Além do Castelo escrita por LC_Pena, SpinOff de HOH


Capítulo 29
Capítulo 29. Durmstrang


Notas iniciais do capítulo

Fui abandonada, mas sigo firme e forte, porque, né, fazer o q? Relembrando o q aconteceu por aqui:

— Scorp e Rebeca entraram para a disputada equipe de Poções;
— Thomas Arrhenius, o número dois do ranking de duelos, perdeu sua posição para uma bruxa misteriosa em busca de vingança (?);
— Rebeca aceitou lutar com ele para ele começar a reaver sua posição, selando de vez a amizade om o clã Arrhenius;
— Chris Macmillan, metamorfomago amigo de Enrique (?), ajudou Scorp a recuperar o diário de Jacob Thompson que estava nas mãos de Dolus/Lestrange;
— Em troca, Scorp ajudou Macmillan a entrar no grupo de treino dos Arrhenius, porque ele queria seduzir (hahaha) Arthuria.

Por hoje é só pessoal.



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Bosques ao redor de Durmstrang, Escandinávia, 22 de novembro de 2021 

Scorp observava seu líder enterrar mais uma trouxinha com um ingrediente misterioso, sem usar a varinha. Leart “Le" Rexha tinha runas tatuadas no antebraço, que combinavam perfeitamente com os símbolos esculpidos nas suas pernas feitas de bronze - coisa que já o deixava intimidante – então não precisava adicionar um comportamento estranho a equação. 

Desde a primeira vez que havia visto o garoto de aparência exótica, tivera vontade de perguntar o que tinha acontecido com suas pernas verdadeiras – com bruxos da Albânia nunca podia descartar a hipótese dele ter tirado e substituído de propósito- mas depois da luta de Thomas Arrhenius e Cinder Magjistare, as runas eram mais intrigantes do que qualquer ritual macabro pelo qual ele pudesse ter passado voluntariamente. 

—  Rexha, posso te fazer uma pergunta pessoal? — Scorp começou nervoso, ainda flutuando o baú de ingredientes pela floresta, como havia sido orientado no início da atividade. — Não precisa responder, se achar que é muito intrometimento da minha parte. 

—  Você não é o primeiro a me fazer perguntas intrometidas, nem vai ser o último, já estou acostumado. — Ele sorriu com simpatia, uma covinha surgindo na bochecha direita. Era uma característica que não combinava com sua aparência fora do comum, mas que de certa forma era bom que estivesse lá, porque o deixava mais acessível. — O que quer saber? 

— Suas runas... Elas por acaso têm algo a ver com as de Cinder Magjistare? —  Scorp fez a pergunta com mais calma, já que o garoto era a viva imagem da receptividade e paciência.  

Le Rexha tinha uns olhos de um verde da cor de musgos e uma pele muito pálida para ser saudável, mas o sorriso “mono-covinha" era definitivamente simpático. O rapaz de 16 anos sopesou a pergunta intrigado, parando até mesmo de caminhar pelo bosque escuro. 

—  Não esperava essa pergunta. — Ele concluiu sem demonstrar se estava respondendo a Scorp ou apenas constatando um fato para si mesmo. Deu mais alguns passos e parou diante de um salgueiro quase completamente escondido pela neve. Flutuou mais um ingrediente para dentro da árvore, fazendo suas runas dos braços brilharem verdes. 

— Esperava que perguntasse sobre suas pernas? Eu até tenho curiosidade, mas seria algo voltado ao seu passado, já a coisa das runas abre possibilidades para o meu futuro... Quem sabe eu não desenhe uma em mim mesmo? — Scorp falou divertido, mas sem intenção de fazer algo do tipo de verdade.  

Era muito medroso para usar qualquer tipo de marca na pele depois do que se passou com sua família na última guerra, mas, principalmente, não era lá muito afeito a runas em geral, essa tinha sido sua pior eletiva em Durmstrang até agora. 

E Malfoys definitivamente não combinavam com tatuagens. 

— As runas são de família, tanto Rexha quanto Magjistare. —  Leart sorriu, tirando um pouco do cabelo escuro da frente dos olhos, soprado pelo vento intenso mesmo no interior da floresta. —   A propósito, Cinder é tão Magjistare quanto minha mãe e irmã. Somos primos. 

— E você não faz parte da família, por acaso? — Scorp havia estranhado o jeito do garoto falar do parentesco, de alguma forma ele não parecia incluso na história. 

—  Sim, mas não uso o sobrenome. Ou você descende diretamente das linhagens masculinas ou mantém o nome sendo filha de uma filha do clã. Mulheres Magjistare não adotam os sobrenomes dos maridos e pais. — Ele informou orgulhoso, depois franziu o cenho para um movimento mais ao longe na floresta. — Você viu o tamanho daquele cervo? 

Scorp não tinha visto e quase riu, porque o garoto parecia uma criança pequena fascinada com algo em que o mundo já não via mais encanto. Resolveu perguntar agora sobre as pernas, já que dificilmente alguém como Leart Rexha as tiraria de propósito, não parecia que ele era esse tipo de feiticeiro. 

