Bruce costumava sair com muitas mulheres, mas não costumava criar vínculos emocionais com nenhuma delas, talvez por isso sua falta de tato quando as coisas saem do campo estritamente físico. Como se não bastasse sua falta de habilidade em manter relacionamentos duradouros, Diana era totalmente diferente de qualquer mulher que ele já conhecera. Ela era forte, mas também muito sensível e cheia de empatia pelas pessoas. Ela era corajosa e não tinha medo de falar a verdade. Talvez por ter essa imagem tão durona da princesa de Themyscira, ele não pensasse que pudesse ser capaz de machucá-la - não fisicamente, isso nunca, mesmo que ele quisesse (o que ele não era o caso), Diana era definitivamente mais forte que ele, mas emocionalmente.

No fundo, ele sabia que a princesa estava apenas preocupada com as consequências que poderiam ocorrer se eles trouxessem o Superman de volta, mas as coisas que ela dissera-lhe eram apenas verdades e isso o irritava. Vivendo numa ilha paradisíaca por tantos anos, Diana cresceu acostumada com a verdade, mas esta era uma coisa que algumas vezes doía. Bruce, no momento da raiva, queria que ela sentisse isso também, entretanto quando a amazona o empurrou, com uma expressão de dor e mágoa no olhar, como quem diz: “Por que você mencionou Steve?”, ele imediatamente arrependeu-se do feito.

No fundo, ele sentia um pouco de ciúmes do soldado, se ele fosse ser sincero consigo mesmo. Porque ele passou pela vida de Diana, foi amado por ela e mesmo após uma centena de anos, era evidente que ela ainda não havia o esquecido. Steve Trevor fora um homem de muita sorte.

Bruce respirou fundo e decidiu que, mesmo que ele não fosse assim tão sortudo quanto o espião, ele iria tentar a sorte e falar com Diana. Precisava pedir-lhe desculpas. Esperava apenas que ela o escutasse e não quisesse fazer picadinho dele, coisa que não daria trabalho nenhum para a princesa.

Seguiu até os aposentos da amazona e, pela porta entreaberta, avistou-a afiando sua espada. Talvez não seja a melhor hora de me aproximar dela, pensou. Mas a mulher parece ter sentido sua presença e naquele exato momento, olhou em direção à porta e o viu.

“Bruce.” seu tom demonstrava que ela ainda estava magoada. “O que quer aqui?”

O homem morcego olhou discretamente para a espada que a morena ainda tinha em mãos e, percebendo o olhar do mesmo, pôs a espada de lado.

“Posso entrar?” perguntou o detetive.

“Pode.” respondeu Diana. “Embora eu não acredite que tenhamos nada para conversar.”

“Então apenas me escute.” respondeu Wayne.

“Muito bem. Sou toda ouvidos.”

“Eu sinto muito por ter usado a carta Steve Trevor na nossa discussão.” Bruce foi direto ao assunto. “Eu sei que você só estava pensando no melhor para o planeta, quando expôs sua preocupação com relação ao que vamos fazer. Eu não tinha o direito de cutucar essa ferida, Eu sei que você o amava. Eu não sei o que se passou pela minha cabeça.”

“Homens tendem a ser irracionais quando ferimos-lhe o ego.” retrucou a amazona. “Eu só estava tentando ajudar, sabe? Eu realmente acho que não foi culpa sua Clark ter morrido.”

“E ao invés de agradecê-la pelo conselho e suporte, eu resolvi magoá-la. Me desculpe. De verdade.”

“Tá tudo bem…” respondeu a morena, cabisbaixa. Bruce sentiu que podia aproximar-se sem provavelmente levar um soco e foi isso que ele fez.

“Eu sei que não está.” disse ele, abraçando-a delicadamente. “Eu fui muito insensível com você. A verdade é que eu nunca tive antes um amor duradouro assim, eu sempre fui muito solitário… Você devia amá-lo muito para guardá-lo na memória por todos esses anos.”

A Mulher Maravilha suspirou. Ela sentou-se na cama, Bruce sentou-se ao seu lado, ainda com um braço em volta do ombro dela.

“Nós vivemos esse amor pelo que agora me parece ter sido apenas alguns instantes. Ele se foi rápido demais… E eu não pude fazer nada.” disse Diana. “Eu fico me perguntando todos os dias porque ele não me deixou entrar naquele avião. Eu teria sobrevivido, provavelmente. E mesmo que não tivesse, preferia ter sido eu a ele. Sabe o que ele me disse?”

“O que?”

“Que ele poderia salvar o hoje, mas eu poderia salvar o mundo.” ela sorriu melancolicamente. “Acho que ele já havia visto no que eu poderia me tornar, antes de mim mesma.”

“Ele me parece ter sido um cara bastante inteligente.” respondeu Bruce.

“E era... Acima da média.” Diana riu novamente, como se houvesse lembrado de alguma piada que só ela e Steve compartilhavam.

“Ele era um homem de sorte também.” completou Bruce, vendo aquele sorriso da amazona e sentindo o coração bater aceleradamente. Ele amava Diana, não podia mais negar isso. Pelo menos, não para si mesmo.

“Sorte? Ele morreu na guerra, Bruce. Eu não consideraria isso sorte.”

Talvez ainda fosse muito cedo para usar a palavra iniciada com A com ela. Mas Diana sempre fora uma mulher que prezava a verdade, talvez ela não saísse correndo. Decidiu arriscar.

“A sorte dele não foi ter morrido.” disse Wayne. “Mas ter vivido, ainda que por um curto período de tempo, ao seu lado, amar e ter sido amado por você.”

Diana olhou-o nos olhos e seu olhar suavizou-se quando ela percebeu todo o afeto que emanava do cavaleiro das trevas em sua direção.

“Bruce…”

“Eu tenho inveja dele.” admitiu o detetive. Silêncio preencheu o ambiente por alguns segundos, e então ele completou: “Me desculpe por ter trazido-o à tona durante uma briga. Juro que nunca mais vou fazer isso.”

“Já passou…” respondeu Diana e ele sabia que era verdade, pois ela nunca mentia. “A verdade é que você, de certa forma, tem razão. Uma parte de mim vai sempre amar Steve e sentir pela morte dele. Mas sentir inveja dele não é necessário. Há um lugar no meu coração reservado pra você também.” A amazona acariciou levemente o rosto do colega de liga. “Sempre haverá.”

Não resistindo aquela proximidade daquela mulher, como o próprio nome diz, maravilhosa, somada àquelas palavras, Bruce aproximou sua face da princesa e beijou-a. Sentiu-a corresponder, enquanto parecia que uma corrente elétrica passava pelo seu corpo, trazendo-lhe vida e ânimo novamente.

“Poderíamos sair pra jantar qualquer dia desses.” comentou Bruce.

“Como um encontro?” perguntou a princesa de Themyscira.

“Sim. O que acha?”

“Eu adoraria.” respondeu ela sorrindo. Bruce sabia que provavelmente estava com um olhar de bobo apaixonado no rosto, naquele momento, mas pela primeira vez, ele não se importava com isso.