Sede de Poder escrita por Mermaid Queen


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

meu deus sao muitas palavras ficou muito grande desculpa mas modéstia a parte muitos acontecimentos ficou mt bom viu



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Evan sorriu para ela e caminhou na direção do estacionamento.

— Consegui estacionar aqui dentro – disse ele.

Ela assentiu com a cabeça. Quando Evan se aproximou do carro, ela descobriu que aquele lindo conversível azul que vira antes, no estacionamento de Broken Hill, era dele.

— Eu adoro esse carro! É incrível – ela elogiou, tanto porque realmente gostava, quanto porque tinha medo de surgir um silêncio desconfortável entre eles.

— Ah! – Evan exclamou, e olhou para o carro como se o notasse pela primeira vez ali. Destrancou-o e sorriu. – Obrigado!

Os dois entraram. A última vez em que ela havia estado em um encontro fora mais de dois anos atrás. Passou um ano com Alex, e então nunca mais. Nunca mais estivera realmente sozinha com nenhum homem que não fosse da família, na verdade.

— O que achou do jogo?

Evan parecia nervoso, talvez tanto quanto ela. Não, era impossível estar mais nervoso que ela. Katherine teve a impressão de que Evan ficaria tagarelando o tempo todo para evitar o silêncio constrangedor, como ela normalmente faria, e achou graça.

Ela estava tão nervosa que não conseguia relaxar o suficiente para perceber algum silêncio. Não depois daquela noite, estando ainda no terreno da escola.

— Foi legal – disse ela, olhando pela janela para o prédio da escola. – Parabéns pelo jogo.

Procurava por Alex. Queria estar de olho nele o tempo todo, a paranoia estava de volta. Era melhor saber onde ele estava, para não ser surpreendida novamente. E não conseguia se livrar da sensação de que homens misteriosos do governo cruzariam o caminho dela a qualquer momento, agora que ela sabia de tudo.

— Nós perdemos, Kat – Evan respondeu, rindo, sem graça, e lançando um breve olhar para ela. – Está tudo bem?

— Ah – murmurou Katherine, ainda olhando pela janela. – Sinto muito.

— Não tem problema. Quer dizer, fiquei com muita raiva, mas vamos dar o troco no jogo de volta em Broken Hill. Está tudo bem? – insistiu ele.

Já estavam na rua, e felizmente ele tinha que prestar atenção no trânsito em vez de notar a cara horrível de Katherine.

— Está tudo bem – ela respondeu, observando Alex, que acabara de entrar em um carro estacionado pouco atrás deles. O estômago dela se revirou.

— O que tem ali? – ele quis saber, olhando pelo retrovisor na direção que ela olhava.

Ela se virou para frente imediatamente, e balançou a cabeça.

— Não tem nada – falou, sorrindo. Devia ser um sorriso horrível. – Achei que fosse alguém que eu conhecia. O que nós vamos comer?

Evan relaxou e deu de ombros.

— Não sei. Você não parece faminta. Está faminta?

Katherine estava distraída para pensar em fome. Pensava no que Chris dissera, sobre ir a Lakeville assim que possível. Talvez pudesse ir na noite seguinte, quando voltassem para a escola. Roubaria as chaves do carro de David, ou poderia pedir ajuda a Evan para pegar as chaves.

Deu-se conta de que Evan a observava, esperando por uma resposta.

— Não muito, tem razão. Mas é melhor comer agora. Minha mãe só vai me deixar comer pão sem glúten se eu tiver fome em casa. Já comeu pão sem glúten?

Evan deu uma risada despreocupada, e o som a agradou. O cheiro dele também era bom, e os cabelos ainda estavam molhados, e respingaram nela quando ele balançou a cabeça para rir. Katherine sorriu com o momentâneo alívio que ele parecia ser capaz de trazer.

— Vou salvar você do pão sem glúten – disse ele, com tom sério. – Pizza ou hambúrguer?

Katherine sorriu de novo. A leveza de Evan se transmitia para ela, deixando-a confortável, e ela foi relaxando conforme se afastavam da escola.

— Voto pizza.

— Juro por deus que eu consigo comer uns seis pedaços de pizza depois de correr por uma hora e meia – disse ele, solenemente.

— Acho que você está só querendo me assustar.

Evan olhou para ela e sorriu. Katherine baixou os olhos e sorriu também.

Comeram pizza. Evan a levou a uma lanchonete movimentada e barulhenta, onde todos pareciam estar se divertindo. Pediram uma pizza inteira, da qual Evan realmente deu conta. Comeu cinco pedaços, e a obrigou a comer três.

— O terceiro vai me fazer vomitar – suplicou ela, empurrando o último pedaço em direção a ele. – Não vai dar.

— Não posso comer como um ogro no primeiro encontro – Evan respondeu, sorrindo. – Seis fatias são demais. É todo seu.

Katherine ergueu as sobrancelhas para ele. Evan parou de sorrir quando percebeu.

— Quer dizer, a menos que você queira que seja – disse ele, amassando o tecido da camiseta entre os dedos nervosamente. – Tipo, se você quiser que seja um encontro, pode ser. Se você não quiser, pode ser só um…

Ela ficou curiosa para saber o que seria se não fosse um encontro, segundo Evan, mas não o deixou terminar. O nervosismo dele a deixava nervosa.

— Pode ser – falou timidamente, olhando para a pizza.

Evan sorriu para ela, parecendo aliviado.

— Coma o último pedaço, então – falou, empurrando-o para ela. – A regra para primeiros encontros ainda vale. Sabia que você ia concordar com isso ser um encontro. Eu soube quando entrou no meu carro e até ali ainda não tinha mandado eu ir tomar no cu.

Katherine também estava um pouco mais aliviada, e explodiu em risadas quando ele disse aquilo. Sentiu que a tensão de antes havia se dissipado, e agora podia falar com ele como na escola, sem a pressão daquilo ser ou não um encontro.

— Qual é a da sua mãe com o pão sem glúten? Estava com vergonha de perguntar no começo.

— Minha mãe é do tipo viciada em dieta. Faz pressão na casa toda para a gente fazer dieta. Se eu não for na academia, o sexto sentido dela vai saber – contou ela, adaptando um pouco a verdade. – Ela vai conseguir farejar o queijo em mim quando eu chegar.

— A bronca vai valer a pena – disse Evan, sorrindo. – Pela pizza, nem tanto pela companhia.

— É, a companhia nem é tão boa assim – concordou ela.

— Como é sair com um espírito obsessor?

Katherine colocou a mão na boca, querendo rir por tê-lo chamado daquilo.

— Tenho medo de ir beber água na cozinha de madrugada e você estar lá – provocou ela, fazendo Evan rir também.

O celular dele sobre a mesa começou a vibrar com uma ligação e o sorriso dele desapareceu.

— Já volto – disse Evan. Pegou o celular e se afastou da mesa.

Katherine deu de ombros e mordeu aquele último pedaço de pizza. Pensou novamente no que faria na noite seguinte, e sentiu um arrepio se espalhando da nuca para os braços. Não confiava em si mesma para dirigir o carro de David. E se batesse aquele carro, menos que isso, se o arranhasse minimamente, o governo teria seu trabalho poupado, porque David a mataria assim que colocasse os olhos no carro.

Quando estava terminando de comer, Evan voltou.

— Já paguei – disse ele, colocando o celular no bolso.

