The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 6
Seja Direta.


Notas iniciais do capítulo

Capitulo novo na madrugada! Espero que gostem!



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PONTO DE VISTA – HARRY

 

Porra. Fodeu.

Tudo estava em um completo silêncio. Eu só conseguia escutar as respirações ofegantes de Carley e Rey que estavam próximos de mim, eu os via com certa dificuldade já que, apesar de estar de dia, lá fora estava um céu escuro e nublado indicando uma chuva que estava próxima, então a luz que adentrava pelas janelas não era muito iluminadora.

Outra coisa que eu conseguia escutar com clareza eram os inquietantes...murmúrios? Grunhidos? Gemidos quem sabe? Não consegui definir muito bem ainda o que significava aqueles barulhos estranhos que estavam dentro da escola...e fora dela também.

Não posso morrer. Não vou.

Depois que vi as pessoas sendo mortas pela janela, acho que nunca mais serei o mesmo. Eu nunca tinha visto coisa igual, a não ser quando eu via filmes, série de tv ou jogava algum jogo violento. Mas eles eram apenas isso: filmes.

Isso não é um filme.

Eu sei que não é.

— Pe-pessoal...? – Matt nos chamou novamente, seu tom de voz mais alto do que o nosso. Mas dessa vez, graças ao inesperado corte de luz, todos estavam muito impactados para fazer qualquer coisa. Nenhum “shh” foi direcionado a Matt.

Eu não sei bem o que sentir quanto a isso. Quero gritar e ao mesmo tempo quero dar porrada em todo mundo que eu precisar se isso me garantir uma saída segura daqui pra minha casa. Afinal de contas, aquelas pessoas lá fora...as infectadas...eram apenas isso não é? Pessoas. E existem pessoas ruins desde sempre, não pode ser tão diferente...

Você já viu alguém arrancando um PEDAÇO de outra pessoa com os dentes? Como ISSO não é diferente?!

Droga.

Parece um pesadelo. Um bem horrível. Eu nunca vi ninguém morrer...mas se eu não mantiver o controle, sou eu que pode morrer. Então vamos deixar o medo pra trás, não posso ter medo. Não aqui, não agora.

Mas estava realmente difícil saber o que sentir com toda aquela escuridão e com todo esse ambiente apocalíptico. Parece brincadeira.

— Pro-professora? – Rey chamou baixo, e um silêncio foi sua resposta.

Era verdade, ainda estávamos imóveis desde que a luz se apagou, passaram-se apenas segundos desde então. E eu tinha me esquecido completamente que a professora estava olhando para nós a pouco tempo atrás.

Será que ela já desceu as escadas?

Resolvi chama-la também.

— Professora?

Senti uma mão segurando no meu ombro vinda do lado de dentro da sala que estávamos alojados, e vi de canto de olho que uma outra mão foi em direção a Carley, que estava do meu lado esquerdo. Quando virei meu rosto, me deparei com uma Mary com os olhos cheio d’água que lutava para manter sua voz ainda funcionado:

— Shh!! Gente, é melhor entrar. O que vamos fazer? – suas mãos tremiam muito, eu podia sentir.

— Mas-mas-mas e a professora? – Rey perguntou, ele olhava pro corredor escuro e falava baixíssimo – Não podemos deixar ela sair assim! – ele se virou agora para Carley que agora olhava cegamente para o corredor, pensativa.

— E quem vai sair pra buscar ela?! Ela não vai voltar pra sala sem a filha nem se ajoelharmos implorando pra ela fazer isso! – Carley respondeu rispidamente, mas sem alterar seu tom de voz.

Os gemidos que ainda escutávamos eram acompanhados de pequenas movimentações, barulhões de passos e outros barulhos que não conseguia identificar.

Isso tudo é muito confuso! Onde eles estão afinal? Estão distante? Estão a metros de nós? Sei que estão aqui dentro, mas são muitos? Como dete-los? Como sair daqui? TANTAS PERGUNTAS! PRECISO DE RESPOSTAS!

