Para: Mike escrita por João Cheshire


Capítulo 1
Outono


Notas iniciais do capítulo

Este capitulo sera um capitulo de inserção e apresentação, e lembrem, a a narrativa muda conforme a evolução do personagem.



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Hoje em dia em dia já nem sei quem eu sou...

Já faz um bom tempo que você sumiu, e desde então eu não consegui ser o mesmo, eu tento, mas não consigo, a sua imagem sempre me vem à cabeça, eu sinto falta daquela época, de tudo que a envolve, mas eu não consigo simplesmente superar todo o sentimento de perda que restou quando você foi embora, por isso decidi escrever essas “cartas” pra você, sim a Ana deu essa ideia, mas garanto que pelo menos é tudo aquilo que eu queria que você ouvisse ou lesse.

Eu ainda posso te ver em quase tudo... naquele cantor que você amava, naquele livro que me deu, naquele desenho que você me fez... isso me lembra do primeiro dia em que nos vimos, sei que é clichê, mas lembranças boas é tudo que tenho no momento. Era um dia de semana, eu estava na minha aula de dança “clandestina” que não passava de um bando de meninos que queriam praticar dança mas não tinham o dinheiro ou a aprovação da família. Na época eu tinha uns treze anos, e era realmente uma criança problemática, os problemas de casa e as brigas, todas as circunstâncias me transformaram naquilo, mas você apareceu, você era o oposto de mim e de qualquer um, era compreensivo, gentil, empático, tinha uma família incrível e uma boa casa e condição financeira, era a pessoa perfeita, ou talvez era essa pessoa que você queria que eu visse em você.

Na época nós viramos amigos tão rápido, você era um ano mais velho que eu, mas ainda sim era tão baixinho, eu não entendi muito bem o motivo de você andar comigo naquela época, mas hoje eu entendo. Você me mostrou como a dança podia mudar vidas, e a paixão pela dança que já existia dentro de mim, só aumentou.

E quanto mais o tempo passava, mais eu me apegava a você, e você a mim...

Sempre foi uma amizade forte, até chegar aquele dia. Era julho de 2016, eu estava chateado e deprimido por conta das diversas brigas com meu “pai”, tinha sido aquela vez que eu fui capaz de dizer tudo que eu queria pra ele, fui pra sua casa como de costume, parando pra pensar eu sempre ia lá quando brigava com alguém, você me acalmou, me deu conselhos.

 

Eu podia sentir que poderia confiar em você pra sempre, sentir o cheiro de colônia infantil que seu quarto, ou melhor toda sua casa tinha.Aquela sensação de que alguém estava lá pra mim, era algo extremamente lúdico, algo quase que ficcional.

Tínhamos completa noção do que estava acontecendo, e por isso foi incrível, nesse momento pudemos compreender o que aquilo significava. Nós nos unimos ainda mais, ainda mais, não era mais algo romântico de fato, era algo estranhamente superior, uma espécie de veneração.

Ma tudo isso fluiu de forma muito natural, de forma gentil. E por isso parecia tão certo,mas quando nos demos conta, estávamos precisando um do outro, confiando a vida um no outro, o quão brega isso era não é?

Durante o ano de 2016 todo, eu ia à sua casa com frequência, sempre escondido da minha mãe, que já havia armado diversas brigas por conta dos meus detalhes, eu tinha medo de algo ruim acontecer, mas nós precisávamos disso.