Katherine franziu a testa. Estava confusa, e imaginou que ele tivesse tido algum problema ao telefone. Talvez quisesse ir embora. Ela tentou não se ofender com aquilo e ser gentil, por não saber o que se passava. Até a expressão dele tinha mudado um pouco.

— Podemos ir, então – sugeriu.

Ele assentiu com um sorriso contido, que não chegava aos olhos. Quando ela se levantou, Evan colocou a mão em volta da cintura dela, e ela olhou para ele, surpresa, e virou a cabeça rapidamente quando o encontrou observando-a de volta. Quase recuou, mas tentou se acostumar com o toque. Alex a deixara assustada mais cedo com o aperto no braço, mas ela não deixaria aquilo ser um retrocesso.

Pessoas normais se tocavam o tempo todo. Katherine tinha que se acostumar com aquilo, embora agora estivesse com uma sensação ruim.

Deixou que Evan a conduzisse até o carro chamativo.

— Imagina o que a minha mãe vai achar quando você encostar esse carro azul na frente da minha casa.

— A minha mãe acha bem autêntico – Evan disse com uma careta. – Até demais.

Katherine riu, mas estava brincando, é claro. Ellen provavelmente não havia percebido ainda que Katherine não estava dentro do quarto, e não ia perceber que havia algum carro estacionado no meio-fio da casa dela.

Evan soltou um riso baixo e surpreendeu Katherine ao colocar a mão no pescoço dela. Puxou-a delicadamente, enquanto se olhavam, e sustentou o olhar por alguns longos segundos antes de beijá-la. Katherine soltou o ar e sentiu um arrepio percorrer sua pele quando os lábios deles tocaram os seus.

Toda a tensão que o corpo dela carregava sumiu, restando somente um frio na barriga. Evan se afastou e sorriu para ela. Katherine soltou um suspiro, e se pegou sorrindo também.

— Você é linda, Kat.

Katherine baixou os olhos, envergonhada. Evan abriu a porta do lado dela, esperou que ela entrasse e depois contornou o carro para assumir o lugar do motorista.

Lançou um rápido olhar para Katherine antes de ligar o motor, e o sorriso dele a fez sorrir também.

Evan se aproximou novamente, aceitando o convite do sorriso dela. Ao sentir o hálito dele, a pele quente da mão que segurava o rosto dela, Katherine o puxou pelo pescoço para mais perto. Evan a beijou com urgência, contrastando com a delicadeza do beijo anterior. Os dedos dele se enroscavam no cabelo dela.

Katherine ofegou quando se separaram, provocando nele um riso rouco. Evan puxou o queixo dela e a beijou uma última vez antes de sair com o carro.

— Pode colocar música se quiser – disse ele, e começou a dirigir.

Katherine pegou o celular com as mãos tremendo. Escolheu entre as músicas e suspirou quando a música invadiu o carro, quebrando o silêncio entre eles. Ela sentia uma tensão entre eles, como se o ar estivesse quente e pesado, e as mãos tremiam. Estava completamente desorientada. Olhou pela janela para esconder o sorriso.

Não achava que aquilo era boa ideia, especialmente por Evan ser alguém presente no dia a dia dela. Lembrou-se de si mesma fugindo de Alex pelos corredores, mas tentou afastar aquela imagem da mente. Eram situações completamente diferentes.

E enquanto olhava pela janela, teve a sensação de que havia algo errado. Olhou para Evan, que estava com o cenho franzido.

— Como sabe o caminho?

Ele riu artificialmente, Katherine estreitou os olhos sem entender.

— Eu não sei o caminho – explicou-se, mantendo os olhos na rua. – Vou passar na festa antes de deixá-la em casa. Preciso resolver um problema meio urgente com o Andrew, ele acabou de me ligar. Você se importa?

Katherine o encarou, sem reação. Com certeza havia algo errado. Era o frio na barriga dela dizendo isso, juntamente com um mau pressentimento e alguns tremores que ensaiavam começar. A ansiedade em pacote econômico.

— Vai ser rápido, eu prometo – acrescentou ele, depois de ela não dizer nada.

Claro que podia ser só ansiedade, depois daquele dia terrivelmente longo cheio de surpresas desagradáveis. A ansiedade era completamente esperada nessa situação. Mas Katherine não conseguia se livrar daquele pressentimento. Do incômodo da intuição.

Havia algo errado.

Como Evan não lhe dera opção, ela só se recostou no banco e esperou enquanto ele dirigia. Mexeu nas unhas nervosamente. Olhou para ele de soslaio, desconfiada. Desconfiada de algo que ela nem sabia o que podia ser.

Evan puxava assuntos bobos com ela, falando sobre coisas corriqueiras, e ela respondia, achando tudo cada vez mais esquisito.

Eles diminuíram de velocidade dentro do bairro residencial, e Evan encostou o carro no meio-fio. Katherine pensou em ficar lá dentro, mas ela ficaria completamente paranoica depois de três minutos sozinha, então desceu junto com Evan.

Caminharam pela rua repleta de carros, seguindo uma batida de música alta e repetida. Evan contava sobre a irmã dele, e como eles brigavam porque os dois tinham preguiça de passear com o cachorro, mas um deles tinha que ir. Katherine mal o escutava, e começou a fazer uma careta ao pensar na estranha situação de encontrar todos os caras que ela havia dispensado por dizer que estava ocupada.

Quando se deparou com a casa, a careta se transformou em choque. A esquisitice acabara de ficar muito mais esquisita, porque aquela era a mansão de Melanie. Ela olhou para Evan com os olhos arregalados, mas ele continuara andando. Quando chegou à porta, passou um braço sobre os ombros dela.

Katherine quis fugir daquele abraço. Quis fugir daquele lugar, na verdade. Mas não teve coragem de protestar, sempre se lembrando de que aquilo tudo podia ser um grande surto da cabeça dela. Ela sabia que Evan ainda tinha sentimentos pela ex porque ele mesmo deixara claro nos últimos dias, mas talvez aquilo pudesse ser normal. Ela estava se esforçando muito para encontrar um ponto de vista que pudesse deixar aquela situação normal.

Abriu a boca para dizer que ficaria do lado de fora, mas já estavam dentro antes mesmo que ela pudesse pensar.

— Evan! – uma voz masculina gritou por cima da música.

— Andrew! – Evan cumprimentou de volta, quando o outro garoto se aproximou.

— Você é o cara – disse Andrew, e Evan tirou o braço dos ombros de Katherine para que eles pudessem bater as mãos. – Evan é o cara!

Katherine olhou para Andrew, gritando para o resto da festa, e imaginou que ele estivesse bêbado. Depois de olhar para ela e ignorá-la completamente, ele começou a adentrar a casa, e Evan foi atrás, agora novamente com o braço ao redor dela.

Conforme eles passavam pelas pessoas, Katherine começou a registrar um comportamento repetido entre os outros jogadores do time, vários dos quais a abordaram naquela semana. Eles olhavam para ela, surpresos, e depois viam Evan e começavam a sorrir. Com um nervosismo crescente, ela olhou para as próprias roupas e braço, imaginando se havia algo errado.

Queria ir embora daquele lugar. Não estava certo.

A música alta e o ambiente escuro começaram a deixá-la ainda mais atordoada.

