Light — King Kill 33° escrita por Charbitch


Capítulo 4
ATO II:III — O TÉDIO ➠ Vinte anos após a morte de ℒ (Início do segundo ato)


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpa o atraso de uma semana. Não ando tendo tempo para postar porque estou em viagem. De qualquer forma, postei este capítulo, afinal eu prometi que não haveria hiatus. Aqui está:



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ℒight
King Kill 33°❝Aquele que vive de combater um inimigo tem interesse em deixá-lo com vida❞.
—Friedrich Nietzsche

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ATO II – O TÉDIO

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Vinte anos após a morte de ℒ.

₮RONO DE OURO MACIÇO cravejado de diamantes de ponta a ponta, assento aconchegante e suntuoso, forrado com couro legítimo. Meu corpo inteiro se trajava por um terno cinzento e elegante, acompanhado de uma gravata de cor discreta – e joias de alto quilate nos dedos longos. Coroando tudo, lá estava meu mais descarado olhar dissimulado, marcando presença em meu rosto triangular de semblante altivo e impassível.

Ainda que coberto por todo o glamour de meu gracioso reinado, meu cabelo castanho com grisalho ainda teimava em cair sobre minhas feições cansadas. Fazia muito tempo que eu não cortava ou tingia os fios. Como se não bastasse, linhas discretas de olheiras e rugas seguiam no doloroso processo natural de consumir minha beleza jovial.

— Beirando a casa dos quarenta... Ligeiramente acabado. Estou longe de ser aquele garoto de quando comecei... – suspirei pesadamente – Acho que o domínio do mundo tem seu preço.

— Sente que desperdiçou sua vida, Light? – indagou Ryuk.

— Jamais.

— Você nunca se arrepende de nada, como todo bom psicopata – afirmou o sarcástico deus da morte – Você não mudou nada. A única coisa que ficou diferente é o seu rosto... Seu cabelo está mais longo e descuidado... Você está cheio de olheiras... Alguém já te disse que você está cada vez mais parecido com o...

— Não ouse me comparar àquele desgraçado! – esbravejei, dando um soco estrondoso no braço de meu trono.

— Haha, mas se o ℒ fosse tão desgraçado assim, você não o teria trazido para tão perto de si...

Ah, sim, você tinha que me lembrar disso...

Para os desinformados de plantão, uma informação crucial: assim que tomei o poder por completo, minha primeira ordem foi bem clara: que transferissem o cadáver de ℒ para o cemitério mais próximo da sede de meu governo. Apesar da facilidade com que meus servos transportaram o corpo, não foi tão simples assim lidar com as lembranças – e com a porra do melodrama!

...

Revelar-lhes-ei brevemente o acontecimento, apenas para que não me digam que eu nunca lhes dei nada:

~*~

ℚUANDO O ESQUELETO DO IMPRESTÁVEL DETETIVE marcou presença em território russo, Misa logo quis saber o motivo de eu ter trazido aquela montanha inútil de ossos para tão perto de meus domínios:

— Você sente falta do ℒ, não é? – murmurou ela, encarando-me com olhos cheios de lágrimas – Não precisa ter vergonha de admitir. Eu sei que você nutria mais admiração por ele do que por qualquer outra pessoa. É certo que era uma admiração odiosa e doentia, uma admiração que você vai negar até o fim dos seus dias. Mas numa coisa temos que concordar: você o odeia só porque ele foi o único homem na Terra capaz de jogar de igual pra igual com você. Tinha medo de que ele o vencesse, por isso teve que matá-lo. Apesar de tudo, no fundo você só queria que...

— Eu nunca quis nada. Mais uma palavra e o seu nome vai para o Death Note.

— Está... bem.

~*~

ℰMBORA MISA E RYUK INSINUASSEM que eu havia ordenado a transferência do cadáver de ℒ meramente por resquícios de afeto e admiração, nunca tive tais pensamentos frágeis em mente. Na verdade, aquele corpo inválido só me servia como troféu. Eu queria que ele se revirasse no túmulo a cada decisão “tirana” que eu tomasse, a fim de sentir na pele – ainda que devorada pelos vermes – o queimar de sua derrota.