— Assim como, afinal de contas?! O que tá acontecendo? O que essas....essas....COISAS querem?! - eu disse achando que estava mantendo meu tom baixo, mas acho que eles consideraram alto e fizeram um “shh” pra mim.

— Entrem, entrem. Quietos. – Carley disse para nós enquanto gesticulava com ambas as mãos para irmos para dentro. Ela foi a ultima. Antes de entrar, encarou o corredor um pouco mais depois finalmente entrou e fechou a porta. Enquanto ela passava a chave na maçaneta, eu peguei a mesa que estávamos usando para bloquear a porta, e a levantei do chão. Depois, a depositei suavemente em frente a porta, nisso, Carley já estava subindo o trinco que ficava acima da porta da sala de aula. Todos nós estávamos em um círculo meio deformado, um de frente pro outro agora.

Todos estavam acabados.

Matt apoiava-se na janela, mas não olhava lá pra fora. Estava com a cabeça abaixada, fitando os próprios pés. Rob soluçava sentado em um canto no chão onde tinha caído anteriormente, ele olhava ao redor, parecia estar preso em alguma espécie de transe, talvez achando que aquilo tudo não estava acontecendo. Mary estava andando lentamente em direção a uma das cadeiras, com as mãos se abrindo e fechando ao mesmo tempo que tremia. Rey sentou-se no chão ao lado de Rob, Carley ficou em pé do lado de Rey e eu sentei no chão mesmo, próximo aos pés da cadeira onde Mary sentava.

— E agora? – perguntei sem devaneios. Preciso de respostas, apesar de saber que nenhum deles devem obte-las.

Ninguém se mexeu. Carley respirou fundo, e ficou andando de um lado pro outro.

Ela não para. Não reage. Só foi naquela hora na escada que a vi reagir de alguma forma a tudo isso, tirando aquilo, ela se demonstra apenas preocupada. Não a vi chorar, ou se desesperar-se...okay, isso é estranho. Até eu mesmo fui fraco e chorei.

Chorar é ser fraco agora? Me poupe, Harry.

Talvez seja.

Rob murmurou algo que foi inaudível para nós, até mesmo para Rey que estava ao seu lado naquele momento.

— O quê? – Rey disse se aproximando um pouco mais de Rob.

— O que...aconteceu? – Rob respondeu um pouco mais alto e mais lentamente, ele fitava um ponto cego, não olhava para nenhum de nós.

— Por favor, não quero lembrar disso. – Mary suspirou enquanto puxava suas madeixas castanho-claro para trás com ambas as mãos – Eu não posso...

— Tem certeza que quer saber? – Carley disse agora parando de andar para olhar para Rob, seu olhar parecia preocupado.

Rob não respondeu por alguns segundos, fechou os olhos e respirou profundamente. Depois olhou para Carley com seus olhos vermelhos e inchados de tanto chorar e assentiu lentamente.

— Bom... – começou Carley, mas foi interrompida por Rey.

— Carlie, tem certeza que quer fazer isso agora? – Rey disse lentamente levando seus olhos de Carley para Rob.

Que complicado.

— É melhor um de nós falarmos sobre o assunto do que ir até a janela, agora. – Carley respondeu e apontou para a janela. Ficou a fitando e sua expressão mudou – Matt?

Matt estava ainda cabisbaixo, não olhava para a janela mas suas trêmulas mãos estavam apoiadas nela. Ele respirava com dificuldade, entre soluços e suspiros.

— Matthew? – Rob chamou também.

Me levantei e coloquei minha mão em seu ombro, ele deu um pequeno espasmo e me olhou com uma expressão que eu mesmo estava a alguns instantes atrás, que indicava algo: terror e medo.

— O que faremos? Hãn? – Matt me perguntou, depois virou-se para o grupo – O que CARALHOS podemos fazer agora?!

— Shh!!! Fale baixo! – Mary falou rispidamente enquanto olhava de Matt para a porta.

Matt colocou ambas as mãos no rosto e ficou tentando respirar em meio a soluços e suspiros novamente

— Senta, Matt. – disse apoiando minha mão novamente em seu ombro, fui guiando ele até a cadeira ao lado da de Mary.