Andrew foi até um canto da sala em que eles haviam acabado de entrar, uma sala ampla e lotada que parecia ser o centro da festa, onde estavam as bebidas. Encheu um copo de cerveja e o ergueu no ar, chamando a atenção das pessoas.

— Os tubarões-martelo saúdam Evan Parker! – berrou ele, com o copo no alto e o maior sorriso do mundo na cara. – O homem do jogo!

As pessoas gritaram em resposta, e Andrew deu a Evan o copo de cerveja. Katherine achou que era um bom momento para se desvencilhar dele, porque Evan estava fazendo um agradecimento teatral. Tirou o braço dele e ele mal notou, ou, se notou, não se importou. Descartou-a completamente.

Sem se dar tempo de ficar ofendida, Katherine começou a tentar empurrar as pessoas para andar para fora da sala.

— O que você está fazendo aqui com ele, Katherine?

Katherine congelou quando ouviu a voz de David. Encontrou-o encostado à parede, perto da escada. Pela cara, estava furioso. Ao lado dele estava Melanie, que observava a cena com as sobrancelhas erguidas.

David começou a se mover entre a multidão e Katherine, a princípio, achou que ele estava indo na direção dela, mas ele se desviou e puxou o ombro de Evan. Katherine arregalou os olhos. As pessoas começaram a abrir espaço.

— Eu mandei você ficar longe da minha irmã – David rosnou. – Seu problema é comigo.

Katherine olhou para Evan, de alguma forma esperando que ele se defendesse. Ou que defendesse a ela. Mas Evan sorriu maliciosamente, e naquele momento Katherine sentiu um aperto no peito como se todo o ar dela tivesse sido tirado. Sentiu o impacto quando percebeu que fora usada.

Ela se afastou dos dois, sem chão, e foi para perto de Melanie na parede, que assistia à cena com deleite.

— É melhor você afastar os dois – disse Katherine com urgência. – Eles vão se matar. Olha para a cara deles.

Melanie lentamente desgrudou os olhos da discussão para encarar Katherine, como se não tivesse percebido que estavam falando com ela.

— Deixe que eles se matem – disse ela, simplesmente. – É o que eu iria querer no seu lugar.

Katherine engoliu em seco e refez mentalmente a trajetória de Evan durante aquela semana. Pensando melhor, lembrou-se de todos os caras do time de futebol que a chamaram como acompanhante para aquela festa. O próprio Andrew, que fora o primeiro a convidá-la. Estava se referindo a Evan como o homem do jogo que eles haviam perdido. Como se houvesse outra vitória a ser comemorada.

— No meu lugar – Katherine repetiu em voz baixa para si mesma. O lugar patético e baixo que ela ocupava.

— Você vai vomitar ou algo assim? – Melanie perguntou, fazendo uma careta.

Katherine a encarou, destruída. Lágrimas encheram os olhos dela e borraram sua visão.

— Você não sabe o que é estar no meu lugar – sibilou ela, com raiva. – Eles estão fazendo tudo isso por você.

Melanie sorriu, parecendo gostar da ideia.

— O engraçado é que foi tudo culpa minha— comentou ela, e realmente parecia achar graça na situação, alheia a Katherine. – E Evan acha que tem que dar o troco no seu irmão. Usando você, ainda por cima. Evan é realmente um babaca. Não aguento mais ele no meu pé.

Katherine enxugou as lágrimas, embora elas continuassem a descer. Ficou com medo de entrar em um banheiro para chorar e ficar lá para sempre. Não fazia ideia de como poderia ir embora, e nesse meio tempo estava presa ao lado de Melanie, que falava muito seriamente consigo mesma em voz alta. Estava em uma das situações mais humilhantes de toda a sua vida, e só queria desaparecer.

— Preciso me livrar logo desse pacto – continuava ela, tamborilando as unhas compridas no copo de vidro. – Você nunca vai me perdoar – murmurou ela, olhando de soslaio para Katherine. – Mas vai ser bom para ele aprender, também.

— Sabe onde estão as chaves de David? – Katherine perguntou, ignorando as coisas que Melanie dizia. Talvez ela fosse do tipo que tagarela quando está bêbada, não importava. Katherine precisava mesmo ir embora dali.

— Sinto muito, gata – disse Melanie, olhando muito séria para ela. – Mas preciso mesmo me livrar disso.

— Estou indo embora – Katherine falou, ainda chorando e sem entender nada.

Viu Melanie erguer o braço e estalar um dedo, olhando além, e Katherine resolveu seguir o olhar dela.

David parecia confuso, e falava com Evan, que estava com o olhar desfocado apontando para o chão. O queixo dele pendia. Então Melanie fez um gesto na direção de Katherine, e Evan obedeceu. Ele começou a andar na direção dela como um zumbi, e a multidão curiosa foi abrindo espaço para ele.

Evan foi para cima de Katherine com o olhar vago e agarrou os dois pulsos dela de repente. Ela observou com horror quando ele abriu a boca e os dentes dele cresceram e rasgaram as gengivas, e aquelas presas afiadas pararam a centímetros do rosto dela.

Ela tentou fugir do aperto dele, mas ele a manteve imóvel, e as mãos pareceram tão firmes quanto mármores. Ela buscou os olhos dele, suplicando, mas Evan baixou a cabeça e uma dor lancinante começou a se espalhar pelo pescoço dela.

Katherine começou a gritar.

Ela não gritava pela dor, que durara somente um ou dois segundos, mas pelo pânico de saber que Evan a estava mordendo.

— Ai, puta que pariu, puta que pariu, puta que pariu – ela começou a repetir, sentindo nada além de pânico, choque, gritaria na própria cabeça, surto generalizado. Evan estava mordendo Katherine. MORDENDO!

De repente, ele foi arrancado de perto dela com violência. Katherine despencou no chão e o viu cair também, para o outro lado. Tentou erguer a cabeça para entender o que estava acontecendo ao seu redor, mas estava completamente tonta.

Buscou a parede em algum lugar para se erguer. Agarrou o corrimão da escada e se colocou em pé com dificuldade. Tudo rodava como se ela estivesse bêbada. Ninguém a ajudou.

A música voltou, e era como se estivesse dentro da cabeça dela. As pessoas também haviam voltado a conversar. O rosto de David surgiu em seu campo de visão, assustando-a.

— Você está bem? Acho que vou levá-la ao hospital.

Katherine franziu a testa, tentando entender, mas as palavras dele pareciam vir de longe, trazidas e misturadas pelo vento.

— Me desencosta – ela tentou dizer, puxando o braço que David segurava. Não sabia o que estava falando. Só queria que ele se afastasse, mas as palavras se confundiam.

— Foi só uma mordida – disse alguém, e ela reconheceu a voz de Melanie. As coisas estavam começando a clarear. – Eles fizeram um pacto. Não é nada demais.

— Evan fez um pacto com a minha irmã? – David grasnou, indignado.

Ela o viu se afastar, com passos pesados, e resolveu sair dali. Enquanto andava, desamarrou a blusa que tinha na cintura e a apertou contra o pescoço, voltando a sentir dor. Cambaleou até a porta e, ao se apoiar no batente, viu sangue nas mãos.

— Ai, caralho – murmurou, com medo de morrer ali.

Ouviu alguém chamá-la, mas a voz pareceu distante e ela fechou a porta atrás de si com um estrondo que foi abafado pela música. Caiu no gramado e sentiu sangue escorrendo entre os seios.

