Medellín escrita por Sorvete Ed Sheerano


Capítulo 4
Ato 4


Notas iniciais do capítulo

Admito que iria postar de tarde, mas como eu nem me distraio fácil, e possuo Peixes como terceiro Ascendente mais fluente, eu me distrai assistindo os piores participante do America’s Got Talent (os melhores, as tretas...), resumo de quando não se há nada pra fazer na tarde de uma adolescente além de estuda, o que eu obviamente esqueci. ♥



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Oh Pai me diga

Nós recebemos o que merecemos?

Ladeira abaixo nós vamos

Você deixou seus pés correrem livremente

O tempo passou enquanto caíamos

Ohh antes da queda

Você teria coragem de olhá-los bem nos olhos?

Porque eles vão te perseguir

Até a escuridão

Sim e eles vão perseguir você

Até você cair

E eles vão te perseguir

Até o seu interior

Até que você não possa mais rastejar

E ladeira abaixo nós vamos

ladeira abaixo nós vamos

Diga ladeira abaixo nós vamos

Porque eles vão te perseguir

Até que você está preso

Ohh ladeira abaixo nós vamos

Way Down We Go - Kaleo

Sexta feira, 17 de Fevereiro de 2014

4:25 A.M.

Washington D.C., Estados Unidos

Três horas.

— Eu não acredito! – as paredes parecem um quando mosaico: batidas, whisky, vinho, vodca, cerveja e Absinto.

— Se você parar de lançar garrafas talvez teríamos mais rápidos em acha-los. – Plagg pode estar bêbado, salvou algumas garrafas.

— Achei – o loiro se levanta da mesa e vai até o sofá, o notebook cinza nos braços – Eles estão por perto.

A menina deixa a garrafa de aguardente na mesa de centro e corre para o sofá, o líquido preso na boca lutando para descer.

— Como conseguiu? – pergunta o italiano se colocando atrás do sofá, a cabeça entre os dois.

O rosto branco esquenta. – Decorei a placa.

— Ela comprou o carro há pouco e... – Mari olha dentro dos olhos verdes, sorri – Você grampeou o carro!

Ele arregala os olhos, tossindo em seguida – O que?! Eu não...! – ela ergue uma sobrancelha. – Eu grampeei... – a base do pescoço atinge o escarlate.

Ela sorri novamente. Um riso estranho e meio fanho, os lábios repuxados até demais fazendo o Coringa sentir inveja.

— Vão vocês procurá-los, - Plagg soluça, segura o vômito de álcool. – estou bêbado demais para atirar em alguém que não seja eu mesmo. – arranca os sapatos, o pé direito atrás do esquerdo e troca. 

— Você vai ficar aqui? – a garota pergunta, as sobrancelhas levantadas.

— Não confia em mim, gatinha?

— Não.

Os dedos do loiro criam uma nova sinfonia ao se chocarem contra os teclados do Notebook de última geração, ele é o maestro.

Seus ouvidos bloquearam o som dos dois ao seu lado. O objetivo agora é conseguir rastrear o carro por completo, uma nota mental de conferir se seus pertences estão no porta-malas do seu carro. Colete a prova de bala; Colt; facas; bateria de computador; garrafas extras de Absinto.

Não muito longe, três quilômetros de distância. Entrada da estrada principal e perto de uma floresta local qualquer.

— Mari, pega o que precisa. – fecha a tampa do computador brutalmente, quase saltando do sofá como um gato.

O que eu preciso mesmo é da minha mão na cara da minha prima.

Sexta feira, 17 de Fevereiro de 2014

4:45 A.M.

Washington D.C., Estados Unidos

“- Sabe que vai ter que falar comigo em algum momento, não sabe?

— Sei, e até lá eu vou fugir de você.”

— Sabe que vai ter que falar comigo em algum momento não sabe?

A aflição aumenta, quase que tomando o espaço do carro por completo. O air-bag estourando e os sufocando, e mesmo assim ela não respode.

Ela não fala. Nenhum manifesto. Nenhuma expressão.

Suas mãos conferem a M1911 em seu colo antes de encontraram o formato cilíndrico do volante, a atenção total na estrada. A mente em sua família.

Depois da morte do seu pai Sabine coordenou milhares de peças teatrais que compunham sua vida como curta metragens, se maquiou para esconder as lágrimas e o rosto inchado pelas múltiplas insônias. Tikki já tinha idade o suficiente para viver emancipada, arrumou dois trabalhos para sustentar a pequena irmã: de manhã, antes do colégio, trabalharia em uma farmácia onde adolescentes desesperadas procuravam pela pílula do dia seguinte; de noite seria garçonete em uma lanchonete duas quadras longe de sua casa térrea simples. Sua mãe nesse período desventurava a Europa, arrumava namorados vinte anos mais novos, colocava silicone e seus Botox sempre em dia, vivia com a aposentadoria e a remuneração do defunto do seu marido. Vivia em uma mentira, sabia muito bem que não aguentaria a verdade.

