Light — King Kill 33° escrita por Charbitch


Capítulo 6
ATO III:III — A QUEDA ➠ Vinte anos após a morte de ℒ (Início e fim do terceiro e último ato)


Notas iniciais do capítulo

Bom, é no mínimo desanimador ver que o último capítulo postado não teve nenhum review, mas ok. Se não estiverem gostando, podem me dizer. Eu sei lidar com críticas (críticas, não insultos, ok?).



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ℒight
King Kill 33°❝Não queiras satisfazer todas as tuas vontades, Édipo! Bem sabes que
tuas vitórias anteriores não te asseguraram a felicidade na vida!❞.

—SÓFOCLES, Édipo Rei

~*~

ATO III – A QUEDA

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Vinte anos após a morte de ℒ.

— ℵÃO AGUENTO MAIS! — bradei em meu trono – Esse reinado homérico é uma grande chateação!

— Acalme-se, Light, você só está estressado, pense em tudo o que conquistou até agora! – opinou Misa.

— Cala essa boca, garota burra! Estou cheio de você!

— Mas Light, eu...

Ela veio em minha direção, tentando se explicar. Mas antes que ela pudesse abrir aquela boca grande para dizer o que eu já sabia, surpreendi-a com um impiedoso bofetão no rosto.

— Espero que isso faça você refletir sobre o que fez.

— Mas, mas... Mas eu não fiz nada! Eu... – o rosto dela pingava sangue – Light, qual é o seu problema?

— Qual é o seu problema digo eu! – atirei-a ao chão e pisei em seu rosto – É assim que você gosta, não é? Misa, a garotinha submissa cuja única função é me venerar do início ao fim, não importa o tamanho da merda que eu faça. É assim que as pessoas te veem, e você sabe disso! Você não passa de uma escrava, uma escrava em todos os sentidos da palavra. Humana estúpida. Eu sou um deus, estou acima de você. E aí? O que vai fazer agora? Espernear? Gritar? Chamar a mãe? – espremi ainda mais seu rosto sob a sola de meu sapato social – Ah, é, eu esqueci... A sua mãe está morta!

— Não fala... da minha mãe!

Misa fincou com força suas unhas postiças em minha perna, fazendo-me gemer de dor. Ela aproveitou o meu susto e conseguiu se levantar.

— Jamais confunda o meu amor com fraqueza! – bradou a garota.

— Hum, parece que as coisas estão ficando interessantes por aqui... – comentou Ryuk, entrando pela janela da catedral e pousando em meu ombro.

— Comeu maçã estragada de novo? Isso aqui é sério! – avisou Misa.

— Sim. E é justamente por ser sério que é tão divertido. Se fosse atuação, não teria graça nenhuma. Teatro é uma perda de tempo. Dê-me um drama real e eu o aplaudirei com gosto.

— Nem você mais eu aguento, Ryuk! – sacudi o ombro violentamente para espantar aquele abutre maldito.

— O que deu nele? – quis saber o deus da morte.

— Ele está assim desde que afirmou ter visto o ℒ – respondeu Misa.

— Ué, ele fala com os mortos agora? – Ryuk riu com sarcasmo.

— Calem a boca! – esbravejei – Calem agora! Saiam daqui, sumam daqui, eu não quero ver mais ninguém!

— Ninguém? Nem mesmo o...

— Não, muito menos ele! Que o ℒ vá para o inferno, que o ℒ vá para o...

Blém-blém, blém-blém.

— Que merda é essa? Quem está tocando esse maldito sino? – perguntei, furioso e com olhos arregalados de horror, levantando-me desesperado do trono.

— Sino? Eu não tô ouvindo nada – respondeu Misa.

— Nem eu – Ryuk deu de ombros.

— É você, ℒ? É você que está tocando esse sino? – andei em círculos pela sala do trono, quebrando meus pertences e gargalhando doentiamente – Não se esconda de mim, eu estou falando com você, seu bosta! Eu sei que você está aí! Quer que eu pareça louco diante dos que me apoiam, não é? Quer me fazer perder a razão, certo? Pois se você estiver a fim de jogar sujo, saiba que eu também tenho os meus truques! – exclamei, vestindo meu melhor casaco.

— Aonde você vai, Light? – questionou Misa, tentando me barrar.

— Saia do meu caminho, sua vadia! – empurrei-a com força – Preciso subir as escadas! Aquele merda só pode estar lá em cima, tocando um dos sinos para me pregar uma peça! Pois saiba você, ℒ, que eu estou sempre um passo à frente, e é justamente por isso que eu estou vivo e você não!

— Light, não! – Misa implorou.

— Light, sim! – gritei, subindo as escadas, saltando degraus, correndo contra o tempo.

Você não vai me pegar, ℒ, não vai me pegar... Não desta vez, não desta vez!

Vasculhei sino por sino avidamente. Um deles estava mais lustroso, permitindo-me ver meu reflexo. Eu estava com olheiras enormes, cabelos desgrenhados, corpo quase anoréxico, roupas rasgadas e um semblante com cheiro de morte.

Nenhum sinal do ℒ.

Mil sinais de que eu havia adoecido.

O que eu me tornei..?

Nenhum dos sinos parecia estar emitindo vibração.

Mas... Mas como?

Blém-blém, blém-blém.

Mas eu ouço o sino!

— Pare de brincar comigo, ℒ!

— Light, pare com isso! – gritou Misa, arfando após ter subido todas aquelas escadas – O ℒ está morto! MORTO!