Havia pessoas em volta, bebendo no gramado, mas ninguém pareceu assustado com ela.

Katherine só percebeu que não sabia o caminho para casa quando terminou de atravessar o gramado e chegou à rua, mas preferia andar a noite toda do que voltar àquela casa. Começou a andar pela rua, mas não conseguia se lembrar do caminho que fizera antes.

Katherine viu o carro azul de Evan e, num acesso de raiva, bateu nele com a blusa que estava mantendo no pescoço. Ficou chicoteando o capô com a blusa até seus braços doerem e ela começar a chorar. Largou a blusa lá, para que Evan soubesse de onde aquelas manchas de sangue vieram, e seguiu caminho pela rua.

Ela tinha esperança de terminar a rua e sair do bairro residencial, talvez dar de cara com uma avenida, mas encontrou outras ruas vazias, e sentiu angústia por estar perdida. Começou a ficar paranoica com todos os sons e sombras uns quinze minutos depois do surto com o carro de Evan.

Dez minutos depois disso, começou a correr e chegou a se esconder atrás de um carro porque teve a certeza de que estava sendo seguida por Alex. Ainda estava atordoada, e caiu e ralou o joelho no asfalto quando tentou se levantar para sair do esconderijo.

Foi aí que começou a chorar e desistiu. Pegou o celular para mandar mensagem para Jack.

Perguntou se ele ainda estava acordado, e ele imediatamente ligou para Katherine.

— O que aconteceu? – perguntou Jack. A voz estava calma apesar da urgência da ligação.

— Você pode vir me buscar? – disse ela, olhando em volta.

— Onde você está? – A fala dele ficou mais rápida.

— Eu não faço ideia – murmurou ela, soluçando. – Vou mandar a minha localização.

Jack finalizou a chamada sem respondê-la. Estava definitivamente preocupado.

Katherine se sentou sobre a sarjeta e abraçou os joelhos. Soprou o machucado e lamentou a calça rasgada. Quando viu o carro de Jack se aproximando, já havia mordido toda a parte interna do lábio inferior, e sentia gosto de sangue.

— Podemos não falar sobre isso? – disse Katherine, entrando no carro.

Quando ela abriu a porta do carro, a luz interna se acendeu e Jack arregalou os olhos.

De onde veio todo esse sangue?— perguntou, alarmado. – Vamos para o hospital. Fecha a porta, rápido.

— Sem hospitaaaal – Katherine começou a falar, mas caiu no choro no meio da frase. Fechou a porta e Jack arrancou com o carro.

— Ele encostou em você?

Jack virou a cabeça para ela, chocado e impaciente.

— Por que você não fala?

Ela estava só chorando. Respirou fundo. Jack também estava tentando se acalmar.

— Esse sangue todo – insistiu ele. – Ele mordeu você?

Katherine cobriu o rosto com as mãos e assentiu, tentando segurar o choro. Ouviu Jack bater no volante com raiva.

— Ele não me atacou – explicou ela, soluçando. A voz saiu falha e estranha. – Foi muito estranho. Ele veio igual um zumbi pra cima de mim.

Olhou para Jack. Ele revirou os olhos.

— Provavelmente estava sob efeito de hipnose – resmungou, balançando a cabeça. – Não importa agora. Você está bem?

Hipnose… Algo completamente inimaginável para ela. Fora da realidade. Como morder pescoços, na verdade.

As luzes noturnas da cidade passavam como um borrão pelos olhos dela, cheios de lágrimas. Katherine fez que sim com a cabeça, sem conseguir falar. Nunca sentira tanta vergonha na vida.

Quando chegaram, Jack olhou para o carro vermelho na garagem, e então para Katherine, como um aviso.

— Não acorde a sua mãe.

Ela assentiu e desceu do carro, tendo calafrios ao pensar em encarar David. Abriu a porta de casa devagar, hesitante, e viu o irmão no sofá. Ele se levantou imediatamente, mas parou ao vê-la encharcada de sangue.

— Tentei encontrar você, mas… puta merda.

Katherine desviou os olhos, fugindo do olhar de pena dele. Tornava tudo ainda mais humilhante.

— Eu estou bem.

— Não vamos levar ela para o hospital? – David perguntou para Jack, que fez que não com a cabeça.

— Não precisa.

— Por que você foi sair com ele, Katherine? – perguntou David, indignado. – Não deu para perceber que…

— Não – Katherine interrompeu, tentando manter a calma. Respirou fundo para não gritar com David. – Por incrível que pareça, eu não percebi que ele só estava fingindo interesse por mim por causa de uma aposta. Não era tão óbvio para mim quanto era para todas as outras pessoas, pelo jeito.

Ela atravessou a sala e começou a subir as escadas.

— Não foi isso que eu quis dizer, Katherine – David resmungou.

— Não fala comigo nunca mais.

Katherine falou e foi para o próprio quarto, onde poderia desabar com privacidade. Tirou a blusa ensanguentada, que já estava ficando endurecida, e jogou-a no chuveiro.

Quando a água começou a cair quente sobre a sua pele, Katherine imaginou que começaria a chorar e sentir pena de si mesma, desejando nunca ter nascido e pensando em morrer. Era o que ela esperava de si mesma. No entanto, a única coisa que ela sentia era um vazio.

Apoiou as mãos no ladrilho frio para absorver aquela absoluta ausência de todas as coisas. Observou a água manchada de vermelho escorrer pelo ralo, respirou o vapor que se formava. Katherine terminou o banho e pensou sobre aquilo.

Era uma bênção poder não sentir, pelo menos naquele momento. Era uma exceção. Um escape do pesadelo diário que ela vivia. Normalmente, ela amaldiçoava os remédios quando passava longos períodos sem sentir nada, porque era tão angustiante quanto as crises de ansiedade.

Mas não naquela noite.

Katherine vestiu o pijama e se jogou na cama, exausta, quando ouviu uma batida na porta. Sabia que era Jack, porque David nunca batia para entrar.

— Eu trouxe chocolate quente – disse Jack, erguendo uma caneca no ar.

Katherine aceitou a caneca.

— Só vim me certificar de que você estava bem.

Ela indicou a ponta da cama com a cabeça, e ele se sentou para tomar o próprio chocolate quente. Jack parecia aliviado, e a visita dele não era uma surpresa. Ele nunca a deixava dormir sem supervisão depois de crises importantes. Provavelmente pediria para ela manter a porta aberta naquela noite.

Katherine entendia aquilo. Ele tinha medo do que ela poderia fazer durante a noite, que eles só descobririam no dia seguinte. O suicídio podia ser silencioso, e Jack sabia disso, então fazia questão de vigiá-la.

— Eu estou bem – disse ela, tomando um gole do chocolate quente. – Obrigada.

Jack sorriu em resposta. Katherine percebeu que, embora ele tentasse disfarçar, estava olhando para a mordida no pescoço dela.

— Você já fez? – perguntou ela, apontando para a mordida. – Já teve um pacto com alguém?

Ele pareceu surpreso, sem saber o que dizer. Katherine achou graça.

— É claro que não. Nós não fazíamos essas idiotices quando eu era adolescente.

Katherine balançou a cabeça para a mentira deslavada que ele estava contando. Provavelmente era a intenção de Jack mesmo, depois de ter deixado claro que ele repudiava os laços de sangue. Ele nunca incentivaria aquilo, mas é claro que já tinha feito.

