Medellín escrita por Sorvete Ed Sheerano


Capítulo 5
Ato 5




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O relógio AP ficando louco, meu Rolex ficando doido

Estamos transando com gostosas, ela quer ter meus bebês

Bebendo coquetéis, corrente tão fedida

Você deveria ver o carro, juro que posso pegar sua mina

Dolla dirigindo uma Chevy clássica, é um conversível

Saindo com uma puta, ela vai me chupar

Só estalar os dedos e eu posso fazer ela sentar (ei)

Uh, levo você para a loja de cigarros

Nós vamos ficar chapados, vamos fumar um Rodeo

Ligue no Valentino, vamos para o Pico

Te levar pra onde eu vim, te levar pra favela

Isso não acontece da noite pro dia, não, esses diamantes são realmente brilhantes

Jeans da Saint Laurent, mas ainda calçando Vans

Todos os diamantes, colocarei num colar pra você

Garota, você está linda essa noite

Estrelas no telhado, elas combinam com a joia

Psycho – Post Malone feat. Ty Dolla $ign

Quarta feira, 20 de Dezembro de 2002

7:00 P.M.

Alabama, Estados Unidos

Uma.

Duas.

Três.

Finalmente se escuta um pequeno choro, mais parecido com um miado de gato.

— Eu quero ver! – a negra estica sua mão fraca até o meio das pernas.

— Ele é lindo... – diz a garota mais nova sorrindo com o pacote nos braços, está sujo de sangue e resquícios de vernix. – Mesmo estando bem nojento! – ela só tem quatorze anos, mas sabe que esse é o momento mais feliz da sua vida junto com a prima. – Le petit Eric.— a prima, autodenominada como tia, sussurra, os lábios repuxados em um grande sorriso.

A mãe recebe o filho com orgulho. Haviam combinado de serem mães juntas, aos trinta e cinco anos quando já se encontrassem casadas e bem sucedidas, isso se a camisinha não tivesse estourado. Ela não conseguiria um aborto.

Deixa os dedos caminharem pelo rostinho agitado do bebê, as lágrimas descem seus olhos e batizam a testa de Eric gloriosamente, é como se dessem as devias boas-vindas ao mais novo Dupain-Cesaire da família.”

Segunda feira, 19 de Novembro de 2013

9:30 P.M.

Washington D.C., Estados Unidos

Alya entra no seu carro, a raiva correndo como lava em seu sangue, líquido e quente. Muito quente. Gruda suas mãos no volante, a Cheng mais velha está no meio do jardim bem cuidado, algumas lágrimas colorem o rosto pálido da menina ruiva, vão em direção ao solo na intenção de regarem o jardim. Ela grita, sozinha, no carro que a leva para o colégio do seu filho. O teve sozinha, se casou aos dezenove com Marcus que na época tinha vinte e cinco.

Se fechar os olhos, pode se lembrar das chicotadas que as mãos ásperas e pesadas do marido faziam em seu corpo. Se deixar seus dedos correrem pelo corpo irá sentir cada cicatriz tatuada em sua pele escura, que gozam de sua sanidade cada vez que são expostas. Não se divorciava, tinha medo de perder seu filho ou a situação piorar, as ameaças providas dele poderiam ser realizadas.

Tinha limpado a casa, das janelas até os talheres fajutos de Bazar de esquina, estava com Eric nos braços, o pequeno estava cheirando a saliva e urina, era uma mulher só que não estava conseguindo conciliar tudo em sua vida. Colocou a banheira no suporte de ferro pintado recheada com a água morna e sabonete líquido de cheiro agradável, algo mais como Aloe vera, naquela tarde recebeu a visita da polícia local. Seu marido caminhoneiro havia sido encontrado morto com um carregamento de cocaína e heroína, overdose. Não soube dizer se foi o dias mais feliz ou mais triste de sua vida.

Para o carro no portão do colégio do filho, os porteiros de idade com pele marcada e cabelos grisalhos logo se disponibilizam a ajuda-la a manobrar o carro. Sorri, os coturnos batendo contra o cimento queimado das escadas, caminho de tábuas de madeira postas uma ao lado da outra, cortando o jardim cheio de brinquedos.

— Alya? – é abordada antes mesmo de chegar á recepção.

Os cachos acompanham o movimento da cabeça, o corpo magro e com poucas curvas tenciona os músculos, os olhos brilham e se arregalam. O homem negro sorri para a mulher, os olhos castanhos se fecham quase por completo e as covinhas aparecem no meio de suas bochechas, tem o violão pendurado em suas costas, carrega em mãos uma grande caixa de discos de Vinil, meia suja com algo parecido com graxa, ou tinta das capas. Led Zeppelin, Queen, Kiss, Bom Jovi, Amy Winehouse, Pinkfloyd, David Bowie e Madonna.

— Hey! Isso deve estar pesado. – comenta, esticando seu dedo e apontando a unha vermelha em direção à caixa.

Ele dá de ombros – Nada que eu já não esteja acostumado. – ela revira os olhos mel.

— Deixa que eu te ajudo – se aproxima do homem tomando a caixa de seus braços.

— Alya, tá pesado! – avisa, procurando os olhos da mulher.

Alya ergue uma sobrancelha, o tom de preguiça.

— Nino, sério? Logo eu?  - ele para, como se se lembrasse de algo. Por fim, sorri e se afasta, as mãos erguidas ao lado de sua cabeça.

— Ah é, esqueci que é body building. — brinca, os olhos se fechando conforme o sorriso se abre.

