A Promessa escrita por adao_filho


Capítulo 3
Capítulo 2 - O Preço




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Naquele momento eu pensava em tudo, mas pensava em nada também. Quando fui atacado por aquele mago tudo na minha vida mudou. Esperei recuperar um pouco as minhas forças e incrivelmente nenhum guarda do Colégio Ayin veio até mim, talvez também tinham sido atacados por aquele homem. Foram tantos acontecimentos que precisava tempo para assimilar tudo… talvez alguns anos. A única certeza naquele momento que eu tive era que deveria ir atrás dela, a todo custo. Levantado e com as forças retornando, queria correr para algum lugar, correr atrás daquele cara. Mas ele de alguma maneira milagrosa se teletransportou. Outra coisa, ele disse que Ela era importante. Mas como assim? O que isso significava? Ah é… Magia. Essa palavra não saía da minha cabeça. Ficava martelando meus pensamentos de 5 em 5 segundos, mas ela foi a chave para começar a ter uma luz.

Só existia um povo no mundo que acreditava nessa bobagem, ou melhor, não era nenhuma bobagem para mim a partir daquele momento. Aqueles caras que raptaram-a. A melhor maneira de resolver isso era indo para lá buscá-la. Mas eu não era nenhum herói corajoso e destemido. Naquele momento, 7 anos atrás, percebi que minha vida mudaria drasticamente, eu deveria ser um herói, ou fingir um. Usei a lógica de: Se a magia, antes existente nas histórias infantis realmente existe eu também posso. Parece bobo, mas na época aquilo me deu forças para sair correndo desesperado para falar com meu tio. Eu não tinha dinheiro para pagar uma viagem de cocheiro até o distante vilarejo onde ficam as montanhas que esse povo se esconde. Outro problema era contar para ele que vi um deles aqui. Ninguém vê esses caras por aí, são tão reclusos que só soube que eram os magos devido o fato.  

Nunca uma viagem foi tão longa, pelo menos até esse dia a caminho da estalagem. O coração palpitava como nunca antes visto. Formulava e reformulava o que eu teria que dizer para meu tio. Eu não poderia chegar para ele e dizer “Tio, preciso viajar para o extremo leste”. Isso era o menos importante, o difícil era alcançá-la, ir ao extremo leste, escalar uma montanha e trazê-la de volta se ainda estivesse viva. Era algo maluco, mas alguma forma fazia sentido na minha mente. Uma coragem inexplicável havia nascido em mim. Eu não era um covarde, longe disso, não teria me candidatado à guarda municipal se não fosse corajoso. Mas coragem não é temeridade, não se pode ter medo de nada. Eu tinha acabado de ver magia fazendo e se desfazendo na minha frente e não sentia medo. Espanto, ansiedade, urgência, fascínio, crise existencial sim, mas medo não se encaixava na gigantesca carga de emoções que estava passando. Ou melhor, meu único medo não era com minha própria vida, e sim com ela. Por favor não a matem, não a matem. A frase daquele homem de “ela é importante para mim” me confortou por um bom tempo, se ela é importante obviamente não ia matar. Pelo menos eu esperava isso.

Fiquei imaginando todo o percurso que deveria fazer até chegar à montanha. “Clichê”, era realmente muito clichê. Parecia uma história que tinha lido na infância...  Os Homens que Procuravam o Ouro da Colina Sangrenta era um dos meus prediletos, era a história da maior missão que o homem já teve, de enfrentar famoso monstro sem forma para poder seguir caminho e conquistar o ouro. A parte do monstro até hoje é discutida se fora real, porque por mais que seja absurdo, a descrição tinha tantos detalhes, tantos detalhes, que caiu na cultura do nosso povo. Estava totalmente imerso nos meus pensamentos quando o cocheiro tinha dito que chegamos. Pareceram duas horas, quando na verdade não passaram de trinta minutos.

Tinha chegado a hora de contar para meu tio tudo o que vi, e revelar os meus planos malucos. Após pagar o cocheiro, girei os calcanhares e fiquei admirando aquela velha estalagem por um bom tempo. Precisava respirar.  Seus detalhes de madeira antiga úmida, provavelmente os dias estavam chuvosos, notava-se pelo tempo frio. A placa estava caindo aos pedaços e a construção não parecia aguentar mais alguns anos. Mas sei lá, eu via algo incrível lá, magia talvez? Dei uma risada e sentei no banco ao lado para poder tentar pensar em nada. Naquele dia estava caindo alguns pingos de chuva, nada que atrapalhasse o movimento do centro da Capital do Reino. É, eu também queria chorar, mas minha mente estava explodindo demais para esse tipo de reação. Passado alguns minutos, desisti de tentar dar um tempo, ou qualquer coisa que seja para recuperar fôlego. Ele nunca vinha, meu coração ainda palpitava muito rápido, o estado de choque somente começou a diminuir agora. Era o suficiente para tentar falar com meu tio. E conseguir pelo menos um cavalo para sair daqui, era o que eu precisava.

 

— Sua amiga foi raptada!? E não falou com os guardas do Colégio?!! — A cara de espanto dele não existia, levou o que eu disse na mais pura frieza.

— Isso tio, um cara chegou, me bateu e conseguiu imobilizá-la. Eu fiquei com… tanto medo — tentei convencer  a mentira, mas parecia que não dava certo — Que saí correndo daquela fortaleza e vim aqui o mais rápido possível.

— Você não é tão idiota assim — Ele me olhava como se soubesse que havia algo a mais —  Vamos ter que alertar a guarda da cidade, ou ao Rei se sua amiga for tão importante. Faremos agora.

