A Promessa escrita por adao_filho


Capítulo 2
Capítulo 1 - A Promessa




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“Tudo começou naquela promessa… que fiz há uns 10 anos, eu acho”

 

Nós tínhamos uns 16 anos, dois jovens desfrutando a vida em uma cidade pequena do sul. Foi o meu primeiro amor. Nossa paixão pelos livros e histórias de C.H. Moor nos unia, sempre nos víamos no bosque da cidade, longe de alguns olhares curiosos, para fazer coisas que gostamos: ler, conversar e nos sentir. Eu sonhava em casar com ela, constituir uma família e ter filhos. Era tudo o que eu tinha, como meus laços familiares eram um tanto problemáticos, apenas restava ela. Infelizmente os ventos nos levaram para lugares distintos. Ela era de uma família importante daquela cidadezinha, o Rei confiou ao seu tio a administração da cidade e então ficaram ricos. O administrador da cidade mandou  ela e todas as suas primas para a Capital para que estudassem no famoso Colégio Ayin. Com o tempo e distância ficou insustentável manter esse amor e um dia recebi uma carta, onde estava escrito que estava na hora de cortar nossas relações amorosas.  

Alguns anos se passaram e eu ainda não tinha esquecido, nada fazia apagar minhas memórias. Meus sonhos não me permitiam viver em paz, de vez em quando lá estávamos juntos em alguma época do passado. Eu tentava viver normalmente (e em parte conseguia isso), fazendo testes para entrar na guarda municipal, para me unir aos meus amigos.  Entretanto parecia que não tinha muito jeito para isso, era um menino franzino, com certeza não era físico para um guerreiro. Mas minha perseverança não permitia-me desistir, mas no fundo já imaginava o fracasso dessa tentativa.  Quando acabou a época dos testes, e fui extremamente mal por sinal, algum tio meu comerciante famoso naquela cidadezinha buscava novos ítens para vender em sua loja. Ele possuía seus cinquenta e poucos anos, e queria minha ajuda para comprar mais coisas, acabou que fomos para a Capital ver as novidades para abastecer o estoque.

Além disso aquela era a oportunidade de vê-la novamente, pelo menos mais uma vez. Mandei uma carta para a moça quando estava a caminho, falando da nossa promessa de 3 anos atrás quando disse que se ela fosse para qualquer outro lugar, iria atrás dela a qualquer custo, a qualquer distância. Pensei em cumprir essa promessa no dia que cortamos relações, só que um certo amigo me convenceu a tentar esquecê-la. Não deu certo, obviamente. A oportunidade finalmente chegou de cumprir essa promessa e infelizmente deu errado, muito errado mesmo.

Quando cheguei pela segunda vez na vida à Capital meus olhos estavam erguidos durante todo o tempo. Todas aquelas construções enormes de pedra me encantavam: castelos, torres, comércios… Era incrível a riqueza daquele lugar. Sentia que já estava na hora de abandonar meus pais e seguir meu próprio caminho nessa cidade. O meu tio, talvez o mais sensato da minha família, ficava me orientando sobre cada lugar que passávamos. Ele tinha dito que há uma enorme biblioteca repleto de livros do C.H. Moor e autores melhores do que ele. Realmente, eu precisava morar aqui de uma vez por todas. Quando chegamos na Estalagem, esperamos anoitecer e descansar, porque o dia seguinte vai ser puxado. Eu o ajudei do amanhecer ao entardecer, percebi pela quantidade de compras, que sua loja estava bem grande por sinal e só admirava mais a capacidade do meu tio de fazer dinheiro com uma facilidade de dar inveja. Quando terminamos, pedi para ele que ficássemos mais alguns dias, falei que preciso visitar uma amiga e queria muito conhecer mais a Capital do Reino, ele concordou e então finalmente tive a oportunidade para vê-la. E foi aí que tudo na minha vida mudou para sempre.