— Era um cervo bem impressionante mesmo, já devia estar hibernando a essa altura. Mas... E quanto a esses artefatos que usa no lugar de suas pernas? É coisa de que lado da família? — Tentou tirar a dureza da pergunta com um tom informal e sem o foco na perda e sim na engenhosidade dos objetos.  

Le sorriu novamente, então devia ter funcionado. 

— Ah, isso aqui foi obra de um aliado japonês, do clã Gamoshi. — Ele disse orgulhoso, batendo um pé metálico esquerdo na altura de um tornozelo direito de bronze bastante impressionante. — Os japoneses são ótimos fazendo artefatos sensitivos, que de alguma forma se conectam com seus mestres e os dão o que eles precisam, mesmo que a gente não saiba bem o que é. 

—  Então você perdeu mesmo suas pernas, não foi algo proposital? — Scorp fez uma careta de leve, porque essa sim tinha sido uma pergunta mal-educada. — Desculpa a curiosidade, mas é que não é lá muito comum bruxos perdendo membros, a menos que tenha sido por... 

— Energia escura. Sim, foi exatamente isso que aconteceu. — Le sorriu tranquilo, como se mencionar energia escura, que era como alguns colegas chamavam magia das Trevas na Escandinávia, fosse algo normal. — Tinha 9 anos e tive o azar de me encontrar com um mago que gosta de fazer testes em crianças. Fazer o que? Sempre fui muito azarado. 

Ele falou dando de ombros com uma risadinha com menos sarcasmo do que a situação merecia. Scorp ignorou o jeito que ele contou a história, para focar nos dados igualmente desconcertantes. 

— Um mago das Trevas fez isso com você? O que ele queria fazer exatamente? — Era uma situação indignante por si só, mas Le parecia não estar entendendo de onde vinha todo o incômodo de Scorp. 

— Eu não sei, não tive tempo de perguntar. Provavelmente ele pensou que eu era um órfão nascido-trouxa. Eu havia brigado com meus irmãos mais velhos e tinha fugido de casa, então um bruxinho de 9 anos andando sozinho no bosque... O resto você pode imaginar. — Ele falou com um tom menos leve, mas ainda assim não parecia dar a situação a devida gravidade. Scorp estava horrorizado. 

— Você está me dizendo que esse tipo de coisa é comum na Albânia? —  O sonserino até precisou colocar o baú no chão tamanha a indignação. Não poderia imaginar um mundo em que Vega, por exemplo, saísse pelo bosque de Malfoy Manor e de repente virasse uma cobaia para artes das Trevas! 

— Muito comum, crianças nascidas-trouxas são abandonadas em bosques o tempo todo, nosso país é isolado e os sem magia são ignorantes, principalmente nas zonas rurais, onde as vinganças de sangue e leis da Era do bronze ainda são vigentes. — Ele falou soando triste e Scorp o olhou como se ele fosse louco. 

— Estava me referindo a um bruxo usando crianças para rituais das Trevas, embora essa coisa toda com as crianças nascidas-trouxas também seja muito bizarra! — Scorp gesticulou com as mãos, fazendo Le o olhar com um brilho de diversão nos olhos. — É comum crianças sendo mutiladas com magia negra na Albânia? 

—  É comum no mundo todo, a Inglaterra deve ser um lugar muito tedioso se vocês não têm um necromante aqui, um praticante de vodu acolá, para fazer a vida de vocês mais animada! — Ele falou rindo da expressão de Scorp e o garoto finalmente percebeu que Le Rexha só queria chocá-lo. — Estou brincando, casos como o meu não tem acontecido mais com tanta frequência, talvez os magos negros tenham descoberto o que queriam nesses rituais com crianças antigos, quem sabe? 

— Então o cara que fez isso com você nunca foi preso? — Scorp perguntou assustado, fazendo o albanês o olhar com impaciência. 

— E o que na Terra poderia prender alguém como ele? A verdade é que eu fico grato por ele ter começado pelas pernas e por eu ter uma família que veio atrás de mim, se não nem estaríamos tendo essa conversa. — Le deu de ombros, conformado. — Bruxos que se dedicam somente a Escuridão são muito fortes, eles não têm amarras ou escrúpulos. Na verdade, temos sorte que nenhum deles quis dominar o mundo ainda... 

— Voldemort quis e quase conseguiu, pelo que dizem os livros. — Scorp apontou o fato histórico automaticamente, recebendo um sorriso quase cruel do pocionista número 1 no ranking de Durmstrang. 

— Ah sim, o Lorde das Trevas britânico, ouvimos falar dele. — Le falou com um certo tom de deboche, que incomodou Scorp. Quase todos que conheciam tinham perdido algo ou alguém importante na guerra contra o Lorde das Trevas, então não era nada legal ver alguém diminuindo isso! 

— Ele matou centenas e destruiu a vida de milhares de pessoas, não é algo para tratar com desrespeito. — Scorp falou sério, porque não era a primeira vez que algum Durm insinuava a fraqueza dos britânicos, na verdade se subestimar os outros fosse um esporte, a escola Escandinava seria campeã! 