— Antes preciso atualizar o Rob da situação. Ele não foi até a janela, Matt. – Carley disse com um tom de luto.

Não acredito que vamos ter que detalhar tudo de novo. Como se isso já tivesse saído da minha cabeça!

Nunca vai sair. Nunca.

Matt sentou-se e tirou as mãos do rosto, olhou para cima e inspirou e expirou profundamente, depois ficou fitando as próprias mãos esticadas na mesa da carteira escolar. Eu me sentei no chão novamente, onde eu estava sentado anteriormente.

— Tá. Vamos lá... – Carley começou.

 

PONTO DE VISTA – ROB

 

Chegou a hora. Você vai parar de imaginar coisas agora. Eles vão contar, já que você não quer ir até a janela...medroso!

— Os infectados, aparentemente...não sei o que há com eles. Não sei direito como explicar isso já que nem eu e nem ninguém aqui dessa sala sabe bem o que está ocorrendo. – Carley disse olhando para todos nós enquanto estava em pé - Mas Rob, esses doentes...não estão no juízo perfeito mais. Isso é bem claro agora.  – ela agora estava olhando diretamente para mim, e pela maneira que falava, parecia estar tendo cuidado com suas palavras.

Os gritos...os tiros...os tiros pararam. Isso é...bom? Mas e os alunos? A professora foi buscar a filha? As luzes...não gosto do escuro.

O que...o quê?

— O quê? – meu pensamento ecoou de minha cabeça e saiu pelos meus lábios sem eu nem me dar conta do que estava fazendo, eu não olhava ninguém nos olhos. Parecia que tudo estava acontecendo em câmera lenta.

— Os alunos saíram lá fora porque eles forçaram uma saída. Igual Mary tinha nos dito que fariam mais cedo. Estavam desesperados, dava pra ver... – Carley agora fitava a janela, Rey assentiu lentamente.

— Queriam sair. Custasse o que for... – Rey disse e depois se mexeu no mesmo lugar. Algo no que tinha acabado de dizer o incomodava, é o que eu acho.

— Meu deus... – Mary levou suas mãos com as palmas viradas uma pra outra até a boca, e seus olhos iam aos poucos se enchendo de lágrimas novamente. Quase que involuntariamente, meus olhos começaram a se umedecer de novo.

Xô, para de chorar. Seu rosto tá doendo de tanto que você já chorou!

Limpei as lágrimas que desciam e fiquei olhando para meus pés.

— Enfim...custou muito. Acho que se tivessem ficado talvez... – Harry começou a dizer, mas tive que interrompe-lo.

— Talvez o quê?! Você tá dizendo que os gritos...não eram só das pessoas que estavam na avenida?! – disse agora tentando olhar para todos no círculo. Nenhum deles me olhou de volta, com exceção de Matt. Olhei para a janela e mais lágrimas começaram a descer.

Mortos. Estão todos...mortos?! Mas como?! Foi os tiros?! Só pode!

Estamos nos escondendo de pessoas doentes para não ficarmos doentes também.

Não é?

— Os doidos mataram todos. – Matt disse friamente. Carley franziu o cenho e encarou Matt, eu simplesmente paralisei com aquilo.

— Matthew... – Harry disse lentamente enquanto também encarava Matt.

Os doidos...MATARAM todos?! Como isso foi possível?! Quer dizer que estamos somente nós aqui agora?! Temos que chamar as autoridades!

É por isso que Matt é meu melhor amigo. Ele não me esconde nada, ele me conta a verdade por mais que doa...não que eu não me importe com meus amigos tentando me poupar de algum detalhe porque apesar de tudo, não sabia se queria saber desses detalhes.

— Ma-ma-ma-mataram?! – eu disse ainda tentando assimilar tudo.

— Vamos devagar com as informações, por favor – Carley disse virada para Matt.

— Só acho que temos que falar logo de uma vez pra gente ver como vamos sair daqui, Carlie. – Matt falou gesticulando com as mãos para a porta. – Quero. Sair. -  ele falou agora mais firmemente.