— Sei – disse Katherine, debochando. – Quero ter presas iguais às de Evan. Para matá-lo depois da merda estúpida que ele fez.

— Você vai ter – Jack respondeu, parecendo um pouco hesitante em falar sobre Evan. – Mas pode matá-lo com aquele taco de beisebol que você usou para bater no seu irmão, também. Ou eu posso matá-lo para você. Acho que vou fazer isso mesmo.

Ela deu risada e colocou a caneca de lado.

— Obrigada, Jack. Por tudo mesmo – disse Katherine, sinceramente. Apesar de se sentir uma carcaça vazia, a gratidão por Jack ia além dos sentimentos ordinários. Ele se tornara um pai para ela. Um pai extraordinário, na verdade. – Pode ir dormir tranquilo. Ainda vou estar aqui quando você acordar.

Jack olhou para ela com os olhos cansados e cheios de sofrimento. Katherine imaginou se era por ela que ele sofria.

— Eu prometo – ela insistiu.

— Boa noite, então – cedeu ele, levantando-se da cama.

— Boa noite – respondeu ela, decidida a cumprir a promessa. Pelo menos naquela noite.

Ao acordar, Katherine foi correndo verificar o pescoço no espelho.

Tivera uma noite desagradável com muitos sonhos vívidos, e acordou exausta após encarar Evan a noite toda em seus pesadelos. Praticamente saltou da cama pela manhã, aliviada por se libertar daquele ciclo vicioso de sonhos em que revivia aquela aposta de novo e de novo.

Diante do espelho, enxergou-se pálida e cansada, com olheiras escuras e fundas. Esticou o pescoço para encontrar somente dois machucados, que correspondiam aos caninos de Evan que se transformaram em presas.

Parecia cicatrizar mais rápido que os outros ferimentos. Katherine esperava encontrar buracos e pele arregaçada, mas encontrou ferimentos discretos, se não fosse pelos hematomas escuros.

Suspirando, foi até o banheiro e pegou o estojo de maquiagem. Tentou ser delicada ao bater com a esponja na área lesionada, mas uma parte dela achou que ela merecia aquela dor. Uma autopunição que parecia aceitável, depois de ela ter sido burra o suficiente para acreditar que alguém — não só uma pessoa, mas várias — pudesse realmente se interessar por ela.

Katherine admirou o resultado da maquiagem, sentindo-se satisfeita. Guardou as coisas e desceu para tomar café da manhã com um dramático suspiro.

— Bom dia – murmurou, entrando na cozinha. Encontrou os três sentados à mesa.

— Bom dia, Katherine – Ellen respondeu com naturalidade.

Ela olhou para David, que mantinha os olhos no prato quase como se estivesse uma força invisível segurando a cabeça dele para baixo. Jack fingia que lia o jornal, e olhou para ela de soslaio quando ela chegou.

Ao servir-se do café da manhã, flagrou David encarando-a. Ele rapidamente desviou o olhar, e Katherine assentiu com a cabeça lentamente, tentando segurar a raiva que crescia dentro dela.

Queria culpar David por tudo. Jogar o café da manhã pelos ares e gritar com ele, culpando-o por ter se envolvido com a namorada de alguém e levado a esse inferno na vida dela. Mas respirou fundo e trancou a mandíbula, repetindo para si mesma que o irmão não era o responsável por aquilo.

Katherine terminou de comer rapidamente. Não aguentava mais aquele ambiente de silêncio e harmonia artificial. Os únicos sons vinham dos talheres e do farfalhar das páginas do jornal. Ela empurrou a cadeira, tentando não fazer muito barulho, e deixou a mesa sem dizer nada. Lavou o prato enquanto sentia olhares nas costas, mas também não houve comentários.

Eles já estavam acostumados. Ela sabia disso. Katherine agia estranho sempre que havia coisas demais em sua cabeça, e isso acontecia… bem, acontecia o tempo todo.

Já dentro do quarto, ela procurou referências no computador e começou a desenhar, mas tudo a desagradava. As formas humanas, as paisagens, os objetos, tudo a fazia se sentir incompetente.

Katherine levou a mão à nuca, uma resposta inconsciente à frustração. Assim que tocou as duas cicatrizes, um arrepio percorreu o corpo todo, e ela tirou a mão imediatamente. A lembrança de Chris a incomodou, e foi como receber as mesmas notícias pela primeira vez.

Percebeu as cicatrizes como se fossem corpos estranhos, e pensou no que Chris dissera, sobre ter tido a memória manipulada. Sentiu-se invadida, e se lembrou do pai com desconforto. Quantas outras lembranças podiam ter sido adulteradas?

— Chega – disse com autoridade para si mesma.

Não podia deixar que aqueles pensamentos crescessem sobre ela. Levantou-se da cadeira e foi até a estante. Pegou papel e carvão, e se sentou novamente. Sentiu a raiva dominá-la de novo, e começou a desenhar furiosamente com o carvão.

Só largou o pedaço gasto de carvão quando estava exausta. As mãos, braços, a mesa e até o rosto dela estavam imundos quando ela avaliou o próprio trabalho. A vida inteira, tentara desenhar coisas bonitas e registrar a arte sob um ponto de vista que não era o dela. Naquele momento, sentiu que finalmente conseguira se desprender daqueles padrões forçosos.

Os desenhos eram perturbadores. Havia figuras longas e esqueléticas, sombras e desespero. Seringas, presas e sangue. Katherine se sentia mais leve, até eufórica, quando terminou. Havia um painel na parede, na frente da escrivaninha onde ela desenhava, com resumos escolares e algumas fotos. Ela arrancou os resumos e os jogou para o lado, ansiosa.

Pregou os novos desenhos e ficou observando. Estava orgulhosa de si mesma e sentia um estranho conforto naqueles monstros que agora ocupavam a parede, porque eles não estavam mais ocupando a cabeça dela, pelo menor por ora.

O sol já baixava no horizonte, tingindo o céu de vermelho, roxo e azul e deixando as figuras na rua bruxuleantes enquanto os postes não haviam se acendido.

David jogou a mala dele e depois a de Katherine no porta-malas do conversível e foi se despedir de Ellen e Jack. Katherine o acompanhou.

— Até amanhã – disse Jack, quando eles entraram no carro.

Ele parecia ainda mais cansado naquele momento de crepúsculo, quase fantasmagórico. Katherine ficou desconfortável enquanto o observava, primeiro através da janela, e depois pelo espelho retrovisor.

Imaginou se a tal cisão no governo o afetava de alguma forma. Talvez Jack estivesse preocupado com o emprego, ou algo assim. Se é que o governo interferia diretamente na escola.

— Mamãe disse que você desenhou umas coisas esquisitas e botou na parede – David comentou. – Está tudo bem?

Katherine começou a rir.

— Gosto da definição.

— Mas está? – insistiu ele.

Enquanto pensava na pergunta, observou David dirigir. Imaginou se conseguiria roubar o carro dele em algum dos próximos dias para ir a Lakeville, como Chris dissera. O papel com o endereço estava no bolso da calça, e Katherine estava tão ciente dele que o papel parecia queimar. Talvez pudesse ir naquela noite. Talvez precisasse ir naquela noite, se precisava mesmo se proteger. Se ela não tinha muito tempo.

Sentiu arrepios na nuca e nos braços.

— Acho que estou bem.

— Você não parece bem.