— Acho que isso não vai ter serventia alguma — Fui direto. Ele não reagiu muito bem.

— Como assim?! Você tá louco? Vamos agora — Levantou-se da cadeira o mais rápido que pôde e se dirigiu àquela porta com uma brutalidade que não se via todo dia.

Ali era meu limite para alguma conversa normal.

— Tem algo a mais… Sente aí — Ele parou na hora, estático olhando pra mim com medo de falar algo que não vai gostar de jeito nenhum — O homem que raptou a... minha amiga.. era um…

 

Silêncio.

 

— Isso é impossível, você está enganado. Moramos no interior, você não faz ideia como um daqueles fanáticos deve ser. Não se falam deles há mais de dez anos.

— Eu sei que são eles porque… — Fiz um silêncio, porque realmente era inacreditável falar aquelas palavras —  Eu o vi fazendo magia e eu não estou ficando louco.

— Cale a boca e vamos até os guardas municipais — Se virou e abriu a porta rapidamente — Essas suas desculpas ridículas funcionariam há uns 5 anos atrás  

— Não — Eu fiquei imóvel naquela cadeira de madeira que fazia uns barulhos estranhos da idade. Ao que parecia, alí foi quando o meu tio me levou um pouco mais a sério. Minha mãe sempre dizia que meu olhar era o mais intimidador possível.

— Certo — Ele respirou fundo e voltou para a cadeira e colocou as mãos na mesa, apertando contra-ela e fez um silêncio grande com os olhos fechados — O que você viu? Fale de uma vez — Suas palavras eram pausadas, bem pausadas.  

— Magia. Um homem usou magia, igualzinho aos livros que eu lia quando criança — Ele me olhava sério, sem dizer nada — E com essa magia  conseguiu rapta-la e quase me matou.

— Vamos até os guar…

— Tio, CHEGA!!! — Gritei forte e me levantei imediatamente.

— Se você viu ela sendo raptada e não sabe pra onde ela foi… O que vai fazer?  — É, entendi, ele estava achando que eu realmente estava louco, mas tentou lidar comigo assim mesmo.

— Ir atrás deles… No único lugar que eles podem ser achados.

— Só pode tar brincando com minha cara — Suspirou e voltou a se levantar e andar sem direção naquele quarto.

— Tio, eu…

— PORRA! Você me vem que alguma amiga sua que nunca vi foi raptada pelos homens de Zaphyr, que mal aparecem há anos e vai atrás deles? Você tem ideia de quanto tempo demora pra chegar lá?

— É um preço que estou disposto a pagar.

— É… parece que os boatos sobre a loucura ter chegado à nossa cidade eram verdadeiros.

Ele não me escutava mais, tinha que partir de qualquer maneira. Pensava em pedir um cavalo para ele e alguns suprimentos, só que não parecia dar certo. Precisava achar palavras para tentar convencê-lo que estava certo. Ou melhor, nem isso, só que me desse um cavalo e suprimentos por alguns dias, o resto conseguia de algum jeito. O que eu queria era cavalgar à toda velocidade até chegar no monte Zaphyr e buscar minha amada de volta. Ela era tudo o que eu tinha, de verdade, não me dava bem com família, meus amigos pareciam não se importar tanto comigo e o que tinha um laço maior era meu tio. E ele estava lá realmente me considerando louco. E por que não faria isso? Eu acabei de contar para ele que vi Magia se formando na minha frente, qualquer ser com o mínimo de sensatez me levaria para um médico ou me internava logo em um desses lugares onde jogam os loucos e foda-se a vida de cada um.

Tudo bem, talvez ele não chegaria a tanto, somos próximos familiarmente e ele sabe dessa realidade do tratamento de loucos. Entretanto eu não fazia ideia do que faria comigo, que estava julgando de louco. O silêncio no quarto estava ficando cada vez mais insuportável para mim. Eu não gostava de jeito nenhum dessas conversas longas com pais, tios o que fosse, era perda de um precioso tempo. Algo que eu não tinha, sabe-se lá o que estavam fazendo com ela.

Ser chamado de louco, fugir de casa, ir atrás de uma mulher que não me ama mais para enfrentar homens com magia. Será que era um preço alto demais para pagar? Em algum lugar do meu íntimo, naquele momento, falava que não.

— Tio —  Fiz uma pausa — Eu vou embora, queria saber que entendo totalmente você me chamar de louco. Mas… eu preciso ir atr… — Ele me interrompeu com um sorriso no rosto.

—  Eu entendo realmente o que você está passando —  Se apoiou na mesa —  Você deve querer fugir de casa com essa sua namorada ou qualquer coisa que seja, está cansado de sua mãe e seu pai, de mim mesmo e ir embora. Agora você quer a minha ajuda para fugir não é?

 

Aquilo me surpreendeu. E precisei uns segundos para assimilar.

 

— É… tio — Aquele comentário foi tão desconcertante que nem sabia o que dizer.

— Não precisa falar nada, dá pra ver nos seus olhos que está louco para correr atrás dela e levá-la para longe daqui. Bom, já me apaixonei uma vez.

 

Isso não pode estar acontecendo.

 

— Vou te ajudar nisso. Hoje mesmo vou providenciar um cavalo para você… mesmo que isso custe um pouco caro.

Ele demonstrava aquele sorriso forçado. Talvez pra tentar engolir tudo o que eu disse de uma vez sem se importar o quanto absurdo poderia ser. Ou talvez ele realmente acreditava nessa suposição própria. A partir daquele momento não importava mais pra mim. Nada mais importava.


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