Carley suspirou e virou sua atenção para mim novamente.

— Seguinte: Você decide, ok? Quer que eu seja direta, ou quer que eu tome cuidado com o que vou falar pra você? – Carley agora me olhava com determinação.

Ela quer resolver logo, mas algo a impede de contar tudo.

— Carley, melhor falar com jeito. – Mary disse – Ele já não quis ir na janela.

— Ver aquela porra lá fora é diferente! – Harry disse um pouco mais alto.

Todos, menos eu se viraram para Harry e fizeram um longo e baixo “SHHH!”

Porquê temos que ficar em silencio afinal?!

— Porquê estão falando baixo? – disse e não pude disfarçar minha voz que saiu levemente falhada.

Carley se virou para mim novamente. E mordeu levemente o lábio inferior.

Ela está com dúvidas. Eu te conheço Carley, você não escapa da minha interpretação.

— Chega dessa merda! – Rey explodiu mas não levantou seu tom de voz, só um pouco, o suficiente para receber um leve tapinha de Carley em seu ombro acompanhado de um “Shhh!” – Os doidos não são pessoas, tá legal?! Eles chegaram ali na rua, pela Denbrough, e começaram a atacar as pessoas que estavam correndo por ela, que estavam FUGINDO por ela. Eles pegaram elas, e eles...eles... – quanto mais Rey falava, mais sua voz falhava. Acho que estava prestes a chorar. Ele não conseguia completar a frase.

Eles o quê?! ELES O QUÊ?!

— Eles o quê? – eu perguntei para Rey, mas ele não conseguia completar.

— Rey, por favor. – Carley agora estava agachada com um dos braços encostados nos ombros de Rey. Ele se virou bruscamente e abraçou Carley com força enquanto soluçava.

— Calma, calma, vai ficar tudo bem tá bom? – Carley tinha se ajoelhado agora, ela abraçava Rey e falava na tentativa de ser o mais firme possível, mas pude ver que sua voz tremia e ela lutava para que as palavras saíssem de sua boca.

— Porra... – Harry falava enquanto colocava a cabeça entre os joelhos. Matt respirou profundamente e Mary olhava para Carley e Rey com os olhos úmidos e boca trêmula.

— Respira fundo. Respira – Carley e Rey se separaram do abraço, Rey chorava e tremia ao mesmo tempo enquanto olhava para o chão. – Ei, olha pra mim. – Carley disse e Rey a olhou.

— Nós vamos sair daqui. Não acabou ainda, muita coisa BOA pode acontecer. – Carley olhava para os olhos de Rey enquanto falava lentamente, e seus olhos...espere.

Aquilo são lágrimas presas?!

Os olhos de Carley estavam levemente umedecidos. Ela falava com um tom de precaução. Rey assentiu lentamente com os olhos fechados, inspirava e expirava lentamente. Ele voltou a se sentar onde estava, ainda com os olhos fechados com o corpo apoiado na parede atrás de nós.

Carley se levantou e virou-se de costas para nós, olhando para a porta. Ela respirou lentamente, passou ambas as mãos no rosto e depois no cabelo. Respirei profundamente, minha vez de receber respostas.

— Porquê temos que falar baixo? E o que... – parei por um momento.

Muita calma nessa hora.

— E o quê exatamente os doidos fizeram?

Carley virou-se novamente para nós, mas foi Matt quem me deu a resposta da primeira pergunta:

— Não podemos fazer barulho porquê eles podem nos ouvir. Podem vir até aqui. – ele disse com confiança com os olhos fracos e marejados me olhando – estou certo, Carley? – Matt agora virou-se para Carley que o observava.

Verdade. Matt também não vira a janela até agora pouco. E ele também fora arremessado para dentro da sala igual eu, não estava vendo tudo desde o começo como Rey, Carley e Mary estavam...