Com dezoito anos a irmã mais velha decidiu se alistar junto com os garotos de sua sala, tinha essa escolha. Por sorte não foi mandada para guerras e se interessou pela máfia que era a criação de armas, afinal, estava em seu sangue desde o momento que viu a arma de seu pai descansando na mesa de jantar. Decidiu fazer Educação Física e foi ser comissária na Nasa aos vinte e cinco anos, deixou sua irmã que terminava o Ensino Médio aos cuidados da tia mais próxima. Era enfermeira e solteira, Marinette aprendeu sozinha – e com pilhas de panelas queimadas – a como viver só para si e não dependia dos outros, muito menos da prima que se esgueirava pelas noites na qual a mãe estaria ausente para ficar no aconchego do namorado, no qual viria a ser falecido esposo. Overdose.

A mais nova virou garçonete em uma das baladas mais movimentadas de Washington, foi a partir dali que conheceu o álcool e as drogas, o sexo viria alguns meses depois. Perto do seu aniversário de dezesseis.

Perdeu a conta de quantas vezes sentiu o coma alcóolico ao seu lado ou parou no hospital pelas drogas, sentia quase que prazer com agulhas em seu corpo, efeito da Heroína.

Com dezoito anos ela engravidou, um cara qualquer depois do evento especial de Dia Dos Namorados. Na semana seguinte estava segurando a mão da prima enquanto deitava em uma maca de Hospital, um obstetra parrudo com as mãos no meio das suas pernas e o gelado das garras que retiravam o pequeno Ser de dentro dela.

Se envolveu em uma briga de gangue onde acabou baleada e foi induzida ao coma durante poucas semanas, ali foi o ponto final para sua vida vagabunda. Sem mais trevos, sem mais LCD’s, sem mais maconhas ou cocaínas, sem mais heroína ou cafeína. Queria viver por mais fodida que sua vida fosse.

Faz o caminho do rastreador, a ideia de que sua prima faz parte de uma das gangues mais perigosas da atualidade faz seu estômago revirar. Eram inseparáveis. Eram inquebráveis. Eram.

Seu pé encontra o freio. Uma forte luz amarela reflete em suas pupilas e o calor derrete as portas maciças do carro importado. A ideia de ter que cuidar do seu sobrinho a aflige.

— Ah merda! – o loiro engasga, larga o Notebook no assoalho do carro, sua meta é alcançar Mari antes que seu corpo se contorça em uma dança horripilante.

— Alya! Alya! – grita sua prima, o peito ardendo como o Porsche Esportivo da morena.

Adrien tropeça em seus pés agarrando a menina em seus braços, as veias saltadas apontam o esforço de segurar a menina de setenta e poucos quilos em seus braços, ela é puro músculo e Absinto. Os olhos verdes angustiados percorrem a cena quente, não há vida e nem resquícios dentro do carro, o lado de fora é tomado pela gasolina vazada e o fogo que cresce cada vez mais com beleza e sensualidade. Seu corpo quer desabar e chorar pela, talvez, morte de sua melhor amiga antes que aviste um bloco em chamas.

— Mari, para! Calma, não é ela! Não é ela, Marinette. – puxa a menina a contra gosto até um tronco de carvão, o cheiro é bem doce e um pouco azedo como Peru de Natal esquecido no forno. Até o Ano Novo.

Marinette procura lágrimas dentro de si para derrubar. Está seca. Seca como o corpo em sua frente.

Ele se abaixa e, com o que restou do para-brisa, vira o que antes era um rosto para o lado direito, podendo se ouvir o que lembra uma bolacha sendo esmagada, foi a cervical.

Ali, com as asas recuadas, há uma borboleta mais escura que o normal.

Rámon...

Recua caída no chão, as pernas a empurram até o para-choque do carro. O cheiro parece estar instalado em suas roupas, seria seu novo perfume a partir de agora: a culpa de uma pista queimada.

— A-Adrien... – sua respiração se torna ofegante, uma crise.

Sente como se estivesse novamente naquele galpão vendo Juleka e Kim ficando aos poucos sem os membros do seu corpo; primeiro as unhas, depois as falanges, mãos e pés, os antebraços e pernas, braços e coxas. Cada um teve um fim, um água e o outro fogo. Tudo isso sob as vistas dela.

Lentamente a mão direita encontra sua cintura e aperta o braço contra sua barriga, é um choro sem lágrimas e apenas soluços, queria seus pais com ela e sua irmã fazendo piadas sobre os antigos dentes tortos dela. Queria a prima a levando para comprar seu primeiro absorvente e a primeira camisinha, queria a tia a levando em cinemas e parques nos finais de semana. Queria a mãe exibindo lindos sorrisos enquanto cozinhava seus doces maravilhosos em uma das melhores restaurantes de Pâtisserrie do bairro. Queria jogar vídeo game com seu pai depois de rondas noturnas como policial civil. Queria uma mente estável.

Fecha os olhos por um momento, mesmo não seguindo nenhuma religião ela reza. Os soluços se fundindo em seu rosto como aço e as palavras preditas como mantra em sua língua, sacode as pernas e finalmente as lágrimas escorrem.