Lembro-me de um dia, que eu fui à sua casa, era uma sexta, minha mãe havia saído pra ir a algum evento da igreja que aconteceria de madrugada e eu estava livre em casa, quando cheguei a sua casa, seus pais também estavam fora e nós chamamos o pessoal para ir lá, nós assistimos séries e bebemos por horas, e eu acabei bebendo muito e tive meu primeiro coma alcoólico (honestamente não sei que merda tinha na cabeça), quando acordei, vimos que já era oito da manhã, então eu corri pra me arrumar e voltar pra casa para minha mãe não ver que eu tinha saído, eu estava tão desesperado, quando cheguei em casa não deu um minuto e ela apareceu, depois disso nós rimos tanto com esse dia... não só com isso, tinham tantos “episódios” malucos que nós passávamos, como no dia em que eu fui parado pelos seguranças do mercado por que você prendeu um daqueles ganchinhos de roupas em mim e esqueceu de tirar, ou no dia em que eu te perdi no meio da multidão no centro da cidade e uma senhora, por um milésimo de segundo pensou que você era uma criança por conta de seus 1,66cm de altura e seu rosto de bebê, no dia em que você foi picado por uma abelha no pé e nem tinha percebido e eu te carreguei nas costas por quilômetros e todo mundo na rua ficou olhando torto mas nós estávamos rindo daquelas piadas horríveis... momentos tão bons, momentos em que eu nunca pensaria que você me deixaria, momentos que eu pensava que nós ficaríamos juntos pra sempre... até chegar aquele dia...

Era um dia comum, acho que era agosto de 2017, eu queria te ver mais do que tudo, todos estavam me irritando esse dia, meu pai havia me chamado pra “conversar” pela milésima vez, minha mãe estava me pressionando cada vez mais pra ir a igreja, e talvez o que me deixou mais triste, eu descobri que a Joyce inventou mentiras sobre mim com aquele pessoal.

Eu tentei falar com você pelo WhatsApp mas as mensagens nem ao menos chegavam, eu tentei te ligar sem sucesso, eu mandava cada vez mais mensagens, te ligava cada vez mais vezes, e meu desespero aumentava a cada segundo... aquilo era horrível, eu estava completamente destruído por conta do meu dia, e nem ao menos você me respondia... eu lembro que estava chovendo muito, eu achei que era impossível você sair nesse dia por conta do seu medo de tomar chuva, eu tentava falar com você e não tinha nenhum resultado, e então em profundo desespero eu corri até sua casa.

Quando cheguei lá estava todo molhado e com muito medo de algo ruim acontecer comigo, eu te chamei... e ninguém respondeu, nem mesmo os cachorros... eu tentei entrar mas era impossível pois estava obviamente trancada, até chequei no vaso de planta do canto do portão baixo se a chave reserva estava lá... e nada...

Isso se repetiu por dias e semanas, sem resposta, sem sinal de vida, sem um adeus digno...

E em alguns meses uma enorme placa de vende-se apareceu um sua casa...

Todas as mil e uma mensagens no Whats App não chegavam a você, e você nem entrava em qualquer perfil de rede social que eu tinha feito pra você...

Logo o desespero tomou conta de mim, eu não sabia onde você estava, e com o tempo eu continuei agir como se você estivesse lá, e sempre que acontecia alguma coisa comigo, por menor que fosse... eu via nós dois nessa situação, depois comecei a idolatrar aquele artista, eu nem gostava das músicas ou do trabalhos que ele fazia, mas ele era muito parecido com você, ou pelo menos o desespero fez parecer mais... e quando caiu a ficha eu pude notar o que estava acontecendo... no inicio eu tive crises graves de depressão e automutilação... mas eu lembrei de que foi você que me ajudou a superar isso da outra vez... e quando eu parei de ter essas crises, eu passei a ver você em quase tudo, a pensar e como seria se você tivesse aqui, eu voltei a me prender a você, minhas notas caíram, eu parei de praticar dança e desenho... eu me afastei do mundo real, e passei a beirar entre a paranoia e o desespero... eu ainda não assimilei o que é real e o que não é.

E eu me encontro nesse momento em um estado completamente seco... 

Eu notei que é ridículo pensarmos que alguém vai estar com você pelo resto da vida... pessoas somem nos momentos em que você mais precisa dela... assim como você fez...


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, se vocês verem algum problema ou má interpretação da história me avisem que eu vou analisar de boas e com calma ok?
Me mandem os erros, seja de continuidade ou ortografia que eu irei corrigir também :))
(emoji de 2009 jogando beijo)



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