Katherine abriu o porta-luvas e o vasculhou à procura de uma chave reserva. Ignorou a observação dele. Não encontrou chave, mas os documentos do carro estavam lá.

— O que quer aí? – perguntou David, fazendo careta.

— Estou procurando meus óculos de sol – murmurou ela, passando a mão pelos papéis. Fechou o porta-luvas com frustração. – Acho que estão perdidos para sempre.

David deu de ombros. Parou em um semáforo vermelho.

— Sinto muito, K.

Katherine lançou um olhar rápido para David, surpresa. O tom de voz dele era manso, quase hesitante, e ela imaginou que ele sentisse culpa. Pensou consigo mesma se David teria dito que sentia muito pelos óculos querendo dizer outra coisa. Deu de ombros. Ela estava magoada e envergonhada de voltar para a escola, mas não atribuía a ele.

Era quase irônico que ela tivesse problemas maiores que não a deixavam pensar nos acontecimentos de sábado à noite. O que fazia seu estômago se revirar naquele momento não era a aposta ou o pacto de sangue que forjara – pensando bem, esse último realmente a deixava zonza. Era pensar em encontrar uma mulher desconhecida em uma cidade desconhecida com um plano forjado de última hora.

Katherine só não se torturaria por causa do plano de última hora porque ocupara a tarde com desenho, e era uma das primeiras vezes em que realmente sentira orgulho do resultado. E prazer com o processo, a ponto de ter esquecido momentaneamente os problemas. Ou ela os tinha retratado com carvão?

Felizmente, as áreas comuns de Broken Hill estavam mais vazias naquela noite preguiçosa e quente de domingo. Katherine passou por elas e recebeu alguns poucos olhares curiosos. Resistiu à vontade de encolher o corpo, e foi direto para o quarto.

— Olha só quem chegou! – Carla exclamou.

Estavam todos lá: Carla, Kristen, Josh e Logan. Assistiam a algum vídeo em um notebook, mas abandonaram o vídeo quando ela chegou e começaram a conversar enquanto Katherine desfazia as malas.

Ela percebia algo de artificial na conversa, e foi levando até que aquilo a incomodasse o suficiente para interromper.

— Tudo bem – falou de repente, alto, e todos se calaram. – Vocês sabem. Não precisam fingir, podem perguntar.

Viu os amigos se entreolharem, mas Logan olhou diretamente para ela.

— Cadê a mordida? – perguntou, com urgência. – Realmente aconteceu?

Ela suspirou, puxou a trança para o lado e exibiu o pescoço aparentemente liso.

— Cobri com maquiagem para não ter que dar explicações em casa. Mas aconteceu.

— Meu deus – Carla murmurou, assombrada. — Como você se sente?

Katherine foi ao banheiro lavar o pescoço e tirar a maquiagem. Não sabia a que a pergunta se referia, se era sobre ter sido usada e mordida, ou se o pacto a fazia se sentir diferente. Resolveu responder os dois, ainda no banheiro.

— Não me sinto diferente. Não me sinto apaixonada nem nada do tipo. Quero matar ele, na verdade.

— Você tem todo o nosso apoio – Logan respondeu.

Katherine saiu do banheiro.

— E sobre a aposta, que vocês devem ter escutado também – disse ela, recebendo olhares surpresos. Ninguém pretendia mencionar aquilo. – Bom, é isso. É uma droga. Não precisamos falar sobre isso.

— Ele é um babaca – Kristen falou com a voz feroz. – Um babaca socialmente aceito, ainda por cima.

— E eu estou presa a ele – Katherine concluiu, de cara fechada.

Ainda não tinha dito aquilo em voz alta. Era chocante e incômodo. Preferia ser perseguida pelo governo, ou ser morta logo pela Substância, do que estar emocionalmente conectada a Evan. Ela não podia conceber nada mais humilhante que aquilo.

— Talvez você possa ignorá-lo – Josh sugeriu. Pela cara dele, nem ele mesmo acreditava no que dizia.

— Evan poderia tentar ignorar você, mas você talvez não consiga… – disse Logan, com um tom de voz que soava como um pedido de desculpas. – Serão meio… emocionalmente dependentes? Meu deus, eu não faço ideia do que vai acontecer.

— Você vai ter que encará-lo em algum momento – disse Josh, fatalista.

— O que aconteceu com a ideia de ignorar? – Katherine perguntou, fazendo careta.

Josh encolheu os ombros em resposta.

— Vocês vão acabar conversando – Carla falou, séria, chamando a atenção dos outros. – É inevitável. Quem sabe se acertam, ou podem se odiar para sempre, acontece. Se não forem próximos o suficiente, não vão desenvolver emoções e pensamentos compartilhados, e o pacto não vai ser nada de outro mundo.

Katherine arregalou os olhos. Jack já falara sobre aquilo antes.

— São só boatos, Kate – Josh falou rapidamente, ao ver a reação dela. – Ninguém aqui sabe se é verdade que isso pode acontecer. A ligação precisaria ser muito forte para acontecer naturalmente.

Sem pensar, Katherine olhou para Kristen, e depois para Carla. Viu que Kristen também olhava para Carla, apesar de ela manter os olhos baixos.

— Por que ele te mordeu, afinal? – Josh continuou, alheio às trocas de olhares. – Por que ele mesmo se envolveria nisso?

— Josh… – disse Carla, baixinho.

— Está tudo bem – disse Katherine, tranquilizando-os. Sabia que a história era estranha, e imaginou que talvez nem o próprio Evan soubesse o que acontecera. – Melanie estava lá, e…

Ela foi interrompida por exclamações de Logan e Kristen, indignados.

— Tinha que ser! – Logan grasnou, socando um travesseiro.

— Ela estava ao meu lado, na parede, e fez um movimento com as mãos – Katherine sabia que era hipnose, pelo que Jack havia falado. Mas não estava pronta para revelar sobre o padrasto, então deixou que eles mesmos tirassem as próprias conclusões. – Ela disse que precisava se livrar dele, e estalou os dedos. E Evan veio para cima de mim como um robô.

— Que ratazana – Carla sibilou, cerrando os punhos.

— Nunca vi ser quebrado – disse Kristen, soando quase como um sussurro. – Como foi?

Katherine franziu a testa, tentando se lembrar. As coisas haviam ficado confusas na hora da mordida, e ela não saberia dizer se era por causa da perda de sangue ou do próprio pacto.

— Não tenho certeza. Acho que David arrancou Evan de cima de mim, e eu caí no chão. Mas Melanie ficou intacta. Evan deve ter ficado no chão.

— Seu irmão é um idiota – Josh falou, erguendo a mão em seguida. – Com todo respeito.

— Por quê? – Katherine quis saber.

— Evan poderia ter rasgado o seu pescoço ao ser puxado.

Kristen acompanhava a discussão com fascínio. Katherine olhou para o chão, e se pegou pensando na possibilidade de ter morrido na festa. Tão perto. E tão teatral. Tentador.

— De qualquer forma, você não vai ficar triste por muito tempo – disse Logan, como um decreto.

Katherine olhou para ele, achando graça. Quis dizer que estava triste havia dezessete anos, mas se conteve.

— Teremos uma festa daqui a algumas semanas! – ele anunciou, mexendo os dedos no ar com empolgação. — Uma distração na sua vida. E nas nossas.

— Festa de quê? – perguntou ela, preguiçosa.

