço já irritada. Quase...

— Não estou te olhando de jeito nenhum! Por que estaria? Não é como se eu ainda tivesse esperanças de incutir algum senso de etiqueta bruxa nessa sua cabeça de pedra! — O aniversariante respondeu irritado.

— Não fala em etiqueta, que isso me dá gatilho e você sabe disso! — Cesc rosnou entredentes, largando a gola da roupa apenas para apontar acusadoramente para aquele filho de uma ogra manca ingrato que tinha a sua frente!

— Que se foda seu gatilho! — Tony vociferou de volta, no mesmo instante que a fogueira a sua frente adquiria uma coloração azul, indicando que havia se conectado ao seu destino. — Ah, o conglomerado FerrZ aceitou nosso contato! E então, damas primeiro?

O batedor fez o gesto de quem abria passagem encarando seu melhor amigo com um sorriso sarcástico no rosto, ignorado por Louise, ao dar um passo para dentro das chamas azul celeste no lugar do irmão gêmeo.

Sofia, Yolanda e Alissa a encararam com diferentes graus de questionamento ácido e preocupação, porque nenhuma delas tinha paciência ou desejo de ficar para trás com aqueles dois sonserinos brigando, sem uma mediadora capaz.

— Não se preocupem, meninas, não dou um minuto para eles fazerem as pazes. — A corvinal explicou, então desapareceu rumo ao destino de todos naquela noite. Alissa a seguiu com um sorriso debochado no rosto.

— Verdade ou não, eu é que não vou ficar vendo vocês dois se engalfinhando por nada. — A garota carioca deu um tchauzinho malandro, antes de também sumir em um fogaréu azulado. Sofia seguiu a amiga imediatamente, com um pouco mais de elegância.

 Assim que sobrou apenas os dois garotos e Yolanda Calixto, a bruxa chilena se virou e apontou para ambos, com a unha do dedo indicador em um tom de vermelho sangue, sua cor marca registrada. Cesc e Tony a encararam assustados.

— É bom os dois estarem completamente exultantes quando chegarem na FerrZ ou eu vou mostrar como a alegria pode ser bem utilizada em uma maldição. — A garota sibilou sinistramente, seu olhar cruel sendo a última coisa a desaparecer nas chamas azuis da fogueira número 12 de Castelobruxo.

— Igualmente excitado e assustado, devo admitir. — Cesc sussurrou para seu colega iconoclasta ao lado, fazendo Tony rir do comentário.

— Bem-vindo a minha vida com Yolanda Calixto, Cesc. — O batedor patrocinado pela empresa da família da garota em questão desapareceu nas chamas à sua frente, apreciando a sensação refrescante do meio de transporte brasileiro, uma clara adaptação das viagens via lareira e pó de flú.

Clara havia dito que lareiras não faziam o menor sentido em uma casa das regiões quentes do país tropical, embora não tivesse explicado muito bem o que os vizinhos trouxas achavam das fogueiras nos quintais bruxos.

Na opinião de Cesc, a comunidade bruxa brasileira, assim como a europeia, carecia de lógica em suas regras de convivência com os trouxas.

Assim que o garoto espanhol pareceu se localizar melhor no novo cenário à sua frente, Tony, ao seu lado, tirou um momento para apreciar a sede do conglomerado FerrZ novamente. O lugar ainda tinha o mesmo ar intimidador da primeira vez que o havia visto, quando estivera ali para assinar seu contrato de patrocínio.

— Esse lugar é mais sinistro do que eu pensei que seria. — Cesc informou sua conclusão, admirando os recortes e saliências no concreto puro, intercalado com algumas vigas igualmente aparentes. Seu melhor amigo o encarou divertido.

— E você achando que Salem era a única que não tinha grana para terminar suas obras megalomaníacas, não é? — Tony provocou, sabendo que Salem e Uagadou, as duas escolas que Cesc estava proibido de visitar, também faziam parte do pacote de “gatilhos" do garoto.

— Nunca insinuei que Salem não tinha dinheiro, se fiz isso, errei. Porque o que eu quis dizer, na verdade, é que faltava bom gosto. — Cesc falou cínico, depois olhou com um sorriso falsamente simpático para Alissa, subindo a escada cinza e crua de adornos mais à frente. — Falta bom gosto a ambas as instituições, que fique bem claro.

— Não espero que você entenda, Fábregas, mas a nossa sede foi feita no estilo brutalista, um dos movimentos arquitetônicos argentinos da década de 50. — Yolanda explicou com pouco interesse, seguindo a prima na escadaria até chegarem ao primeiro patamar, longe das centenas de fogueiras desligadas, que formavam filas e mais filas de pequenos círculos de pedras infelizes.