— Não estou sendo desrespeitoso, mas o seu Lorde não era completamente das Trevas, isso é um consenso por aqui, pode perguntar a qualquer um. — Le falou com calma, porque realmente não era sua intenção ofender ninguém. —  Ele foi derrotado por uma profecia branca, porque escolheu acreditar nela. Criou sua própria fraqueza! Se ele realmente tivesse abraçado as Trevas, nada teria abalado a sua fé, nem mesmo Harry Potter. 

— Fé no que exatamente, Rexha? Voldemort partiu sua alma em pedaços em troca de imortalidade, como alguém pode ser mais das Trevas do que isso? — Scorp questionou indignado, de braços cruzados.  

O sextanista albanês encarou o britânico a sua frente, então fez um pequeno semicírculo com um de seus pés de bronze na terra úmida da floresta, sopesando se deveria continuar com essa conversa sem propósito ou não. Levantou o olhar com decisão, porque ao menos o garoto merecia uma resposta, por mais incompleta e superficial que fosse. 

— Me lembro de alguns relances do tempo em que estive com aquele Mago que te falei antes, me lembro do tipo de coisa que você fecha os olhos e continua vendo, seja dia ou noite, não importa muito, porque o medo e a dor nunca te deixam. — Dessa vez Leart Rexha falou sério, parecendo ainda mais pálido do que era normalmente. 

— Não queria fazer você lembrar dessas coisas, eu só... 

 — Matar pessoas sempre será algo terrível, partir sua própria alma é ainda mais abominável, mas só tem uma coisa que eu temo mais do que tudo em um Mago negro e foi o que eu percebi naqueles meus dias de cárcere: os verdadeiros praticantes da Escuridão sabem que a Morte é só o começo. —  Le concluiu desviando o olhar, então abriu o baú aos pés de Scorp para escolher um novo ingrediente a ser escondido para o treino de mais tarde. 

— O que isso quer dizer? — Scorp perguntou assustado e o garoto levantou novamente seus olhos verde escuros com um toque de diversão, até mesmo a covinha na bochecha direita apareceu em seu rosto. 

— Eu não faço a mínima ideia! — Le riu, então apontou o baú para Scorp flutuar novamente. —Agora vamos voltar ao trabalho, se não vai anoitecer e aí sim ninguém será capaz de encontrar esses ingredientes para fazer uma poção decente!  

O sextanista voltou a caminhar pelo bosque, entre as raízes nodosas das árvores antigas de Durmstrang, como se não tivesse próteses metálicas no lugar dos pés, ele era rápido e tinha um bom equilíbrio, quase como um dos animais selvagens que habitavam aquela floresta. 

Scorp deixou ele tomar a dianteira, porque tinha algumas coisas em que pensar, não tinha como não associar esse tipo de coisa com a situação que estava vivendo agora com seus amigos: 

Será que Rabastan Lestrange havia abraçado as Trevas como o cruel mago negro das lembranças de Le Rexha ou ele também tinha aceitado uma profecia mortal tal qual Voldemort, algo que abalaria sua fé na própria vitória? 

Scorp esperava sinceramente que o bruxo das Trevas ainda mantivesse algumas amarras no mundo real depois de ouvir a profecia pela boca de Lia, porque se ele tivesse completamente livre de qualquer escrúpulo e decência, não fazia ideia de como ele e seus amigos poderiam vencer alguém assim... 

Bem, estava mesmo perdido se tinha que torcer para o vilão ter caráter e algum tipo de moral distorcida, mas definitivamente era o que tinha para o momento! 

*** 

— Você só pode estar brincando com a minha cara! — Chris falou indignado no exato momento em que a ponta do seu pé direito tocou a água do lago de um frio congelante. Alec admirou a forma como ele fez o movimento como um passo de dança elaborado. 

Estavam no final da tarde, haviam cumprindo toda a carga de estudos da escola e depois seguido para mais um dos treinos diários dos Arrhenius, agora sendo simplesmente a última e pior das etapas dos exercícios! 

— Para de ser frouxo, Macmillan! É para fortalecer os músculos, não vamos ficar nem dez minutos na água! — Scorp resmungou de volta fingindo que aquela parte final do treinamento dos irmãos Arrhenius não o afetava mais, satisfeito de não ser o bebê chorão da rodada. 

Arthuria lançou um olhar conhecedor para o garoto loiro, enquanto descalçava as próprias botas. Já Rebeca estava se abraçando em seu maiô oficial da escola, uma peça de malha ridícula, que diferente de todos os outros uniformes, não fazia nada para impedir o vento frio da Escandinávia de cortar a sua pele. 

Por que tinham sempre que esperar um dos garotos estúpidos se lamentar antes de pular na água e acabar logo com isso? 

— Malfoy, você percebe que está apenas se juntando a essa insanidade e acabando com toda a nossa bela racionalidade sonserina, não é? A gente não pula em lagos congelados! — Chris argumentou em um lamento, apontando para o lago muito ofensivo a sua frente, seus pés doendo com o mero contato com as pedras frias ao redor da água. 

