The New World escrita por xMissWalkerx


Capítulo 47
A Força e o Freio


Notas iniciais do capítulo

Me empenhei muito nesse capitulo! Espero que gostem!



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PONTO DE VISTA – CARLEY

 

(12 dias desde a infecção.)

 

— Sabe que a frequência está diminuída, certo? – Luke me diz enquanto eu encarava o rádio. Ele estava dirigindo o carro atentamente, mas parecia observador em relação a mim e Harry que dividíamos sua caminhonete.

— É claro que sei. – minto. Harry me olha curioso. Luke ri.

— Não, não sabe. Seguinte, quando pararmos o carro eu arrumo essa droga, fechou? – Luke diz e eu fico em silencio.

Frequência diminuída? Como assim?

Quem esse cara pensa que é?! Ele acha que vai chegar falando “ah, eu arrumo esse rádio estúpido” e aí de repente eu vou confiar nele?

Nem fodendo!

— Vou tomar isso como um sim! – Ele diz sorrindo e piscando pra mim. Eu reviro os olhos.

— Eles devem virar a direita em quinhentos metros aproximadamente. – Harry diz no banco traseiro.

Quinhentos metros se passam e o carro de Maggie, onde estavam Ken, Rey e Matt viram a direita. Luke os segue.

Eles não vão estar naquela área. É muito perigosa.

— Sabe que seus amigos não vão estar lá, certo? – eu digo pra Luke, repetindo seu tom de agora pouco. Ele levanta uma sobrancelha

— E porque não? – Luke pergunta.

— Porque se eu bem me lembro, tem um shopping lá perto, e apesar de eu ter dito que eles poderiam estar lá dentro, seria suicídio. – eu digo, me lembrando que havia falado minutos atrás que eles poderiam SIM estar no Plaza.

— Você disse que estariam num lugar grande. – Luke responde

— Eu disse que eles PODERIAM estar em um lugar grande...mas são quatro pessoas em um lugar que costumava ter muita gente, teriam que fazer a limpa no lugar. Se fosse eu no lugar deles, eu não arriscaria entrar num shopping. – eu defendo minha ideia.

— Acho que teremos que chegar lá pra saber. – Luke responde, parecia impaciente.

— Eles estão naquela área. Eu tenho certeza que sim. – ele parece confiante, eu não digo mais nada.

Não perderei meu tempo. Quando ele vir os corpos, podemos seguir nossos caminhos.

— Mais uns quinze minutos e chegamos se não tiver nenhum problema na estrada. – Harry diz com a cara enfiada no mapa e eu bufo.

Quinze minutos de tortura.

Ficamos em silêncio um pouco no carro, até que Harry decide quebra-lo.

— Então você é militar, é? – ele pergunta, eu viro minha cabeça pra janela e fico encarando lá fora como se não tivesse prestando atenção na conversa.

— Exato. Eu era Segundo Tenente! – Luke responde, olhando pra Harry pelo retrovisor.

— Ah...e onde você estava quando aconteceu tudo isso? – Harry pergunta calmamente.

— No quartel. Deixei o quartel pra procurar minha família enquanto todos bloqueavam as estradas e iam pro centro da cidade. Achei meu filho e minha esposa, ela... – Luke parara de sorrir de repente, sua voz ficou mais baixa.

Eu o olho de relance e vejo seu semblante endurecer. Não parecia triste, parecia...

Irritado?

— Aconteceu umas merdas aí e...ela não sobreviveu. – Ele diz e Harry e eu nos entreolhamos rapidamente.

— Sinto muito. – Harry diz e Luke respira profundamente.

— Só preciso de meus amigos agora, certo? Só buscar eles e posso seguir com minha vida junto com meu filho. – Luke diz, dando dois tapinhas no volante.  Ele olha pra mim.

— Imagino que vocês tenham passado por umas merdas também, né? – ele me pergunta. Eu evito seu olhar e me volto pra janela novamente.

— Pra dizer o mínimo... – respondo e ele assente.

Um silencio reina no carro novamente.

Eu não confio nesse cara.

Não sei dizer o que exatamente me faz não confiar nele mas...sabe quando o seu santo não bate com alguém? Quando você tem uma sensação ruim sobre a pessoa?

É isso que eu sinto.

Eu preciso saber mais...

— E esses seus amigos, hein? Amigos do exército? – pergunto a ele, ainda olhando pela janela.

— Não! Não! – Ele se apressa a dizer, o que chama minha atenção – São pessoas que eu e meu filho conhecemos durante isso...

— Onde conheceu eles? – eu pergunto.

— Através de um outro amigo do exército. Ele estava no Centro da Cidade e eu estava saindo da cidade com minha família, prometemos nos encontrar fora da cidade com a ajuda dos nossos rádios e assim foi feito. – Ele diz, depois sorri e olha pra mim – É por isso que sei que você não fazia a menor ideia que a frequência do rádio que você e seus amigos carregam presos no ombro está diminuída. Eu usava um desses o tempo todo.

Eu bufo.

— Esse seu amigo do exército, é um desses amigos que procuramos? – pergunto e Luke morde o lábio inferior e respira fundo.

— Não...esse meu amigo acabou morrendo também. Alguns dias depois de eu conhecer o resto da galera. – ele diz e eu analiso sua expressão.

Ele tem raiva. Conheço o sentimento muito bem.

Carrego sempre comigo afinal de contas...

— E depois? O que houve? – eu digo, mas Luke não me responde.

— Porque não falamos um pouco de vocês agora, princesa? Porque não me diz da onde você conhece os SEUS amigos, huh? – ele parece querer atropelar suas palavras, mudando de assunto bruscamente.

Eu e Harry nos entreolhamos novamente antes de eu cogitar em responder.

— Eu e alguns amigos meus nos conhecemos desde a época da escola, os outros que estão no Forte conhecemos por acaso. – eu respondo.

— Vocês dois se conheciam da escola? – