50 Tons de Fanfiction escrita por Nymeria


Capítulo 34
[STAR TREK] Outra


Notas iniciais do capítulo

Tema 65: Um triângulo amoroso.
Fandom: Star Trek
Ships: Spock/T’Pring e Spock/Christine
Avisos: Spoilers de Amok Time (episódio 2x01 de TOS)

Quando vi o tema, fiquei na dúvida se deveria ser uma fic COM um triângulo amoroso, sem necessariamente focar nele totalmente (embora também seja ok fazer assim) ou SOBRE um triângulo amoroso, com a história girando totalmente em torno dele. Acabei optando pelo primeiro, já que particularmente costumo achar chatas histórias que giram em torno do triângulo amoroso. Espero que isso conte como desafio cumprido mesmo assim. De qualquer forma, boa leitura! =)



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Christine foi uma das primeiras pessoas a notar que havia algo de errado com Spock. Ela não era nenhuma stalker obcecada, mas a afeição que nutria pelo vulcano fazia com que ele estivesse constantemente sob o olhar dela, seja de admiração ou preocupação, o que era o caso. O fato é que a enfermeira havia notado que havia três dias que o primeiro oficial da Enterprise não comia ou bebia nada e isso a angustiava profundamente. Ela já havia lido certa feita que vulcanos, sob estresse extremo, podiam passar dias e dias sem alimentar-se ou mesmo dormir. Perguntava-se se o seu amado estava dormindo também.

Como se não bastasse a questão alimentar, ela notou que o vulcano andava muito inquieto por algum motivo que ela desconhecia. Ao comentar do assunto com McCoy, ele desconversou, tentando não fazê-la ficar preocupada, mas depois da terceira tentativa, ele admitiu que também achava que Spock estava estranho. Ela estava começando a achar que o vulcano estava doente.

Decidiu então preparar para ele uma sopa plomeek, uma comida vulcana, para ver se Spock se animava e se alimentava pelo menos um pouco. No caminho para os aposentos de Spock, ela encontrou o Dr. McCoy e o capitão Kirk, que também deviam estar preocupados com ele. O primeiro parou-a para ver o que ela trazia. Aquilo era um tanto constrangedor. O doutor, com toda certeza, saberia que a sopa era para Spock, visto que ele era o único vulcano a bordo da Enterprise.

“O que é isso?” perguntou McCoy.

“Oh.” foi tudo o que a enfermeira conseguiu dizer, enquanto o oficial médico chefe observava o que ela trazia em sua bandeja.

“Oh! É sopa plomeek vulcana.” disse Leonard. “E aposto que você mesma a fez. Você nunca perde as esperanças, não é?”

Christine sentiu-se corar, com o doutor expondo sua queda pelo comandante bem na frente do capitão.  Kirk, entretanto, apenas sorriu simpaticamente. Encontrando sua voz, Chapel disse:

“Bem… O Sr. Spock não tem comido, doutor. E acontece que eu notei.”

“Está tudo bem. Pode ir, Srta. Chapel.” disse McCoy e Christine não perdeu tempo em sair dali. Ela tocou a campainha de Spock. A porta abriu-se e ela entrou nos aposentos do vulcano. Ao chegar lá, porém, Spock parecia muito agitado e perguntou-a com aparente irritação.

“O que é isso?” Ele parecia outra pessoa. Seu olhar mostrava uma agressividade, a qual ela nunca vira antes no oficial vulcano. Ela tentou dizer alguma coisa, mas quando ele veio em sua direção, ela achou que o mais prudente era sair correndo dali. Ela pode ou não ter dado um gritinho enquanto fazia isso. Do lado de fora, ainda podia ouvir a voz elevada de Spock dizendo:

“Espionando e se intrometendo! Se eu quiser algo da senhora, eu pedirei por isso!” Todos os tripulantes que passavam no corredor - incluindo o Dr. McCoy e o capitão - estavam  observando a cena. Christine não sabia onde enfiar a cara, ao mesmo tempo que tinha vontade de se esconder. Ela não conhecia esse lado de Spock. Estava assustada, mas mais do que isso, estava muito preocupada. O Sr. Spock não costumava perder o controle desse jeito, pior ainda o perderia por uma gentileza feita à ele.