Um evento absolutamente incompreensível para os olhos dos homens aconteceu, até hoje não consigo acreditar no que vi há 7 anos. Quando fui ao famoso Colégio Ayin, onde ela havia me escrito que poderia nos encontrar naquela tarde ensolarada de primavera era o meu aniversário, por ocasião, ela achou que seria uma boa comemoração passear o dia todo naquela enorme escola.  Durante horas andamos e conversamos pelos domínios do Colégio Ayin, a construção era um enorme castelo de apenas 2 andares, mas largo como nunca antes visto. Passeamos pelos corredores e bibliotecas, era um lugar inesquecível, mas sentia como se já houvesse passado por ali em algum sonho distante, provavelmente com minha amada. Quando estávamos no enorme bosque, cheio de vida e uma mata densa, senti um ar nostálgico e resolvi revelar para ela que ainda estava apaixonado, que ela não saia dos meus sonhos e queria muito que voltasse para mim. É uma pena que ela recusou, sem muitas justificativas, a maior delas (ou a única que até hoje vem a minha cabeça) era que as coisas mudaram.

Só que mal tive tempo para sofrer por isso. Uma fagulha surgiu entre nós, uma fagulha dourada, então essa fagulha se transformou numa espécie de porta transparente. Nessa hora já estávamos com os olhos arregalados, e esses retângulos em formato de porta se multiplicaram, cercando a moça. Ela estava imóvel vendo magia acontecer ao seu redor, e as portas se aproximando mais ainda e se tornando uma caixa que cobria o seu corpo inteiro. Não era possível, magia não existe, sempre achei que eram devaneios de alguns monges das montanhas afastadas do leste. Só que não era nada do que imaginava. Enquanto ela estava imóvel como uma pedra, eu enlouqueci e corri até ela, e aquela caixa dourada transparente me repeliu, jogando-me para uma bela distância.

Não era possível. Magia não existe, eu só achava que estava ficando louco ou simplesmente sonhando. Mas a dor era real demais para um sonho, o choque foi a pior dor física que senti na vida. Estava tentando me levantar, mas a dor era forte demais, pelo menos poderia abrir os olhos e ver aquele homem de cabelo longo e roupas extravagantes de couro que nunca vi na vida. Ele me olhava com um sorriso estranho no rosto, não fazia ideia se estava feliz por me ver vivo ou rindo da minha queda absurdamente alta. Não importa mais nada pra mim, eu acabei de ver magia. Magia só existe em alguns contos infantis e na religião daqueles que estão totalmente isolados do resto do mundo. Não é possível que aqueles estranhões estavam certos o tempos todo. Magia existe. De verdade.

— Você está bem aí, amigo? — Falou aquele homem que tinha por volta de 30 anos.

Eu não consegui responder absolutamente nada. Era absurdo, tudo o que sempre acreditei na vida poderiam não passar de mentiras. Um mundo novo tinha se aberto para mim. Como a magia é criada? A criação do mundo é a mesma que a nossa religião diz? Porque não conseguimos utilizar magia normalmente? Quem é Deus? Eram tantas perguntas que estavam circulando minha mente que da minha boca não saía nenhuma palavra por mais que eu tentasse. Ou talvez seja o choque, que de tão forte, tenha paralisado minha língua, sei lá. Naquele momento da minha vida eu não sentia nada, só pensava e pensava e tentava montar uma teoria de tudo o que existe.  Isso em questão de segundos.

— Eu sinto muito se te machuquei. Só que Ela é importante pra mim. Espero que você não venha atrás dela — Ele tinha começado a se afastar — Ah, antes que me esqueça. Sim, você viu magia, agora daqui alguns minutos se levante e tente esquecer o que acabou de ver — Fez uma pausa e manteve aquele sorriso estranho meio irônico — Vai fazer bem a noite.

Eu consegui levantar a minha cabeça com muita luta e tudo o que notei (mesmo com a vista embaçada) foi aquele homem de roupa de couro estranha indo em direção dela, e num estalar de dedos que consegui ouvir, os lados da caixa se convergiram, indo na direção do lado oposto, fazendo-a desaparecer.  O homem também desapareceu junto, restando apenas duas fagulhas douradas que logo desapareceram. Magia.

Eu não conseguia imaginar e nem raciocinar mais sobre o que acabei de ver… A loucura era iminente, mas o único raciocínio são que tive é de  não me importar se iria ou não dormir a noite, mas nunca abandonaria a promessa que fiz para ela.


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