— Sim, creio que sim. – Carley tirava a mochila das costas e a depositava no chão enquanto se agachava. Nossas coisas pessoais estavam todas naquela sala, Matt estava com uma bolsa transversal preta que até agora estava em seu corpo. Harry não carregou nenhuma mochila para vir para cá, então suponho que esteja só com documentos e celular. Mary tinha uma bolsa em cima da mesa do professor, próxima a mim. Eu ainda usava minha pochete, e Rey, assim como Harry, deveria estar carregando apenas documentos e celular, porque eu não via bolsa alguma com eles.

— Tem algo pra comer aí? – Mary perguntava pra Carley, que tirou uma Ruffles de dentro da mochila e entregou para Mary.

— Acho que temos que ir com calma na comida e agua. Podemos esperar bastante. – Carley disse enquanto fechava a bolsa.

Mary estendeu a mão oferecendo o saco de salgadinho para mim, eu peguei dois e os levei na boca. Não estou com tanta fome assim mas é bom lembrar que eu tinha fome o suficiente para dividir um lanche na cantina da escola naquele dia mais cedo.

— Vocês ainda não me responderam... – eu disse respirando profundamente depois de comer as batatas. A presença de um salgadinho ali até me fazia esquecer por alguns segundos que estávamos no meio de uma merda, mas aí, eu me lembrava novamente só de ouvir os estranhos gemidos que vinham do lado de fora da janela e talvez...talvez daqui de dentro? Não sei dizer.

Carley sentou-se finalmente ao lado de Rey, com sua mochila ao seu lado. Virou-se pra mim e disse:

— Você que não me respondeu. – ela disse.

— O quê? – perguntei confuso.

— Quer que eu seja direta ou não? Lembra da pergunta? – falou

— Ah...

Escolha. Como você responderia caso Matt que perguntasse?

— Fala logo. Direto. – disse, mas novamente, não pude deixar de fraquejar a voz.

Ela respirou fundo, olhou para a janela e me disse sem me olhar nos olhos:

— Os doidos...estão comendo as pessoas, Rob.

O QUE?

— Hãn?! – eu disse sinceramente, não havia entendido nada. Todos ao meu redor não olhavam pra mim, Mary estava verde de enjoo.

— Não é brincadeira. O que vimos pela janela... – ela gesticulou para Rey e Mary – É surreal. Eles literalmente, avançaram em cima das pessoas, e começaram a morder e arranhar elas. Como se fossem leões comendo uma zebra ou algo do tipo. Eles... – ela parou por um instante, eu nem lembrava mais como se respirava. – Eles simplesmente...rasgaram eles.

— Deus! – Mary levantou de súbito e foi até a janela correndo, apoiou-se nela e vomitou. Todos ficamos chocados. Os gemidos lá fora pareceram aumentar.

Respira! Respira!

Enquanto eu respirava com dificuldade e meu mundo ia paralisando novamente, Matt e Harry se levantaram e foram até Mary enquanto a chamavam, Carley fez um “SHH!” para aquela barulheira. Os gemidos pareceram estar mais próximos agora.

— Por favor, pare! – Mary falou fracamente, enquanto era guiada por Matt e Harry de volta a cadeira em que estava.

— Você tá bem? – Carley perguntou mas não se levantou, olhava Mary atentamente.

Mary fez um não com a cabeça.

— Eu lembrei. Lembr- ela pois a mão na boca novamente e Harry e Matt se afastaram um pouco sem solta-la. Mas ela não vomitou.

— Você tem água na mochila, Carlie? – Matt perguntou ainda olhando para Mary. Todos olhávamos agora. Eu não sabia como reagir direito, Mary estava passando mal e eu tentava imaginar o que “rasgar” significava e não conseguia respirar imaginando nas possibilidades.

Não podia ser exatamente o que estou pensando.

— Tem. – Carley abriu a mochila novamente e tirou uma garrafinha d’agua. Passou para Matt que deu para Mary.

— Beba um pouco. – Matt disse enquanto destampava a garrafa.

— Leva ela pro fundo da sala, Matt. Preciso terminar de contar. – Carley falou e apontou para o local onde havia vários livros no chão e em algumas mesas no fundo da sala, onde ela tinha tirado uma das prateleiras para dar a professora....falando nisso...