O capitão e o Dr. McCoy pareciam concordar com ela, pois seus olhares também demonstravam estupefação. Spock respirou fundo e então dirigiu-se ao capitão:

“Capitão, eu gostaria de pedir uma licença. No meu planeta natal.” disse ele. “No nosso curso atual, poderia desviar para Vulcano, perdendo apenas 2.8 dias-luz.”

“Spock, o que diabos significa isso?” Christine percebeu, pelo tom de voz do capitão, que aquilo não era uma exigência de Kirk, mas sim uma pergunta de alguém que estava genuinamente preocupado com Spock.

“Eu já fiz meu pedido, capitão.” retrucou o vulcano impaciente. “Tudo o que eu preciso é que responda: sim ou não.” Em seguida, Spock voltou para o quarto e fechou a porta atrás de si, não dando tempo para que Kirk pudesse, de fato, responder a pergunta.

“Voltem para a enfermaria.” comentou Kirk para McCoy e Chapel. “Eu vou conversar à sós com ele.”

“Vou mantê-lo sob vigilância médica.” respondeu McCoy, seguindo pelo corredor. “Vamos, enfermeira.” Christine o seguiu um tanto contrariada.

“Acha que ele está doente, doutor?” perguntou ela, ansiosa.

“Não sei. Mas ele definitivamente não está normal. Se isso continuar, vou solicitar exame médico completo, quer Spock queira, quer não.” Chapel sabia que, apesar do tom rabugento, o que ele queria realmente dizer era que estava preocupado com Spock e faria de tudo para ajudá-lo. Isso tranquilizou-a um pouco mais.

A tranquilidade, entretanto, não durou muito tempo, pois logo começaram-se as especulações sobre o primeiro oficial e o motivo por trás do aparente estresse dele. Mesmo aqueles que não tinham contato direto diariamente com ele, confabulavam entre si o que poderia estar acontecendo, afinal Spock era um dos oficiais mais importantes da Enterprise. Por meio desses burburinhos, ela soube que o capitão havia alterado o curso da viagem deles para Vulcano. Christine temia que o caso fosse mais sério do que pensara inicialmente, para o capitão ter mudado assim o destino deles. Entretanto, parte de si estava aliviada, pois se Spock estava doente, provavelmente os curandeiros vulcanos saberiam tratá-lo, talvez até mais melhor do que McCoy, visto que eles estavam mais acostumados em lidar com a fisiologia vulcana que o doutor ou ela.

Mais tarde, na noite daquele mesmo dia, Chapel ouviu Kirk conversar com McCoy pelo equipamento de comunicação. Longe dela escutar a conversa alheia, mas a enfermeira notara que falavam de Spock e sua preocupação pelo comandante fez com que ela quisesse saber do que falavam.

“Jim, eu fiz uma solicitação pedindo exame físico completo de Spock. O que ele tem pode ser apenas estresse por não ter trabalhado sem folga por tanto tempo, mas eu prefiro me certificar.”

“Você tem razão, Magro. Eu vou mandá-lo para você.” respondeu o capitão do outro lado da linha.

“Aconteceu mais alguma coisa que eu não to sabendo?”

“O almirante Komack ordenou que retornássemos ao nosso curso para Altair VI porque o presidente de Altair VI quer se inaugurar mais cedo. Com a mudança de curso, não teremos tempo de passar em Vulcano antes. Prometi à Spock que eu o deixaria lá assim que nos livrássemos do compromisso lá em Altair VI, mas alguma coisa me soou urgente no pedido dele, então eu tentei falar com Chekov para saber se havia alguma chance de passarmos em Vulcano primeiro, aumentando a dobra ou sei lá…”

“Deixe-me adivinhar: ele disse que não daria sem que nos atrasássemos.”