Durante os momentos de trabalho na empresa, aquelas fogueiras sem madeira, feitas apenas com pequenas pedras dispostas em círculos para conter as chamas, deviam formar um conjunto impressionante, mas agora pareciam uma venda de garagem de fogueiras de acampamento.

— Que bom que você não espera, porque eu não entendo. — O garoto espanhol resmungou para si mesmo, porque ainda estava com um pouco de medo da senhorita Calixto má.

A bruxa chilena deu uma última olhada mal-humorada para trás, antes de usar a varinha para abrir a primeira porta de folha dupla que havia no primeiro patamar da escadaria. Tony estranhou a escolha da sala, mas não disse nada.

Aquela tinha sido a mesma porta que havia entrado na Corporação FerrZ e assinado seu contrato com a empresa, porque ali era o escritório do chefão responsável pelos atletas patrocinados. Por que sua festa de aniversário – não mais tão – surpresa seria ali?

Bastou dois segundos para ele entender o que realmente estava acontecendo.

— Ah, isso aqui é tipo uma sala precisa! — Constatou, impressionado.

— Não faço ideia do que você quer dizer. — Yolanda respondeu enquanto lançava um olhar avaliativo para o grande salão decorado com cores sóbrias, algumas cortinas verde e prata aqui e ali, em homenagem aos gostos peculiares do aniversariante.

— Quer dizer que esse lugar se transforma naquilo que você quer, porque antes era um escritório e agora é um salão, ent-

— Quer dizer que as portas te levam para qualquer parte da empresa que você deve ou pode ir e não que o lugar se transforma em...

— SURPRESA!!!! — Alissa gritou próximo ao ouvido da prima, a interrompendo, mas olhou para Tony, que deveria ser todo o foco da atenção naquele momento. — Feliz aniversário, Santo Antônio! Espero que curta sua festa não tão surpresa quanto gostaríamos, mas ainda assim, boa.

A carioca abraçou o colega de escola com sinceridade, ignorando o olhar irritado da Calixto mais nova. Deu espaço para os outros também parabenizarem o batedor, que estava fazendo um papel bastante impressionante de aniversariante animado.

Ou talvez Tony estivesse realmente feliz com tudo, já que seus aniversários em Hogwarts se resumiam a um bolo sem vergonha, feito de má vontade pelos elfos da cozinha. Nem todos tinham a sorte de ser querido pelas criaturinhas, como Aidan fazia questão de lembrá-lo sempre que podia.

Os adultos chegaram alguns minutos mais tarde, junto com mais alguns jogadores do time, parabenizando formalmente a sua estrela da noite – e do campeonato. Todos se dirigiram para a longa mesa de jantar, encabeçada por Alexei Calixto.

Não demorou muito para que os pratos fossem servidos ao estilo francês, enquanto os interessados por Quadribol discutiam as impressões sobre o esporte naquela temporada. Antes do segundo prato, Alissa e Louise pediram licença para ir ao banheiro, mas ninguém realmente notou a saída das duas.

— Acontece que eu não posso me dar ao luxo de perder um mês de aula! Isso não iria ser nada bom para as minhas notas! — Tony explicou, pelo que pareceu ser a milésima vez, então seu melhor amigo resolveu encerrar a questão de uma vez por todas, com um argumento infalível.

— Suas notas já são horríveis, eu não sei como poderiam ficar piores. — Cesc o informou, entre uma garfada e outra. A FerrZ não prestava, mas ao menos serviam uma comida bem decente, na opinião do espanhol.

— São ruins, mas eu ainda consigo passar de ano, o que significa dizer que tem espaço para piorar! — Tony se defendeu, fuzilando o amigo com o olhar, porque o patrocinador estava literalmente no final da mesa, observando a conversa com diversão. — Eu quero me formar no tempo regular, diferente do seu namorado, que repetiu o ano.

Cesc encarou o amigo ofendido em nome de Enrique, mas Louise ficou grata de ter voltado do banheiro no momento certo e de que o gêmeo estava com a boca cheia de comida, sem poder responder como queria.

As lições de Etiqueta estavam sim penetrando naquela cabeça dura do irmão, o fazendo ficar de boca fechada por tempo suficiente para terminar de mastigar. Louise resolveu defender o cunhado antes que Cesc esquecesse o porquê de estarem ali.

— Enrique não perdeu de ano realmente, Antony, ele só precisou prestar alguns NIEMS, mas os testes finais da escola estavam em dia. — A corvinal informou pacientemente, depois apoiou os talheres no prato com delicadeza, antes de continuar. — E quanto ao seu semestre, não seria possível pedir um cronograma de trabalho especial, daqueles que conseguimos quando precisamos ficar em casa por um período?

