Segunda Chace escrita por Juliana Lestranger


Capítulo 9
Capítulo 08




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Segunda Chance, Capítulo 8.

POV ALEX

Droga! 4:36h da manhã.

Acordo assustado com o toque do celular. Estou na casa de Meredith, depois de ontem à noite, ela não me deixou ir embora e graças à tequila, perdi a hora.  Pego meu celular e pager tem várias ligações e mensagens do hospital. Levanto-me em um pulo e minha cabeça começa a doer. Troco-me rapidamente e corro para o hospital, levo cerca de 20 minutos para chegar e vou direto para pediatria. Encontro Meredith no elevador, ela também tinha sido chamada para uma emergência e saiu mais cedo de casa. Converso com ela e daqui a pouco ela irá me encontrar na pediatria para conversarmos com Izzie sobre o resultado do exame e conhecer George.

Não entendi ao certo o que aconteceu... As diversas de mensagens me chamavam para uma cesariana de emergência de uma paciente de Robbins que entrou em trabalho de parto e o bebê estava na posição pélvica, quando cheguei aqui no hospital, a paciente já teve o bebê por parto normal. Vou para a UTI-NEO, leio o prontuário do bebê e vejo que o teste do Apgar que avalia a condição do recém-nascido deu 7, isso significa que ele teve uma leve dificuldade na respiração e frequência cardíaca. Faço alguns exames e o quadro do bebê está estável. Encaminho-me para o quarto da mãe, examino-a e ela está bem, já tinha expelido quase toda a placenta e seu corpo estava se recuperando do parto, logo poderia receber alta. Pego seu prontuário e vejo que foi realizado um VCE na paciente pela Dra. Stevens.

Obstetrícia, é claro.

— Oh, isso não é nada bom. – Meredith se aproxima de mim e eu olho na direção que ela está apontando.

Vejo Izzie e Jo discutindo, ambas parecem alteradas. Pelo que conheço das duas, tenho que interferir. Izzie aperta o braço de Jo, fala alguma coisa e se afasta. Aproximo-me o suficiente e escuto a ultima frase de Izzie.

— Isso é só um aviso! – Ela fala com frieza.

— O que está acontecendo aqui? – Olho de uma para outra.

Toco o ombro de Jo, tentando entender a situação, mal olho para ela e me viro para Izzie preocupado. Vejo vários sentimentos passar por seus olhos, ela me olha da mesma maneira que me olhou quando descobriu da minha traição quando ainda éramos casados. Ela sabe.

Droga, você não pode me julgar.

— Izzie? – Chamo sua atenção, esperando que ela fale alguma coisa.

— Mantenha essa garota longe do meu filho ou eu não respondo por mim. – Ela fala com raiva e sai dali.

O que está acontecendo aqui?

— Espera. – Tento segurar seu braço, mas ela se afasta. – O que aconteceu?

— Se você quer ter qualquer chance de conhecer seu filho, mantenha essa garota longe de mim e principalmente de George.

Izzie não hesitou em nenhum momento, falou com a expressão fechada, fazendo um grande esforço para ordenar as emoções e saiu dali. Sei que foi sincera e isso me deixa preocupado. Olho para Jo esperando uma explicação, ela cruza os braços e me olha irritada. Conheço-a o suficiente e sei que ela pode ser bem indelicada e irritante quando quer.  

— O que você falou para ela? – Pergunto para Jo com certa aflição.

— Eu? – Ela ri nervosa. – Por que eu que tenho que falar uma coisa para ela?

Tenho que consertar isso.

— Izzie... – Deixo Jo para trás e vou atrás dela. Não a alcanço a tempo e ela fecha a porta do quarto.

Droga Izzie!

— Izzie, vamos conversar. – Bato na porta, mas ela não responde.

— Alex, para! Você vai acordar todo mundo. – Meredith me reprende e eu paro de bater.

— Izzie... – Tento abrir a porta, mas vejo que ela me impede.

— Alex, para! – Meredith segura minha mão. – Depois vocês conversam.

Ela tem razão.

— Vamos ver com a Wilson o que aconteceu. – Ela me puxa e vamos até onde Jo está, vejo que seus olhos estão marejados.

— Quando você ia me falar que tem um filho, Alex? – Ela me olha chateada.

— Eu descobri ontem e não lembrei de falar com você.

— Você acha que eu não tenho o direito de saber? – Ela grita levantando os braços.

— Jo... – Seguro o braço dela, fazendo-a para de gesticular. – Droga!

— Você me falou que só tinha usado uma revista e um potinho, que eu não precisava me preocupar com isso... – Ela limpa as lágrimas que escorrem pelo seu rosto. – E agora ela está aqui com seu filho e você não me fala nada.

— Eu ia falar com você sobre isso, mas não tive tempo...

— Quando eu vou ser prioridade para você? – Ela eleva a voz e Meredith me olha.

— Aconteceu tudo muito rápido e eu... – Tento me justificar.

— Isso não é motivo para você não me falar algo assim. – Ela diz nervosa.

