As Redfield: O Leão, A Feiticeira e O Guarda-Roupa escrita por LadyAristana


Capítulo 6
Capítulo 6




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Capítulo 6

Digory Kirque conhecia mais que bem a expressão de Sofia. O canto direito dos lábios formando uma covinha de sorriso mal contido, os olhos baixos porém brilhantes e as sobrancelhas levantadas tão sutilmente que qualquer um que não conhecesse a menina desde pequena jamais notaria. A expressão que ela fazia quando descobria algo especialmente interessante sobre algo ou alguém.

O professor arqueou uma sobrancelha para a sobrinha de sua melhor amiga. Ele sempre tivera grande carinho por Sofia e Clarissa, por suas personalidades distintas ainda que parecidas em tantos aspectos. Eram garotas inteligentes e espertas, cada uma à sua forma. Ele admirava a presença de espírito de Sofia e a ousadia determinada de Clarissa, características incomuns de meninas tão novas.

Deu um sorrisinho para a garota e sinalizou a cadeira diante de sua escrivaninha.

— Você sabe de algo. Algo muitíssimo interessante. E mal pode conter a informação, então diga de uma vez, querida Sofia. – Kirque incentivou com um olhar franco.

— Você já foi a Nárnia. Com tia Polly. – Sofia finalmente falou, um sorriso afiado crescendo em sua face.

— Muito bem observado. Como descobriu? – o professor compartilhou o sorriso de sua pupila.

— A história que você e tia Polly sempre contavam para nós. A menina e o menino são vocês. – Sofia compartilhou. – O tio louco era o Sr. Ketterley que morava aqui quando eu era pequena. O leão falante que cantava era Aslam. A bruxa má era a mulher que se diz rainha de Nárnia. E o fauno me contou uma história parecidíssima com uma Lady Polly e um Lorde Digory.

— Perceptiva. Estou orgulhoso. – Digory pitou seu cachimbo satisfeito. – Então as mocinhas andaram se metendo em confusão?

— Clarissa sempre está se metendo em confusão. – Sofia compartilhou uma leve risada com o professor. – E eu não chamaria a situação toda de “confusão”. É uma palavra normal demais para isso, não acha?

— Evidente que concordo com você, querida Sofia. – ele concordou recostando-se em sua cadeira. – Me conte, o que achou de Nárnia?

— Hmm... É difícil explicar com objetividade, professor. – a menina respondeu com o cenho franzido. – É um sentimento quase sagrado. Eu poderia descrever como “amor à primeira vista”, mas seria terrivelmente banal dizer isso a respeito de tudo o que aconteceu.

— Pois saiba que entendo perfeitamente o que diz, minha cara menina. – o professor sorriu tomado de nostalgia. – Nunca perca esse sentimento.

— Não acho que seria possível. – Sofia sorriu.

— Muito bem. Agora, volte para a cama. – o professor mandou acenando gentilmente. – E tenha certeza de que o menino Pevensie mais novo não aborreça Clarissa. Prefiro evitar brigas dentro dessa casa. Dona Marta ficaria louca.

— Claro, professor. Boa noite. – Sofia acenou retirando-se.

A semana que se seguiu entre este e o próximo incidente envolvendo o guarda-roupas foi incrivelmente tristonha apesar dos dias lindos e do sol brilhando lá no alto – coisa que todo bom britânico aproveitaria dada a raridade de dias ensolarados na Inglaterra.

Nada demovia Lúcia de seu firme propósito de não falar absolutamente nada além do necessário com seus irmãos mais velhos, tão profundamente magoada havia ficado por terem escolhido acreditar no mentiroso do Edmundo.

Clarissa ficara tão aborrecida com tudo aquilo que caíra numa apatia que preocupava até mesmo D. Marta e Edmundo, visto que a menina conhecida por ser uma hábil enxadrista não queria nem sequer olhar para o belo jogo com peças de marfim que o professor lhe dera.

Sofia estava mortalmente preocupada com as duas meninas. Tão preocupada que não conseguia dormir ou comer direito. Orava a Deus e orava a Aslam – quem quer que a ouvisse – para que aquilo passasse. Além disso, desejava profundamente voltar a Nárnia, que não dera as caras desde então.

Pedro e Susana preocupavam-se tanto com a própria irmã quanto com as duas garotas Redfield, que não pareciam nada bem.

Edmundo era o mais normal do grupo de crianças. Ao menos, era normal por fora, porque tudo em que conseguia pensar era em como queria comer mais daquele manjar turco.