Katherine apoiou a cabeça na cama, pensando em como faria para roubar as chaves de David naquela noite. Não conseguia se interessar por festas naquele momento. Não queria fazer aquilo naquela noite, mas a inquietação de não saber quando seria tarde demais provavelmente a impediria de postergar a tarefa. Kristen começou a explicar sobre a festa, e ela se virou para tentar prestar atenção.

— É um baile de máscaras que nós fazemos todo ano em Broken Hill – ela começou, e Katherine se perguntou há quanto tempo Kristen estava lá. – É uma tradição para nos relembrar do carnaval de Veneza, que foi criado por vampiros. Eles amavam aquela festa.

— Explica direito – Carla pediu, rindo. – Ela não vai entender nada.

Kristen sorriu para ela e continuou contando. Katherine realmente não estava entendendo.

— Os vampiros moravam no leste europeu, naquela época. E nunca conseguiam fazer nada para se divertir, porque os aldeões morriam de medo deles e nunca iriam em uma festa em um castelo. Daí, uns mil anos atrás, eles resolveram se divertir em outro lugar. Fundaram o carnaval na Itália, onde todo mundo usava máscara, ninguém podia reconhecê-los e a festa durava a noite toda, por dias!

Katherine olhou para ela, impressionada. Nunca vira Kristen demonstrar muita empolgação, mas aquilo parecia deixá-la realmente animada. Talvez mais a parte histórica do que a festa em si. Pelo menos em comparação a Logan, mas era injusto, pois ninguém poderia se animar com uma festa tanto quanto ele.

— Por que precisavam das máscaras e a noite? – Katherine perguntou, tentando demonstrar interesse. – Os rostos deles eram conhecidos?

— Eu sei essa! – Logan disse, rapidamente, para poder responder antes de Kristen. Ela lhe lançou um olhar fulminante, que ele ignorou e continuou falando. – Os vampiros ancestrais eram tão bonitos que as lendas comparam eles a deuses. E pálidos, porque queimavam no sol. Literalmente.

Katherine levou a mão à boca. Não queria acreditar que essa lenda era verdade. E o que a deixava ainda mais tensa, pensou em Chris dizendo que o excesso de Substância teoricamente poderia aproximá-la dos vampiros antigos. Engoliu em seco.

— Chocante, né? – disse Logan, com a reação dela. – Essa aparência deles assustava os humanos, e as máscaras e fantasias podiam disfarçá-los. A noite, claro, era para eles poderem se divertir sem virar carvão.

— Se algum espírito de vampiro ancestral estiver ouvindo isso – murmurou Josh, olhando em volta. – Ele não quis ofender. É sério.

Logan olhou para ele com olhos arregalados.

— Desculpa, vampiro ancestral – sussurrou para o ar, nervoso.

— A questão é que nós vamos ter uma festa boa para variar – Carla interrompeu, revirando os olhos. – Mas é só daqui a algumas semanas, então até lá, ainda vamos ter que nos virar.

— Vinho e filme? – Katherine sugeriu, sorrindo.

— Esse é o espírito – disse Logan, bocejando em seguida. – Não tão bom quanto festas de verdade – outro bocejo. – mas é o que temos. As festinhas clandestinas de dormitórios são legais, mas andam meio raras.

Carla bocejou também, e logo estavam todos indo para seus próprios quartos. Não demorou para que Katherine ouvisse a respiração de Carla ficando regular, indicando que ela dormira.

Katherine esperou até que fosse uma hora da manhã. Mandou uma mensagem qualquer para David. Como ele não respondeu, ela assumiu que ele estava dormindo. Com o coração martelando o peito, decidiu que estava na hora e saiu do quarto.

O dormitório estava escuro, mas não parecia assustador. Só se sentia estranha, caminhando sozinha pela escola quando sabia que deveria estar na cama. Conforme se aproximava do dormitório masculino, sentia a agitação crescendo dentro de si.

Pensou em se teletransportar direto para o quarto de David, mas pareceu arriscado demais caso ele estivesse acordado. Além disso, ela aninhava uma pequena esperança de Evan poderia não estar lá, por algum motivo. Gostaria de ter a chance de checar antes.

Passou pela sala de estar e adentrou o dormitório masculino sentindo calafrios. Por favor, estejam dormindo. Por favor, estejam os dois dormindo.

Avistou a porta do quarto que invadiria. Mordeu o lábio com tanta força que imediatamente sentiu gosto de sangue, e fez uma careta. David costumava ser desleixado, e ela não esperava muito mais de Evan, então achou que havia uma boa chance de a porta estar destrancada.

Pousou a mão na maçaneta, mas deteve-se quando viu luz escapando pela fresta da porta. Não era a luz do quarto, era fraca demais. Com o coração disparado, Katherine resolveu arriscar, porque se pensasse muito, desistiria.

Pousou a mão na maçaneta e a desceu, sentindo a porta ceder. O alívio momentâneo deu lugar a outro choque quando ela abriu a porta e mergulhou dentro do quarto.

Evan estava lá. Acordado, sentado no chão com o controle do videogame na mão. Quando os olhos deles se encontraram, os dois ficaram paralisados por um ou dois segundos.

Foi como se uma explosão tivesse acontecido dentro dela. Como se um balão tivesse se rompido e derrubado gelo seco em seus ossos. O sangue se tornara eletricidade, e ela não conseguia sair do lugar. O coração derreteu e virou uma lâmpada, aquecendo o peito até queimar. E, tão repentino como começara, tudo cessou.

Katherine instintivamente levou um dedo aos lábios, pedindo silêncio, e fechou a porta atrás de si. Ela estava determinada. Evan continuou a encará-la, embasbacado. Somente quando ela andou pelo quarto, com as pernas trêmulas, ele pareceu se dar conta do que estava acontecendo e se levantou, em choque.

Apesar da luz da televisão, David dormia profundamente. Um problema a menos. Agora, ela só precisava da colaboração do imbecil que gesticulava nervosamente atrás dela.

Katherine ignorou Evan e começou a vasculhar a mesa de cabeceira de David. Abriu as gavetas, ergueu livros, e não encontrou nada. Passou os olhos pelo quarto, e o chaveiro ao lado da porta chamou sua atenção.

Aproximou-se da fina estrutura de madeira, retangular e munida de quatro pequenos ganchos. Viu duas chaves que abriam portas, não carros. E uma chave de um carro que não era o de David.

Katherine pegou a chave do carro de Evan e a mostrou para ele, e em seguida apontou para David.

Evan encolheu os ombros, o que fez Katherine revirar os olhos, frustrada. Mais que isso, irada. Mal conseguia olhar para Evan sem que todas as suas emoções aflorassem e se tornassem mil vezes mais intensas. Evitou-o em seu campo de visão, para se acalmar, e virou de costas. Cada vez que olhava para ele, tinha vontade de gritar “filho da putaaaaaaaa!”

Continuou pensando onde mais poderia procurar.

Viu que David estava dormindo com os jeans com que saíra de cara, e semicerrou os olhos. Era possível que as chaves estivessem no bolso dele. Era provável, na verdade. Mas com a luz e a movimentação, Katherine tinha a impressão de que David estava começando a se agitar em seu sono, e ela temeu que…

De repente, alguém segurou o braço dela. Katherine se virou violentamente para Evan, e a surpresa se transformou imediatamente em pânico quando olhou nos olhos dele. Ele a arrastou para o corredor e fechou a porta do quarto. Soltou-a antes que ela gritasse.

