Sede de Poder escrita por Mermaid Queen


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

mais cenas do melhor grupo de amigos vampiros que a gente respeita



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Carla fechou a porta do quarto logo que Katherine passou. Depois de terminarem o trabalho de literatura, abandonaram os livros no chão entre as camas e foram para a ala masculina dos dormitórios, onde Logan e Josh as aguardavam.

No meio do caminho, encontraram Kristen, que passou a acompanhá-las.

— Eu e Josh já abrimos o vinho por causa da demora de vocês – Logan anunciou, fazendo pouco caso.

— Como conseguiu vinho? – Katherine perguntou, surpresa.

Carla colocou a mão no ombro dela e sorriu maliciosamente.

— Você pode literalmente se teletransportar para onde quiser – falou, dando uma piscadela. – Pode conseguir quase qualquer coisa.

— Qualquer coisa menos assistir a um filme decente – completou Kristen, olhando para Logan.

Mamma Mia é um filme excelente – Logan falou, na defensiva.

— Ela só não gosta porque não tem sangue – continuou Carla, o que Kristen respondeu com um sorriso.

Josh ofereceu a Katherine uma taça de vinho.

— Sinto muito por sua primeira experiência de filmes conosco ser um musical – falou, encolhendo os ombros. – Ele vai cantar todas as músicas. Com exceção de “The Winner Takes It All”, porque ele não sabe a letra.

— Sem problemas, Josh – respondeu Katherine, olhando de soslaio para Logan. – Eu sei a letra dessa.

Logan arregalou os olhos e puxou Katherine para um abraço. As bochechas dele já estavam rosadas.

— Adoro essa garota! – anunciou ele, apertando-a ainda mais.

Katherine deu risada e bebeu outro gole do vinho. Quando todos se acomodaram para assistir ao filme, ela descansou a cabeça com alívio. Pensou nas vezes em que fora tocada – e até abraçada –, e o pânico usual não a atingiu dessa vez. Nada aconteceu, nem uma agitação. Ficou segura.

Pela primeira vez, ela acreditou que talvez um dia pudesse superar Alex. E aquele pensamento a enchia de esperança.

Quando o filme acabou, Carla se levantou e acendeu as luzes. Katherine percebera que ela e Kristen passaram o filme abraçadas, e aquilo provocou nela um sorriso bobo.

— Eu tenho uma pergunta – Carla anunciou, ainda ao lado do interruptor.

Todos olharam para ela. Logan limpou as lágrimas e prestou atenção com olhos um pouco desfocados.

— Vocês fariam um pacto de sangue com um famoso?

Katherine franziu a testa.

— Acho que depende do famoso – respondeu, sem pensar muito.

— Colin Firth? – perguntou Josh.

— Óbvio.

— Meryl Streep? – disse Carla.

— Mais ainda!

— Só demos opções boas – Josh fingiu resmungar. – É injusto.

Katherine começou a rir e encostou as costas em uma das camas para se apoiar. Estava um pouco tonta.

— E eu mataria pelo Robert Pattinson.

Todos concordaram com a cabeça.

— Eu faria com certeza – disse Logan, bebendo um gole de vinho com o dedo indicador erguido. – Se já tive coragem de fazer com um desses idiotas daqui, não vejo por que impedir o Pierce Brosnan de fazer o que ele quiser comigo.

Ele terminou com um suspiro triste e um sorriso desanimado.

Katherine arregalou os olhos.

— Ele já fez? – perguntou em voz baixa para Josh, chocada, enquanto os outros continuavam a conversa.

— Ele não gosta de falar sobre isso – Josh sussurrou para ela. – Quando está sóbrio, pelo menos. Foi um cara mais velho, que nem está mais aqui. Partiu o coração dele.

— Se a questão é confiar em idiotas… – disse Kristen, em tom de brincadeira. Olhava para Logan com carinho. – Se eu já tive coragem de ficar com um cara que ficava comigo e com a minha melhor amiga ao mesmo tempo, por que não?

Logan sorriu um pouco. Katherine imaginou que ele estivesse se sentindo acolhido, como ela mesma se sentia naquele momento.

— Se eu tive a coragem de ficar com uma garota que tinha namorado, achando que ela ia trocar o namorado por mim – admitiu Josh, encolhendo os ombros e sorrindo com a derrota. – Ela não trocou. Por que não?

— E se eu tive a coragem de namorar uma garota que me chantageava emocionalmente e ainda não gostava da minha mãe! – continuou Carla, sorrindo e balançando a cabeça com desgosto.

— Todo mundo ama a sua mãe! – disse Logan, fazendo um biquinho de tristeza.

Carla concordou com energia, como se aquilo a deixasse indignada até agora.

— Se eu tive a coragem de namorar um cara que me batia se eu falasse com os amigos dele…

Katherine falou sem pensar, movida pela coragem que o álcool e o grupo proporcionavam, mas a voz foi morrendo conforme ela se dava conta de que era uma das primeiras vezes que falava sobre aquilo em voz alta.

