Hoje começo a fazer algo. Não posso ficar parada diante do que está acontecendo na empresa. Essa Joana não pode ficar impune, pois seu preconceito é um crime dos piores!

Agora que tenho um salariozinho fixo, finalmente abandonei aquele meu tijolinho. Comprei um celular bom e um cartão ainda melhor, de 256 gigabytes, parceladinho em 24 vezes no boleto da Casas Brasília, uma loja bem longe das pessoas que conheço. Ninguém precisa saber do parcelamento. Sei que os juros vão quase dobrar o valor da compra, mas vou fazer bom uso deste cartão.

Ah, pode acreditar!

*

— Até que enfim chegou, né?

Olho para o relógio antes de bater meu ponto, e são oito horas e dois minutos. Passo minha digital e vou para o armário guardar minhas coisas. Menos o celular, que coloco em silencioso, modo avião e deixo no meu bolso ligado. Joana não tira os olhos de mim enquanto passo diante da estátua viva loira.

— O café já está gelado, sabia?

Ela está ao lado da máquina de café, de braços cruzados.

— Pode fazer outro e levar pra mim, na minha sala. Não demore.

Outra jovem que trabalha aqui fica em silêncio, de olhos baixos, concentrada em seu trabalho. Ela estava na mesma entrevista que participei, por isso creio que ela foi a contratada para aquela vaga anunciada no jornal.

Passo a manhã toda servindo Joana e Samira, aquela outra jovem. Embora eu esteja a ponto de explodir, mantenho a calma e faço meu trabalho com dedicação. Vez ou outra passo o braço no rosto para limpar uma lágrima, quando ninguém está vendo. Até finalmente a hora do almoço.

— Tá contente hoje, hein, Dixie! — Joana diz com um sorriso desdenhoso. — Já sei, é porque tem banana frita hoje na cantina, né?

Finjo não ter ouvido e sigo para a cantina.

— Ei, Ariana? Como você consegue se manter calma… assim?

Samira vem comigo até a cantina. O lindo lenço rosa que cobre seus cabelos é bem chamativo.

— Não tem nada que eu possa fazer, quem tá com problema é ela. Não eu. E também, logo, logo ela vai pagar por tudo.