“Não.” retrucou Kirk. “Ele disse que já estávamos indo rumo à Vulcano, por ordens de Spock!” O doutor pareceu surpreso. “Ele sequer falou comigo, Bones.”

“E o que você vai fazer?”

“Vou falar com ele mais uma vez. Tentar entender porque ele fez isso… Daí vou mandá-lo pra você examinar e alterar o curso novamente para Altair VI, afinal, são as ordens que recebemos do alto comando da Frota Estrelar.”

“Tá. Eu vou esperá-lo aqui. Boa sorte.”

McCoy fez uma expressão de confuso, Christine achou que provavelmente isto devia-se ao fato de que Spock não costumava tomar decisões de comando pelas costas do capitão. De repente, ele olhou para a direção que Chapel estava e ela fingiu estar ocupada ajeitando os materiais médicos no local em que eles ficavam guardados.

“Enfermeira Chapel,” chamou o médico chefe. Ela olhou para ele. “Spock está vindo aqui para ser examinado. Eu prefiro que você não esteja aqui na hora, talvez com menos pessoas aqui, ele se sinta mais à vontade e coopere.”

“Tudo bem, doutor.” Apesar de concordar, Christine não gostou nada da notícia. Queria poder estar lá para fazer alguma coisa pelo seu amado. Ela manteve-se longe da enfermaria durante os exames, mas tão logo quanto o vulcano foi embora, ela inquiriu ao doutor o que ele descobrira e a verdade a arrasara. Basicamente, McCoy não sabia o que ele tinha, mas as funções do corpo dele estavam todas desequilibradas e que ele morreria dentro de oito dias, no máximo, caso eles não retornassem à Vulcano. Ele não explicou nada além disso para a enfermeira, disse que precisava falar com Kirk urgentemente e saiu apressado da enfermaria. Christine chorou naquele dia. Bastante. Ela lembrava-se bem da ordem dada pelo alto comando da Frota Estrelar. Não poderiam salvar Spock sem desobedecê-la e fazer isso poderia custar a carreira do capitão.

Quando McCoy retornou à enfermaria, Chapel perguntou-lhe ansiosa o que tinha acontecido e o que o capitão lhe dissera.

“Jim foi falar novamente com Spock, mas eu duvido que ele arranque alguma coisa dele.” respondeu o médico. “Spock é uma pessoa muito privada. Até demais, aquele duende!”

Ver o doutor preocupado só fazia com que  Christine ficasse ainda mais nervosa com toda a situação. Não demorou muito para que Kirk aparecesse novamente na enfermaria. A loira ficou sentada à mesa na sala ao lado, fingindo estar usando o computador e torcendo para que o capitão e o Dr. McCoy a confundissem com uma jarra e não a pedissem para retirar-se.

“E então, Jim? Spock lhe disse alguma coisa?” perguntou o médico, assim que o capitão entrou.

“Sim, mas eu o prometi que não contaria a ninguém.” respondeu Kirk. Christine não sabia se ficava preocupada pela situação de Spock ser grave o suficiente para ele não querer contar à ninguém ou aliviada por saber que ao menos para o capitão, ele contou. “Eu pedi que Uhura contactasse o almirante Komack e transferisse para cá. Vou tentar persuadi-lo a nos deixar passar em Vulcano. A enfermeira decidiu que aliviada era uma boa opção agora, visto que Kirk tentaria ajudar.

“Capitão, está fazendo um pedido muito fora do comum.” Chapel ouviu a voz que era provavelmente do almirante Komack - a tela estava virada para Kirk e McCoy - alguns minutos depois.

“Eu estou ciente disso, senhor, mas é de extrema importância.” respondeu o capitão. “O senhor precisa dar-me permissão para desviar para Vulcano.”