Esperou que os outros a olhassem em estado de choque, olhos arregalados e bocas escancaradas, mas não aconteceu. Kristen colocou a mão no ombro dela, e Carla segurou a mão dela. Josh sorria, encorajando-a, e Logan manteve os olhos baixos, parecendo tão chateado quando ela mesma pela situação.

Ela respirou fundo, chocada por ter falado sobre aquilo.

— E se eu tive a coragem de terminar com ele – completou, sorrindo. – É claro que a Amanda Seyfried tem permissão para me manipular.

— Eu adoro essa garota, é sério – Logan falou com a voz embargada enquanto se levantava, e a abraçou.

Katherine também enxugou os olhos quando ele se afastou, e vislumbrou a camiseta molhada pelas lágrimas de Logan.

— Mas era brincadeira – disse Logan, ainda choramingando e fungando. – Eu só faria um pacto se fosse com o Robert Pattinson.


No dia seguinte pela manhã, Katherine foi para casa com David. Ela estava tremendo um pouco pela ansiedade.

— Você vai ao jogo hoje? – perguntou ela, olhando através da janela para a vegetação ao redor da estrada de terra.

Os arbustos estavam empoeirados e adquiriam uma coloração marrom e vermelha.

Você vai ao jogo? – retrucou David, surpreso.

Katherine deu de ombros.

— Posso te dar uma carona – disse David, com um tom que dizia a ela que haveria condições.

— Mas?

— Mas eu vou levar Melanie. É um encontro. Você não vai poder ficar junto.

Katherine revirou os olhos. Como se ela fosse querer ficar junto com eles.

— Preferia ir plantando bananeira do que participar do seu encontro. Ela não é líder de torcida ou algo assim? – perguntou, tentando se lembrar de algo que Logan mencionara sobre isso.

David sorriu de lado.

— Ela foi suspensa desse jogo porque socou uma das outras líderes na cara.

— Sinistro.

— Sexy.

Katherine ergueu as sobrancelhas e deu de ombros, aceitando. Era chocante, mas, por algum motivo, não tão surpreendente assim.

Quando chegaram, Katherine estendeu a mão para a maçaneta da porta da casa, mas a porta se abriu sozinha.

— Mãe!

Ellen abrira a porta mirando um celular na cara dela, e depois em David.

— Para de filmar! – exclamou Katherine, bloqueando a câmera com a mão.

— Credo, Katherine – Ellen reclamou, baixando o celular. – Não quero que meus seguidores pensem que minha filha é uma selvagem.

Katherine estava realmente surpresa por ninguém, até o momento, relacioná-la a Ellen, mas queria manter assim. Com exceção de Chris, ninguém parecia saber. Ou, quando ela estava sendo otimista, pensava que as pessoas podiam até saber, mas ninguém se importava. Era o melhor cenário possível.

Antes que Ellen a fizesse provar alguma comida patrocinada milagrosa na frente das câmeras, Katherine subiu para o quarto. A última experiência que tivera com o chá emagrecedor fora péssima.

Depois de algumas horas chatas de televisão, Katherine desceu e ajudou Jack a fazer o almoço. Ultimamente, ele parecia estar sempre cansado. Ela se solidarizou um pouco com as olheiras escuras.

— Acho que você precisa de uma pausa – comentou ela, de repente. – Parece exausto.

— Você também parece estressada – Jack respondeu com as sobrancelhas erguidas. – Achei que não estivesse mais sentindo ansiedade.

Ela ficou sem saber o que dizer, surpresa com a resposta.

— Bom, eu… é, diminuiu bastante – falou, se atrapalhando com as palavras. – Mas vou sair um pouco para variar. Você vai ao jogo?

Jack soltou uma risada desanimada. Katherine sempre tinha essa impressão de que ele sabia quando ela estava mentindo, mas ignorou.

— É claro que vou – disse ele. – Sou o técnico.

— É claro que é – respondeu ela, achando graça. – Não é à toa que parece cansado. Você tem uns doze empregos. Ainda vou descobrir que você é o cozinheiro do colégio.

Ele deu de ombros sorrindo, concordando, e Katherine foi chamar David e Ellen para almoçar. Ela não gostava daquilo e não achava que Jack estava cansado somente devido à rotina, mas aquela piada era sua tentativa de suavizar a situação.

Entretanto, David não ajudou muito. Ele olhava para Jack com uma expressão irritada, e foi grosseiro diversas vezes. Ellen mal os escutou, mas Katherine estava prestando atenção e se estressando cada vez mais.

— A comida está ruim, David? – perguntou ela, querendo provocá-lo.

David olhou para ela um pouco surpreso.

— Não, Katherine – respondeu ele, retomando a irritação. – Por que você acha isso?

— Pela sua cara de quem comeu e não gostou – retrucou ela, no mesmo tom.

— Não comece a procurar briga, Katherine – Ellen avisou, apontando para ela sem tirar os olhos da tela do celular.

Katherine revirou os olhos.

— Só Jack pode procurar briga por aqui – David insistiu, com ironia.

Jack olhou para ele também com um tom de aviso.

— E é o que ele está fazendo não me deixando jogar hoje – David completou.

Finalmente o motivo, pensou Katherine, achando graça.