— É o ano dos NOM, Louise! Já fizemos aulas bem distintas das que faríamos em Hogwarts, seria ainda mais difícil retomar o conteúdo com um mês de atraso. Olha, ninguém nessa mesa gostaria de ganhar mais o campeonato do que eu, mas só de pensar em ter que refazer todos os trabalhos e atividades ano que vem... Eu passo!

 — Pode vir só para treinos no final de semana e a grande final. Quantos jogos vocês ainda têm para jogar, afinal? — Cesc perguntou distraído, observando um rapaz aparatar do nada, só para entregar uma mensagem ao pai de Yolanda “rainha má” Calixto.

Aquilo havia chamado atenção de Alexei Calixto também.

— Definido mesmo só o último jogo da chave contra os Grifos de Guanabara. Depois as quartas, as semi e a final. — Sofia respondeu, ignorando o clima tenso que havia tomado a mesa na área dos adultos. Os Calixto mais velhos pareciam estar travando uma conversa bem séria apenas com suas sobrancelhas e olhares.

— Ou seja, isso tudo por causa de jogos que vocês nem sabem ainda se vão jogar? — Louise perguntou divertida, chamando a atenção de todos os jogadores da mesa.

— Criatura, não é assim que uma batedora pensa! — Cesc a recriminou, se fingindo de muito decepcionado. — Honestamente, Louise, não sei o que eu faço com você!

— O que eu fiz de errado agora?

— Garotos, se nos dão licença, temos que atender uma urgência, mas certamente voltaremos a tempo da sobremesa. Podem continuar o jantar sem a nossa presença. — O patriarca dos Calixto havia interrompido a discussão dos gêmeos, mas fez isso com um ar de tamanha calma, que, em circunstâncias normais, os adolescentes nem teriam ligado muito para a saída dos três únicos adultos da mesa.

Alexei Calixto passou pela filha dando um aperto tranquilizante em seu ombro, que Alissa prontamente fingiu que era a coisa mais comum do mundo. Não era como se ela devesse se preocupar realmente com as coisas que aconteciam no negócio da família, certo?

Mas ela se preocupava e muito.

Viu Louise tocar no diário mágico dela com sua varinha gelada para apagar as evidências e se perguntou, não pela primeira vez no dia, como os Fábregas conseguiam todas aquelas coisas doidas que usavam. Talvez realmente fossem bons em espionagem, com direito a uma equipe fornecendo apetrechos descolados para as missões e tudo mais.

Apetrechos de espiões a parte, a sextanista carioca lançou para a prima um último olhar de suspeita, antes de vê-la escapar da mesa discretamente com Cesc Fábregas. Gaia e mais alguns membros do time continuaram a conversa, dando à situação um ar de normalidade que só eles sentiam.

Alissa trocou um olhar nervoso com a garota espanhola ao seu lado, que apenas sorriu discretamente, se envolvendo no diálogo com os outros adolescentes. Bem, então era isso, agora tudo estava nas mãos de Cesc e Yolanda.

***

No fim das contas o plano tinha dado uma virada de muita qualidade, Cesc pensou divertido, porque não tinha jeito dele decorar todos aqueles caminhos no labirinto de concreto que era a sede dos FerrZ, sem a ajuda de Yolanda Calixto.

O batedor espanhol havia ativado seu Mauduk assim que os adultos levantaram da mesa e havia informado a sua companheira de crime que os homens tinham evaporado para o escritório do patriarca dos Calixto. Yolanda até quis levá-lo para lá via magia, mas ele tinha um plano melhor, por isso o labirinto em que estavam agora.

— Calixto, agora você deixa o espião aqui trabalhar em paz, segura sua calcinha aí no lugar, por favor! — Cesc comunicou, respirando fundo antes de fazer o primeiro feitiço que havia aprendido com seu tio djinn. Erick estaria orgulhoso da sua performance de hoje, se pudesse vê-lo.

Na verdade, ele até poderia ver, se tivesse algum interesse na história, mas isso não vinha ao caso.

A parede de concreto, onde supostamente era o escritório de Alexei Calixto, foi dissolvendo à medida que a luvarinha do sonserino foi deslizada pela superfície. O truque funcionava mesmo sem o toque, mas Cesc gostava da dramaticidade do gesto.

— E... Voilá! — Falou, dando um beijo estalado na ponta dos dedos calçados com a luvarinha. — C'est magnifique!