— Essa parte não está congelada, eu pedi para Aleksandar e Thomas tirarem o gelo ontem. — Alec respondeu satisfeito, porque não gostava muito de ter que quebrar o gelo ele mesmo, quando o irmão e o melhor amigo se divertiam tanto com essa atividade. 

— Só de ter tido gelo ontem já torna todo esse lugar impróprio para banho, Hans, pelo amor de Morgana, não me faça... — Chris se interrompeu, porque o duelista sueco começou a tirar a própria farda, primeiro a capa pesada, então todas as peças da roupa de treino, até terminar nas botas. O sonserino sorriu malicioso para a visão. — Ao menos a gente ganha algum consolo... 

— Mova logo sua bunda inglesa para fora dessas calças, Macmillan, ou eu vou chutá-la no treino de amanhã de uma forma que não vai dar para você usar ela para mais nada por uma semana! —Arthuria falou com maldade, arrancando um riso tossido de Scorp e um olhar de diversão de Rebeca. Ambos sabiam bem ao que ela estava se referindo. 

Alec parecia impassível às entrelinhas sexuais da conversa, porque no fim das contas o banho gelado tinha um objetivo e Macmillan enrolando e atrasando seus planos não iria fazer nenhum bem a ninguém, era capaz dos britânicos conseguirem uma hipotermia com tanta demora. 

O sueco dirigiu um olhar de comando para seu colega de classe irritante, então Chris se rendeu a ordem com uma careta irritada, que mais se assemelhou a uma expressão de birra aos olhos de Alec. Assim que o rapaz terminou de se despir, com pulinhos para conter o frio que começou a machucar sua pele, o líder do grupo deu sua última ordem direcionada ao outro setimanista. 

— Sem truques, metamorfo. — Ele apontou para o peito do sonserino mais velho, que o encarou ofendido com a insinuação de que iria trapacear. 

— Eu não faço truques, minha magia faz parte do meu corpo, se eu a uso, é porque ela faz parte de mim. — Ok, estava óbvio para Alec agora que Chris não estava ofendido com a insinuação de trapaça, mas por não poder fazê-la propriamente. 

O duelista ignorou o britânico sumariamente. 

—  Ida e volta até os limites da barreira de gelo, então vocês mergulham segurando o fôlego o máximo que aguentarem. — Alec falou com seu tom de comando de sempre e até mesmo Rebeca e Scorp gemeram com o sofrimento em um futuro próximo. Segurar o fôlego debaixo da água gelada era terrível, a pior experiência que já tinham tido na vida! —  Vou lançar feitiços de aquecimento assim que saírem da água, não se preocupem. 

— Poxa, agora estou mais calmo, obrigado por ser tão caridoso. — Chris resmungou com sarcasmo, mas se alinhou ao lado de Rebeca na fila indiana formada pelos seus colegas. Alec se colocou ao seu lado, o olhando daquele jeito de quem não tolera muita besteira, fazendo o sonserino olhar para frente conformado. 

Iria entrar em um lago congelado, havia conseguido escapar das outras vezes, mas agora era real, iria mesmo entrar no Lago Scandza em pleno início do inverno escandinavo!  

Provavelmente não iria sobreviver a essa idiotice, Chris pensou chateado. 

Assim que Alec Hans deu a ordem, os três garotos e duas garotas mergulharam no Lago traiçoeiro, que já começava fundo mesmo nas bordas, não a toa era o local ideal de treino dos Arrhenius. 

Rebeca forçou sua mente a ignorar a dor da água gelada em contato com cada centímetro da sua pele, tentando acelerar as braçadas o suficiente para alcançar a borda de gelo esculpida por Thomas e Alexsandar em um momento de lazer esquisito dos dois. 

Era sempre uma boa distração tentar descobrir onde estava a terceira parte do trio de irmãos duelistas nos momentos mais dolorosos do treino. Thomas Peter era um ridículo, se valia do seu óbvio talento e anos de treino para escapar das técnicas absurdas criadas pela sua própria família! 

Aquilo era tão injusto, às vezes achava que a surra que havia levado de Magjistaire havia sido pouco para ele! 

A sonserina levantou a cabeça uma última vez antes de enxergar a borda de gelo e fazer a virada em direção a margem do lago. Seus músculos agora estavam dormentes pelo frio, diminuindo a sua velocidade e as respirações úmidas que conseguia fazer queimavam seus pulmões. Se não fosse bruxa, com acesso a bons feitiços e poções, tinha certeza que morreria com a loucura dos Arrhenius. 

A margem chegou mais rápido do que qualquer um gostaria de admitir, porque se nadar era ruim como o inferno congelante que soava, mergulhar e segurar o fôlego era ainda pior, porque ficariam parados, com nada para distrai-los da sensação de frio desesperadora. 

Scorp tocou a mão na borda de musgo e terra, recuperou um pouco da respiração acelerada pela atividade física intensa, então conseguiu ver Macmillan e Rebeca terminando seus próprios percursos, Arthuria e Alec já deviam estar debaixo d’água há muito tempo. 