“Mas o senhor se recusa a me explicar porque é tão importante.” retrucou o almirante.

“Mas acredite, eu não faria tal pedido-”

“Altair VI é um assunto importante.” interrompeu Komarck. “Aquela região está se organizando, após um longo conflito interplanetário. Esta inauguração vai estabilizar todo o sistema de Altair. Nossa presença é uma demonstração de amizade e força que deixará a situação clara para o Império Klingon.”

“Senhor,” insistiu Kirk. “O atraso será de, no máximo, um dia. Eu não posso acreditar-”

“Kirk, o senhor vai seguir para Altair VI, como ordenado.” o almirante interrompeu mais uma vez o capitão. “O assunto está encerrado. Tem suas ordens. Câmbio e desligo.”

Dizer que Chapel estava arrasada era um eufemismo. Ela sabia que o capitão não poderia desobedecer ordens diretas do comando da Frota Estrelar. Spock morreria e ela o perderia para sempre…

“Bem…” disse o Dr. McCoy, expondo o que ela também pensava. “Então, é isso.”

“Não, não é.” o capitão retrucou, para a sua surpresa da enfermeira. “Eu conheço a situação de Altair. Seríamos uma de três naves estrelares. Muito impressionante, muito diplomático, mas não vital.”

“Não pode ir à Vulcano contra as ordens da Frota Estrelar. Estará em apuros…” disse McCoy. Christine não conseguia mais fingir que estava concentrada em suas tarefas no computador.

“Eu não posso deixar Spock morrer, posso, Magro?” perguntou Kirk. McCoy não discordou. “E ele morrerá se formos à Altair. Devo-lhe a minha vida uma dúzia de vezes ou mais. Isso não vale uma carreira?” Kirk andava de um lado para outro em silêncio. “Ele é meu amigo.” O capitão sentou-se e acionando o comunicador, chamou pelo navegador, na ponte de comando.

“Sr. Chekov… Prepare um curso para Vulcano. Diga à engenharia que eu quero dobra oito ou mais. Quero o máximo que possa dar...”

Christine sorriu e não esperou para ouvir o resto. Precisava contar as boas novas para Spock. Tudo ficaria bem. Ele ficaria são e salvo muito em breve. Ao entrar no alojamento do comandante, Christine o viu deitado na cama e, ao aproximar-se, percebeu que ele estava dormindo. Sentiu vontade de tocá-lo, mas decidiu que o melhor que poderia fazer era deixá-lo descansando em paz e retornar mais tarde.

Enquanto saia, entretanto, ouviu a voz grave do vulcano.

“Srta. Chapel?” chamou-a.

“Sim, Sr. Spock?” respondeu Christine. Ela estava encantada que ele tivesse notado sua presença mesmo dormindo, mas também temia que ele tivesse algum acesso de fúria, como tivera anteriormente. O vulcano, porém, sentou-se e, olhando-a nos olhos disse calmamente:

“Eu tive… Um sonho muito estranho. A senhora estava tentando me dizer algo, mas eu não podia escutá-la.” Christine não sabia porque, mas estava chorando. Talvez fosse o fato dele ter percebido que ela queria dar-lhe a notícia boa sobre o destino deles, afinal, mas talvez ele tivesse finalmente percebido o que ela realmente queria dizer, no fundo do coração dela. Spock levantou-se e Chapel fez menção de ajudá-lo, mas ele dispensou-a com um gesto de mão. Com um suspiro quase imperceptível, ele continuou: “Seria ilógico protestar contra a nossa natureza, não acha?”

“Eu não entendo…” disse Chapel com sinceridade. Ela não sabia onde Spock queria chegar com todo aquele discurso. Será possível que teria percebido os sentimentos dela por ele? A mão direita do vulcano esticou-se em sua direção e, suavemente, Spock limpou-lhe do rosto a lágrima que escorria nele. Ele nunca havia tocado-a antes.

