Utopia escrita por Aislyn


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Se alguém achou que meu estoque de tretas tinha acabado, só lamento, porque agora que elas estão começando de verdade >3

Huhuhuhuhuhu

E que venha o capítulo!

Tema usado: Sobre um segredo / Depois do anoitecer



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Takeo estendeu uma caneca de chá para seu visitante, sentando no sofá à frente, esperando que Hayato começasse o assunto. Uma parte de sua mente dizia que ele veio em busca de reconciliação, mas outra parte dizia que ele queria tirar a história a limpo. Não tinha muito o que contar e a consciência estava tranquila com relação às acusações. Assumia as brincadeiras, sabia que era errado, mas não conseguia evitar, e negava qualquer acusação de traição, pois tinha certeza que era inocente naquele caso.

 

— Você e seu irmão estão se dando bem? – Hayato começou incerto, bebericando o chá para se ocupar.

 

— Nossos horários não batem, então sim, estamos sobrevivendo. Está pensando em me deixar ficar aqui permanentemente? Já adianto, caso não se lembre, que aquele apartamento também é meu.

 

— Hei, não vim te expulsar da nossa casa! – comentou magoado – Você saiu porque quis.

 

— Saí porque não aguentava você me olhando como se eu fosse culpado de tudo e ignorando qualquer tentativa de uma conversa decente.

 

— Eu estava chateado com você…

 

— Não está com cara de que esse sentimento passou. – Takeo deu de ombros, suspirando fundo. Apoiou a cabeça contra o encosto do sofá, encarando o teto, pensativo.

 

— Talvez… mas acho que essa situação entre a gente está se prolongando demais e afetando outras pessoas a nossa volta.

 

— Então está preocupado com outras pessoas e não em salvar nossa relação? Certo…

 

— Eu não disse isso. Bom, nossa briga acabou afetando o Katsu e o Mikaru também, mas não é só por eles. Quero que a gente se acerte de novo.

 

— Você não quis antes, o que mudou agora? Sem falar que eles já tinham brigado antes da gente, mas você decidiu tomar as dores do Katsuya e acreditar nas acusações que ele fez contra mim.

 

— Mas eu te defendi! Só que você não ajuda com suas brincadeiras e indiretas repletas de duplo sentido.

 

— Nós já falamos a respeito da minha personalidade. Defendeu na frente dele e acusou quando virou as costas. Reclama do meu modo de agir, querendo que eu seja sério e certinho. Quer que eu mude quem eu sou! Não é mais fácil procurar uma pessoa com esse perfil?

 

— Eu não quero outra pessoa, Takeo.

 

— E eu não quero ser diferente, Hayato!

 

Os olhares se desviaram, o silêncio tomando conta do ambiente. Tinham muito em comum, mas também tinham suas diferenças e principalmente, estavam sendo teimosos.

 

— Aquele dia você pediu pra me colocar no seu lugar, agora faça o mesmo por mim. O que iria pensar se alguém dissesse que eu te traí e depois você me visse com alguém deitado no meu colo?

 

— Iria investigar por conta própria, ver o que você anda fazendo quando não estou por perto. Te seguir, pedir pra alguém vigiar ou qualquer coisa idiota do tipo. – Takeo deu de ombros, como se aquela fosse a ideia mais óbvia do mundo – Não acho que ia te acusar sem provas.

 

— Mesmo que fosse alguém de confiança quem te contasse?

 

— Eu deveria confiar mais na palavra de alguém de fora do que na sua? Isso foi o que você fez, mas mesmo que fosse meu irmão quem me contasse, eu iria atrás de provas primeiro. Eu já fiz muita coisa errada pra simplesmente acreditar no que me falam e jogar tudo pra cima.

 

— Hm… muito sensato da sua parte… – Hayato beliscou o lábio, desviando o olhar, sem saber como argumentar de volta. O namorado estava tanto na defensiva quanto na acusação. Parece que ele havia se preparado para aquela conversa.

 

— E sobre acreditar na palavra de alguém de confiança, ele te contou o que andou fazendo?

 

— Katsuya? Como assim?

 

— Ele andou envolvido em coisa que não devia. – Takeo sorriu de canto, se divertindo com a situação – Por que não pergunta pra ele, já que são amigos e confiam tanto um no outro?

 

— E nós dois, como ficamos? – Hayato não queria admitir, mas o namorado havia conseguido atiçar sua curiosidade.

 

— Fale com ele. Quem sabe não acredita mais em mim quando ouvir dele o que aconteceu?

 

— Tudo bem… – Hayato depositou a caneca na mesa de centro, esperando que o namorado dissesse mais alguma coisa, mas o silêncio se instalou novamente, dando a entender que era hora de ir – Posso te procurar de novo, depois que falar com o garoto?