— Nada mau, Fábregas! Consegue nos mostrar o que eles estão falando também? Isso seria bem útil. — Yolanda pediu, enquanto admirava de verdade a obra do colega de missão. O feitiço era impressionante e estável e não parecia ter sido feito com grande dificuldade.

— Não se preocupe com isso, minha cara, mesmo dessa distância, eu estou captando tudo com os meus super poderes, que eu não vou te contar quais são, porque eu não confio em você. — Cesc respondeu fazendo pouco caso da irritação da garota chilena, mais preocupado em captar as expressões dos dois Calixto e do Ferraz com algum parentesco com a falecida Iara.

— Apenas faça seu trabalho e descubra algo de útil, Fábregas. O que eles estão dizendo agora? — A garota perguntou intrigada com a postura submissa de seu pai e do senhor Ferraz ante Alexei Calixto.

— Eles estão recebendo um sermão épico! A ameaça de tornar público o caso dos atletas foi devidamente levada a sério, mas titio Alexei está bem puto do problema não ter sido resolvido de uma vez por todas. — Cesc informou, então continuou assistindo à interação, sem fazer a tradução simultânea do diálogo. Yolanda o encarou irritada, então ele complementou a informação. — O sotaque do seu tio é bem sexy quando ele está bravo, a propósito.

— Isso não vem ao caso, Fábregas! Você devia estar traduzindo o que eles estão falando, não sendo a sua persona irritante, que todos me alertaram que existia, mas eu preferi ser otimista e ignorar! — A garota praticamente rosnou, enquanto aproximava a varinha perigosos centímetros da jugular de Cesc. O garoto deu dois passos para o lado.

— Relaxa, criatura! A gente já tinha discutido que a parte interessante viria... Olha aí, seu tio sexy e manipulador tá caindo fora! Agora sim a gente vai ver o verdadeiro espetáculo. — O bruxo espanhol deu tapinhas carinhosos na parede enfeitiçada, vendo o pai de Alissa voltando a festa, provavelmente usando o feitiço de magia espacial do prédio.

Os dois bruxos que haviam permanecido na sala esperaram alguns segundos preciosos, antes de lançarem um feitiço de bolha antirruído ao redor de sua conversa secreta. Cesc sorriu para o amadorismo.

Não era como se um simples feitiços daquele pudesse driblar o seu incrivelmente foda Mauduk!

— Ok, seu pai está nervoso, não faz ideia de quem poderia saber dessa história dos atletas, já que eles ataram todas as pontas soltas do caso. — Cesc começou a relatar, então fez uma careta para a garota ao lado. — Espero que isso não seja um código para “apagar pessoas", que é um código para...

— Continue a narrar a conversa, por favor!

— Tá, tá! Credo... Ok, Ferraz disse que irá cuidar do assunto pessoalmente, irá falar com... Ah não! — Cesc se calou, observando como o familiar de Iara, antiga rainha de Castelobruxo, continuava a narrar as providências que iriam tomar.

— Irá falar com quem, garoto? Continua! — Yolanda exigiu com impaciência, pela primeira vez na noite, insegura em relação ao que poderia descobrir sobre seu pai. A expressão fechada do sonserino não era um bom presságio.

— Eu não... Eu vou precisar pensar sobre o assunto. — Cesc informou em um tom conclusivo, assistindo ao restante da conversa com um interesse comedido, com uma impressionante falta de expressão no rosto. Ferraz parecia estar no final de sua argumentação, enquanto o pai de Yolanda demonstrava que só queria sair logo dali.

— O que Ferraz disse? O que ele quer que meu pai faça? — A bruxa chilena questionou mais uma vez, nada satisfeita com essa história de “ter que pensar". — Fábregas, esse não foi o combinado! Estamos juntos nessa, você tem que me dizer o que inferno esses dois estão tramando! É do negócio da minha família que estamos falando!

O batedor permaneceu em silêncio, atento aos movimentos finais dos dois bruxos, que logo desfizeram o feitiço bolha e saíram da sala. Porém, diferente de Alexei Calixto, os dois homens partiram para executar suas partes no plano de contenção de danos.

— Não é apenas sobre o negócio da sua família, Calixto... Eles ainda têm contato com Bradbury. — Cesc informou, incerto se queria ou não revelar tudo para a garota, que, até onde sabia, podia ter herdado os valores deturpados do pai. — E aparentemente eles também têm um suspeito para a ameaça que receberam, o que funciona perfeitamente bem para a gente, então vamos voltar para a festa.

— Certo, concordo em voltar para a festa, mas não acho que você esteja me contando tudo. — A garota o acusou e assim que ele desfez o feitiço na parede do escritório e estava dando as costas para ir embora, ela o puxou pelo ombro. — Fábregas, o que você não está me contando?