“Seu rosto está molhado.” observou ele.

“Eu vim dizer-lhe que estamos a caminho de Vulcano.” Chapel apressou-se em dizer o que tinha vindo para contar-lhe, a mente ainda distraída pela sensação do toque delicado de Spock em seu rosto. “Estaremos lá em apenas alguns dias.”

Spock assentiu.

“Vulcano.” disse ele, de repente. A enfermeira não podia mais suportar aquela situação e decidiu seguir seu caminho, tentando não chorar novamente. Agora ela achava que talvez estivesse chorando de alívio em saber que apesar de toda a sua preocupação pelo vulcano, ele iria ficar bem ao final.

“Srta. Chapel?” Spock a chamou novamente. Ela parou e disse:

“Meu nome é Christine.”

“Sim, eu sei, Christine.” respondeu o comandante. Era a primeira vez que ela o ouvia chamar-lhe pelo primeiro nome e aquilo parecia música aos seus ouvidos. “Poderia fazer-me um pouco daquela sopa plomeek?”

“Oh, eu ficaria muito feliz em fazer isso, Sr. Spock.” respondeu Chapel sorrindo. E ela realmente estava feliz. Spock, que anteriormente não queria vê-la “se intrometendo” em seus assuntos, estava agora dando-lhe uma brecha - ainda que pequena - para entrar em sua vida e ela iria aproveitá-la ao máximo. Aquilo poderia ser o começo da história deles, iniciada por um momento trágico. Situações assim costumam unir as pessoas e Christine jamais reclamaria se esse fosse o caso dela com Spock.

A enfermeira nunca dedicara-se tanto ao preparo de uma sopa. Aguardava com ansiedade, em frente a Spock, que a degustava, para saber se ele gostara.

“E então?” perguntou ela.

“Obrigado, Srta. Chap-, Christine.” corrigiu-se. “O sabor dessa sopa plomeek está muito agradável e diria que bastante similar à que tomei da última vez que estive em meu planeta natal.”

“Oh, obrigada, Sr. Spock.” respondeu ela.

“Estive analisando meu comportamento nos últimos dias e concluí que não fui muito lógico. Eu a tratei de forma rude e mal educada e a senhora não merecia isso.” disse Spock. “Por isso, quero que por favor, aceite as minhas sinceras desculpas.”

“Desculpas aceitas, Sr. Spock.”

“Já que eu devo chamá-la de Christine, quando não estivermos em serviço, nada mais justo que a senhora me chame apenas de Spock, sob as mesmas condições, não concorda?”

“Só se esquecermos o senhor/senhora também.” respondeu Christine ousadamente.

“Justo, Que assim seja, então.” respondeu o vulcano. Christine estava regozijando, não imaginara que fosse um dia ser tão próxima de Spock, mesmo que não tivesse ocorrido nada entre eles ainda. Ela tinha esperanças de que, aos poucos, pudesse derrubar essa muralha que Spock construíra entre eles. Depois que Spock fosse para Vulcano e fosse tratado por lá, eles teriam inúmeras oportunidades de se aproximarem ainda mais.

Suas esperanças, entretanto, caíram por terra quando, adentrando a ponte de comando para falar com o Dr. McCoy, que estava lá. Havia um silêncio no ar e um quê de expectativa.

“Doutor, o que está acontecendo?” perguntou Christine, curiosa. McCoy fez sinal com o dedo indicador para que ela fizesse silêncio.

A tela principal, que antes estava preta, começou a tomar-se de cores e então apareceu uma bela mulher vulcana, a julgar pelos traços, formato das sobrancelhas e orelhas.

“Spock?” Christine ouviu a voz da outra chamando o primeiro oficial. “Sou eu.” Pelo visto, eles se conheciam.

“T’Pring.” Spock pronunciou o nome da mulher, confirmando a teoria de Christine. “Separada de mim, mas nunca distante. Nunca e sempre tocando e tocada.” Aquilo parecia uma poesia, mas soava íntimo demais para um vulcano. Soava íntimo demais para Christine. “Nos encontramos no lugar marcado.”

