Os Cuecas e as Chiquititas escrita por SnowShy


Capítulo 62
Conversas




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Desesperada para reparar o que fez, Sandy mandou várias mensagens de desculpas. Para as pessoas da Dó Ré Music, para os Cuecas e para Bel. A mensagem pra ela foi a mais difícil de mandar, porque Sandy havia sido má diretamente com ela. Por sorte, todos a perdoaram, inclusive Bel. É claro que Bel ia perdoá-la, ela era tão boazinha... A Chiquitita ficou feliz, é claro, mas confessou às irmãs que achava isso um pouco irritante. Pessoas como ela faziam pessoas como Sandy parecerem ainda piores do que realmente eram.

— Ai, Sandy, deixa de falar besteira! — Disse Eleanora. — Você se arrependeu, né? Então tá tudo bem. Só porque a Bel te perdoou rápido, não significa que ela é melhor do que você.

— É, você não precisa comparar o que você faz com o que outras pessoas fazem, só com o que você mesma já fez. — Complementou Janete.

Sandy ignorou os conselhos filosóficos das irmãs e perguntou pra do meio, ainda pensando no evento anterior:

— Como você consegue ser tão calma? Tipo, você tinha bem mais motivo pra ficar com raiva do que eu e conseguiu não ligar pra nada, enquanto eu fiquei lá surtando...

— Eu tentei não ligar. Mas por dentro eu acho que fiquei pior do que você...

— Sério?!

— É, eu percebi que você ficou mal e tava tentando disfarçar — Eleanora disse a Janete.

— Foi muito difícil. — Ela respondeu, tristemente. — Uma parte de mim achou que o Samuca só levou a Bel pra lá pra esfragar na minha cara que eu tinha perdido ele... Mas eu sei que esse não foi o motivo. Ele nem sabe que eu gosto dele, então eu não achei que eu tinha direito mostrar que não gostei do que ele fez...

— Nossa! — Sandy estava muito impressionada, pois realmente não tinha percebido que a irmã se sentia assim.

— Olha, Janete, eu sei que você ficou mal e tal... — Disse Eleanora. — Mas eu realmente não entendo por que você ainda não falou pro Samuca que gosta dele. É tão simples, ia resolver tudo.

— Não é assim tão simples... — Janete respondeu.

— Eu te entendo. — Disse Sandy. — Eu demorei muito pra admitir que gostava do Joaquim e mais ainda pra dizer isso pra ele! E mesmo agora que a gente namora, às vezes eu ainda fico insegura com algumas coisas...

Não tinha jeito de Eleanora entender isso. Pelo menos, não naquele momento em que sua cabeça ainda não tinha começado a ficar confusa com as coisas da adolescência. Mas ela resolveu não insistir no assunto, que estava ficando muito deprê, e disse às irmãs pra elas ficarem bem atentas.

— Atentas a quê? — Janete perguntou, intrigada.

— Fiquem bem atentas... — Ela disse, bem séria. — Para ver sair o sol — então sorriu e começou a cantar o resto da letra da música "Tudo, tudo".

Às vezes as Chiquititas tinham essa mania de fingir que a vida era um musical. Por mais que Sandy e Janete não estivessem muito no clima no momento, elas acabaram entrando no coro da música e fazendo a coreografia junto com Eleanora.

Depois de um tempo, Flora apareceu avisando que elas tinham uma visita. As duas mais novas ficaram felizes em ver que era Clarinha, já Sandy, pensou: "Ah, não! Pelo jeito mais uma pessoa sabe o que eu fiz...". E estava certa. Davi havia contado pra noiva, pois sabia que ela tinha ficado muito próxima das meninas e estava preocupado que a atitude de Sandy fosse fruto de algo a mais do que implicância com Bel. E, Clarinha, obviamente, foi ver a menina assim que soube.

Perguntou se Janete e Eleanora poderiam deixá-la a sós com ela e, quando elas saíram e fecharam a porta do quarto, Sandy disse:

— Você já sabe o que aconteceu hoje, né? Foi por isso você veio?

— É, o Davi me contou. Mas não precisa ficar com vergonha pelo que você fez — Clarinha disse, reparando na expressão de Sandy. — Eu também sei que você já tá pedindo desculpa pras pessoas. É muito legal da sua parte!

— Era o mínimo que eu podia fazer, né?

— E como você tá se sentindo?

— Bem... parece que eu tirei um peso das minhas costas! E, por incrível que pareça, eu comecei a me sentir melhor quando conversei com a minha tia.