Adrien, relutante, abraça a menina. Massageia os cabelos escuros, o pé direita treme no chão como um tique, um alerta para sua ansiedade e o remédio esquecido daquela manhã. O coração aperta ao ver sua garota encolhida e soluçando, tantos sentimentos em uma só lágrima, ela não sabe nem o exato motivo para estar chorando; talvez seja a morte de Ramón mesmo que tenha sido o cara que fodeu seu psicológico e era um bandido, era um alguém e viu seu corpo carbonizado em posição de defesa. O que não adiantou muito.

— Cadê ela, Adrien? – pergunta. Por um momento foi mandada de volta a sua infância vivida ao lado da prima, desaparecida por agora.

— Eu acho que já sei...

Sexta feira, 17 de Fevereiro de 2014

12:25 P.M.

Washington D.C., Estados Unidos

Mal dormiu. Mal pregou os seus olhos em uma madrugada de sono. Sete horas na inércia seria muita coisa.

Suspira, desenrola os braços pesados dele de sua cintura e se levanta com uma leve tontura. Vista escura e quente, deveria saber que sua pressão abaixaria em resultado de apenas álcool e uma barra de chocolate branco forrar seu estômago.

Que merda você fez, Alya?! — seu celular parece ter virado uma extensão do seu corpo, a blusa azul dele veste seu corpo e os óculos foram pegos emprestados.

Procura uma calcinha nas gavetas mognos, seus dedos correm entre seus fios e os leva até o alto da cabeça. A brisa de chuva a embala até a varanda, puxa a poltrona branca, se joga no estofado com o celular preso nos dedos machucados pelo asfalto úmido e quente de ontem.

Os olhos não desprendem da tela do celular; dez, vinte, trinta, quarenta  minutos.

— Ainda chapada? – olha por cima de seu ombro e, por um momento, sentiu nojo de si.

Quando Adrien a agarrou pelos ombros e a enfiou dentro do carro ela chorou, muito, pouco se fodendo de ter alguém vigiando seus passos e, principalmente, suas lágrimas. Ele até tinha tinha perguntado se queria companhia ou sexo, a conhecia muito bem para saber que era isso que ela queria. Viu Plagg em sua cozinha, descamisado, procurando o que comer em sua geladeira.

“- Escuta aqui, você é joaninha? Não tem nada pra comer que não seja planta?”

E houve.

— O que aconteceu não sai daqui! – ela se levanta em direção ao banheiro, esbarrando em seu ombro de propósito.

— Uou, garota. Calma aí, aqui não é Vegas.

Ela revira os olhos, deixa sua mão pousar na madeira polida. Em um meio círculo, tenciona os músculos das costas e a empurra até o batente, só se ouve a madeira e a risada do homem italiano de trinta e três anos.

— Caralho Marinette, você é muito burra! – se despiu em frente a banheira.

O corpo nu esnoba da água com gozação e a usa em seus membros sujos da noite passada.

“- Mas e o Adrien?

— Só cala a porra da boca, Plagg!

Ele a joga na cama, as roupas dançam no chão ao som dos suspiros e gemidos dos dois. Estão, com toda a certeza, bêbados. A cama balança embalando os dois animais sedentos pela noite, sugou seus suores e os embalou no cansaço.

— Mais, Plagg! – finca suas unhas compridas em suas costas e o ajuda com as investidas em seu quadril.

— Che cazzo!”

Seus dedos parecem pele de bebê recém-nascido, enrugados e sensíveis. Os machucados ainda estão lá, um pouco piores, havia prometido para ele que cuidaria do que agora há pus e sangue formados em uma casca. Puxa uma toalha felpuda e um vermelho tão escuro quanto os seus cabelos.

— Burra! Estúpida!

Desce as escadas com cautela, como se não confiasse em suas próprias pernas bambas, os nós dos dedos prendem a ponta do pano como se fizesse parte do seu corpo, os cabelos com as pontas úmidas. O piso de carvalho americano esquenta as solas dos pés molhados, o caminho para a cozinha não é muito longe, muito menos onde está o seu remédio.

— Eu sou muito burra... – pega uma caneca de alguma série qualquer. Pode ser a torneira mesmo.

Joga a pequena pílula contraceptiva dentro da boca, bem em cima da língua, um grande gole na água gelada cobre sua boca e leva o comprimido para baixo.

— Nessa eu vou ter que concordar... – escuta uma voz atrás de si e, automaticamente, agarra o cabo da faca no escorredor e gira seu corpo, atirando-a na direção do intruso em sua casa. Achava que Plagg já havia ido embora.

Arregala os olhos e o corpo desvia sem muita dificuldade. – Adrien? Mas que porra! – coloca a caneca na pia funda, vira seu corpo para o homem com os braços apoiados no mármore negro.

Adrien arranca a faca da parede e o coloca em cima do balcão, os olhos vermelhos, a fungada e os lábios entreabertos.

— Você devia devolver a camisa do Plagg. Não é legal pegar ônibus sem camisa. – levanta os olhos para ela, respirando fundo, prendendo o verde no azul.

— Você... Adrien, não... – avança dois passos, ele recua dois.

— Arruma suas malas, sei onde Alya está. Vamos pra Colômbia, Medellín.


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