Rebeca forçou o máximo de ar que podia para dentro dos pulmões e mergulhou sem nem esperar um segundo na superfície, já Chris o encarou com um olhar de súplica nos olhos, ele com certeza já devia estar no seu limite, era sua primeira vez na água, afinal de contas. 

Scorp fez um sinal negativo com a cabeça, explicando que não cabia a ele decidir se o garoto mais velho estava liberado daquela parte do treino ou não, então olhou para frente, respirou fundo e prendeu o fôlego, antes de voltar para baixo d’água. 

Dessa vez o sonserino decidiu que ficaria de olhos fechados, virando-se para a borda do lago. Usou a parede de terra e pedras que emoldurava o Scandza para ganhar mais profundidade, descendo com cuidado, apoiando as mãos na encosta, até sentir os pés tocarem no fundo do lago. 

Se abaixou completamente e fincou o máximo que pôde os dedos das mãos na terra macia da borda do lago, para lutar contra o empuxo que o puxava de volta a superfície. O esforço físico que fazia para não ser arrastado para cima funcionava como uma boa distração, porque o frio queimava e sua mente desde o primeiro segundo de submersão demandava que ele parasse com aquela loucura de uma vez por todas. 

Por mais horríveis que fossem as sensações físicas, as mentais eram ainda piores, porque seu cérebro, em uma tentativa desesperada de se salvar, continuava atirando projéteis contra a fortaleza de suas metas. 

Scorp queria ficar mais forte, queria ficar mais resistente, então sua mente continuava a dizer que aquilo era bobagem, que haviam outros caminhos, que ele já era forte, não precisava de nada disso, mas nos últimos momentos, quando a falta de oxigênio já havia dominado tudo que podia sentir, a voz em sua cabeça começava a dizer que ele não precisava disso, porque não iria adiantar. 

Ele nunca seria forte o suficiente. 

Era essa parte do treino que era a mais difícil, a que ele tinha que lutar contra si mesmo, porque o clichê de que você é o seu maior inimigo não poderia ser mais acurado no caso de Scorpius Hyperion Malfoy. 

Ele carregava em si a responsabilidade de um nome que já fora grande e que agora estava manchado e precisava de alguém que provasse novamente ao mundo o valor de um Malfoy. Seu pai não lhe dizia isso e sua mãe e avó, sempre muito carinhosas, também nunca iriam falar algo do tipo para ele, mas a questão com as responsabilidades familiares é que as pessoas não precisam te dizer nada para você senti-las em cada um de seus ossos... 

Não ser forte o suficiente doía, frustrava e minava toda e qualquer segurança que poderia ajudá-lo a assumir o papel que lhe cabia na sociedade. Scorp se sentia preso em um ciclo vicioso, onde sua falta de confiança não permitia que ele pudesse fazer tudo aquilo que precisava e que lhe daria confiança para quebrar essa rotina. 

O medo de mergulhar no Lago era de que o ato trouxesse à tona muito mais escuridão de dentro de si, maior até mesmo que a de fora, criada pelas águas profundas. E a escuridão às vezes parecia ser tudo que existia ao seu redor... 

— Scorp, abra os olhos, é uma ordem. — Havia um tom de comando real na voz desencarnada ao seu redor, mas também havia preocupação clara. O garoto se forçou a obedecer, mesmo tudo parecendo claro demais. — Ok, ele está bem. Você está bem, não está? 

Ele não sabia se podia responder a pergunta, mas conseguiu enxergar o rosto da garota mais velha muito perto, cobrindo o sol pálido de inverno. Não sentiu frio, então demorou um tempo para entender bem onde estava. 

Estava no lago, os arredores pareciam familiares, mas não tinha frio e suas costas estavam apoiadas em um tecido macio, provavelmente a pele da farda de alguém, talvez até da sua própria. Scorp umedeceu os lábios para finalmente falar. 

— Eu me afoguei? — Sua voz soou rouca e sabia que era assim mesmo que deveria soar, caso tivesse acertado no palpite. Lembrava de como a voz de Cesc havia ficado quando ele quase morreu no Lago Negro de Hogwarts, junto com Aidan. 

Aparentemente os iconoclastas tinham uma coisa com lagos... 

— Não, afogar implica que você inalou água, enchendo seus pulmões com o líquido, o que você não fez. — Alec agora havia se aproximado e entrado em seu campo de visão com um semblante ainda mais sério do que o de costume. — Você parou de respirar. 

Scorp franziu o cenho com a informação, porque aquele não era um comportamento físico lógico. Respirar era algo natural e feito inconscientemente, estando a pessoa debaixo d'água, o instinto iria ordenar que tentasse respirar mesmo não podendo, o que faria com que o pulmão ficasse cheio de água e o afogamento acontecesse! 

Isso era o lógico, então por que Alec havia feito questão de dizer que não foi o que aconteceu? 

O garoto se forçou a levantar o tronco para olhar melhor os arredores de onde estavam: contabilizou os Arrhenius a sua volta, cada um de um lado, abaixados e a alguns metros dos dois, Rebeca e Chris estavam juntos, o garoto mais velho a contendo em um abraço apertado. Ela parecia estar tentando alcança-lo, sem sucesso. 

