Need You Now escrita por A Cavalaria


Capítulo 7
17h40min


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Chegamos ao nosso penúltimo capítulo!
Preparem os corações, peguem os lencinhos e cuidado com os ninjas cortadores de cebola!

Boa leitura ♥



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Conheceu a morte muito cedo, porém não a sentiu. Dois meses antes de completar seus três anos de idade, seu pai – Diego – faleceu em virtude de um tumor no cérebro. Na verdade, o câncer começou em outro órgão (o qual nunca reouveram), se espalhou por seu corpo, até atingir sua cabeça.

Um brasileiro batalhador, que estudou copiosamente para chegar à faculdade de medicina. Quando se formou, surgiu o azo de fazer pós-graduação, trabalhar, morar na Austrália. Embora fosse apegado aos pais, transigiu e lá conheceu Andrea.

Ela pertencia a uma família de classe média, trabalhava na empresa do pai. Quando engataram o namoro, a principio, seus familiares se opuseram, pois o julgaram um aproveitador. Teve de provar sua virtude e amor por Andrea. Namoraram por cinco anos até se casarem. Passaram-se mais cinco, ela engravidou.

Diego estava ciente de sua doença. Solicitou à esposa que desse apenas seu sobrenome à criança, haja vista que nunca mudara seu nome de solteira. Hesitante, anuiu. Ele ganhava bem como cirurgião. Isto posto, juntou parte de seu salário a fim de investir numa empresa em sua terra natal, a qual colocou no nome de sua esposa, para que quando morresse, não ficasse desamparada e sempre fora seu sonho voltar ao Brasil com ela.

Quando a morte o levou, Christopher não tinha idade para entender o que acontecera. Portanto, Andrea optou em lhe dizer que o pai viajara para um lugar muito distante, talvez não voltasse mais. Chorou por muitas noites com saudade do progenitor, que lhe contava histórias para dormir, todavia, aos poucos se acostumou à sua ausência.

A mãe se desdobrava para fazer o papel duplo. Após passarem o triste aniversário do garoto, tomou a decisão de se mudar para o Brasil. Chegando à terra natal de seu falecido esposo, encantou-se. Nunca mais quis sair. Pelo contrário, depois de aprender o português, contou aos familiares o quanto aquele lugar era bom, convencendo sua mãe – também viúva – e irmã –divorciada –, com seus sobrinhos a se mudarem para o Rio.

Fez questão de pagar a melhor escola para o filho, visando que o mesmo assimilasse bem português e inglês. Apenas aos seus oito anos de idade, Chris soube que o pai morrera. Somente ali entendeu o que era a morte, experimentando sua tortura. Chorou como se tivesse perdido-o pela segunda vez, contudo, captou que aquilo fazia parte do ciclo da natureza humana.

Agora, mais uma vez, Christopher saboreava aquela dor, recusava-se a consentir a esse curso. Viu no site da companhia aérea o nome de Beatrice Martino como uma das vitimas da fatalidade com a aeronave. Tentava manter uma esperança dentro de si: “Talvez tenha pegado outro avião que embarcou junto com esse.” “Talvez esteja só ferida”. Seus pensamentos positivos se esvaíram quando recebeu uma ligação em seu celular:

Por favor... Gostaria de falar com o senhor Christopher Hemsworth.— disse a voz do outro lado.

— Sou eu. – confirmou.

Eu sou Jonas, da empresa Voe Bem. Seu telefone foi dado como referência na compra da passagem do voo 665, com partida no Rio de Janeiro e destino em São Paulo. Gostaria de informar que, infelizmente, Beatrice Martino veio a óbito. Minhas condolências.

Ficou sem reação. Tudo o que passara nos últimos dias, fora água abaixo. Nem conseguiu responder ao homem. Jogou o telefone na parede, deu um grito de desespero que ecoou por todos os corredores da empresa.

Andrea ouviu. Correu até lá, desesperada. Viu-o sentado no chão, com a cabeça em meio aos braços que se cruzavam por cima dos joelhos.

— Filho... O que aconteceu? – desesperou-se ao vê-lo naquele estado. – Fala comigo, meu amor... – implorou.

Sem respostas, deslocou-se à tela do computador, viu a notícia aberta: “Voo com destino à São Paulo cai e deixa 185 mortos.” Leu a matéria completa e viu o nome de Beatrice. Começou a lastimar e o abraçou.

[x]

No dia seguinte, acordou com os olhos inchados. Havia uma mensagem em seu celular de um número desconhecido, com o DDD 11, da capital de São Paulo.