— Ah, que bom! Então tá tudo bem entre vocês agora?

— Sim. Eu acho que pela primeira vez eu tô acreditando de verdade que ela mudou.

Clarinha ficou muito feliz em saber disso. Mas depois, ficou um pouco séria e disse:

— Sandy, eu fiquei pensando... e acho que o que aconteceu na gravação do clipe tem a ver com você ter passado tanto tempo escondendo seus sentimentos.

— Como assim?

A mulher suspirou e continuou:

— Pra começar, você passou muito tempo sem contar pra ninguém que ainda tinha medo da Flora; além disso, eu sei que você ficou com raiva quando a única pessoa pra quem você teve coragem de contar não guardou segredo, mas que você ficou fingindo que tava tudo bem porque eu disse que não queria que vocês brigassem... Mas acho que eu não devia ter dito isso.

— Peraí... você preferia que eu brigasse com o Joaquim?

— Não, só que você falasse com ele sobre isso, já que te incomodou.

— Mas se eu falasse a gente com certeza ia brigar. Além disso, eu acho que isso não tem nada a ver com o que aconteceu hoje, nem era dele que eu tava com raiva, era do Samuca e da Bel...

— Então você não tava mais com raiva do Joaquim naquela hora? E nem da Flora?

Sandy estava muito confusa. Ela ainda não entendia a complexidade de seus sentimentos. Mas sim, ela estava com raiva de Joaquim e de Flora naquela hora, por mais que as pessoas com ela brigou tivessem sido outras.

— Então você acha que... agora que eu já falei com a tia Flora, eu tenho que falar com o Joaquim também pra me livrar de todos os sentimentos ruins e não surtar de novo?

— Depende. Só se você ainda estiver incomodada com o que ele fez.

Sandy pensou um pouco e, antes de decidir se falaria com o namorado ou não, perguntou:

— Por que ele te contou?

Sem querer expor os medos de Téo, Clarinha só disse que uma pessoa (que Sandy já deduziu que só podia ser Téo ou Samuca) estava sentindo medo e Joaquim a ajudou e acabou dando o exemplo do medo de Sandy.

A menina, então, reconheceu que o motivo era nobre e não estava mais sentindo raiva de Joaquim. Pelo contrário, sentia orgulho dele. Às vezes ela ainda se impressionava com esse lado altruísta do garoto.

Clarinha ficou feliz com a reação de Sandy. Mas antes de finalizar a conversa, precisava dizer mais uma coisa a ela:

— Você não precisa parecer forte o tempo todo. Se você estiver triste ou com medo, não precisa esconder essas coisas das pessoas próximas a você. Todas só querem o seu bem!

Clarinha estava certa. A última vez que Sandy havia surtado assim foi quando Janete contou sobre o abandono de Flora, ou seja, depois de as meninas terem passado meses fingindo ser fortes e estarem bem o tempo todo.

***

Clara percebeu que, apesar de ter ido à casa das Chiquititas dar um conselho à Sandy, ela mesma também precisava segui-lo. Então, depois de passar mais um tempo com as meninas e Flora, foi até a casa de Davi. Havia um assunto que a estava incomodando, mas ela ainda não tinha tido coragem de falar com ele a respeito.

O homem ficou feliz em vê-la, mas percebeu que ela não parecia assim tão feliz, então foi logo perguntando se havia tido algum problema na casa das meninas. Clarinha disse que estava tudo certo, mas que precisava falar com ele sobre umas coisas. Ele achou bem estranho e ficou um pouco preocupado. Depois de Clarinha cumprimentar os meninos, os dois foram conversar a sós.

— É verdade que você encontrou a Suzana um dia desses? — Ela perguntou um pouco hesitante. O jeito como falou mostrou que ela parecia não querer tocar no assunto, mas, ao mesmo tempo, estar desesperada para saber a verdade.

Davi achou a pergunta bem estranha, mas logo percebeu que ela devia estar se referindo ao dia do mercado. Ele explicou o que aconteceu. Disse que só não contou nada pra ela porque esqueceu, mas que provavelmente Suzana devia ter manipulado um pouco os fatos pra deixar Clarinha desconfiada.

— Ela não disse nada demais. Eu só achei estranho você não ter me contado e fui eu mesma que coloquei na minha cabeça que tinha algum motivo a mais pra isso, mas agora que eu sei que não tem, tá tudo bem. Para de me olhar assim! — Davi tinha um olhar de desconfiança. — Eu sei o que você tá pensando: que eu sou muito ingênua e que ela pode fazer a minha cabeça pra me colocar contra você. Eu também sei que você pensava isso quando a gente era adolescente, mas isso nunca aconteceu.