Cesc olhou para a adolescente a sua frente, com toda sua aura de mulher fatal e impiedosa, mas que agora parecia apenas ansiosa pela verdade. Se ela prestava ou não, era um problema que teriam que lidar depois, porque agora ela merecia ao menos ouvir o quão fundo era a merda em que sua família estava envolvida.

— Seu pai sabe sobre as mortes de Martin Haardy e Paul Dolman. — Cesc começou a explicar a Yolanda, mas ela não parecia saber quem eram essas pessoas. O garoto suspirou pesado, antes de continuar. — Eles eram meus colegas de escola lá em Hogwarts, não muito mais velhos que a gente. Estavam envolvidos no esquema de poções ilegais de Bradbury e morreram supostamente de suicídio.

— Você acha que meu pai e Ferraz estavam envolvidos nesse esquema de poções ilegais? — A garota perguntou incerta, verdadeiramente preocupada com as implicações dessa descoberta.

— Eles não mencionaram isso, mas Ferraz falou que deveriam ter feito com o contato da França, o mesmo que fizeram com aqueles garotos de Hogwarts. Ele disse que, infelizmente, dinheiro não era mais um silenciador tão efetivo como antes. — Cesc informou, observando bem a reação da garota. Se ela se mostrasse inclinada a defender o pai, não hesitaria em apagar a memória dela e fingir que nada daquilo tinha acontecido.

Estava disposto a usar o mesmo veneno que seus inimigos usaram contra ele.

— O que exatamente Ferraz disse, Fábregas? Não omita nada, eu quero saber tudo o que foi dito! — A garota exigiu e dessa vez Cesc a atendeu.

— Eles acreditam que o cara que ameaçou eles, é o ex-coordenador de esportes de Beauxbatons, que acabou de ser demitido da escola por fraude. — Cesc tentou fazer a situação ganhar algum sentido, mas algumas peças ainda estavam faltando. — Não sei bem qual a ligação dele com tudo isso, mas parece que ele tinha algum tipo de parceria com Bradbury, já que sabia de todo o esquema dos atletas violentos contratados.

Yolanda fez que sim com a cabeça, olhando para a parede em que assistira seu pai se revelando bem diante dos seus olhos, refletindo sobre as informações que recebera.

— E o que mais?

— Parece que vão tentar silenciar ele, pois não vão aceitar chantagens de um... Verme como ele. — O sonserino repetiu o termo usado com certo desgosto. — Se tudo der certo, eles vão confirmar a informação, antes de mandar matar o cara, mas de toda sorte, não é isso que está me preocupando verdadeiramente...

— Você não está preocupado com um homem inocente pagando pela merda que nós fizemos? — Yolanda perguntou incrédula e Cesc a olhou como se tivesse nascido chifres em sua testa.

— Você prefere que seu pai venha silenciar a gente? Acorda, garota! Como eu disse, eles provavelmente irão ameaçá-lo e perceberão a tempo que não foi ele quem fez a chantagem, mas ao menos vamos ganhar tempo no processo.

— Fábregas, eu não acho que eles vão pegar leve com esse contato na França, não se eles acreditam que o rapaz mandou uma mensagem ameaçadora diretamente para o meu tio! — Yolanda falou exasperada, ganhando pontos pela empatia com o bandido francês, mas Cesc revirou os olhos para o bom sentimento posto no lugar errado.

— A gente pode mandar uma segunda mensagem para seu pai, despistando-o para longe do francês, mas isso vai nos colocar ainda mais em risco, você percebe isso, não percebe? — O garoto a alertou, realmente cogitando fazer isso, porque também não queria uma morte em sua consciência. — Vou ter que falar com o resto do pessoal, entretanto. Não posso tomar esse tipo de decisão sozinho.

— Certo, certo... Faz sentido. E nós... Nós, na verdade, estamos fugindo do ponto. Qual é mesmo sua maior preocupação com essa conversa toda? — A bruxa perguntou distraída, ainda pensando no que fazer em relação ao que tinha descoberto sobre o pai.

— Eles vão informar a Bradbury! Eles... Eles ainda estão trabalhando com o vilão que... Bem, até onde sabemos, foi quem matou Haardy e Dolman pessoalmente e não vai hesitar em acabar com minha raça da próxima vez que me achar! — Cesc informou, rindo nervosamente. — O vilão tem patrocinadores que colocaram ele no mesmo patamar de importância que o deles... Quero dizer, “vamos informar a Bradbury”? Vamos informar a Bradbury? Porra, isso arrepia até os pelos do...