Sempre que eu me sentia vazio, consumido pelo meu niilismo cada vez mais incendiário, minhas forças se reestabeleciam quando eu visitava o túmulo de ℒ. Era uma experiência quase transcendental. Eu encarava a lápide minuciosamente; fitava o entalhe delicado que destacava o nome dele. As inscrições estavam um pouco desgastadas pelo tempo, mas ainda eram visíveis. Meu tédio se esvaía à medida que eu sentia que a lápide sorria para mim. Eu acabava sorrindo de volta. Um riso fraco se formava no canto de minha boca, explodindo numa gargalhada amarga. Eu já tinha feito aquilo muitas vezes, mas eu nunca me cansava: cuspia no túmulo, gritava barbaridades, jogava pedras, deitava-me na grama, divertia-me, deleitava-me.

— Eu venci, ℒ, eu venci!

E aí eu chorava.

Porque, com o tempo, a brincadeira foi perdendo a graça.

Eu visitava o túmulo dele de mês em mês. No início, era como uma terapia, um modo eficaz de afugentar meus demônios. Eu externava qualquer instinto violento que ameaçasse a minha sanidade e, por conseguinte, a minha capacidade de governar. Porém, dentro de alguns meses, quando a “terapia” não parecia mais estar recobrando o meu ânimo como antes, nem dando a mesma quantidade de prazer pela mesma quantidade de tempo, o hábito divertido foi se tornando um ritual indubitavelmente insuportável, que eu só repetia dia e noite para ter uma migalha de felicidade que fosse. Era algo que eu fazia no piloto automático, sem nem saber o porquê. Por fim, transmutou-se num ciclo no qual: (1) eu me sentia entediado na condição de deus do novo mundo; (2) aliviava as minhas dores e ansiedade no túmulo do ℒ; (3) ficava feliz temporariamente; (4) caía no tédio novamente, e; (5) repetia o processo. Era duro admitir, mas ℒ havia se tornado o meu único vício realmente interessante. Eu havia perdido a razão do que fazia como líder mundial, já que escravizar a humanidade, usar o Death Note apenas para me divertir com as mortes que podia inventar, sufocar rebeliões, pilhar recursos e ser vangloriado em rituais religiosos não mais me satisfazia. Escarnecer ℒ era a única coisa que ainda fazia de mim um ser vivo e... humano.

~*~

❝Eu sou apenas um garoto brincando de rei suicida❞.

—Marilyn Manson

~*~

ℵUM DAQUELES DIAS MONÓTONOS de “me encontrar” com ℒ, algo surreal aconteceu. Eu estava sozinho, como há muito tempo não estivera: sem escolta, sem servos, até mesmo sem o Ryuk. Parei em frente ao túmulo e dei início ao meu processo: sorri, brinquei, gargalhei com vontade, gritei, fechei os olhos; dei um suspiro profundo assim que terminei. Depois, quando senti as lágrimas brotarem, abri os olhos para encarar a lápide. Eu estava com pretensões de ir embora, não obstante um evento inesperado me manteve ali:

— ℒ..?

Ele estava deslumbrante, sentado na própria lápide, obviamente na sua típica posição estranha, vestindo as mesmas roupas de sempre. Seus cabelos pretos e despenteados caíam sobre os olhos esbugalhados e enigmáticos. Ao que parece, ele não havia descansado em paz, já que suas olheiras ainda eram da mesma cor e tamanho. No entanto, sua juventude não havia se perdido. Ele continuava o mesmo jovem adulto com feições de adolescente de sempre. Talvez espíritos não envelhecessem, isto é, se aquilo fosse realmente um espírito. Como se não bastasse tamanha improbabilidade, o ex-detetive ainda ostentava... um esplendoroso par de asas! Asas frondosas como galhos de árvore na primavera; puras e imaculadas como respiração de bebês. Inicialmente, pensei que fossem alvas como floquinhos de neve, mas logo notei que mudavam ligeiramente de cor conforme o reflexo da luz.

Parece... um espectro de cores passando por um prisma...

Será que ele virou um Shinigami? Não, impossível! Shinigamis são diferentes! Ele se parece mais com um... um...

Um anjo!?

ℭONTINUA... 


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Notas finais do capítulo

Se tiverem gostado, podem comentar! Como sempre, obrigada pelos comentários lindos, Alexis ♥



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