— Não! Você não pode me convencer disso! Nunca vai me convencer disso! NUNCA! – agarrei a cabeça dela e a esmurrei com toda a força no sino que refletia o monstro que eu sabia que era – Morra, filha da puta, morra!

Bati a cabeça dela repetidas vezes no sino, até ver o sangue dela escorrer sobre o meu reflexo de merda.

— Isso, morre! Morre pra mim, sua vagabunda! Morre!

Era a primeira vez que eu matava alguém... sem usar o Death Note.

E a sensação era inédita, quase espiritual.

Meu reflexo ensanguentado sorriu de um jeito torto.

Blém-blém, blém-blém...

— Haha, agora o sino está tocando de verdade! O impacto da cabeça dela o fez tocar! Está tudo certo agora, está tudo nos conformes agora! Finalmente, finalmente! E aí, ℒ? O que achou? Eu fui incrível, não fui? Você deve estar aqui em algum lugar, chorando lágrimas de sangue, não está? Pois eu acabei de matar a única garota que se julgava capaz de me salvar! Eu consegui, cara, consegui mesmo! Eu matei ela, eu matei ela, eu matei ela! E quer saber? Depois vou triturar os ossos dela em mil pedacinhos e jogá-los pela janela de uma das torres, ou quem sabe pendurar cada membro do corpo dela num aposento da catedral! Ah, e posso temperar a comida do meu povo com os restos mortais dela também, que tal? Você gosta disso, ℒ? Gosta quando eu faço isso? Eu sei que você gosta, eu sei que você ama, eu sei que...

Como num passe de mágica, todos os sinos começaram a vibrar furiosamente ao mesmo tempo, desencadeando um som ensurdecedor. Mas como? Não havia ninguém ali além de mim e Ryuk, que apenas assistia a toda a cena enquanto praticamente gozava de tanto rir, curando o seu tédio com o meu sofrimento.

— Ryuk, quem está balançando todos esses sinos? – apertei as mãos nos meus ouvidos, começando a chorar de desespero.

— Ryuk, por favor, me responda!

— Não sei do que você está falando, Light. O único sino que realmente tocou foi esse no qual você matou a sua pobre namoradinha, haha. – respondeu ele, apontando para o sino ensanguentado – Mas agora todos os sinos estão beeem quietinhos. Não tem nenhum balançando, tampouco emitindo qualquer som. É... Parece que você só está fazendo o que qualquer ser humano normal faria na sua situação: está ficando louco!

— Ryuk, não estou conseguindo te ouvir direito! Esses sinos! Malditos sinos, não aguento ouvir mais nenhum deles! Preciso fugir, preciso fugir de todos eles!

Tentei: desci as escadas em pânico, embora a praga do som dos sinos aparentemente ficasse cada vez mais forte, por mais rápido que eu corresse. Era como tentar alcançar a linha do horizonte: ela era mais rápida do que eu e saltava para um ponto mais distante assim que eu me aproximasse dela.

Estou sem saída...

Não adianta tentar fugir dos sinos.

Eles estão tocando dentro da minha cabeça!

— O que pretende fazer agora, Light? Se continuar tendo surtos assim, vai pôr tudo a perder – lembrou Ryuk.

— Eu já perdi tudo, Ryuk! Perdi meu tempo, meu futuro, minha família, minha escrava, meu único amigo de verdade, minha tranquilidade, meu autocontrole, minha dignidade, minha sanidade! O que mais me falta perder? Me fala, o que mais me falta perder?

— A vida.

— Bem lembrado, bem lembrado, Ryuk! – corri para me sentar em meu trono, peguei meu Death Note e o entreguei ao Shinigami – Quero morrer pela mesma arma que me trouxe até aqui! Vamos, seja breve, não quero que perca tempo! Anda logo!

— Light, você não está em condições de decidir nada agora. – ele segurou e abriu o caderno, provavelmente pensando que eu só estivesse de brincadeira – Vai jogar tudo fora assim?

— Tudo o quê? De que adianta ter o mundo aos meus pés, se eu continuo infeliz, odiando o chão em que piso e as pessoas com quem converso? De que adianta ter todo esse poder legislativo, executivo e judiciário, se nada mais me satisfaz, se nada mais me entretém? Eu salvei o mundo, não salvei? Criminalidade zero! E agora? O que vem depois do último capítulo? Que epitáfio terei quando virar a página? Quem serei eu quando as cortinas se fecharem e a plateia tornar a jogar flores e ficar pedindo mais? Me dê uma razão, uma única razão! Se me der uma boa razão, eu prometo de coração esperar o dia em que morrerei de causas naturais! Do contrário, quero morrer agora! AGORA! – rangi os dentes, praticamente rosnando – E aí? Encontrou alguma boa razão? Me diz se encontrou, seu merda, me diz!

— Sem razão – sentenciou ele.

— Então escreve!

— Com prazer.

Ele destampou a caneta e escreveu:

ℒ-I-G-H-T  ƴ-A-G-A-M-I.

— Pronto. Você estará morto dentro de quarenta segundos. Aliás, não vai me dizer suas últimas palavras, milorde? É melhor pensar rápido, haha. E nada de lamentos ou arrependimentos. Diga algo que mereça ser lembrado.

— Eu... Eu... Eu amo o...

ℒ...

Mal tive tempo de terminar a frase... Peço mil desculpas...

Espero que ele seja capaz de me perdoar.



ℱIM DO TERCEIRO E ÚLTIMO ATO.


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Notas finais do capítulo

Ainda vai ter o epílogo... Confesso que foi mais divertido fazer as capas dos capítulos do que a história em si.



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