— Deixe-a vir. — Scorp ordenou para o colega de Casa, que soltou sua namorada de um jeito que a fez tropeçar, antes dela consertar o passo e chegar perto dele em segundos. — Está tudo bem, foi só um susto. 

Rebeca não disse nada, o abraçou e chorou mais um pouco em seu ombro, já tinha feito muito disso nos últimos minutos. Não gostava de chorar em público, porque isso era péssimo para a imagem, mas ultimamente Scorp estava fazendo ela parecer uma garotinha assustada a todo momento! 

— Está proibido de entrar no lago, Malfoy. — Alec falou com um toque de irritação na ordem, interrompendo o momento de conforto dos dois quintanistas e arrancando de Chris um riso exasperado. — Amanhã eu digo qual será a sua punição. 

— Ei, eu também não quero ter que entrar no lago de novo! O que eu preciso fazer para receber esse castigo? — O metamorfomago falou em seu tom exasperante, aumentando o ritmo dos passos para acompanhar Alec Hans de volta ao castelo. 

Os três duelistas mais novos continuaram próximos ao lago, observando a partida dos dois rapazes do último ano, sem poder escutar qual havia sido a resposta mal-humorada de Alec. Chris tinha uma capacidade irritante de sempre fazer o sueco perder a paciência em um tempo extremamente curto. 

Arthuria poderia ficar até chateada com isso, se o irmão não estivesse tão falante. Normalmente quando ele se irritava, ele se isolava em algum lugar para socar toda a sua raiva para fora, mas com o britânico, Alec sentia uma necessidade enorme de retrucar sua insatisfação na hora. 

Era uma mudança bem interessante de comportamento. 

— Ok, crianças, eu tenho que ir para a um grupo de estudos agora, vocês dois também tem compromissos que eu sei, então se apressem. — A garota falou como se não estivesse preocupada com o que aconteceu, mas o seu sorriso tímido demonstrou que aquilo não era bem verdade. 

Tanto Scorp quanto Rebeca acenaram seu entendimento para Arthuria e depois de mais alguns minutos abraçados em silêncio, seguiram os passos da duelista sueca para dentro do Castelo. 

Nenhum dos dois fazia ideia do que tinha acabado de acontecer. 

*** 

Rebeca havia acabado de trocar a farda novamente pelo uniforme de treino dos duelos para uma sessão de trocação com Arthuria, quando teve sua atenção chamada ao finalmente ver o mais velho dos Arrhenius dar as caras. 

Thomas falou alguma coisa rápida com seus amigos na entrada da arena, recebeu uma daquelas enxurradas de incentivos masculinos – cheios de tapas nos ombros e costas e risos idiotas – o que nunca predizia nada de bom. 

Garotos eram muito estúpidos, Rebeca havia aprendido essa lição muito cedo. 

Resolveu então que poderia se atrasar um pouco para o treino com Arthuria, se isso significava que ela iria tirar o irmão mais velho da treinadora de alguma encrenca. O seguiu pelos corredores, até descobrir a merda em que ele iria se meter, antes mesmo de ver a entrada do lugar para onde iam. Correu para alcançar o garoto estúpido antes que fosse tarde demais. 

— Não se atreva! — Seu tom havia soado mandão, o que na verdade era muito bom, porque havia feito o sueco parar de andar antes de entrar na porta escura de quatro metros, feita de um olmo antigo e esculpido. 

— Olha, eu até aceito receber ordens de garotas bonitas de vez em quando, mas você é comprometida e infelizmente está em um relacionamento monogâmico e eu tenho essa tendência estranha de respeitar essas coisas, então... Sinto muito, Rebeca, mas pode cair fora. — Thomas falou tudo daquele seu jeito despojado de sempre, o que destoava enormemente da seriedade da maioria dos alunos do Instituto.  

— Confesso que sempre admirei a sua capacidade para falar um monte de besteira ao mesmo tempo, mas dessa vez não posso deixar que você siga com o seu show. — Rebeca pôs as mãos nos quadris e encarou o garoto com mais de dois metros de igual para igual, metaforicamente falando, é claro. — Essa porta leva ao centro de treinamento de Falcoaria, cujos membros não só detestam os duelistas historicamente, como também são colegas de atividade da garota que chutou o seu rabo na arena! 

— Você já foi mais educada, garota, a convivência com Thurie está fazendo de você uma marinheira desbocada! — Thomas a olhou de cima a baixo, com cinismo. — Cuidado para não voltar a Hogwarts em um navio pirata, cuspindo tabaco em um balde qualquer. 

O garoto deu seu aviso como despedida suficiente, mas assim que atravessou a porta de madeira a sua frente, sentiu uma mão em seu antebraço. Olhou para a quintanista com exasperação. 

—  Fala sério, Thomas, você acha mesmo que é uma boa ideia enfrentar Magjistaire no território dela? Poxa, eu te dei minha posição para você desencanar disso, mas não, você prefere jogar tudo pela janela só para ter a chance de perder de novo para ela! — A sonserina falou chateada, mas algo em suas palavras enfureceu o sueco. 