— Fiquei sabendo que o treinador é o maior babaca – disse ela, olhando para Jack sem disfarçar o sorriso.

— Com essa atitude, essa não vai ser a única vez que você vai ficar de fora – disse Jack, ignorando a piada de Katherine.

David largou os talheres na mesa com um barulho agudo e se levantou. Também subiu as escadas batendo os pés.

— Claro que ele largou o prato aqui – resmungou Katherine.

— Vou sair – Ellen anunciou, como se estivesse alheia ao espetáculo que David fizera. – Obrigada pelo almoço, queridos. Estava ótimo.

— Não ligo de levar o seu prato também – Katherine falou, irônica, depois que a mãe se afastou.

Jack riu discretamente.

— Eu te ajudo – ofereceu-se, estendendo a mão para o prato de David, mas Katherine o impediu.

— Você pode dormir um pouco se quiser me ajudar – sugeriu ela, tentando brincar para tornar mais leve o ar de preocupação dela.

Jack pareceu achar graça, mas aceitou. Antes de deixar a mesa, ele pegou o próprio prato e deu uma piscadela para Katherine.

Ela estava realmente preocupada com Jack. Claro que podiam ser só problemas corriqueiros que o estressavam, mas ela não se lembrava de tê-lo visto daquela forma antes. Os sussurros profundos da mente dela já se apressavam para fazê-la desconfiar de si mesma, sugerindo que talvez ela simplesmente não prestasse atenção suficiente em Jack antes, ou não se importasse. Mas a intuição, que ela podia sentir como um frio na barriga, ou um aperto no peito, dizia a ela que havia algo errado.

Katherine deixou a cozinha com um nó no estômago. Estava perdendo o medo de acreditar em si mesma, porém tudo o que tinha como guia eram as sensações desagradáveis.

E foi o que vivenciou durante a tarde toda, com a ansiedade dela gritando para que pudesse conversar logo com Chris. Os arrepios e o nervosismo a deixaram completamente inquieta e remoendo todos os pensamentos que lhe ocorreram.

Principalmente Rachel, já que Katherine não a avisou que iria ao jogo, e sentia um pouco como uma traidora. Tentou se confortar pensando que Chris não conversaria com ela se Rachel estivesse lá, e ela queria mesmo saber como, com toda a sua insignificância, ela poderia ter qualquer coisa a ver com o governo.

Prometeu a si mesma que no dia seguinte ligaria para Rachel e compensaria o fato de ter ido ao jogo na escola da amiga e não ter dito nada a ela sobre isso. Talvez pudessem ir a um karaokê. Katherine não gostava muito, mas Rachel adorava.

Claro que o maior terror de Katherine naquele momento era o que ela se proibira até de pensar. Mas era tão urgente, tão assustador, que ela não podia evitar. Nada no mundo poderia prepará-la para reencontrar Alex. O mero nome dele lhe causava arrepios.

Ela evitaria lugares vazios a todo custo. Assim que encontrasse Chris, não sairia de perto dele até que julgasse seguro. Ficou repetindo a ideia de que Alex nem gostava de futebol, e era improvável encontrá-lo lá. Uma hora ela acabaria acreditando. Não podia viver com medo para sempre.

Durante horas, enquanto tomava banho, lia alguma coisa, se vestia, desenhava, Katherine só se torturava com os mesmos pensamentos e angústias. Era só nisso que conseguia se concentrar.

De repente, a porta do quarto se abriu e ela saltou de susto.

— Credo, Katherine, você tá sempre assustada – disse David, apoiando o corpo no batente da porta. – Se você estiver pronta, já estou saindo.

Ela engoliu em seco. Realmente estava assustada, mas o que sentia era alívio por David ter quebrado o ciclo vicioso de pensamentos em que ela se metera.

Quando entrou no carro com ele, tinha a respiração pesada. Pensou em comentar o fato de que ele estava irritado com Jack e o jogo, mas estava indo assistir mesmo assim. David adorava fazer drama, mas jamais se privaria de qualquer evento para ser fiel ao próprio drama.

Decidiu não o provocar porque precisava da carona.

Até ficou quieta quando ele mandou que ela fosse no banco de trás, porque passariam para buscar Melanie.

— Na escola? – perguntou Katherine, não muito interessada. Só estava com preguiça por terem que fazer todo aquele caminho.

— Não – David respondeu, soando desinteressado também.

— Aonde então?

— Ela tem uma… casa aqui.

— Ela é de Glaston, então?

David olhou para Katherine pelo espelho retrovisor, irritado com as perguntas. Ela ergueu as sobrancelhas para ele.

— A família dela tem uma casa aqui, como uma casa de verão. Entendeu?

Katherine deu de ombros.

— Entendi – soou irritada porque David estava irritado com ela. – E qual é o problema disso?

— Você que está falando que é um problema – David rebateu, rápido demais.

— Eu, hein – Katherine reclamou. – Você passou o dia inteiro na defensiva!

— Você, como sempre, passou o dia no quarto – ele provocou. – Não deu para eu acompanhar.