— A professora saiu? – perguntei olhando para Carley. Matt e Harry acompanharam Mary

— Uma coisa de cada vez, tá? – Carley disse. Rey se levantou.

— Desculpa, mas não posso pensar nisso de novo agora. – Ele disse olhando para a Carley e depois foi em direção a Mary. Matt agora voltava,  Harry e Rey ficaram com Mary.

— Preciso ouvir. Eu só vi....depois. – Matt disse e sentou-se do lado de Rob.

— O que você entendeu até agora, Rob? – Carley disse ficando na minha frente, de costas para onde Mary, Harry e Rey estavam.

— Você...você disse que eles foram...rasgados. Como assim?

Carley colocou uma das mãos na testa e olhou para cima. Seus olhos estavam novamente levemente úmidos.

Ela quer chorar...quer muito. Conheço a figura.

Carley é assim. Ela não vai chorar, não aqui na frente de todos. Mas ela quer...tenho certeza que quer. Não pode lutar pra sempre Carley. Uma hora essas lágrimas vão sair...precisam sair. Não pode aguentar tanto....ela luta tanto...eu a admiro por isso.

— Eles parecem animais...canibais! Não são gente mais, Rob. Acho que não é uma simples doença, é mais do que vimos na internet nesses dias, sabe? – isso me fez ter dificuldades pra respirar novamente, e todos aqueles gemidos que não paravam não estavam ajudando – Quando olhei pela janela, os soldados que estavam na Denbrough estavam recuando, e estavam atirando neles, mas as vezes, eles não morriam, eles só continuavam. – agora é oficial, parei de respirar novamente.

— Os tiros não matavam? – Matt disse, sua voz saiu trêmula.

— Não. Eles tomavam os tiros, mas não morriam. Continuavam e iam pegando e atacando todas as pessoas que passavam na rua, até os próprios soldados! Foi aí que todo mundo começou a correr pra cá, na rua do colégio. Depois, enquanto as pessoas corriam na rua, acho que os alunos se desesperaram e quiseram aproveitar a chance de voltar pra casa. Dito e feito, tiraram a chave do porteiro e abriram o portão. Mas aí... aí eles... foram atacados também. Por isso os gritos. – ela disse e abaixou a cabeça.

Lágrimas desciam pelo meu rosto e Matt estava com ambas as mãos na boca com as palmas viradas uma para a outra.

— Eles entraram. – agora Matt olhava para a janela – o portão, Carley! – Matt virou seu olhar para Carley novamente, as lágrimas não pararam de descer.

— Eu sei. Por isso é melhor ficar quieto. Não sabemos como deter eles, ou como distraí-los ainda. Mas não vamos precisar fazer isso, temos que lembrar que havia SOLDADOS na Denbrough. Haverão reforços em breve, precisamos esperar. – Carley disse determinada, mas pude notar que as vezes sua voz lutava para sair. – Rob? – ela me olhava. Eu estava petrificado até ela me cachoalhar um pouco e eu me lembrar de respirar e piscar.

— Rob, você me disse pra ser direta. – eu não respondi.

Eu...eu...não sei o que fazer ou pensar...preciso de um tempo. Quero sair. QUERO SAIR!

— Não sei direito como definir eles lá fora...agem como animais com fome, mas a horas atrás estavam no ônibus, ou no metrô, ou almoçando em casa....humanos. Tomam tiro mas não morrem, parecem molengas e ficam fazendo essas porra de barulho! – Carley disse sem alterar seu tom de voz gesticulando pra janela – parece coisa de filme. Parece que estamos em uma série de televisão ou algum jogo de zumbis e... – ela parou de falar. Sua expressão mudou. Parecia que ela acabara de ter uma epifania.

— É isso. – ela olhava para o chão agora, seus olhos estavam frenéticos parecendo que tinham recebido um zilhão de informações.

— É isso... o quê? – Matt disse. Eu também não entendi.

— Zumbis. Eles parecem...zumbis.


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Notas finais do capítulo

É isso! Comentem o que acharam!!



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