— Eu não vou perder de novo! E certamente não vou perder meu tempo tendo essa conversa com você, Rebeca, achei que tínhamos deixado bem claro que a nossa luta foi justa e que você não me deu nada, eu conquistei a sua posição! — Ele falou ofendido com a mera insinuação de que havia sido favorecido de alguma forma. 

Não era um fraco, não precisava dessas coisas! 

— Ora, deixa de ser idiota, qualquer um que lutar contra você sabe que vai perder, com exceção da garota no final desse exato corredor. — Ela o analisou com atenção, depois cruzou os braços. —  Qual é o seu plano para encarar Magjistaire, Thomas? Vai irrita-la até a morte? 

— Isso não é da sua conta, já disse que só gosto de garotas mandonas com quem eu posso transar, o que infelizmente não é o seu caso. Então adeus, Rebeca! —  Ele deu as costas a ela e dessa vez só se voltou porque sentiu um chute forte na bunda. Olhou para a garota atrás de si, indignado. — Que merda foi essa? 

Não havia doído muito fisicamente, mas ser atingido no traseiro era o último grau de desatenção e lerdeza para um duelista, se não podia tomar conta da própria bunda, nem a merecia em primeiro lugar! 

— Você mereceu. — Foi tudo o que a garota falou, ainda de braços cruzados. 

—  Você tem sorte de não estarmos na arena, senão eu iria te desafiar e fazer o seu cabelo de espanador no chão! — Ele falou se aproximando perigosamente, mas Rebeca sustentou seu olhar ameaçador com um sorriso debochado. 

— Você pode me desafiar fora da arena, machão, mas você não quer fazer isso, assim como não quer enfrentar Magjistaire de novo. Você só tá aqui para provar para seus amigos que é forte! —Ela lançou seu melhor olhar conhecedor, que atingiu os nervos do Durm em cheio. —  Está agindo como um moleque mimado, só isso. 

— Nunca te dei essa intimidade para você falar comigo nesse tom, Wainz, meça bem suas próximas palavras. — Thomas falou se aproximando perigosamente, deixando bem claro, com a diferença de altura entre eles, que sua paciência com ela havia se esgotado. 

— Estou aqui como amiga e como amiga, não posso deixar que você cometa mais um erro estúpido. — A quintanista falou sem se intimidar, porque Thomas Arrhenius não era o primeiro garoto orgulhoso com quem teve que lidar na vida.  

Sua irmã, Jéssica, sempre havia lhe dito que se abaixasse a cabeça para os caras uma vez, você iria passar o resto da vida sendo submissa a eles. 

E Rebeca Wainz não abaixava a cabeça para ninguém. 

O garoto a olhou com seriedade, depois com curiosidade, por fim sorriu, porque gostou do que viu ao encarar os olhos azuis da britânica a sua frente. Como tinha constatado em seu leito de hospital há algumas semanas, Rebeca Wainz poderia não ser a duelista mais forte que havia enfrentado, mas definitivamente tinha o coração no lugar certo. 

Era forte a sua própria maneira.  

— Ok, Rebeca, o que recomenda que eu faça para resolver a situação? — Agora ele é quem havia cruzado os braços, a olhando com divertimento. A sonserina soltou o ar com leveza, deixando a tensão do minuto anterior escapar por seus lábios antes de falar novamente. 

— Não há nenhuma situação a ser resolvida, você perdeu uma luta e está seguindo em frente. —Rebeca falou com calma e Thomas a encarou com ceticismo. — Mas como é claro que você não está pronto para deixar isso para lá, vamos ter que arrumar um jeito de te dar uma vingança merecida. 

A menina se encaminhou para o local que supostamente não deviam ir agora, fazendo Thomas a alcançar em uma só pernada longa. A olhou intrigado. 

— Achei que era uma má ideia ir ao covil de Magjistaire, não foi sobre isso que estávamos falando agora a pouco? — Perguntou em dúvida e ficou ainda mais confuso ao ver o sorrisinho sarcástico de Rebeca. 

— Era uma má ideia quando você estava no controle, mas eu tenho um plano. — Ela falou confiante, então concluiu enquanto enumerava as coisas nos dedos. —  Para se ter uma boa vingança depois de ser atacado, a gente precisa saber de duas coisas: porque fomos atacados e qual é o ponto fraco do nosso inimigo. 

— Não sei nenhuma das duas coisas. — Thomas falou desanimado, mas levemente encantado com o olhar de determinação da garota britânica. 

— Com certeza você fez alguma merda para essa moça e mereceu a vingança dela, mas como o meu plano não é restrito a vinganças justas, a gente vai pôr em prática do mesmo jeito. — Rebeca falou animada, depois riu da expressão confusa do garoto mais velho. — Não faça essa cara, eu nunca fui conhecida por ser uma pessoa justa. 

— Tá... Mas e então, o que a gente vai fazer aí na arena de Falcoaria?— Ele perguntou apontando para a porta no final do corredor, algo que não fazia o menor sentido. Para que essa área tão longa antes da sala de treinos? 