Katherine revirou os olhos e resolveu ignorá-lo. Permaneceram em um silêncio quebrado somente pelas instruções do GPS, às quais Katherine não prestava atenção.

Até que David estacionou, e Katherine ergueu os olhos.

— Casa de verão, é? – perguntou, boquiaberta. – Você está saindo com a maior ricaça. E levando sua irmã no banco de trás.

— Está querendo ir o resto do caminho a pé? Não quero ouvir um pio seu até a gente chegar – David avisou, encarando-a pelo retrovisor.

Katherine mostrou o dedo do meio para ele e começou a rir, mas abaixou a mão quando a porta da mansão se abriu. Ela observou enquanto Melanie caminhava até o carro com tanta elegância e rebeldia que ela parecia simplesmente se destacar do cenário em que eles estavam. Mais uma vez, Katherine se intrigou com o quanto era impossível tirar os olhos dela.

Melanie bateu a porta do carro e se inclinou para beijar David. Parecia estranho para Katherine ver aquilo. Melanie não era o tipo de garota com que David estava acostumado. Ela era silenciosa, mas tinha um olhar selvagem.

Intensa, pensou Katherine, nervosa.

— Oi, você – disse Melanie, do nada. A voz dela era extremamente neutra. Desinteressada, provocadora, Katherine não saberia dizer.

Katherine encontrou os olhos dela pelo espelho retrovisor. David já havia arrancado com o carro.

— Oi – respondeu ela, olhando em seguida para David.

David parecia desconfortável. Segurava o volante com força e não encostava a cabeça no banco. Katherine se divertiu com a ideia, embora ela mesma estivesse tensa.

— Vocês estão quietos – Melanie observou, novamente com a voz baixa. – Espero que não se importem, então.

Em seguida, música alta preencheu o carro. Katherine não tentou esconder o choque e a diversão em seu rosto quando viu que Melanie ouvia coisas como Judas Priest e Black Sabbath. Aquilo parecia quase assustar David, mas ele se manteve firme. Nem tentou baixar o volume, como fazia toda vez que Katherine colocava música alta.

O que David faria por um par de peitos botaria o diabo no chinelo.

A escola estava movimentada. O trânsito ficou lento e cheio de buzinas enquanto as pessoas procuravam lugares para estacionar. Katherine observava David com diversão. Ele estava claramente sob pressão, talvez com medo do julgamento da nova namorada gótica dele, que colocava vinte quilos de pressão sobre os ombros de qualquer um que ela encarasse por mais de dois segundos.

David desviou o carro para uma das ruas laterais e avançou, encontrando vagas em uma rua escura e mais afastada. Aquele se parecia perfeitamente com um lugar vazio que Katherine jurara evitar a todo custo, e ela desceu do carro com nervosismo.

— Até mais, valeu pela carona.

Acenou com a cabeça para Melanie e David e saiu andando na frente, querendo se afastar um pouco deles, mas sem ficar para trás. Ela podia ver os carros e ouvir as vozes e as buzinas, então ficou mais calma.

Passou pelos portões da antiga escola com uma sensação pesada sobre o peito. Lembranças e sentimentos ruins a atravessavam, mas ela se esforçou para lembrar que era tudo passado. O que devia sentir naquele momento era alívio. Tudo aquilo ficara para trás.

Com esse pensamento em mente, ela atravessou um gramado junto de um fluxo de pessoas até as arquibancadas. Reconhecia muitos rostos, e sentia uma estranheza ao ver os antigos colegas naquele novo contexto. Sem ter mais a sensação de pertencimento.

Alcançou as arquibancadas e começou a procurar por Chris enquanto subia os degraus. Ele garantira que a encontraria, mas Katherine não sabia como ele faria aquilo. Desistindo de procurar entre a multidão, resolveu escolher um lugar entre os bancos que começavam a lotar. Até que sentiu uma mão em seu ombro.

Ela virou a cabeça, surpresa por Chris realmente tê-la encontrado primeiro.

— Olá, Kate.

O sorriso sumiu. A boca dela secou e o estômago se revirou. Aquela voz que estava em todos os pesadelos e crises, todos os momentos ruins que ela vivera desde então. Cu. Porra. Bosta. Merda. Filho da putaaaaaaa!

A voz de Alex, que engolia Katherine para uma imensidão de sombras, cresceu sobre ela. Incapaz de olhar nos olhos dele, ela mirou o chão.

— Parece que você viu um fantasma – disse Alex, rindo discretamente.

Bem que ela queria que ele fosse um fantasma. Estava com vontade de vomitar.

— Achei que nunca mais veria você.

Saiu quase um sussurro. Toda a recuperação, a atitude, a força que ela pensara que havia adquirido. A arrogância que tinha para discutir e se impor. Tudo foi ao chão ao encontrar os olhos dele. Azuis, gélidos, pálidos, tão vazios que se faziam assustadores. Katherine não conseguiria enfrentar aquilo.

— Criou espírito esportivo depois de sair daqui, é? – perguntou ele, com um sorriso que não chegava aos olhos. – Veio matar as saudades da escola? Aposto que veio me procurar!

