O sino tocando e as preces por todo lado sempre foi calmante. Acho que por isso sempre gostei de vir ao templo no Ano-Novo, é como me preparar para o novo ano realmente.

Como todos os anos, viemos em família (e agregados). Era bom ver minha irmã e amigos dando risinhos enquanto olhavam suas sortes e meu pai sorrindo como pai bobo que sempre foi. Estar com Yue também é muito bom, sua paz e harmonia é sempre aconchegante. Talvez por isso eu tenha me aproximando mais e encostado o braço no dele e enroscado meus dedos nos dele, vendo-o olhar de banda para mim, antes de ajeitar a mão com a minha, soprando o ar frio.

— Esse vai ser um bom ano. — Ele murmurou, apertando levemente minha mão.

Dei um risinho.

— Bem, minha sorte disse que vai ser um ótimo ano.

Ele deu um leve sorriso e eu tive certeza que seria um bom ano se eu pudesse ver Yue sorrindo desse jeito mais vezes.

Voltamos de mãos dadas ainda, ao som dos risos dos outros, entre olhares e sorrisos divertidos, um pouco alheios as conversas deles.

Nossa casa era a primeira, então logo nos despedimos, prometendo ao meu pai que iriamos almoçar mais tarde com ele sim.

Ainda estávamos na porta, eu a trancando e Yue tirando o sapato, quando ele mudou de forma. Olhei curioso sobre o ombro e ele se encostou na parede, olhando o chão, com uma expressão de dúvida.

Tirei o sapato e me aproximei, parando a sua frente, levantando levemente seu queixo, para que me olhasse, quando seus olhos fixaram nos meus, deslizei os dedos por sua bochecha.

— No que está pensando, Yue?

— Em como lhe convidar para minha cama, Touya-sama.

Tombei a cabeça e deslizei as costas dos dedos pelo contorno de sua mandíbula.

— Um jeito sutil seria me impedir de ir para o meu segurando meu pulso... Um jeito pouco sutil seria perguntando diretamente... E um jeito nem um pouco sutil seria sendo sincero com o pedido.

Yue piscou parecendo confuso por um momento então me puxou um pouco para mais perto, com uma das mãos tocando meu quadril.

— Assim é como na escala?

— Não sei bem, estou mais concentrado em querer lhe beijar para conseguir determinar. — Sussurrei a poucos milímetros de seus lábios e Yue fez o favor de acabar com a distância, me beijando.

Não é como se já não estivéssemos acostumados a nos beijarmos, se tornara até um hábito nesses dois anos que se passaram. Assim como dividirmos o futon.

Ainda assim, aquele beijo parecia... mais intimo do que os anteriores. Mais intimo e intenso. E o depois desse, mais afoito e com mais mãos. E o depois desse com bem menos roupas. E depois... Depois estávamos em seu futon e eu via o rosto de Yue corado e os suspirando escapando de seus lábios a cada movimento do meu quadril.

No dia seguinte, quando acordei abraçando Yue, eu não me sentia traindo Yuki nem Yue, não senti que estivesse usando Yue como substituto.

Era Yue nos meus braços, não o outro lado do Yuki.

O caminho para a casa do meu pai foi agradável e Yue parecia leve e em paz, até fez uma piadinha boba de se eu precisava que ele me carregasse, quando nos arrumávamos e eu resmunguei incomodado, o que me deixou surpreso e impressionado, mas muito contente. Yue fazendo piadas bobas? Ai está algo que não se vê todo dia.

O almoço também foi bom. Muito bom e divertido, como a muito tempo não era.

Todos pareciam ainda ter esse sentimento de falta, o olhar distante que acompanha quando se perde alguém muito importante. Em mim havia aquela sensação de membro perdido. Mas acho que assim como quando se perde um, com o tempo a dor some, mesmo que as lembranças ainda estejam lá, a cicatriz sempre estará lá.

E tem Yue.

Yue não é um substituto. E eu quero provar isso para ele, mas sei que só com o tempo posso. Vou lutar para que Yue veja que amo-o também, por quem é e não por quem parece.

Acho que... Ainda vou sentir falta do Yuki por um bom tempo, mas definitivamente ter Yue ao meu lado faz tudo ser mais fácil e me dá um bom motivo para lutar e continuar.

Yue é especial para mim e eu quero ser feliz com ele e fazê-lo feliz.