Spock marcara um encontro com essa moça? Quando? E quem era ela? Essas eram as perguntas que Christine fazia a si mesma, mas não ousava quebrar o silêncio mais uma vez, não quando todos estavam quietos como um túmulo e o Dr. McCoy já havia pedido que ela aguardasse silente.

“Spock. Separado de mim, mas nunca distante.” T’Pring disse, repetindo o que Spock lhe dissera antes. “Nunca e sempre tocando e tocado. Eu o espero.”

“Ela é adorável, Sr. Spock.” Uhura foi a primeira a falar, assim que a transmissão acabou. “Quem é ela?” Christine agradeceu aos céus por Uhura ter feito aquela pergunta.

“Ela é T’Pring,” respondeu o comandante. “minha esposa.”

Chapel não estava surpresa, ela estava chocada. De todo os problemas que ela pensou que poderia enfrentar ao apaixonar-se por Spock, este era o último em sua lista, se é que chegava a entrar na lista. Ela pensara sobre ele ser um vulcano, que pensa mais logicamente, pensou sobre ele ser mais fechado e menos suscetível a demonstrações de afeto, mas jamais pensou que talvez ele pudesse ser casado, por mais que ela o achasse o epítome da beleza. Como ela poderia sequer imaginar que um homem que resolvera viver sua vida pautada na lógica e nunca nas emoções fosse casado? A única coisa que a consolava, se é que havia algum consolo, de fato, para isso, era o fato de que todos ali pareciam igualmente chocados, até mesmo o Dr. McCoy e o capitão, que eram amigos do comandante.

Christine ardia-se de ciúmes, pensando naquela bela mulher cuidando do homem que amava, porém precisava conformar-se pois o que estava feito, estava feito. Ela sabia que normalmente vulcanos casavam-se para toda a vida, não havia nada que ela pudesse fazer a respeito, a não ser tentar esquecer o seu amor não-correspondido.

Quando Spock desceu ao planeta, Kirk e McCoy o acompanharam. Ela ficou esperando para ter notícias dele, mesmo sabendo que não deveria sequer estar pensando mais nele. Ele era um homem casado. Mas ela ainda o amava e ainda preocupava-se com ele, então antes de dizer adeus para sempre, ela queria ao menos ter certeza de que ele agora estava bem novamente e tinha voltado ao seu normal. Os três tripulantes da Enterprise passaram algumas horas no planeta, sem mandar nenhuma notícia, até que McCoy entrou na enfermaria, juntamente com o capitão Kirk. Ele estava ferido e desacordado.

“O que aconteceu?” perguntou Christine, preocupada. “Ele está morto?”

“Não,” respondeu o doutor. “Apenas desacordado. E eu tenho aqui a solução ideal para acordá-lo.” McCoy injetou a solução no braço do capitão, enquanto ela tratava-lhe o ferimento do peitoral. “Ele deve acordar em alguns minutos.” disse McCoy, quando terminaram. “Vamos deixá-lo descansando um pouco.”

Começaram a ajustar os documentos pendentes do setor, até que Christine não conseguiu mais conter a curiosidade e perguntou:

“Como foi que ele se feriu desse jeito?”

“Spock.” disse o médico chefe. Ela o olhou intrigada e surpresa. “Longa história, mas já está tudo resolvido.”

“E onde está Spock?”

“Ele logo virá.”

Como se tivesse sido invocado, o vulcano apareceu na enfermaria. McCoy e Christine olharam para ele. O doutor a impediu de aproximar-se mais do comandante, embora ela nem tenha se apercebido que o fizera.

“Doutor, eu me demitirei imediatamente, é claro.” começou Spock, antes que qualquer um deles pudesse falar algo. Como assim se demitirá?