Alya sorri amarelo, deitando sua cabeça ligeiramente demonstrando desconforto. Pela segurança dos dois não podia falar que era uma agente, ainda mais uma agente do FBI caçadora de serial killers, demorou para conquistar a confiança do negro e não seria pro um descuido que arruinaria com isso.

— Creio que ainda lembra onde é a sala de música... – ri, cutucando a costela da mais velha.

— Fica tranquilo que a minha memória é bem boa! – e entrou novamente em território perigoso.

Os dois andam lado a lado, sempre sendo observados, até pelas paredes da escola pública. Diriam que namoravam, até que seria pai de Eric  pela semelhança e o carinho que ele tem pelo menino de doze anos amante da música clássica.

— Eric vai ir embora? – perguntou o homem, abrindo a porta da sala cheia.

— Precisamos sair hoje, ele tem médico. – outra mentira

— Ah, okay. – queria dizer algo, ele queria. Mas não podia, ela não podia escapar. – Vou chama-lo, e obrigado. – puxa a caixa de discos dos braços da mulher.

Nino some pela porta e é recebido por gritos e, muito provavelmente, abraços e crianças pulando no colo do homem. Consegue imaginar o negro sorrindo, deixa a caixa longe das crianças e as cumprimentando com os braços apertados em volta dos seus corpos, as risadas como trilha sonora. Sabe que Nino é meio hippie, gosta da praia e acampar em Puget Sound, toca vários instrumentos de melodia tropical e ama seu ukulelê, surfar faz parte dele assim como assistir ao pôr-do-Sol na baía de Elliot, é seu passatempo favorito.

De longe, uma distância de quase dez pés, vê o corpo gordinho do seu filho correr entre as prateleiras cheias de instrumentos, os olhos brilhando e o sorriso contente. Sempre foram apenas os dois, Eric não havia conhecido o pai e Alya só o via feliz assim nas aulas de música. Não apenas pelo professor, mas o menino cantava. Aprendeu piano com a “tia”, quando a mesma estava sóbria e limpa das noite de gozo em seu corpo, todas as noites de jantar dos Dupain eram ocupadas pelas notas melodiosas soltas pelo gigante de madeira e cantigas francesas providas de Marinette e o sobrinho-primo.

— Mãe!

Abriu seus braços e passou pelos ombros do menino no mesmo momento que ele agarrou sua cintura.

— Oi meu amor. – sorri, abaixa o rosto levemente e deposita um beijo marcado na bochecha suada do menino. – Vamos? Se despeça do seu professor, Eric. – por mais que seja ótima em mentir e omitir, não esconde o nervoso ao lado do homem seis anos mais velho.

O negro sorri, passa os braços por cima do ombro do garoto e beija o topo da cabeça de cachos ralos, ela só sabe acompanhar o movimento dos lábios grossos e carnudos.

— Eu vou estar aqui quando quiser me contar a verdade.

Sexta feira, 16 de Janeiro de 2014

8:30 P.M.

Washington D.C., Estados Unidos

— E depois? – ela ri, limpando o vinho de seus lábios com o guardanapo de pano vermelho, tão escuro quantos os olhos dele.

— Ah, eu tive que continuar o show, por mais que eu estivesse coberto por cerveja e cheio de arranhões. – coloca os talheres de lado, ela bebia tanto que ele poderia jogar a vela da mesa, protegida pela cúpula redonda de vidro, em seus lábios e vê-los dançar e brilhar.

— Mas a moça foi expulsa do bar? – se aproxima da mesa, os cotovelos apoiados e as sobrancelhas arqueadas. Ela está jogando o jogo dele.

— Mais ou menos. – solta uma risada nervosa nasalada – Dei um jeito depois.

Alya respira fundo. Poderiam estar em algum filme do Al Pacino sem dificuldades, todo o suspense e a desconfiança entre o casal, a perna descoberta e o pé calçado em um Scarpin Louboutin Pigalle de solado vermelho alisando a perna do homem. Mas não. Dentro do seu sapato, na lateral, há uma grande e afiada lâmina, no interior da coxa da mulher tem sua companheira de combate: sua linda Tokarev TT.

— Bom, ela parecia, muito mesmo, ser sua fã. – beberica o vinho doce, uma pontada em seu ego.

— Isso não teria acontecido se você estivesse lá. – leva seu corpo para trás até encontrar o encosto da cadeira, algo brilhoso escapando de dentro do terno.

Ela sorri. Em todos os quase dez anos de FBI aprendeu a ser caçador, ela e a prima possuem um tal lema inspirado na aranha Viúva Negra: enganar o alvo, e logo depois, devorá-lo. Aprendeu também a ler o comportamento dos suspeitos, com a ajuda do livro de John Douglas, Mindhunter, e principalmente esconder os seus.

Adrien a chama de raposa, após uma missão complicada. O cara parecia um fanático por Robert Hansen e decidiu continuar com a caçada do homem que começou, não foi difícil atraí-lo. As vestes de poliéster da mini saia e uma blusa de flanela qualquer a ajudou a correr entre as árvores, o guiando para sua toca, ele achava que era o caçador. Antes que pudesse notar, Alya já estava em volta dele com sua pistola em mãos, em volta deles os seis carros do FBI e SWAT os encurralando. Ela era uma raposa, não uma prostituta.

— Isso diz que precisa de guarda costas. – ri, cruza suas pernas lentamente.

Nino para a taça no ar, um olhar sério e malicioso. – Eu não preciso, querida. – ri e leva a taça em seus lábios. – Isso seria a última coisa. – o vinho molha sua boca como sangue.

Nino Lahiffe tinha um borboleta em seu punho.


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