Era exatamente o que Davi estava pensando. E, realmente, Suzana nunca havia conseguido colocá-los um contra o outro, mas, mesmo assim, Davi não entendia como Clarinha conseguia ignorar tudo que ela fazia e continuar sendo amiga dela. Pior, ainda conseguia defender ela, dizer que ela não falava certas coisas de propósito e tudo mais... Ele sabia que Clarinha era muito inteligente, mas também sabia que as pessoas podiam se aproveitar da bondade dela. Além disso... ele tinha muito medo de perdê-la de novo. Davi admitiu essas coisas, então Clarinha disse:

— Quando a gente voltou a namorar, você me disse que dessa vez não tinha como a gente dar errado. Bom, eu também acredito nisso e, se depender de mim, nada vai dar errado. Não importa o que aconteça ao nosso redor... Mas eu tenho que confessar que fiquei com um pouco de ciúme e esse negócio de você ficar com medo que a Suzana atrapalhe a gente não tá ajudando muito... Você não acha que o nosso amor é mais forte do que isso?

— Claro que sim! — Ele disse, como se essa fosse uma das únicas certeza que ele tinha na vida. Depois, suspirou e falou: — Você tem razão, nada nem ninguém pode nos atrapalhar se a gente não deixar, não é?

Clarinha concordou sorrindo e os dois trocaram um beijo em seguida.

Então a mulher disse que tinha mais uma coisa pra falar, mas que não sabia se ele ia gostar muito. Poxa, tava indo tudo tão bem...

— Eu acho que a gente devia adiar o casamento. — Ela disse.

— O quê?! Por quê???

Ela suspirou e disse:

— Você lembra quando eu disse que eu podia controlar o meu tempo e fazer tudo que eu quisesse se eu me organizasse?

— Acho que lembro...

 — Pois é... acontece que eu não consigo. A gente nem chegou a escolher uma data, só decidiu que ia ser nas férias, sendo que elas já tão quase chegando e planejar casamento dá muito trabalho! Isso sem falar que eu tenho muita coisa pra fazer na escola, você na gravadora, e ainda tem as crianças: os seus filhos, as Chiquititas, os meus alunos, as do abrigo que vocês ajudam... Eu acho que a gente não tem tempo pra tudo isso...

Ufa! Davi ficou TÃO aliviado por esse ser o motivo! Ele tinha morrido de medo que ela estivesse em dúvida se queria mesmo se casar ou sei lá... Clarinha perguntou se ele entendia e se estava tudo bem e ele disse que sim. O homem pensou em sugerir que eles não fizessem uma festa, só se casassem logo, mas achou que ela não ia gostar dessa opção. Ela sempre falava sobre se casar com uma festa de princesa quando eles eram crianças. Parou de falar nisso quando eles namoravam na adolescência, mas não significava que tinha parado de pensar nisso. Além do mais, Davi queria celebrar seu casamento com todas as pessoas que amava, dentre elas as que Clarinha ajudou com que ele se reconciliasse. Então, sim, a festa de casamento no Vilarejo tinha que acontecer! Não tinha problema ser um pouco depois. 

Então os dois decidiram que iriam planejar o casamento aos poucos e com calma. E aproveitar as férias para passarem mais tempo juntos também.

***

Clipe musical: "Valsinha" por Davi.

***

Samuca tinha ficado com raiva de Sandy por conta da cena que ela fez na gravação do clipe, mas, assim como os outros, já havia perdoado a garota. Na verdade, ele tinha começado a achar que ela não era a única culpada pelo que aconteceu. Ele também era responsável, afinal, foi quem levou convidada sem avisar a todos. É claro que não tinha problema ele tê-la levado lá, mas Samuca se sentia culpado pelo motivo pelo qual fez isso. E porque ele não pensou em mais ninguém e nem nas consequências que isso traria. Até parece que não conhecia a teoria do caos...

Além disso, Bel tinha ficado bem chateada com ele. Até mais do que com Sandy. Ele mandou mensagens pra ela, mas a menina não respondia. Apenas no dia seguinte Bel respondeu e, depois de dizer que aceitava as desculpas, disse que precisava falar com ele. Samuca sentiu que devia ser uma coisa séria, então perguntou se eles deviam mesmo conversar por mensagem. Bel concordou que não era o melhor jeito, mas também não queria esperar muito pra falar o que tinha que falar, então eles fizeram uma chamada de vídeo.