 

— Hmm… Yuu vai sair em viagem a trabalho… talvez eu volte pra casa. Aqui é muito grande pra uma pessoa só, não gosto disso. E se eu tiver minha metade da cama de volta, talvez eu fique por lá…

 

* * *

 

Hayato acompanhou a menina para dentro da casa, que lhe deu passagem sem precisar se apresentar, encantada em receber um dos ‘amigos de Mikaru’. Enquanto seguiam até o quarto de Katsuya, ela contou que fazia alguns dias que não via o namorado do irmão, mas que esperava que ele não estivesse chateado com ela também.

 

— Visita pra você. – Mayu abriu a porta do quarto, acenando com a cabeça para Hayato – Pode entrar.

 

— Espero não estar atrapalhan… do… – Hayato deu um passo para dentro do quarto, olhando assustado para o rosto do rapaz – O que aconteceu com seu olho?

 

— Ah… olá. Não foi nada. – Katsuya sorriu envergonhado, parando de mexer na mochila para dar atenção ao visitante, apontando para a cadeira de estudos – Senta. Fica à vontade.

 

— Ele levou um soco! E foi merecido! – Mayu retrucou ainda parada em frente à porta, fechando-a ao sair.

 

— Sua irmã parece chateada com você. – Hayato puxou a cadeira, tentando não encarar muito o rosto de Katsuya, segurando a curiosidade de perguntar se o que a menina disse era verdade.

 

— E está. Ela sabe que eu agi mal. – o rapaz suspirou frustrado, afastando a mochila e algumas roupas do colchão, se sentando na ponta da cama – Quero aproveitar a oportunidade e me desculpar com você. Por ter feito você e Takeo brigarem, e por estar faltando no serviço.

 

— Ah… você ficou sabendo da briga? Mikaru comentou… – Hayato tinha quase certeza que não havia falado nada pra Mikaru, pois não queria que ele soubesse que Takeo havia saído de casa.

 

— Takeo-san me contou. – esclareceu – Que vocês não estavam se falando e que ele saiu de casa porque você acreditou que ele tinha te traído. Eu menti sobre isso.

 

— Mentiu? Mas…

 

A porta foi aberta de sopetão e Mayu entrou sem pedir licença, colocando um pedaço de bolo e um copo de suco na mesa ao lado de Hayato.

 

— Você é péssimo pra receber visitas, Katsu-nii! – e saiu novamente, fechando a porta ao passar.

 

Hayato riu baixinho, tentando ignorar o fato que a menina trouxe lanche apenas para ele. Ela realmente devia estar magoada com o irmão. Voltou o olhar para Katsuya, decidido a tirar aquela história a limpo. Takeo pediu que fosse ali e pelo visto já sabia do que se tratava.

 

— Takeo me pediu para te procurar, disse que eu acreditaria melhor na história se ouvisse de você. Sei que nós dois paramos de conversar por conta das suas acusações e eu defenderia Takeo de novo se fosse preciso, mas acho que ainda podemos salvar nossa amizade, desde que você não fale dele daquele jeito novamente. Eu quero entender porque falou aquilo e agora diz que era mentira.

 

— Eu… estava imaginando coisas. Alucinando. Minhas notas estavam caindo, comecei a virar noites estudando, tomando energético e qualquer coisa com cafeína, mas não conseguia os resultados que precisava. Então um colega da faculdade me arrumou uns comprimidos pra memória e eles pareceram ótimos! Mas acabei usando demais, não segui as recomendações e continuava sem dormir direito… Quando notei a situação ao meu redor, eu estava com vários brancos na memória, não tinha certeza do que era real, do que tinha realmente feito e se algo tinha ou não acontecido.

 

— Você estava usando drogas?! Eu não acredito… – Hayato estava horrorizado. Nunca havia se envolvido com alguém que fizesse isso, nunca teve que lidar com aquele tipo de problema com alguém próximo. Não sabia nem o que pensar direito a respeito.

 

— Bom… não… quer dizer, sim, se você considera qualquer remédio como uma droga. Eles realmente ajudam, mas deveria ter sido recomendado por um médico. – Katsuya apoiou o rosto nas mãos, sentindo seu ânimo afundar. Talvez Izumi não quisesse mais saber de amizade com ele após descobrir a verdade.

 

— E depois? – Hayato exigiu – Eu quero saber tudo.

 

— Takeo percebeu que tinha algo errado e contou pro Mikaru, que veio aqui, mexeu nas minhas coisas e achou o remédio. Eu falei coisas horríveis pra ele, tratei como se ele fosse o doente e o expulsei daqui. Takeo contou que vocês brigaram no mesmo dia. Mikaru foi conversar pra desabafar o que aconteceu e você não gostou de vê-lo ali.

 

— Ele estava deitado no colo do Takeo, é claro que não gostei. Por que não podem conversar com uma distância segura entre eles?

 

— Eu o chamei de suicida. – contou num fio de voz e com uma vontade enorme de sumir – Usei algo muito ruim contra ele…

 

Hayato levantou-se da cadeira, largando o lanche pela metade, encarando-o com espanto. As mãos se fecharam em punho, mas ele tentou conter a raiva. O garoto havia jogado sujo.