— Fábregas, foco! O que pretende fazer agora? Qual é o próximo passo do seu grupo? — A garota perguntou determinada, fazendo o batedor hesitar. Não iria revelar mais nada de nada, se tivesse a menor possibilidade de ela sair correndo para contar tudo para o papai criminoso.

— Vamos encomendar meu caixão branco e dançarinos de flamenco para o meu enterro, claro!

***

Cesc se parabenizou pela sua capacidade de atuação, porque, não só tinha conseguido voltar para a festa com algum humor, como tinha conseguido deixar que Tony finalizasse sua noite de aniversário com alguma paz no coração.

Mas assim que acordaram na manhã seguinte, os dois quase abraçados no chão, enquanto Louise ressonava baixinho na cama do britânico, o capitão de Hogwarts achou aquele momento tão bom quanto qualquer outro para contar as novidades aos amigos.

— Minhas crianças, acordem, porque estamos todos fodidos! — O sonserino informou falsamente alegre, fazendo Tony gemer por ter sido acordado com um grito no ouvido.

— Pelo amor de Salazar, Cesc, que horas são? — O aniversariante do dia anterior resmungou enquanto colocava a cabeça debaixo do lençol novamente.

— Já é quase meio-dia, ser humano preguiçoso! — O espanhol continuou seu discurso enérgico em pé, agora puxando o lençol da irmã dorminhoca na cama. — Gente, eu estou falando sério! Se vocês se deixaram enganar pelo meu charme delicioso e sorriso enigmático ontem à noite, o problema é todo de vocês! Estamos realmente fodidos, minha gente!

— Tá, ok! Eu pretendia estar pelo menos um pouco mais preparada e apresentável para essa conversa, mas desembucha logo, Cesc, o que você descobriu na sua missão ontem? — Louise perguntou ainda sonolenta, tentando dar um jeito em seu rosto e cabelo da melhor maneira possível. Seu irmão gêmeo se sentou ao seu lado, encarando um Tony emburrado no chão.

— Primeiro de tudo... — O garoto imitou os adultos vilanescos de ontem, criando um feitiço antirruído ao redor do trio. Isso chamou a atenção de Tony, que se sentou em sua cama improvisada no chão. — Bem, agora podemos falar.

— O quão ruim foi? — O batedor britânico perguntou nervoso.

— Ok, certo... Por onde começar? Vamos lá! A gente vai ter que queimar a pena que você e Alissa usaram para mandar aquela mensagem ontem, Louise! Tipo, temos que fazer isso o mais rápido possível! — Cesc informou, sem rodeios. A irmã o encarou assustada.

— Ei, calma! Por que a gente tem que queimar a pena? Eles deram a entender que tem como nos rastrear? — A corvinal questionou ansiosa, porque não era bem a pena que ela teria que eliminar, caso o irmão estivesse certo.

— Eles não falaram o plano maligno com todos os detalhes, mas vamos apenas dizer que eles ficaram putos com a mensagem e a ação que resolveram tomar foi e eu cito “silenciar aquele verme de uma vez por todas!”. — Cesc fez uma entonação diferente, representando o tom de voz de Ferraz.

— Que verme? — Tony perguntou intrigado. Mas Louise tinha uma pergunta ainda mais importante.

— Silenciar como em matar?

— Exato! E o mais tenebroso de tudo, se preparem... Eles mencionaram a morte de Haardy e Dolman como exemplos bem-sucedidos de silenciamento. Boom! Lidem com isso, meus queridinhos! — O garoto concluiu com dramaticidade, estranhamente satisfeito com a oportunidade de ser tão teatral.

— Calixto e Ferraz estão por trás dos suicídios de Haardy e Dolman? — Tony perguntou chocado.

— E não é só isso, meu caro! Eles ainda patrocinam Bradbury, vulgo Lestrange, ex-comensal da morte! No presente, ahora, nos dias atuais, maintenant, nesse exato momento, se não ficou bem claro da primeira vez que eu disse! —  O espanhol falou ainda mais empolgado, quase como se tudo fosse uma excelente notícia.

— Mais que inferno, Cesc! Você quer parar de agir como se todos os seus sonhos tivessem se realizado?!?! A gente tá muito na merda, criatura! — Louise falou com horror, passando as mãos nervosamente pelos cabelos.

— Ora, mas o que eu estou dizendo desde que acordamos? Estamos fodidos e muito mal pagos pelo serviço, se querem saber, mas a boa notícia é que as peças todas estão se encaixando no nosso intrigante quebra-cabeças! — O garoto respondeu animado, recebendo um olhar cético de Tony.