Alex a provocava e achava graça na forma como ela estava acuada. Ele estava agindo como se nada tivesse acontecido, só para testar a reação dela. Para ver se ela sairia correndo como fugira dele e se esquivara pelos corredores no último ano.

— Vim para ver meu time jogar – ela falou, tentando forçar um sorriso. Não queria parecer tão assustada como realmente estava, mas não conseguia fazer a voz parar de tremer.

Alex não pareceu surpreso, mas os cantos da boca se entortaram para baixo com nojo.

— Rachel me contou. Sobre Broken Hill, quero dizer. Aquela escola esquisita, que só entra quem é convidado. Vocês conhecem alguém de dentro?

Enquanto ela compreendia o que ele estava insinuando, um riso subia pela garganta dela. Alex não podia nem conceber a ideia de Katherine ter sido convidada para a escola de ricos e ele não. O desprezo que sentia por ela era visível nos olhos frios.

— Meu padrasto trabalha lá – disse ela, com uma pequena coragem vinda do público ao redor. Apesar de ser irritante para ele que ela fosse convidada por mérito e ele não, Alex deveria ficar mil vezes mais irado por Katherine ter um contato que ele não tinha.

Não era uma coisa inteligente o que ela estava fazendo. Não deveria jamais tentar irritá-lo, porque sabia do que ele era capaz. Mas sabia que Alex não faria nada com tantas pessoas em volta, mais pela reputação da família dele na cidade do que por qualquer outro motivo. Eram uma das famílias mais influentes de Glaston, e nem Alex era tão arrogante para desafiar os pais. Não depois de tê-los envolvido com a polícia um ano atrás.

Mas ela estava sendo presunçosa ao pensar que estava segura. Alex colocou a mão no braço dela, acima do cotovelo, de repente, e apertou. Katherine se encolheu, surpresa.

Alex sorriu com a reação dela e ficou um tempo sem dizer nada, encarando-a.

Katherine sentiu os olhos arderem e trincou os dentes. Fez força para engolir o nó na garganta que se formava para segurar o choro.

— Acho que deveríamos tentar recomeçar, sabe? – ele falava enquanto acariciava o braço dela com o polegar. – Foi há muito tempo. Nós dois estamos diferentes. Você está tão linda, e eu sinto sua falta. Por que não?

Katherine ficou tão chocada que não teve reação. Não conseguia pensar, nem puxar o braço. Queria fugir, e não mexeu nenhum músculo. Começou a balbuciar, mas os olhos dela não se desgrudavam dos dele. Estava paralisada. Ela sabia que ele estava brincando com ela como um leão brinca com a presa antes de matar.

— Acho… acho que… eu…

Alex se divertia com o desespero dela, como o sorriso dele mostrava. Ele crescia diante de Katherine, conforme ela se encolhia. O sorriso se espalhava enquanto ela gaguejava e olhava para os lados, querendo fugir.

— Vamos assistir ao jogo juntos, que tal? – sugeriu ele, sorrindo daquele jeito esquisito.

Alex era bonito e carismático, Fazia as pessoas rirem e se sentirem confortáveis. Ele podia estar apertando o braço de Katherine na frente de todo mundo, aterrorizando-a, e ninguém desconfiaria de nada, porque era só Alex, o filho dos Chase, falando com uma garota.

Ele começou a puxar o braço dela, sugerindo que se afastassem dali. Katherine ficou sem ar. Não podia passar por aquilo. Ela ainda não se recuperara da primeira vez, e não sobreviveria à segunda. Aquele medo que sentia de Alex, o horror bruto, ela não conseguia se mexer para resistir. Deu um passo quando Alex deu outro, puxando-a.

Alguém pousou a mão no ombro dela. Ela pulou e virou a cabeça imediatamente, esquivando-se do contato. Alex manteve o aperto no braço dela, mas exibia um sorriso descontraído para quem quer que estivesse atrás de Katherine.

— Chris! – exclamou ela, saindo do torpor.

— Sinto muito pelo atraso – disse Chris, embora não olhasse para Katherine. Mantinha os olhos fixos nos de Alex, como se o desafiasse a manter o contato visual.

Alex vacilou, e aquilo pareceu deixá-lo possesso, mas ele ainda forçava um sorriso simpático.

— Vamos indo, então – falou Chris, encarando Alex como um leão faminto.

Chris sabia. De alguma forma, ele sabia. Quando Chris baixou os olhos para a mão de Alex no braço de Katherine, o garoto a soltou imediatamente.

— Melhor assim. Não me deixe ver você de novo, garoto – disse Chris, sorrindo com frieza. – Vamos.

Sem esperar pela reação de Alex, Chris colocou a mão no ombro de Katherine e a conduziu para saírem dali.

Katherine estava boquiaberta. O coração dela batia tão forte que ela sentia a pulsação até na cabeça. Os olhos dela se encheram de lágrimas, mas ela tentou segurar o choro, porque ele viria como uma onda.

Enxugou os olhos com a gola da camisa, derrubando mais algumas lágrimas. Chris tirou a mão do ombro dela e avançou à frente dela, passando a conduzir a busca por assentos vazios. Encontrou-os em um canto da arquibancada, vazio devido à visão ruim do jogo.