“Olá Christopher, aqui é a Maria. O enterro da Beatrice será quarta que vem às 17h40min. Se quiser, pode se hospedar em minha casa.”

Sua cabeça doeu fortemente. Ela estava realmente morta. Considerava que, porventura, aquilo fosse só um pesadelo, ao acordar a veria do seu lado. Mas não. Era seu destino sendo cruel consigo novamente.

Foi à mesa do café, onde viu sua mãe, tia, avó e primos. Todos muito abalados.

— Bom dia. O enterro será quarta às 17h40min. – foi tudo o que pôde dizer antes de chorar novamente.

— Vou ligar no hotel e reservar quartos para nós. – Elsa, sua tia, se manifestou, levantando-se da mesa.

[x]

Eram dez da manhã quando o avião desembarcou em São Paulo. Todos os passageiros estavam apreensivos depois do acidente acontecido há uma semana. Temiam que outra tragédia ocorresse. Por sorte, chegaram seguros.

A família Hemsworth foi ao hotel para descansar um pouco. Menos Chris, que não dormia direito há dias. As lembranças do que vivera nos últimos momentos de sua amada, o atormentavam constantemente. Era impossível fechar os olhos sem se recordar daquele sorriso cativante, dos olhos azuis hipnotizantes, dos cabelos castanhos rolando pelo vento.

Era bom rememorá-la daquela forma. Entretanto, era ruim saber que partira tão abruptamente.

[x]

Compareceram por volta das quinze horas no velório. Estava vazio, tinha poucos familiares. O caixão marrom escuro cercado por duas coroas de flores e algumas velas estava lacrado. Possivelmente, lá dentro, tinham partes de corpos que não eram o dela. Sentiu o coração comprimir. Maria, ao avistá-lo, correu, o abraçou. Enquanto Geraldo o encarou com uma feição rígida.

Aproximou-se do sogro para confortá-lo, porém, ouviu o que jamais tencionou:

— A culpa é toda sua! Foi você quem a matou... Por que eu a deixei viajar com você? Por quê? – chorava.

— Geraldo, ele não tem culpa de nada! Foi uma tragédia! – a esposa tentava consolá-lo, à medida que o mesmo caiu de joelhos, aos prantos. – Desculpe-o, Christopher. Ele não está raciocinando direito.

No fundo, o jovem concordava. Era para ter embarcado com ela, pelo menos morreriam juntos. Todavia, a deixou lá para morrer sozinha. Sentia-se responsável pelo que aconteceu.

Sua tia, o puxou para perto. Encostou a cabeça dele em seu peito, ao mesmo tempo em que mantinham os olhos fixos no caixão.

[x]

Eram quase 17h40min. Pouco a pouco, a família prestava sua última homenagem à garota. Christopher foi o último a se despedir. Debruçou-se e proferiu algumas palavras:

— Sabem... Era para eu estar morto também. Mas como sempre, fui egoísta e dei preferência ao meu trabalho, ao invés de viajar com minha namorada.

— Ora, Chris, não fale uma coisa dessas! – sua avó advertiu.

— Demorei a reconhecer que a amava. Francamente, sempre a prezei, mas hesitei a entender que era algo a mais. Sofri muito por dar amor à pessoas que não mereciam e temia que isso acontecesse novamente. – todos estavam em silêncio profundo, atentos ao jovem. – Quando me dei conta, já era tarde. Ela estava no aeroporto embarcando para a morte. Nem pude saber se era recíproco. Nunca tive, nem nunca terei um retorno.

Sua mãe passou as mãos sobre seus ombros, enquanto chorava. Mantinha-se apoiado no caixão durante a pausa que deu para retomar a fala, com a voz embargada.

— Bea... Vou te amar para todo o sempre! – fitou a foto que estava em meio às flores. – Você será minha eterna melhor amiga e namorada. Nem sei se serei capaz de amar outra pessoa de forma tão intensa como te amei. Adeus! – beijou a fotografia, vendo os presentes chorarem e soluçarem.

[x]

Eram 01h15min da manhã, quando resolveu ligar no telefone dela. Dentro de si, intencionava acreditar que o atenderia com sua voz doce. Pressupunha, caso estivesse viva, se pareceria nele como pensava nela.

Sentado no chão, arrastou-se para perto da cômoda, discou seu número. Aspirava saber como sobreviveria sem ela. Precisava dela. Agora.

Para sua surpresa, uma voz feminina atendeu:

Alô?

Descontrolado estou agora

Telefonar vai ser preciso 

(Alô) Me diga onde está e o que você fez

Levou minha paz embora

Sim, desculpe eu ligar 

Somente a sua voz me acalma

 

(Hevo84 – Insônia)


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