O Dia Que Eu Sabia Que Chegaria escrita por Jweek


Capítulo 3
E O Tempo Curará Qualquer Ferida




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Já havia se passado mais de um ano que Yuki... sumira e eu havia me acostumado muito bem com Yue. Ainda era confuso olhá-lo e tentar não correlacionar com Yuki, mas eu estava melhorando.

Yue e Yuki sempre foram a mesma pessoa, afinal. Talvez a única diferença sempre tenha sido o temperamento. Yue é mais mal-humorado e sério, enquanto que Yuki era mais delicado e sorridente. Mas o cerne sempre foi exatamente igual e eu sempre soube disso. Conviver mais com Yue só deixou isso mais claro.

Ele também pareceu relaxar sobre seu complexo em tentar ser o Yuki. Se o olhar ansioso e animado quando falávamos de certos livros ou filmes era qualquer coisa. Yue também parecia menos triste e não me olhava tanto com culpa quanto antes.

Acho que eu também melhorei, afinal.

Sakura também parecia ter se acostumado. A princípio parecia miserável e tentou arduamente achar uma solução, tentar trazer Yuki de volta, o que, honestamente, só fez tudo parecer pior. Não faz muito tempo que ela desistiu e aceitou que só haverá Yue a partir de agora, mas pelo menos ela aceitou. Ela voltou a sorrir e tratar Yue como tratava antes, e não parece mais tão melancólica.

No dia dos namorados, depois do primeiro ano aos trancos e barrancos em nos acostumarmos, tive uma surpresa de Yue me dar um chocolate, murmurando que ouvira falar que devia dar chocolate às pessoas que considera importante. Então perguntei com troça se eu havia sido o único a ganhar, e se o entortar de lábios e o olhar irritado dele significaram algo, provavelmente foi “sim”.

No Dia Branco, então, lhe dei um pijama novo, roxo e de seda, comentando que combinava mais consigo que o de listras que usava.

Achei que ele não usaria, mas fiquei feliz de acordar no dia seguinte e o encontrar fazendo o café da manhã com o pijama.

Acabei o abraçando por trás e apoiando o queixo em seu ombro.

— Definitivamente esse combina mais. — Disse-lhe em seu ouvido e o soltei, resolvendo ajudá-lo a preparar.

Quando o olhei, me observava de banda, parecendo tentar entender algo, mas se tinha alguma dúvida, resolveu guardar para si.

No Natal seguinte lhe comprei um cachecol e disse que aquele ano estava muito frio e que ele precisava de um novo. Ele pareceu confuso, murmurando que não se lembrava de minha família comemorar o natal, ao que respondi que eu não precisava comemorar para poder comprar um presente de aniversário, o que o deixou constrangido e percebi tardiamente que Yue não considerava o aniversário de Yuki como seu, mas achei por bem ignorar, todos precisamos de um aniversário, afinal.

Aquele foi um ano bissexto e me surpreendi de quando deu meia-noite do dia 29, Yue tenha batido na porta do meu quarto e quando abri ele estava com uma sacola e um bolinho, murmurou Feliz Aniversário e sorriu levemente, antes de me entregar meus presentes e ir dormir.

O ano passou rápido e em agosto, eu não sei se eu realmente preferia ignorar ou havia esquecido, mas fui pego de surpresa da minha irmãzinha aparecendo na porta de casa perguntando se eu precisava de alguma coisa. Demorei um tempo para entender do que se tratava e me assustei de não ter notado que faziam 2 anos, mas ao mesmo tempo, era um alivio notar que aquilo não doía tanto quanto doera no ano anterior.

Ainda doía, entretanto.

Talvez por isso naquele dia, quando fui comprar comida, à noite, ao invés de levar algo para cozinhar, comprei cerveja e um saquê, e quando cheguei em casa pedi sushi.

Yue pareceu achar engraçado e me perguntou se eu pretendia beber tudo aquilo.

— Metade. A outra você vai.

Ele deu uma gargalhada gostosa de ouvir e isso me deu uma sensação muito boa e relaxante.

Quando ele pareceu conseguir parar de rir, me olhou nos olhos e se encostou no sofá, onde eu estava sentado no braço.

— Yukito não bebia. Porque-

— Não estou pedindo para o Yuki beber comigo, estou pedindo que Yue beba. — Disse com mais raiva do que era intencional e fiz uma careta. — Desculpe, não era para soar tão grosseiro.

Ele parecia meio surpreso.

— Quer beber comigo?

Quem riu, então, fui eu.

— Com quem eu moro, Yue? Quem está aqui na minha frente?

Ele deu de ombros e deu um sorrisinho.

— Bem, acho que não vai ser tão ruim. Faz tempo que não bebo, afinal, muito tempo...

— Oh, pensei que também era do tipo que não bebe. Essa é uma surpresa muito agradável.

Ele me olhou achando graça em algo.