Quando Katherine se sentou e olhou nos olhos de Chris, pareceu haver um entendimento mútuo. Ele sabia o que acabara de interromper, sem precisar ver o braço vermelho de Katherine, ou as lágrimas que insistiam em correr pelo rosto dela. Mas ele não precisava falar sobre isso.

— Obrigada.

— Só a procurei como havia prometido – ele respondeu, como se Alex não tivesse acontecido.

A presença dele ali a acalmava e fazia com que ela se sentisse mais protegida. Aos poucos, conseguiu regular a respiração, e Chris respeitou o tempo dela sem dizer mais nada.

Ela se sentou sobre as mãos, para fazer com que parassem de tremer. Olhou para o campo enquanto se recompunha, e observou os jogadores entrando em campo. Os tubarões-martelo foram recebidos com vaias, seguido pelo golfinho supermacho de Albert Einstein. O golfinho era bem popular. Os olhos dela pararam de marejar.

Inconscientemente ou não, Katherine encontrou Evan na fila dos jogadores. Ele estava bonito de uniforme preto. Era alto e esguio, musculoso e com o peito largo. Tinha o semblante muito sério, e Katherine se lembrou do que ele dissera sobre a rivalidade. Era um jogo importante para ele, e ele parecia muito focado.

— Ele também te olha assim.

Katherine virou para Chris, surpresa, e sentiu o sangue subir. As orelhas ficaram quentes e ela escondeu o rosto com as mãos, de vergonha.

— Não sei do que está falando – murmurou por entre as mãos. Chris começou a rir. – E nem você sabe de quem está falando!

Enquanto Chris ria, Katherine levantou os olhos para ele e o observou. Parecia jovem, descontraído, até despreocupado. Alguém que estava ali para se divertir, como todos os outros. Mas conforme o riso passava, os olhos adquiriam um aspecto cansado.

Katherine mordeu o lábio, apreensiva. Chris sorriu para ela, como se compreendesse.

— Eu também fui pego de surpresa, sabe? Armaram para mim tanto quanto armaram para você – disse ele, com o olhar perdido no jogo. – Está acontecendo uma ruptura dentro do governo.

— Não entendo – falou ela, cruzando os braços e dobrando-se sobre si mesma. – Está dizendo que eu não deveria ser uma vampira? Que te enganaram e você não deveria ter me transformado?

Chris balançou a cabeça.

— A Substância não causa efeito em mortais, pelo menos não ainda, embora haja pessoas pesquisando para mudar isso. Enfim.

Katherine percebeu que a voz dele mudou, e imaginou que ele reprovava aquilo. Talvez fosse outro segredo de Estado.

— Estou dizendo que alguém a transformou antes – concluiu ele. – E é por isso que você tem duas cicatrizes. E nunca houve registro de testes com excesso de Substância em vampiros, porque sabemos que ela é nociva e pode matar.

A última palavra a atingiu como um soco. Ela tentou racionalizar o que Chris dizia, queria que fizesse sentido.

— Isso é ridículo, Chris – disse ela, com a voz tremendo. – A outra cicatriz foi de um antibiótico. Muito tempo atrás. Não há nada de errado com ela.

Nem ela acreditava nas próprias palavras, mas insistia nelas. Com olhos assustados, ela checou a reação de Chris. Ele suspirou.

— Sabe o que vampiros experientes podem fazer com você? Eles podem alterar a sua memória. Podem acessar sua mente, mexer nas suas lembranças e criar ilusões. Você se lembra de uma coisa que pode jamais ter acontecido, ou pode ter acontecido totalmente diferente. Podem ler seus pensamentos também. E esse é o principal motivo por que estou contando tudo isso a você.

A torcida gritou, e Katherine quase pulou de susto. O coração dela palpitava até nos ouvidos. Ela lutou para continuar ouvindo Chris enquanto o pânico dentro dela crescia. A voz que fazia com que ela desconfiasse das próprias percepções agora chegava às lembranças dela. Katherine nunca pôde e nunca poderia confiar em si mesma.

— Vou apresentá-la a alguém que vai te ensinar a se proteger – continuou ele, muito sério. – Você vai aprender a blindar a mente, porque quem a manipulou provavelmente virá colher os frutos disso mais tarde.

— Calma – pediu Katherine, erguendo um dedo trêmulo no ar. Não sabia reagir. – Quem fez isso… Se a pessoa queria me matar e fazer parecer um acidente, por que eu precisaria me proteger? Ela não precisa só… esperar?

Chris a olhou com assombro. Katherine reconhecia aquele olhar, que as pessoas tinham quando ela falava da própria morte com naturalidade. Também já tivera aquele olhar para si mesma no espelho.

— Não é só isso – disse Chris, ainda desconcertado. – Existem lendas sobre o excesso de Substância. Como eu disse, ninguém nunca testou, tanto por ela ser nociva, quanto pelo fato do acesso a ela ser muito limitado. Mas dizem que o excesso da Substância aproxima o vampiro das suas linhagens antigas.