— Meu filho está doente, me desculpe se isso não é motivo o suficiente. – Falo sarcástico.

— Ah, claro. – Jo revira os olhos. – Ela chega aqui, te conta uma história triste e você acreditou tão rápido, tão...

— Wilson, para! – Meredith fica irritada. – Estamos falando de uma criança com LLA, Izzie nunca mentiria sobre isso.

— Não se meta Meredith. – Ela se vira para Meredith. – Você nunca gostou de mim, agora é a oportunidade perfeita para o Alex me deixar.

— Eu não... – Meredith tenta responder, mas eu a puxo para o lado.

— Mer, deixa. – Respiro fundo e seguro a mão de Jo. – Eu não vou te deixar porque minha ex- mulher voltou, eu tenho um filho e ele está doente.

Eu só quero ajudar ele.

— Eu vou me casar com você, Alex. – Jo fala e vejo pelo canto do olho que Meredith revira os olhos.  – Um filho muda tudo.

— Eu sei. – Suspiro cansado.

— Eu vou aceitar você ter um filho. – Ela fala com a voz embargada. – Se você não ficar falando com ela. Eu não quero...

Não acredito que ela falou isso.

— Aceitar? – Acabo rindo. – Você vai aceitar meu filho contanto que eu não fale com a mãe dele?

 - Eu tenho o direito de opinar sobre isso. – Ela fala cruzando os braços.

— Eu... Eu gosto muito de você Jo, mas não me faça escolher. – Respiro profundamente.

— Uau. – Ela passa a mão no rosto e olha para cima controlando o choro. – Você iria escolher ela?

— Eu... – Não consigo completar a frase.

Eu escolheria meu filho.

— Sempre foi ela, não é mesmo? – Eu fico em silêncio e olho para Meredith esperando alguma ajuda.

Droga!

— Quer saber, não fala nada. – Jo se afasta chorando.

— Jo? – Penso em ir atrás dela, mas Meredith me segura.

— Dá um tempo para ela. – Ela para do meu lado e olha para mim.  – Se ela gostar mesmo de você, ela vai ter que entender.

Olho Jo ir embora e não tenho vontade de ir atrás. Tem tantas coisas acontecendo que não preciso me preocupar com mais nenhuma no momento. Meu pager toca, tenho uma emergência no PS, bom que eu ocupo a mente com algo que eu posso resolver. Mais tarde eu volto e tento conversar com Izzie e com Jo.

Demoro mais que o esperado no PS, um garoto de 6 anos foi atropelado, passou por cirurgia e agora já está fora de perigo, ele será internado e ficará em observação até receber alta. Assim que termino subo para a pediatria, Arizona já está passando pelos quartos fazendo a primeira ronda. Meu coração acelera quando vejo que ela se encaminha para o quarto de George, me aproximo e fico na porta do quarto. George está sentado na cama desenhando e Izzie está em pé ao seu lado, ela está apreensiva, fica torcendo os dedos uns nos outros. Nossos olhares se encontram e logo sua atenção vai para Arizona.

— Bom dia George, como você está? – Arizona pergunta carinhosamente.

— Bem. – Ele sorri, mas não desvia o olhar do papel em seu colo. – Só estou cansado.

— Então a tour com a Dra. Bailey valeu a pena. – Ela acaricia os poucos cabelos dele e sorri. – Dr. Schmitt passa o caso, por favor.

— George Alexander, 4 anos, tem Leucemia Linfóide Aguda, espera por um doador de medula óssea...

Espera... Alexander?

— Ele iniciou o tratamento com altas doses quimioterápicas semana passada, mas o doador morreu antes da doação.

— Para que servem essas drogas, Dra. Hellmouth? – Arizona interrompe como de costume avaliando os internos.

— A função é eliminar a medula óssea e o sistema imune do receptor.

— Como é realizado esse procedimento TMO? – Arizona a questiona sobre o Transplante de Medula Óssea.

— A medula óssea coletada do doador é infundida na veia do receptor e as células-tronco infundidas na veia se dirigem à medula óssea do receptor, onde se estabelecem e proliferam, dando origem às células maduras do sangue.

— Certo. – Arizona balança a cabeça satisfeita e olha para Izzie.

— George já iniciou o procedimento. Quando o doador morreu, nós viemos direto para cá. – Izzie começa a falar em um tom baixo. Vejo que ela está bem tensa e sua voz está tremula.

— Izzie... – Arizona começa a falar, mas Izzie continua.

— Como ele tomou os medicamentos durante 4 dias, ele está com anemia e seu sistema imunológico está fraco, precisamos...

— Izzie, nós temos um doador compatível. – Arizona a interrompe e segura sua mão. – Nós vamos dar continuidade à preparação para o TMO.

Transplante de Medula Óssea.

Izzie olha para mim e eu confirmo com a cabeça, queria ter conversado com ela mais cedo, mas não tive a oportunidade de contar que sou compatível. Um alívio percorre meu corpo sabendo que vou ajudar meu filho. Vejo seu rosto se iluminar, ela sorri emocionada e abraça George, olha para mim por cima dos ombros dele e seus lábios pronunciarem um “obrigada”.