Na tarde de sábado, Sofia estava sentada ao piano sem encostar nas teclas que eram normalmente suas boas amigas. Na verdade, estava mais preocupada em observar Clarissa, sentada do outro lado da sala e olhando pela janela de forma tão melancólica que faria qualquer um querer chorar. Nenhuma criança de dez anos deveria estar triste daquela forma.

Estava tão concentrada em observar a irmã que só notou que Pedro havia sentado ao seu lado quando ele começou a tocar – ainda que um pouco desajeitado – as primeiras notas de Nocturne, uma valsinha de Chopin.

— Se ela souber que você está olhando, nunca vai demonstrar como está se sentindo. – Pedro murmurou, de forma que apenas Sofia ouviu, sua voz sendo encoberta pela música. – Lúcia também é assim. Então aprendi a disfarçar.

Sofia não fazia ideia do que fazer, mas começou a tocar uma versão alguns tons mais agudos das notas para acompanhar Pedro. Ela estava surpresa com a aproximação, tendo em vista o quão estranhas as coisas estiveram entre todos desde aquela noite.

— Obrigada. – ela murmurou simplesmente, mantendo os olhos baixos num esforço para não corar e nem chorar. Não sabia se tinha algo para falar de verdade, tendo em mente que Pedro carregava parte da culpa de Clarissa e Lúcia estarem daquele jeito.

— Na outra noite... O professor disse que eu devia acreditar na Lúcia. – o rapaz voltou a falar, em parte porque precisava desabafar com alguém que soubesse como pesava a responsabilidade de ser “o irmão mais velho” e em parte porque sentia que havia magoado Sofia, e esse era um sentimento horroroso do qual queria se livrar. – E eu queria muito... Mas não sei como, porque já causei todo o estrago e ela não fala comigo de jeito nenhum.

— Vai passar. Eu espero. – Sofia disse o olhando brevemente. Percebeu que Pedro e Susana estavam tão preocupados com as pequenas quanto ela. Ponderou falar mais alguma coisa, e o que falar caso decidisse que o faria, mas foi poupada do trabalho por D. Marta, que que entrou de forma nada discreta acompanhada de Susana, Edmundo e Lúcia, nenhum dos quais tinha uma cara particularmente boa.

— Vamos, vamos! – ordenou a governanta fazendo sinal com as mãos para que os outros levantassem. – O sol está brilhando lá fora e quero todos brincando lá fora! Essa casa precisa de algumas horas de paz!

Pedro e Sofia compartilharam um breve olhar, e Clarissa bufou audivelmente revirando os olhos antes que se juntassem aos outros e seguissem D. Marta silenciosamente em direção aos estábulos enquanto a mulher discursava – sua voz como unhas num quadro negro – sobre a importância do ar livre e de gastar energia e os indicava para um velho par de tacos de críquete e uma bola que nem de longe parecia apropriada para o jogo.

— Eu não quero jogar. – Clarissa anunciou assim que foram deixados sozinhos e moveu-se para a árvore mais frondosa que viu por perto, sentando-se na sombra.

— Eu também não. – Lúcia murmurou revirando o livro que tinha nas mãos antes de juntar-se à amiga.

Os quatro que restaram entreolharam-se desconfortáveis e a primeira a mover-se foi Susana.

— Eu vou ser a wicket-keeper. Pedro, você arremessa. Edmundo tem braços de espaguete e Sofia tem a pior mira do mundo. – a menina falou entregando a bola para o irmão mais velho e os tacos para o irmão mais novo e a melhor amiga. – Ed e Sof, vocês se revezam como rebatedores. Quem vai primeiro?

Normalmente, Sofia era o tipo de pessoa que ofereceria que o outro fosse primeiro, mas dado o estado lamentável das pequenas, ela não se sentia particularmente predisposta a ser gentil com Edmundo. Então permitiu-se só um pouquinho de mesquinharia – apesar de saber bem que se tia Polly visse aquilo, ganharia para si mesma um doloroso puxão de orelha, porque no fundo todos nós sabemos quando estamos fazendo coisas que nos renderiam algum castigo da parte dos nossos pais.

— Eu vou! – ela exclamou girando o taco com habilidade na mão e dando um ligeiro sorriso da cara de espanto que arrancou dos outros três. Na verdade ninguém nunca tomaria Sofia por boa em esportes.

Edmundo normalmente objetaria quanto a Sofia ir primeiro, mas estava tão focado em bolar um plano para voltar a Nárnia e levar os irmãos e as outras duas que se contentou em dar de ombros e deixar Sofia jogar.