“Conforme nós evoluímos, nos misturamos com humanos e deixamos de viver constantemente em guerra, passamos a produzir menos da Substância. Alguns dos nossos poderes se enfraqueceram, e o nosso corpo se adaptou”.

Katherine engoliu em seco. Não queria se identificar com o que ele dizia, mas só conseguia pensar no susto de Evan quando ela o empurrou. Como se ela fosse mais forte do que deveria.

— Por que alguém do governo iria me querer mais forte, Chris? Ou morta?

— Alguém de dentro do governo roubou a dose de Substância para aplicar em você, e eles sabem que uma dose foi roubada e uma garota recebeu uma dose a mais. Essa parte é o segredo. Mas quem a quer morta, ou mais forte, já não é ninguém do governo. Não mais, pelo menos.

Ela o encarou com as sobrancelhas erguidas, tentando interpretar o que ele queria dizer e provavelmente estava com medo de dizer em voz alta.

— Você sabe quem é – disse Katherine. Não era uma pergunta.

Chris suspirou.

— Sei de onde isso deve ter partido, mas ninguém sabe a verdadeira identidade dele.

Ela olhou para o jogo, de repente se lembrando de que ele estava acontecendo. Katherine não entendia como ela podia estar no centro de algo tão grande, sendo que sempre se sentira ocupando um lugar periférico na vida das pessoas. Era irreal imaginar o nome dela saindo da boca de algum presidente. Irreal e perigoso.

— Você está bem?

Katherine olhou para ele e encolheu os ombros.

— Não sei – murmurou ela. – Perdida, acho. Meio que esperando que uma van preta esteja me esperando na saída do campo para se sequestrar e fazer testes em mim.

Chris riu artificialmente, e Katherine fez uma careta porque agora a ideia de sequestro não parecia tão absurda assim.

— Como eu disse, vamos nos preparar para isso também.

— Caso eu não morra.

— Caso você não morra – Chris concordou, desconfortável. – Essa mulher, que é uma ex-Agente, está disposta a ensiná-la a se blindar, e descobrir a verdade sobre a sua primeira aplicação da Substância…

— E se eles me sequestrarem e não conseguirem tirar nada de mim? Da minha mente, quero dizer? – Katherine questionou. – Eles me matam? Eu sei de algo que eles não sabem?

Chris mordeu o lábio e ela entendeu a apreensão dele. Resolveu parar de falar, porque aquilo não devia estar sendo fácil para ele tanto quanto não era para ela.

— Vamos tentar evitar que eles te matem, tudo bem? – disse ele, desconfortável.

— Tudo bem. Mas nada disso faz sentido. Por que eu protegeria a minha mente?

— Se estão querendo fazê-la forte, querem usá-la para algo. Provavelmente contra a sua vontade, então vamos prevenir que eles possam entrar na sua mente e forçá-la a fazer o que eles querem. Como eu dizia, há alguém para ensiná-la. Não posso ir com você, porque a fiscalização sobre os Agentes está muito acirrada e isso seria suspeito.

— É longe?

— Fica a uma hora e pouco daqui. Talvez duas horas. De carro. Você tem carro?

Katherine resistiu ao impulso de enterrar o rosto entre as mãos e gritar. Ficava tudo mais difícil a cada segundo. Ela queria simplesmente desistir, mas só assentiu com a cabeça para Chris. Usaria o carro de David se resolvesse realmente ir além com essa loucura.

— Ótimo. Vá o mais rápido possível. Fica em Lakeville.

Ele sacou um pedaço de papel do bolso e o entregou para ela.

— Não se preocupe, Kate – disse Chris, olhando nos olhos dela. – Vamos cuidar de você. E consertar isso.

Katherine baixou os olhos por alguns instantes. Voltou a encará-lo e sorriu, cansada.

— Obrigada, Chris – disse com sinceridade. – Por tudo. Obrigada mesmo.

Chris sorriu de volta, sabendo que ela não se referia apenas à conversa que eles haviam acabado de ter.

Ao longe, um apito soou, e as pessoas começaram a se levantar. Chris piscou para ela e se levantou também, misturando-se entre os outros torcedores. Katherine o observou até que ele sumisse, e então voltou os olhos para o papel. Havia um endereço.

Tudo que ela tinha a fazer era roubar o carro de David, pegar a estrada e se virar, sozinha, em uma cidade desconhecida a duas horas de distância de casa. E de madrugada, para David não dar falta do carro. Nada assustador.

Katherine pensou em se levantar, pegar um ônibus e ir embora. Estava transtornada depois daquela conversa, e continuar ali por mais quarenta e cinco minutos parecia apenas tortura consigo mesma. Mas assim que deu dois passos na direção da saída, ela congelou. Conseguiu criar umas vinte cenas na cabeça em que Alex surgia e a agarrava pelo braço e a arrastava para qualquer lugar, e isso foi o suficiente para manter-se imóvel.

Voltou a se sentar, assustada e olhando em volta.

Ela colocou os fones e ficou parada, com medo de sair e encontrar Alex, e com medo de ficar lá e ele surgir. A música estava alta e Katherine ainda não parecia escutar, porque estava distraída com todo tipo de imagem perturbadora.