— Bem, sim, pena que a figura que está se formando é a de um dementador pronto para nos dar um beijo da morte! — Tony falou dramático, se levantando para andar de um lado para o outro do quarto. Ele pensava melhor em movimento. — Então sabemos que o pessoal da FerrZ mata sem grandes problemas e que, além de mim, patrocina também nosso arqui-inimigo... Como isso pode ficar pior?

— Bem, descobri que aquele filho da mãe do ex-coordenador corrupto de Beauxbatons estava trabalhando como intermediário de Bradbury e a empresa FerrZ esse tempo todo! — Cesc informou e sorriu satisfeito ao ver Louise xingar o homem por baixo do fôlego. — Esse foi o meu exato pensamento! Mas para o azar dele, Ferraz acha que foi ele quem mandou a ameaça de ontem e quer apagá-lo, cabe a nós decidir se devemos deixar ou não.

— Deixar? Cara, o que a gente tem a ver com isso? Eles são bandidos e todo mundo sabe que os bandidos têm que se entender entre si, que se fodam todos eles! — Tony praticamente gritou, querendo sacodir o amigo de volta a realidade.

— Bem, eu teria gostado de tomar o caminho mais fácil nessa história, mas Yolanda, de todas as criaturas dos céus e da Terra, me mostrou que é meio que uma filha da putice o cara morrer por uma merda que nós fizemos, né? — Cesc perguntou em dúvida, fazendo uma careta para o melhor amigo.

— Será? — Tony falou, como sempre fazendo o papel do diabo em seu ombro esquerdo. Louise revirou os olhos para a moral meio deturpada dos dois. — Será mesmo, Cesc?

— Sim, meninos, é uma grande sacanagem deixar o rapaz morrer por algo que fizemos, bandido ou não! — A corvinal concluiu, ignorando a língua dada infantilmente por Tony. Deus, nem parecia que estavam falando de um assunto literalmente de vida ou morte! — E então, Cesc, qual o plano?

— Precisamos falar com o restante dos iconoclastas, para ver o que eles acham que deve ser feito, eu não quero ter que tomar essa decisão sozinho, porque, se vamos colocar nossos rabos na linha de tiro, que pelo menos seja uma decisão burra tomada por todos. — Concluiu satisfeito.

— Bem, sim, mas... O cara tá lá prontinho para morrer por nós! Aquela garota italiana contra quem vocês vão jogar poderia até pegar mais leve no jogo, se soubesse que vocês a vingaram! — Tony falou empolgado, recebendo um olhar de reprovação de Louise. — Eu estava só brincando, calma!

— Chega de gracinhas, vamos agir de uma vez! Cesc, escreva tudo que descobriu para os iconoclastas, eu vou mandar uma mensagem para Fred, para ver como está essa questão da proteção da assinatura mágica das penas, afinal...

— Que é isso, irmã, deixa de ser avarenta! Queima logo a porra da pena, juro que te faço outra, com feitiço de repetição rápida e tudo, John que vá a merda com as idiotices de interferência mágica dele! — Cesc falou divertido, ganhando um sorriso da irmã, que não alcançou seus olhos.

— Bem, parece que sobrou para mim o trabalho mais difícil: ir até o refeitório conseguir alguma coisa para a gente comer até dar a... Não, já estamos na hora do almoço, vamos lá comer alguma coisa, eu estou morto de fome! — Tony falou empolgado, ganhando um olhar sério do melhor amigo.

— Não, queridinho! Sua vida não vai ser mais tão fácil assim. — O espanhol apontou acusadoramente para o nariz de Tony. — Você achou mesmo que eu não ia notar você se fingindo de morto aqui no belo calor dos trópicos? Chega de preguiça, senhor Zabini! Agora a porra voltou a ficar séria, as férias acabaram!

— Férias? FÉRIAS?!? Eu literalmente arrisquei o meu rabo lindo aqui sendo patrocinado pela empresa vilã, meu filho! Eu poderia ter sido servido no café da manhã, caso não rebatesse os balaços na hora certa! — Tony se jogou na própria cama, se fazendo de aflito.

— Deixa de drama, criatura! Até onde sabemos, Alexei Calixto é mesmo inocente e o resto da empresa também. Bem, tão inocente quanto um Calixto pode ser, o que nos deixa na delicada situação de... Espera, acho que meu celular está tocando. — Cesc se distraiu, procurando o aparelho na pilha de roupas que virou o traje de noite que Tony o havia emprestado. — Ei, Enrique! Na verdade, agora não é a melhor hora para ligar, tenho coisas de adulto para...