Saíram do estábulo para uma localização aberta num ponto que ficava exatamente entre o casarão e a árvore sob a qual Clarissa e Lúcia liam. Sofia se posicionou onde o terreno era mais firme, Susana atrás dela, e Pedro se afastou alguns passos para um arremesso decente.

Edmundo ficou uns passos atrás de Susana, tentando copiar o movimento que Sofia fizera de girar o bastão ao redor do punho – talvez fosse mais fácil com o típico bastão de basebol americano que é cilíndrico e tem ponta arredondada, tornando-o mais aerodinâmico, mas o bastão de críquete era achatado de ponta quadrada, sendo assim mais desengonçado – e falhando miseravelmente a cada nova tentativa.

— Tem certeza que quer ir primeiro? – Pedro perguntou lançando a Sofia um sorriso torto e divertido de provocação amigável.

— Colocando em termos simples: se a equipe de críquete de St. Finbar aceitasse garotas, você não seria mais o capitão. – Sofia respondeu no mesmo tom com um meio sorriso espertinho, firmando os pés no chão, flexionando um pouco os joelhos e erguendo o taco sobre seu ombro direito, oposto ao que estava voltado para Pedro. – Faça seu pior, Pevensie!

O rapaz riu um pouco incrédulo e definitivamente impressionado, deu alguns passos para trás, calculou a trajetória da bola relacionado ao peso da mesma – que era um pouco mais leve que uma bola de críquete padrão -, correu os passos que havia recuado e arremessou a bola.

Sofia foi surpreendentemente ligeira, girando o bastão – que era pesado e desengonçado – em um arco de 130° graus, acertando a bola em cheio e a mandando voando por cima dos galhos mais baixos da árvore de Clarissa e Lúcia, um borrãozinho vermelho contra o céu azul que aterrissou alguns metros para a esquerda das pequenas.

Susana arqueou ambas as sobrancelhas, dividida entre impor à própria voz um tom cético ou impressionado quando falou:

— O quê mais eu não sei sobre você?

— Eu falo francês fluentemente. – Sofia respondeu com um sorrisinho divertido, rodando novamente o taco ao redor do pulso enquanto observava Pedro ir buscar a bola, de forma que não percebeu o grunhido frustrado de Edmundo ao ver novamente o movimento que não conseguia imitar de jeito nenhum.

— Isso eu suspeitava. Você tem um tio que mora em Paris, se bem me lembro, não é? – Susana sorriu. Ela sim tinha visto a frustração de Edmundo e se continha para não rir da cara do irmão.

Sofia assentiu, espremendo os olhos para o sol.

— Onde você aprendeu a fazer isso? – Pedro perguntou rindo incrédulo quando voltou de ter recuperado a bola.

— Meu pai me ensinou, antes de... – Sofia deu de ombros e houve uma troca de olhares desconfortáveis que a menina já tinha muita experiência em driblar. – Sua vez, Edmundo.

O garoto fez uma breve careta e trocou de lugar com Sofia, que para aliviar o leve clima tenso começou a falar com voz de locutor de rádio:

— É um belo dia ensolarado em Yorkshire Dales, na região de North Yorkshire, e tudo indica que teremos mais uma bela partida do Campeonato Nacional de Críquete. – ela compartilhou uma breve risada com Susana antes de continuar. – Nunca em muitos anos se viu uma competição tão acirrada, irmão contra irmão, pois o rebatedor Edmundo Pevensie, que substitui a titular Sofia Redfield, terá de enfrentar a estrela do time adversário, o arremessador Pedro Pevensie.

— Meu Deus você é tão pateta às vezes, Sofia! – Susana negou com a cabeça antes de voltar a prestar atenção no jogo.

A Redfield limitou-se a rir encolhendo os ombros e prestando atenção na próxima jogada de Pedro, que lhe lançou uma piscadela antes de prosseguir com a narração ele mesmo:

— E Pedro se prepara para mais um grande arremesso! – a bola foi lançada, e acertou Edmundo em cheio bem no quadril.

— Ai! – reclamou o garoto, que não podia bem culpar o irmão, já que era ele quem estava distraído no mundo da lua. Ou, mais precisamente, no “mundo do Manjar Turco”.

— Opa! – Pedro riu, se aproximando um pouco enquanto Susana se abaixava para recolher a bola. – Acorda, Bela Adormecida!

— Por que não brincamos de pique-esconde outra vez? – Edmundo perguntou, os olhos espremidos contra o sol, enquanto Susana arremessava a bola de volta para Pedro com uma mira absolutamente impecável, devo acrescentar.