Foram os quarenta e cinco minutos mais longos da vida dela. Solitária, mesmo em meio a uma multidão, e pensando em como a própria morte poderia estar próxima sem ela precisar se esforçar. Desistir parecia tentador. Pensar que ela poderia interromper aquela angústia toda que ocupava cada detalhe da vida dela.

Katherine sentia culpa ao cogitar isso, mas ao mesmo tempo era inevitável. Ela pensava sobre morte o tempo todo. Só pensava em escapar.

Quando o jogo finalmente acabou, Katherine pegou o celular e ligou para David, mas ele não aceitou a ligação. Em vez disso, mandou uma mensagem:

Vamos sair. Você volta sozinha, né? Confio em você. Te devo essa. ☺

Katherine encarou a tela do celular sentindo uns doze tipos diferentes de ódio. Nem fodendo que ela voltaria sozinha. Estava com medo até da própria sombra. Decidiu ir atrás de Jack.

Desceu as escadas das arquibancadas e viu um dos árbitros fora do gramado.

— Com licença – falou, chamando a atenção dele. – Sabe onde posso encontrar Jackson Irving?

Ele ergueu os olhos para ela.

— O treinador? – perguntou, olhando para a prancheta que tinha nas mãos. Katherine assentiu. Ele apontou. – Vestiário.

Ela agradeceu e foi na direção em que ele apontou. Contornou as arquibancadas e entrou por uma porta lateral do prédio, que dava em um corredor estreito. Havia dois vestiários no fim do corredor, e ela resolveu esperar do lado de fora. Saiu pela porta e ficou encostada na parede.

Katherine estava com muita raiva da sequência de eventos daquela noite. Parecia simplesmente injusto que tudo aquilo tivesse acontecido com ela. O universo poderia diluir os acontecimentos ruins. Uma pessoa ficava com o ex assustador, outra ficava com o problema governamental e uma terceira podia lidar com o irmão idiota, em vez de deixar tudo sobre uma Katherine só.

Jack finalmente saiu pela porta, e Katherine fez um movimento brusco para segurar o ombro dele já que ele estava passando reto por ela. Ele se assustou.

— Oi, Jack. Pode me dar uma carona?

— É sempre “faz isso pra mim, Jack?”, nunca “como você está, Jack?” – ele reclamou. – Ainda por cima me assustou.

Katherine achou graça do mau humor dele, mas escondeu o riso.

— Jogo ruim? – perguntou ela, com as sobrancelhas erguidas.

— Posso levá-la sim – disse ele, ignorando a pergunta sobre o jogo. – Só espere um pouco enquanto eu…

Ele parou de falar e deu um sorriso contido para alguém no corredor. Katherine estava se virando para olhar quando Evan saiu pela porta e ambos se olharam, surpresos.

— Oi, Kat! – cumprimentou-a, sorrindo. – O que está fazendo aqui?

Katherine imaginou que ele se referia tanto a Jack quanto ao vestiário.

— Vim perguntar para o professor sobre as linhas de ônibus – mentiu ela, sem dar a Jack a chance de dizer qualquer coisa. – Mas acho que ele também não sabe.

Evan franziu a testa. O rosto dele estava vermelho, os cabelos molhados e ele cheirava a sabonete. Muito gato, ela era capaz de admitir.

— Eu te dou uma carona – disse ele, dando de ombros. – Não vou deixá-la pegar ônibus sozinha a essa hora.

Katherine corou.

— Não precisa, Evan – murmurou ela, sem jeito. E mais envergonhada ainda por aquela conversa estar acontecendo na frente de Jack. – Eu moro perto. E está super cedo.

— Fala sério, não é problema nenhum – insistiu Evan.

— Bom – interrompeu Jack. Katherine jurou que ele queria rir, mas manteve a expressão neutra. – Boa noite, garotos. Vejo vocês na segunda.

Katherine queria matá-lo. Ou melhor, ela iria matá-lo assim que chegasse em casa. Olhou para Evan novamente e deu um sorriso forçado.

— Pode ser, então.

Evan assentiu e começou a caminhar devagar, indicando que era para Katherine acompanhá-lo.

— Estou morrendo de fome. Quer comer alguma coisa? – sugeriu ele, olhando para ela com expectativa. – Eu pago.

Katherine engoliu em seco. O que ela queria mesmo era ir direto para casa e chorar. Mas se fizesse isso, talvez se arrependesse depois. E ela podia chorar de barriga cheia também.

Ficar sozinha com Evan normalmente não a deixava nervosa, mas sair com ele para comer parecia diferente. Ela não sabia o que fazer. Podia não ser diferente, na verdade. Ele podia mesmo querer só comer alguma coisa com ela, como já fazia na escola o tempo todo. Não havia motivo para se estressar.

Com o coração batendo forte no peito e sem se dar a oportunidade de repensar o assunto, ela pensou que só se vive uma vez. Não podia viver se escondendo para sempre. E aceitou.


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Notas finais do capítulo

to obcecada pela melanie e vcs??
obs: alex eu te odeio eu te odeio!!!!!!!!!!!!!!!!



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