— Depois do TMO, o que acontece, Dr. Schmitt? – Arizona continua explicando como é o procedimento, embora eu não prestasse muita atenção. Fico olhando para ela e George, meu coração está acelerado.

— O paciente fica mais exposto a infecções e hemorragias durante o período em que as células ainda não são capazes de produzir glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas em quantidade suficiente para manter as taxas dentro da normalidade...

— Por isso, você ficará internado, em torno de três a quatro semanas aqui conosco, rapazinho. – Arizona olha para mim e eu entendo o que ela quer dizer.

Tenho quatro semanas para conquistar o amor do meu filho.

— Você vai acabar se enjoando de mim, George. – Dra. Robbins brinca.

— Se tiver bolo de chocolate... – Ele olha para Izzie e depois para Arizona. – Eu posso me acostumar.

— George. – Izzie o repreende e ele cruza os braços emburrado.

— Eu posso ver o que consigo para você. – Arizona fala baixo, como se fosse um segredo e ele ri. Izzie revira os olhos. – Agora temos que ir, mais tarde eu venho te ver, ok?

— Ok. – Ele a abraça.

— Izzie, daqui a pouco vão começar a dar as doses quimioterápicas, ele pode ficar meio indisposto. – Arizona fala baixo.

— Eu sei. – Ela suspira e confirma com a cabeça.

Não demora e todos saem do quarto, eu fico parado na porta observando George. Vejo que Izzie se aproxima, penso em falar algo, mas logo desisto. Ela hesita por um momento, mas me abraça fortemente.

— Obrigada Alex.

— Não tive a chance de falar com você hoje de manhã. – Falo tentando justificar a “surpresa”.

— Eu sei, me desculpa por mais cedo. – Ela passa as mãos nos cabelos e sorri sem graça. – Foi uma madrugada agitada.

— Fiquei sabendo da paciente. – Não quero ir direto ao assunto. É a primeira vez que conversamos normalmente. – Obstetrícia, então?

— Sim. – Ela sorri e olha meu crachá. – E você pediatria.

— Quem diria, não é? – Retribuo o sorriso.

— Você também é meu médico? – Somos interrompidos por George que saiu da cama e parou ao lado dela.

— George. – Izzie segura a mão dele e me olha preocupada.

— Eu... – Começo a falar, mas paro. Olho para Izzie e ela balança a cabeça negando. Sei que ela ainda não está preparada para esse momento.

E eu... Será que estou?

Eu me abaixo na altura de George e observo seu rosto. É a primeira vez que estou frente a frente com meu filho, meu coração bate acelerado. Ele tem tantos traços de Izzie... E meus também. Ele parece comigo quando eu era pequeno, seus cabelos são castanhos claros e seus olhos cor de mel. Sinto meu peito apertar vendo o reflexo do tratamento em George, ele está magro e pequeno demais para a idade. Seus cabelos estão bem ralos, como se estivessem caindo outra vez e seu rosto está bem pálido. As olheiras estão profundas e seus lábios estão ressecados e possuem uma cor roxeada. Levo a mão até seu rosto e contorno-o com o dedo, ele está febril.  Sinto-me sufocado, o ar está pesado demais para entrar nos meus pulmões.

Não consigo fazer isso.

— Eu tenho que ir. – Dou um beijo demorado na testa dele e saio dali.

Quando estou na metade do corredor olho para trás e vejo Izzie abaixada na mesma posição que eu estava minutos atrás, ela fala algo para ele e o abraça. Não consigo ficar aqui, preciso de ar, desço correndo as escadas e vou para fora do hospital. Não consigo controlar minhas emoções e as lágrimas saem rapidamente. Ensaiei várias vezes ontem como seria esse encontro, repassei na minha cabeça o que eu falaria, mas tudo que eu consegui fazer foi fugir.

Realmente, sou um covarde.


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Notas finais do capítulo

Boa noite gente... Estou muito feliz com os comentários e minha inspiração está ótima e meus capítulos mais rápidos, rs!! Eu quis explicar um pouco de como é o TMO, acho que é uma coisa muito importante para ser debatida, li muito sobre o assunto, espero que possa transmitir a ideia da doação.

Quem quiser conhecer mais sobre o assunto vou deixar os links que usei para explicar o procedimento na história.

LINK 1: http://www.saude.sp.gov.br/ses/perfil/gestor/homepage-old2/acesso-rapido/grupo-de-sangue-componentes-e-derivados-hemorrede/duvidas-frequentes-sobre-doacao-de-medula-ossea

LINK 2: http://www.americasoncologia.com.br/sem-categoria/perguntas-frequentes-sobre-transplante-de-medula-ossea-respondidas-pelo-hematologista-do-grupo-coi-dr-ricardo-bigni/

No mais, até o próximo capítulo!! Continuem comentando ♥ Beijosss



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