— O que está acontecendo? – perguntou ele, com os olhos arregalados.

Katherine fechou os olhos e respirou fundo.

— Não encosta em mim – sussurrou, sem poder ver a reação dele. – Nunca mais, de preferência.

— O que você está fazendo no meu quarto? – Evan perguntou, soando um pouco indignado.

Depois de mais algumas inspirações, Katherine abriu os olhos e se virou para ele devagar, com hesitação. A bomba de emoções ia diminuindo aos poucos, e ela tentou se confortar pensando que fora apenas um choque inicial. Do pacto.

— Preciso das chaves de David – disse ela, com a voz baixa. Era difícil encará-lo. Dessa vez, não por causa do pacto.

Evan também exibia feições confusas, como se tivesse tido o mesmo choque que ela e ainda se recuperasse. Ele também parecia evitar o olhar dela, como se estivesse envergonhado.

— Não sei onde estão – respondeu ele, com o mesmo tom baixo. – Nós não costumamos trocar muitas palavras. Só trocamos socos de vez em quando, mas não é a mesma coisa.

Katherine revirou os olhos, querendo ela mesma socar a cara dele.

— Preciso das chaves – insistiu, colocando a mão na maçaneta. Voltaria a procurar.

Estava prestes a abrir a porta, mas Evan segurou o ombro dela. Katherine fugiu do toque e olhou para ele com raiva.

— Eu disse para não encostar mais em mim – rosnou.

Evan recuou e ergueu as duas mãos em rendição.

— Você pode usar meu carro – disse ele. – Desde que me deixe ir junto.

Ela cerrou os punhos com tanta força que as unhas machucaram as palmas das mãos. Como ele podia querer estar na companhia dela depois de machucá-la tanto? Katherine respirou fundo.

— Vou de ônibus – respondeu ela, com rancor na voz. — Não preciso de favor nenhum seu.

Não tinha a menor ideia de como faria para ir de ônibus até Lakeville àquela hora, mas iria a pé se fosse preciso. Apelaria para Jack. Roubaria o carro de Ellen. Qualquer coisa que não fosse Evan, um lembrete ambulante da maior humilhação da vida dela.

— Para onde quer ir à uma da manhã?

— Não é da sua conta.

Katherine saiu andando pelo corredor em direção ao dormitório feminino, mas ouviu os passos de Evan seguindo-a. Chegou à sala de estar feminina e abriu a geladeira para levar algo para comer. Quando ficou em pé novamente, deu de cara com Evan.

— É uma viagem longa? – perguntou ele. – Por isso está pegando um lanche?

— Não é da sua conta – ela repetiu, e enfiou a mão no bolso da frente.

Dois dólares. Não entrava nem no ônibus circular com dois dólares. Ela bufou.

— Deixa eu levar você – pediu Evan novamente. – Estou te devendo uma. E nós precisamos conversar. Tipo, mesmo.

Ele estava devendo uma autoestima nova para ela, não uma carona. E uma carta formal de pedido de desculpas tanto para a psicóloga quanto para a psiquiatra dela, que teriam que lidar com o trauma mais tarde.

— Arrume outra pessoa para morder e me livrar disso – Katherine falou, com raiva. – É isso que você está me devendo. Não tenho nada para conversar com você.

— Acho que mereço isso – resmungou ele.

Katherine pensou em contar para David o que estava acontecendo, para pedir que ele a levasse, mas achou a ideia um pouco ridícula. Ele iria correndo contar para Jack, e Katherine colocaria Chris em risco. David era tão fofoqueiro que provavelmente contaria até para Melanie. Mas pegar a carteira dele não parecia uma ideia tão ruim.

A menos que estivesse no bolso dele também. Ela respirou fundo.

— Por favor – insistiu Evan, colocando-se na frente dela quando ela tentou ir para o quarto deles para procurar dinheiro na carteira de David. – Eu levo você. Sem conversar, então.

Katherine fechou os olhos, pensando no que fazer. O peito dela se agitou, apertado, com a urgência crescente. Respirou fundo, sabendo que se arrependeria da decisão.

— Vamos, então – cedeu ela, por fim. – Agora.

Evan arregalou os olhos.

— Vou pegar a chave – respondeu ele, imediatamente.

Katherine não soube bem se Evan estava animado, mas era o que parecia. Isso a deixou com ainda mais raiva dele. Odiando a si mesma, abriu a geladeira novamente e pegou outro sanduíche embalado. Saiu do dormitório feminino e encontrou com Evan novamente nas escadas. Não olhou nos olhos dele.

Desceram juntos e entraram pelo corredor lateral estreito do grande salão de jantar. Katherine respirava pesadamente, temendo ser vista ou impedida de sair. O canto mais sombrio da mente dela a lembrou da conversa com Chris, e Katherine se dirigiu ao estacionamento com medo da van preta de seus pesadelos estar parada lá, esperando por ela.

Ela arquejou quando se deparou com o estacionamento, mas não havia nada de estranho.

— O que você tem?— perguntou Evan, confuso com a reação dela.

Novamente, Katherine o ignorou. Estava ficando cada vez mais assustada, porque cada passo que dava na direção daquele carro azul estúpido tornava a história do governo mais real. E ela não queria viver com medo de ser surpreendida por homens de terno e óculos escuros que a sequestrariam sem deixar rastros para dissecá-la em uma mesa fria.

Ela arregalou os olhos levemente, indignada consigo mesma. E com o quão longe o medo podia levá-la, munido daqueles sussurros que botavam ideias horríveis na cabeça dela. Tentou afastar aquelas ideias.

Evan destrancou o carro, sobressaltando-a um pouco. Katherine entrou no carro a contragosto. Jogou os lanches no banco de trás e cruzou os braços.

— Odeio esse carro – resmungou.

— Para onde estamos indo? – perguntou Evan, dando partida no carro. Ignorou o comentário dela.

— Lakeville.

Lakeville?— exclamou ele, saindo do estacionamento e chegando à rua. – O que quer fazer em Lakeville? Ficou maluca?

Katherine não respondeu. Ergueu o queixo e olhou para frente.

— Você sabe como chegar até lá? – perguntou ele.

— Não.

— E como pretendia ir sozinha? – Evan estava segurando o riso.

— Eu daria um jeito – respondeu ela, irritada. – Que merda.

Ele lançou um olhar enigmático para ela.

— Precisa mesmo estar em Lakeville essa noite.

Não era uma pergunta. Katherine não disse nada.

— Podemos falar sobre o que aconteceu ontem, Kat? – perguntou Evan, assumindo um tom sério. – É importante.

— Sem conversar – rebateu ela. – Você aconteceu. E não me chame assim.

— Nós fizemos um pacto.

Katherine ficou toda arrepiada. Olhou pela janela para que ele não pudesse ver o rosto dela, a expressão magoada que ela exibia.

— Quero pedir desculpas, Katherine – insistiu Evan, dizendo o nome dela a contragosto. – Quero acertar as coisas entre nós. Explicar… não, sinto muito. Não tenho o que explicar.

Quando ele se corrigiu, ela ameaçou virar e olhar para ele. Mas imediatamente se conteve, mantendo o olhar na estrada.

— Eu disse que não vou conversar.


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Notas finais do capítulo

nossa quero matar o evan que tristeza esse capítulo né



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