“Spock-”

“Então eu ficaria grato se fizessem os arranjos finais.” continuou o vulcano, ignorando o chamado.

“Spock, eu-” tentou novamente McCoy, mas fora interrompido mais uma vez.

“Doutor, por favor, deixe-me terminar. Não existe nenhuma desculpa para o crime que cometi. Eu não pretendo oferecer defesa alguma.” Por trás do comandante, Christine pode ver que o capitão acordara e aproximava-se dos três sorrateiramente e sorriu para eles. Christine sorriu levemente também. “Além disso, ordenarei que o Sr. Scott assuma o comando desta nave imediatamente.”

“Você não acha que deveria checar comigo primeiro?” perguntou Kirk. Spock virou-se imediatamente.

“Capitão…” Podia ser impressão de Christine, mas o tom de voz de Spock indicava surpresa. “JIM!” exclamou o vulcano e aquilo definitivamente fora um sorriso. Christine nunca vira Spock sorrir antes. Seu coração batera descompassado no peito, enquanto ela tentava lidar com aquilo de forma lógica, como diria o próprio Spock. Ele é casado…. Christine forçou-se a lembrar. Ca-sa-do! Pare de pensar nele desse jeito. Mas seus lábios estavam curvados num enorme sorriso que ela não conseguia tirar do rosto. Ver Spock sorrir provocara isso nela, ela percebeu.

Spock tentou, é claro, manter a compostura, fazendo cara de nada, enquanto dizia:

“Estou…” Ele olhava para Christine e McCoy e deles para Kirk. “contente em vê-lo, capitão. Não parece estar ferido. No entanto, não estou entendendo.”

“Culpe McCoy.” explicou Kirk. “O que ele injetou em mim nunca foi um composto tri-ox. Ele me injetou um paralisador neural. Ele me derrubou. Morte simulada.”

“De fato.” respondeu Spock, erguendo as sobrancelhas. Era estranho e ao mesmo tempo delicioso vê-lo com tantas expressões faciais.

“Enfermeira, você se importa, por favor?” aquele era o jeito educado de McCoy pedir que ela saísse, pois queria falar à sòs com seus amigos. Christine não tinha direito de contestar isso, então saiu sem dizer uma palavra. No entanto, a curiosidade falou-lhe mais alto que a boa educação, portanto ficou ouvindo ao pé da porta o que os três diziam.

“Spock, o que aconteceu lá em baixo? A garota, o casamento?” perguntou McCoy. Christine estava confusa. Então Spock não era casado?”

“Ah, sim, a garota.” respondeu Spock. “Muito interessante. Deve ter sido o combate. Quando eu achei que havia matado o capitão, perdi todo o interesse em T’Pring. A loucura se foi.”

Christine não entendera metade daquela frase, mas focara sua mente na parte mais importante: Spock não estava mais com aquela moça vulcana e isso era tudo o que ela precisava saber. Saiu dali rapidamente, antes que um dos três resolvesse sair dali ou alguém chegasse e a visse escutando a conversa dos outros. Talvez ela devesse fazer novamente a sopa plomeek para seu comandante, já que ele gostava tanto. Ou quem sabe, ela pudesse tentar fazer-lhe um chá dessa vez. Muitas ideias surgiam pela frente, ao passo que suas esperanças foram renovadas.


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Notas finais do capítulo

Eu mantive boa parte do diálogo original do episódio nessa fic, mas tentei mostrar as coisas do ponto e vista de Christine Chapel. Embora a história não gire em torno do triângulo amoroso Christine/Spock/T’Pring, eu espero ter passado um pouco essa sensação de triângulo e de rivalidade amorosa (através dos ciúmes de Christine com Spock e T’Pring) através dessa fic. E mais ainda, espero que vocês tenham gostado de lê-la tanto quanto eu gostei de escrevê-la. Não deixem de me contar, caso tenham, vou adorar saber. Abraços e até o próximo capítulo! o/



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