O olhar de Sofia imediatamente moveu-se para Lúcia e Clarissa, que lançaram um olhar magoado na direção do garoto mais novo e voltaram a sua leitura de forma extremamente passivo-agressiva.

— Você não disse que era jogo de criança? – Pedro perguntou com um levíssimo tom de sarcasmo voltando ao seu local de arremesso.

— E aqui, podemos brincar ao ar livre. – Susana argumentou com um sorriso mais compreensivo. Sabia muito bem que a atitude de Pedro não melhoraria em nada o comportamento de Edmundo.

— Não acho a menor graça em ficar aqui fora. – Edmundo respondeu a irmã. – Não é como se não tivesse ar lá dentro.

— Bom, não te ajuda o fato de que alguém arruinou pique-esconde pro resto do verão. – Sofia falou com um olhar incisivo pra Edmundo. Sabia que estava sendo mesquinha e malvada, mas simplesmente não podia evitar. Não depois do que Edmundo fizera.

Edmundo torceu o nariz para a garota e revirou os olhos antes de voltar para sua posição de rebatedor.

— Está pronto? – perguntou Pedro tirando uma folha de grama da bola, tudo para evitar encarar o irmão.

— E você? – o menino devolveu batendo o taco no chão duas vezes e o mantendo bem apoiado para alguma estabilidade na hora de rebater. Um conceito um pouco errado, tendo em vista que a grama acabaria segurando um pouco o taco e causando que o movimento todo se tornasse muito mais desajeitado.

Dessa vez, Edmundo estava prestando muita atenção quando Pedro – parecendo se utilizar da força de toda a raiva que estava sentindo do irmão mais novo – arremessou a bola. Nunca na história daquele pobre e velho conjunto de críquete houve um rebate mais desastroso.

Pedro, Susana e Sofia já tinham expressões preocupadas ao assistir o trajeto da bola, mas foi o som de vidro quebrando que atraiu as atenções de Lúcia e Clarissa.

Edmundo não apenas conseguira acertar a bola em uma das janelas do casarão, como também conseguira acertar em cheio um dos brasões da família Kirque, quebrando-o para fora de seu lugar na janela. Mas o pânico de nenhum deles foi completo até ouvir o som de algo despencando lá dentro.

Trocaram olhares desesperados por um momento, Clarissa e Lúcia se juntando aos mais velhos, mas ninguém ousou dizer nada de tão chocados que estavam.

Foi necessário que Sofia e Susana se encarassem por meio segundo antes que largassem o conjunto de críquete por lá mesmo e corressem para dentro da casa, sendo logo seguidas pelos outros.

Lúcia e Clarissa foram as últimas a chegar no cômodo onde os mais velhos encaravam sem saber o que fazer da janela quebrada à armadura medieval espatifada no chão.

Por um momento, a Redfield mais nova considerou sorrir triunfante e malvada, pronta a delatar Edmundo para D. Marta – talvez até acrescentando algumas cobras e lagartos à história – até que percebeu que D. Marta sendo quem era, provavelmente arrumaria um jeito de culpá-los todos pelo desastre mesmo que a culpa fosse de Edmundo e só dele.

— Eu não acredito, Ed. – Pedro balançou a cabeça, estreitando os olhos para o irmão.

— Você quebrou! -Edmundo devolveu inclinando-se para frente, os braços esticados e as mãos fechadas em punho.

— Estou bem certa de quem rebateu a bola foi você. – Clarissa disse casualmente como se comentasse sobre o tempo.

— Você nem estava olhando! – o garoto mostrou a língua para a menina.

Clarissa estava prestes a meter-lhe o braço quando, vinda direto de seus piores pesadelos, a voz ríspida da governanta os alcançou:

— O que é que está havendo aí em cima?

Todos se voltaram em pânico na direção da porta antes de Sofia e Susana exclamarem em uníssono, a primeira em tom de medo e a segunda em tom de aviso:

— Dona Marta!

— Venham! – Pedro apressou após um segundo, correndo pelo lado oposto de onde a voz de D. Marta havia vindo.

Foram correndo do jeito que dava pela casa, e alguns corredores depois, Edmundo acabou na frente de todos e parou em uma porta, um plano de repente se formando em sua cabeça. Finalmente conseguiria seu manjar turco! Talvez quebrar a janela e espatifar a armadura não tivesse sido tão ruim no fim das contas.

— Não pare! – Sofia apressou quase atropelando Lúcia, que quase atropelara Clarissa, que estava nos calcanhares de Edmundo. Susana quase colidiu contra as costas da amiga.