— Cesc? Você já acabou sua palhaçada aí no Brasil? Estamos meio que precisando de você aqui na Inglaterra! — Enrique o interrompeu, soando tão preocupado quanto poderia, dado a sua atitude sempre blasé.

— O que você e Erick aprontaram dessa vez? — O espanhol perguntou exasperado, meio que esperando ouvir algo bem estúpido. Vindo desses dois quase adultos, nada o surpreenderia.

Eu não aprontei nada! E Erick parecia também estar na dele nesses últimos dias, então sumiu ontem à noite e voltou super mal de onde quer que ele tenha vindo! — Enrique relatou frustrado, chamando a atenção até de Tony e Louise.

— Ok, super mal como? — O sonserino mais novo questionou ao namorado, coçando a sobrancelha com inquietação. Não precisava desse tipo de problema agora.

Ele está muito pálido e frio, tremendo, lábios roxos e tudo. Ele diz que só está cansado, que precisa descansar, mas até Váli está duvidando disso, circulando ao redor dele como um cão sem dono. — Ele pausou, então continuo dando de ombros. — O que até que faz sentido...

— Tá, foco, Enrique! Dá para esperar mais algumas horas, enquanto eu termino os assuntos nefastos que eu tenho aqui em Castelobruxo? — Cesc perguntou, já antecipando a resposta do seu namorado super maduro.

— Leva ele para o hospital, Enrique, para o St. Mungus, mas antes informa ao Winzegamot e aos Dussel, que são os tutores mágicos dele, por causa da questão toda dele ser ex-djinn, você sabe. — Louise orientou, recebendo uma cara de desprezo do cunhado.

— Por acaso eu sou um saco de bosta de trasgo? Eu sou um Dussel, se você não percebeu, sua idiota!

— Me referia a um Dussel adulto e maduro, Enrique! Obviamente você não é nada nisso, se está pedindo ajuda ao irresponsável do meu irmão! — A corvinal retrucou, mas Cesc resolveu que estava na hora de chamar a atenção de volta para si.

— Eu e Louise estamos a caminho, ok? Só vamos almoçar e resolver o restante dessa bagaceira na carruagem do caos, fazer o que? Vamos ter que deixar a reunião com o clubinho de livros do Brasil para a próxima oportunidade. — Cesc listou, então deu um tchau para o namorado. — Mantenha Erick vivo até a gente chegar, consegue fazer isso, Rick?

Depende, o que é que eu vou ganhar em troca? — Enrique perguntou no seu melhor tom sexy, então Cesc desligou o celular na cara dele.

— Ok, Tony, uma última coisa... — Cesc começou, mas foi interrompido pelo aludido.

— Já sei, já sei... Vou ter que ficar de babá da filial do nosso grupo de estudos aqui no Brasil. — O batedor britânico falou, revirando os olhos para a chatice que era seu trabalho de espião triplo.

— E, além disso, vai cuidar para que Yolanda não dê com a língua nos dentes para o papai corrupto dela. Pelo que o Mauduk me disse, ela ainda não falou nada para ninguém, então vamos esperar que ela continue assim. — Cesc acrescentou.

— Ah, não fode, Cesc!

— Ah, não fode você, Tony! Já disse que as férias acabaram!

— Sua bunda, seu ingrato!

— E tem mais, não vai voltar a Hogwarts enquanto não resolver as coisas por aqui, está me ouvindo? — Cesc ameaçou, fazendo Tony pegar seu bastão ao lado da cama.

— Não só não estou te ouvindo, como vou quebrar seus dentes e vou ficar feliz em usá-los como um colar! — Tony riu com a perspectiva macabramente, fazendo Cesc fingir que estava tremendo de medo.

— Olha, honestamente... A gente bem que merece ser assassinado pela FerrZ, viu? — Louise resmungou, mas se arrependeu assim que viu quem acabara de abrir a porta do quarto.

— Oi, como assim ser assassinados pela FerrZ? — Alissa perguntou incerta, rezando para ter entendido errado.

— Tony explica tudo depois do almoço para você, senhorita quase Calixto, porque, infelizmente, nosso tempo aqui no Brasil se esgotou.


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Notas finais do capítulo

Espero que esse capítulo encontre vocês bem e que traga um pouco de diversão nesse final de ano tão conturbado. Sumi daqui por motivos de atividades acumuladas na quarentena (dei aula e cumpri créditos do doutorado) e porque também me faltou inspiração para terminar esse capítulo que eu comecei a escrever lá em março, acho.

Enfim, quem sabe não teremos mais um capítulo aqui antes do fim do ano? Se não for esse o caso, desejo um próspero ano novo para a gente, meu povo lindo!



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