Samuca achou melhor ir pra casinha da árvore pra não ser incomodado. Assim que ligaram as câmeras, Bel perguntou se era lá que ele estava e tinha um olhar de muita curiosidade para o cenário atrás do garoto. Samuca respondeu que sim e ela começou a fazer perguntas sobre o lugar. Ele achou estranho, mas imaginou que talvez ela estivesse tentando enrolar pra não ir direto ao assunto do qual realmente queria falar.

— É, você acertou... — Ela disse. — Samuca... eu acho que você já percebeu que eu gosto de você, né?

Ele ficou surpreso em ouvir isso, mas também um pouco envergonhado e bem feliz, só tentou não demonstrar muito.

— Eu... tinha uma ideia, mas... ainda não tinha certeza... — Ele disse, com um sorriso tímido.

Porém, Bel não estava sorrindo.

— Apesar disso, eu não quero mais sair com você. — Disse.

Então ela explicou que a vida dele era muito corrida e era demais pra ela ter um namorado famoso (ainda mais se fosse o primeiro namorado). Samuca ficou dizendo que ela não precisava se preocupar com isso, que eles tinham muitas coisas em comum e com certeza daria certo, que ele não deixava de ser quem era só por ser "famoso". Ele prometeu que não iria mais levá-la pra nenhuma gravação de clipe nem nada parecido e que podia encontrar um monte de coisas legais pra eles fazerem juntos.

Bel ficou comovida. Ele era tão fofo... ficou tentada a aceitar a "proposta", mas não ia cair nessa. Ela tinha mais um motivo pra não querer mais sair com ele:

 — Eu fiquei bem chateada quando a Sandy gritou comigo ontem, mas já tinha uma coisa me incomodando antes disso... Eu percebi que você ficava o tempo todo olhando pra Janete.

Samuca ficou desconcertado. 

— Eu?... Não... impressão sua! Quer dizer... ela era uma das pessoas que tava participando do clipe, né? Eu tinha que olhar pra ela...

— Bem mais do que pros outros, né?... Não precisa disfarçar, Samuca. Eu vi o jeito como você olhava pra ela... e como ela olhava pra você...

— Você tá enganada. Nunca rolou nada entre a gente... e ela nem gosta de mim assim...

— Sinceramente, eu não sei como não percebi antes, vocês até que são bem óbvios...

— Eu tô falando sério, Bel! Eu confesso: eu já gostei dela. Mas agora é de você que eu gosto.

— É mesmo? — Ela perguntou, incrédula. — Então me diz uma coisa: por que você não me deixou subir na casinha da árvore quando fui pra sua casa? Tem alguma coisa a ver com ela, né?

Samuca não soube o que dizer, mas sua expressão deixou bem claro pra Bel que a conclusão dela estava certa. Como ela conseguiu pensar nisso??? Pelo jeito, a lógica dela era melhor do que a de Samuca e Janete juntas apesar de eles serem os mais inteligentes da turma...

Vendo que não tinha mais como negar, Samuca parou de tentar. O lado bom foi que Bel disse que eles ainda podiam continuar amigos. Ela realmente não estava mais com raiva dele. Só tinha ficado antes porque achava que ele só a tinha levado pro estúdio pra causar ciúmes em Janete, mas percebeu que não foi esse o motivo, que ele não fez de propósito. Então ficou tudo bem entre eles. Ela ainda gostava dele, mas o que podia fazer, né? Com um tempo esse sentimento ia passar.

Agora que ninguém mais estava com raiva de ninguém, todos achavam que a segunda-feira na escola seria um dia tranquilo e até feliz apesar de ser segunda-feira. Mas quando os Cuecas chegaram, havia uma rodinha enorme de alunos no pátio gritando, o que significava que havia uma briga lá no meio, provavelmente entre alunos bagunceiros. Téo ficou bem frustrado, pois odiava brigas. Joaquim, por outro lado, achou que isso seria mais interessante do que um dia monótono e sem graça na escola e foi correndo ver quem eram os envolvidos.

Samuca não deu muita importância, não era nada que não acontecesse frequentemente lá na escola. Mas, quando a menina do jornalzinho da escola lhe entregou um exemplar, ele ficou desesperado. Pelo jeito, a questão da gravação do clipe ainda não estava totalmente resolvida...


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