— Espera! Não! – Edmundo exclamou passando no meio do pequeno engarrafamento humano e voltando pelo corredor de onde tinham vindo. – Por aqui! Por aqui!

Na hora do desespero, ninguém pensou muito bem, só foram seguindo Edmundo. As passadas de D. Marta pareciam sempre mais e mais perto não importava o caminho que tomassem naquele casarão que poderia muito bem ser um labirinto.

Subiram e desceram escadas, deram com becos sem saída, tudo para no fim das contas irem parar no único lugar onde ninguém (fora Edmundo) queria ir: a sala do guarda-roupas.

Fecharam a porta atrás de si, e Edmundo correu na direção do armário, abrindo a porta.

— Entrem! – o menino exclamou como se os outros fossem idiotas de ter desacelerado o passo.

— Só pode ser piada! – Susana reclamou com um olhar incrédulo. Ninguém sabia ao certo o que dizer ou fazer, mas quando ouviram o som dos passos duros de D. Marta a decisão de entrar no famigerado guarda-roupas pareceu ser unânime.

— Vai! Vamos! – Pedro sussurrou dando um toque na irmã caçula e apoiando a mão na lombar de Sofia, que empurrava a própria irmã para dentro.

Apinharam-se dentro do guarda-roupas, Edmundo mais no fundo, seguido por Susana, que apoiava as mãos nos ombros de Lúcia e Clarissa, que estavam logo atrás de Sofia, que espiava por sobre o ombro de Pedro quando ele semicerrou a porta do móvel.

O mais velho do Pevensie sabia – assim como você provavelmente também sabe após a incessante repetição dessa frase – que era grande estupidez fechar-se dentro de um guarda-roupas.

— Pra trás! – o rapaz comandou, de olho no tricô da porta da sala vazia e uma balbúrdia teve início.

— Ai meu pé!

— Calma!

— Minhas costelas!

— Não empurra!

— Não pisei no seu pé!

— Puxou meu cabelo!

— Vai devagar, Lúcia!

— Ai, está me machucando!

— Ei! Meu cabelo de novo!

— Querem parar de me empurrar?

— Vai pro lado um pouco!

— Abaixa a cabeça, Sofia!

— Ai! Minha cabeça!

— Para de empurrar!

— Ai, cuidado!

— Ai!

Os três mais velhos caíram sentados em um pequeno monturo no “fundo” do guarda-roupas.

Isto é, se o fundo do guarda-roupas espetasse suas nucas e tivesse o chão frio o molhado.

Susana e Pedro olharam para trás embasbacados e Sofia sorriu enquanto se desenroscavam uns dos outros.

Lá, bem diante deles, o mais real possível, estava Nárnia.

***

 


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Notas finais do capítulo

Me tornei aquilo que eu mais temia: a autora enrolada que demora décadas pra postar e bota a culpa na faculdade.

Dessa vez eu tenho algumas pessoinhas a agradecer pela inspiração!

Primeiro de tudo à minha priminha (minha Pimentinha, Coisinha, Criancinha, os apelidos variam de acordo com a brincadeira) que tem 8 aninhos de idade que em um momento de tédio me pediu para que eu contasse uma história e eu – em um gesto arriscado – resolvi contar o enredo de O Leão, A Feiticeira e O Guarda-Roupas. Você, amorzinho da minha vida, se apaixonou por Nárnia e amou essa história tanto quanto a sua prima bobona e eu, depois de dez anos, vivenciei novamente aquele sentimento de primeiro amor. Nossa diferença de idade é bem maior, mas eu posso dizer sem sombra de dúvida alguma que você sim é a Clarissa para a minha Sofia.

Segundo, devo agradecimentos sem fim às narnianas do Fawsley Team. O ponto alto da minha vida tem sido falar de Nárnia, fazer piadas de peixe, chamar o Sirius de Caspian – e o Caspian de Sirius – e planejar nossas aventuras e desventuras no “FawsleyVerso” com vocês.

E por último – mas de maneira nenhuma menos importante – a todos vocês meus leitores queridos que não desistem de mim mesmo que eu demore décadas para atualizar essa fanfic. Saibam que, assim como vocês não desistem de mim, eu também não desisto de vocês e nem de Sofia e Clarissa. Eu sei da minha demora e só posso dizer que tenho dado meu extremo melhor em cada capítulo para que todos saiamos dessa experiencia um pouquinho mudados. Eu amo vocês com todo o meu coração!

E obrigada por virem à minha palestra!

Beijos de luz, Shazi!



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