— Clow-sama gostava de beber e acabei me acostumando, já que era sua companhia. E não é tão ruim, então...

Tombei a cabeça, sorrindo-lhe, enquanto olhava em seus olhos.

Ficamos em silencio por um tempo, nos olhando nos olhos, até que ele os fechou e deu um sorriso triste (que me irritou, sinceramente).

— Acho que preciso me acostumar com sua mania de olhar-me tão intensamente, Touya-sama.

Tombei para trás, deitando no sofá e suspirei.

— Desculpe, força do hábito.

— Não se desculpe, é só... Justamente o contrário para mim, é falta de hábito, então fico um pouco ansioso quando me olha assim...

Ri e me sentei.

— Está bem, vou olhá-lo até que se acostume, então.

Ele me olhou contrariado e eu lhe sorri malicioso.

— Fico feliz que esteja gostando da provocação, Touya-sama. — Resmungou.

— Gostaria mais se não usasse o “sama”.

— Aí o problema definitivamente não é meu.

Engasguei com uma risada.

— Essa doeu.

Ele me olhou de banda, com um sorriso satisfeito.

— Bem, vou tomar um banho enquanto não chega. Tem dinheiro contigo ou precisa? — Idaguei, levantando e lhe observando fazer uma careta pensativa.

— Tenho... Enquanto isso, vou escolher um filme, então. — Resolveu, indo até a estante.

— Yue, se escolher um filme e o assistirmos enquanto bebemos e comemos, como vou lhe arrancar confissões vergonhosas? — Perguntei, rindo.

Yue me olhou sobre o ombro com uma expressão, se eu não estiver louco, maliciosa.

— A intenção de por um filme é justamente impedir isso, Touya-sama. — Comentou, com a voz doce.

Coloquei a mão no coração e fechei os olhos.

— Yue, sou obrigado a admitir. Você ganhou. — Admiti sério, então abri os olhos e ele me olhava avaliativo, então lhe pisquei um dos olhos e sorri.

Depois do banho, comemos e bebemos enquanto assistíamos um filme de aventura, que mais rimos e zombamos dos personagens do que prestamos atenção.

No fim do filme, já havíamos acabado com a comida e metade das cervejas.

Estava meio de lado, rindo de alguma coisa que tinha dito e Yue ria também, sentado de frente para mim. Eu me encostei no encosto do sofá, de olhos fechados, tentando parar de rir, quando senti ele se aproximar e abri os olhos.

Pisquei confuso e ele parecia em conflito, inclinado sobre mim, mais próximo do que já estivera.

— Eu- Touya-sama, queria lhe pedir um favor... Mas acho que será horrível da minha parte... — Ele murmurou.

— Não ligo se quiser me beijar, Yue. — Comentei, levando uma das mãos ao seu rosto e acariciando sua bochecha.

Yue fechou os olhos e inclinou a cabeça na minha mão e eu suspirei, me aproximando mais dele, mas ainda deixando uma distância entre nossas bocas.

— Yue...

Yue abriu os olhos quando o chamei e levou a mão direita para meu queixo eliminando a distância restante e selando meus lábios com os seus.

Fechei os olhos com o contato.

Senti um arrepio trespassar por mim e suspirei, levando minha mão em seu rosto para sua nuca, arranhando-a e Yue estremeceu, aproximando mais o corpo, meio se apoiando em mim, com um dos joelhos entre minhas coxas e a outra perna meio esticada, com o pé no chão. Suspirei outra vez com o contato mais próximo e ele entreabriu os lábios; abri os olhos e ele também estava de olhos abertos, levei minha mão livre para suas costas e o puxei, o fazendo praticamente sentar sobre minha coxa, para então fechar os olhos e aprofundar o beijo.

Yue murmurou algo e levou uma das mãos ao meu cabelo, entrelaçando os dedos nos meus fios e a outra mão ficou na lateral do meu rosto, quase na nuca, abaixo da orelha, impondo alguma pressão, então deixei que dominasse o beijo como quisesse.

Nos beijamos por um bom tempo, puxando o ar entre espaços, salivas se misturando, respirações confusas e investidas ansiosas, até pararmos, resfolegando e ele apoiar a testa no meu ombro.

— Desculpe. — Ele murmurou e notei o som choroso em sua voz.

— Yue, não se beija alguém e então se desculpa. — Respondi, o abraçando e apertando contra mim.

Yue apertou minha camisa e soluçou.

— Não é justo contigo...

— Yue-

— Você até deu sua magia para mim para que pudesse ter o Yukito e agora- Eu sinto muito... Eu- Não é justo.

Suspirei e o apertei mais contra mim.

— Dei minha magia para você não desaparecer, Yue... Yue e Yukito são a mesma pessoa, já lhe disse isso milhares de vezes...

— Mas quem você ama não sou eu.

Eu não tinha realmente uma resposta para isso.