— Vamos observar o campo inimigo, por que não? Ou você acha que Magjistaire atacou sua jugular sem ter se preparado antes? Ela sabia as regras do duelo e como te neutralizar, a garota colocou um esforço nisso, vamos ser educados e no mínimo retribuir esse gesto adorável. — A sonserina falou com deboche, depois completou com uma sobrancelha levantada. — Damas primeiro. 

Abriu a porta do clube de Falcoaria, entrando na frente. Olhou Thomas por cima do ombro, ele sorriu para ela, então seguiu sua deixa, entrando pela primeira vez naquela parte da escola proibida para todos do seu tipo. 

O lugar com certeza era aumentado magicamente, porque, do contrário, a estrutura teria deformado completamente o castelo se fosse real.  

O espaço era todo revestido com vigas e colunas de madeira altas e imponentes, cujo cheiro parecia tomar conta de tudo. Haviam pequenos cavaletes de couro e poleiros nas alturas, onde aves de rapina descansavam com máscaras miúdas sobre os seus olhos.  

Alguns pássaros se agitaram com a chegada dos intrusos, fazendo seus mestres os encararem com curiosidade e animosidade, em alguns casos. O palpite de Thomas estava certo, Rebeca notou com malícia, porque a maga que procuravam estava mesmo em seu refúgio e não parecia nada contente com a visita dos dois duelistas. 

— Vocês não deviam estar aqui. — A garota falou em um tom de aviso, o falcão empoleirado na proteção de couro em seu braço soltou um grasnido de acordo. Rebeca e Thomas sorriram felizes com o incômodo alheio, expressões similares, mesmo que não tivessem combinado nada. 

Essa era a prova cabal de que a amizade dos dois era algo verdadeiro. 

— Ora, a gente veio apenas ver como era o clube de Falcoaria, né, Thomas? Eu estava agora mesmo dizendo “poxa, tenho certeza que é um lugar maravilhoso, a gente vai ser tão bem recebidos...”. —A sonserina falou com ironia, então Thomas sorriu com sinceridade, porque estava se divertindo de verdade com tudo aquilo. 

— Verdade e olha só se não temos um anfitrião adorável para nos receber... — Ele estendeu o braço para o falcão de Magjistaire e o animal, para a surpresa das duas garotas presentes, aceitou passar suas garras ao redor da pele desprotegida do braço do sueco. Thomas não parecia se importar com a dor da ação. — Você é o pássaro mais lindo que eu já vi! 

O falcão soltou mais um grasnado, dessa vez quase soou coquete, como se tivesse entendido o elogio. Rebeca disfarçou o sorriso, porque pela expressão de Cinder Magjistaire, tinham acabado de encontrar a maneira perfeita de irrita-la. 

— Ela é fêmea. — A maga informou com raiva, fazendo Thomas desviar o olhar para ela com desprezo, como se só tivesse notado sua presença agora. 

— Ah sim, isso explica porque gosta tanto de mim. Geralmente as fêmeas me adoram, menos aquelas que gostam somente de outras fêmeas, aí a gente não pode fazer muita coisa, não é, menina? — Ele falou divertido, acariciando de leve a cabeça escura da ave de rapina. —  Agora vai lá brincar com suas amiguinhas, eu e sua mãe temos que conversar. 

Ele impulsionou a ave para cima, ela alçou voo com elegância, deixando pequenos cortes na bata de treino do setimanista, que logo consertou tudo com um aceno habilidoso de varinha. Usava pouco nos duelos, mas não significava dizer que não era bom em feitiços. 

— Ela não é minha filha. — A garota de pele muito clara e cabelos escuros falou com um olhar de ódio para o duelista. — E eu não tenho nada para falar com você, Arrhenius, deixei bem claro o meu ponto ao te derrotar na sua arena. 

— Sim, sim, todos entendemos muito bem o seu ponto. Mas você vê? A gente já superou isso, eu e Thomas estamos aqui, na verdade, porque, já que você roubou o lugar dele no ranking, talvez esteja na hora dele achar outra atividade. — Rebeca falou falsamente inocente, ganhando do rapaz ao seu lado um sorriso divertido como resposta. Thomas estava adorando a ideia. 

— Ah sim, Falcoaria parece incrível e como pode ver, o talento eu tenho, é capaz de até o final do ano eu já estar ganhando alguns valores no seu ranking. — Ele falou com animação e Rebeca riu, porque havia soado como um atestado de superioridade de hobbies. — Onde eu me inscrevo? 

— Não pode se inscrever, as vagas estão encerradas. —  Cinder cruzou os braços, deixando suas runas em evidência. Thomas sorriu com malícia para a garota. 

— Mentirosa... — Sussurrou o insulto com um tom de quem sabia bem quando estavam tentando engana-lo, depois se encaminhou para a saleta do professor monitor da atividade. 

Não existia tal coisa como “não pode fazer" para um Arrhenius. Eles podiam, simples assim: podiam fazer qualquer coisa que quisessem. 


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Notas finais do capítulo

E então? Vai sair algo q preste dessa amizade? E qual é o problema de Scorp? Alguém lembra do resultado da leiura da borra de café dele q Lia fez lá no terceiro ano? Bons tempos...

Bjuxxx



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