 

— A minha vontade, Katsuya, é de te bater. Mikaru pode ter muitos defeitos, mas eu não esperava isso de você.

 

— Eu sei… sinto muito. Takeo já fez isso por você. – passou o dedo pelo olho, sentindo-o dolorido.

 

— Ele te bateu?!

 

— Sim. – Katsuya olhou para o teto, procurando coragem para contar mais – Quando eu estava nessa semana de provas, sem dormir e tomando os remédios, muitos dias sem ver o Mikaru e pensando no que ele estaria fazendo, eu conseguia imaginar os dois juntos, rindo pelas nossas costas. Conseguia visualizar Takeo zombando de mim, saindo com Mikaru e dizendo que ia te largar porque não te aguentava mais. Quando Takeo veio aqui e eu falei isso, ele me mostrou todas as mensagens que os dois trocavam, os horários de ligação e fotos suas com ele, pra provar que não estava com Mikaru quando pensei que estaria. Até me fez ligar pra secretária do Mikaru, pra confirmar que ele não estava em casa porque estar na empresa trabalhando até tarde, e eu podia jurar que ele estava com Takeo.

 

Hayato teria andado em círculos pelo quarto se tivesse espaço suficiente, mas já beliscava os lábios de nervoso, juntando todas as peças. Talvez ele duvidasse de Takeo se o ouvisse contar aquilo. Estava sendo difícil acreditar ouvindo da própria fonte!

 

— É por isso que sua irmã está chateada com você! Ela sabe o que aconteceu!

 

— Isso. E como ela gosta do Mikaru, está do lado dele.

 

— E seus pais? Já sabem?

 

— Sim… e já tomaram providências. – contou frustrado. Ele merecia o castigo.

 

O olhar de Hayato parou em um objeto no quarto, ligando mais alguns pontos. A mochila. E as roupas que estavam sendo postas lá dentro.

 

— Eles vão te mandar pra alguma faculdade em tempo integral? Algum tipo de colégio interno?

 

— Não… você não precisa se preocupar com isso. Já está tudo acertado. – Katsuya forçou um sorriso, mas aquele brilho no canto dos olhos certamente eram lágrimas se formando.

 

— Eu disse que vim aqui pra gente tentar se acertar também. Me conte! E me procure, se eu puder te ajudar em alguma coisa, mesmo que seja só pra te ouvir. Não saia mexendo com coisas erradas de novo.

 

— Não vou, prometo. Eu preciso fazer a coisa certa de agora em diante.

 

— Verdade… E com relação ao Mikaru, vai falar com ele? Tentar se desculpar?

 

Diante do olhar triste do rapaz, Hayato imaginou que seria mais uma conversa longa e estava disposto a ouvir. Talvez não pudesse ajudar diretamente, mas faria algo se estivesse ao seu alcance. Sentou ao lado de Katsuya na cama, dando-lhe tapinhas no ombro, incentivando o desabafo.

 

* * *

 

Quando saiu do quarto de Katsuya, o céu já começava a escurecer lá fora. Teve momentos em que quis lhe dar um sermão e em outros um abraço. Conseguia imaginar o quanto seria difícil para ele se acertar com Mikaru, que em situações normais já era uma pessoa complicada de se lidar. Mikaru tinha todo um histórico de relacionamentos ruins, decepções amorosas, abuso, falta de confiança, e tudo o que menos precisava era lidar com algo do tipo novamente. Mas Hayato entendia o ponto de Katsuya e acreditava na sinceridade de suas palavras, quando dizia que queria consertar as coisas e que só precisava de uma chance para provar que ia melhorar.

 

A cereja do bolo, se é que uma situação ruim podia ser indicada daquela forma, foi Mayu lhe segredar que Katsuya havia sido expulso temporariamente de casa, como castigo dado pelos pais.

 

Chegar ao apartamento foi um alívio. Seus ombros doíam, tamanha a tensão. Não devia se envolver tanto com os problemas dos amigos, mas não podia simplesmente ignorar. Acendeu a luz ao passar pela sala, o movimento da cortina chamando sua atenção, deixando-o alerta. A porta da varanda estava escancarada. Olhou ao redor, não notando nenhum movimento ou luz pelo apartamento, tentando se lembrar se havia mesmo fechado-a. Caminhou até a porta de vidro, o vento esvoaçando com a cortina novamente, dando-lhe a visão de uma silhueta de costas, apoiada contra a mureta.

 

— Eu senti falta da vista daqui…

 

Na pressa em ver se havia alguém ali, Hayato não foi silencioso, não que fosse necessário se esconder. Acabou com a distância entre eles, abraçando-o por trás.

 

— Bem-vindo de volta, Takeo.


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Notas finais do capítulo

Continua... >3



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