Era confuso o sentimento... Eu nunca realmente vi diferença no Yue e no Yuki e eu sei que são a mesma pessoa, mas... Não consigo dizer “eu te amo” para o Yue com tanto sentimento quando eu diria para o Yuki. Eles são iguais, suas personalidades são parecidas e Yue está começando a gostar das mesmas coisas que o Yuki e agir como...

Sei que amo o Yue, mas não é tão intenso como era com Yuki.

— Yue, não me fode... Essa é uma coisa complicada demais... — Segredei, beijando-lhe a bochecha e então me afastei, levantando seu rosto.

Yue tinha rastro de lagrimas e os lábios tremiam bem de leve.

— Oh, nunca lhe vi com tanto sentimento exposto.

— É a droga desse corpo humano...

Sorri.

— Yue, não vou ser babaca e dizer que lhe amo como amava Yuki... Eu... Tive uma história com ele e mesmo que eu sabia que vocês são a mesma pessoa... E, portanto, vivi tudo isso também contigo... O sentimento é de como se não fosse. É confuso o que sinto por você, está bem? E eu sei que não me ama e isso-

— Eu amo.

Pisquei confuso e o olhei nos olhos. Ele estava sério.

— Ama...?

— Desde antes... Mas nunca pretendi me meter entre vocês dois... Não seria justo.

— Você diz como se não fosse o Yuki...

— E não sou. Eu e ele éramos... Como duas partes de um todo. Ele tinha sentimentos por você alheios aos meus, desde sempre... Com o tempo e convivência que eu... Que desenvolvi os sentimentos também.

Ponderei o que me disse e dei um risinho.

— Então?

Ele me olhou em dúvida.

— Você diz que não são a mesma pessoa, mas me diz que eram duas partes de um todo. E agora? As duas partes se juntaram e agora são uma e o fato de ser você a estar aqui é porque era a original ou a dominante?

Yue desviou o olhar e suspirou.

— Acho que algo por ai.

— Ambas as partes me amavam antes, certo? E agora, ainda me ama?

Yue me olhou enfezado.

— Nas suas palavras, “não me fode, porra”.

Eu ri surpreso e assenti.

— Eu amava Yuki. Acho que me apaixonei à primeira vista e ele era uma pessoa sensacional e me fez descobrir o que significava amar. O sentimento por ele ainda está aqui e misturado a isso tem o meu sentimento por você. Antes eu gostava de você, com a convivência me acostumei a lhe amar junto de amar Yuki. Então... Então ficou só nós dois. E eu realmente tentei não enxergar ele em você, Yue. Não vou dizer que nunca sobrepus ele em você, mas posso garantir que tentei ao máximo não fazer isso e ser totalmente sincero contigo. Quem estava comigo era você e não o outro lado de Yuki. Por isso, eu tenho certeza que posso dizer isso, sem me sentir culpado: Yue, eu te amo também.

Yue me olhava atento e eu lhe acariciava a bochecha, ainda estávamos muito próximos, meio um sobre o outro.

Ele suspirou e fechou os olhos, apoiando a testa na minha.

— Desculpe ter dado tanto trabalho.

Ri.

— Acho que essa fala é minha, Yue.

— Talvez dos dois...

Gargalhei e lhe dei um selinho.

— Que tal irmos dormir? Já está muito tarde e ainda estou meio bêbado.

Yue assentiu e nos levantamos e limpamos a sala, deixando a louça na pia.

— Amanha é meu dia de fazer o café, né? — Comentei, olhando nossa lousa de tarefas.

— Ei Touya-sama...

— Eu tinha esperanças que agora parece de usar-

— Não, desista disso. Agora, ouça.

Virei para si, com um sorrisinho.

— Durma no meu quarto hoje. — Yue declarou, com um tom muito mais de próximo de “comando” do que “sugestão”.

Abri a boca para recusar, mas seu olhar duro me fez reconsiderar, ele realmente parecia querer isso, então apenas sorri e aceitei.

Foi uma surpresa que depois disso várias vezes ele me chamava para dividir o futon consigo, mas aceitei sem reclamar, além do mais, era bom dormir abraçado ao seu corpo.

A princípio achei que era pela bebida e que só dormiríamos sob o mesmo cobertor, mas então ele me abraçou. E dormimos assim. Então nas semanas que se seguiram, achei que era resquícios de carência, tanto me chamar, quanto acabarmos abraçados durante a madrugada, fosse por ele ou por mim. Mas agora já não tenho certeza do que é.

Vamos dormir e não demora para um ou outro abraçar outrem. Às vezes ele está de lado e eu o puxo para meus braços. Às vezes estou deitado de costas e ele se apoia em mim. Às vezes acabamos com mãos e pernas entrelaçadas e rostos muito próximos.

Não que eu esteja reclamando, só é confuso e surpreendente estar acontecendo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler!!



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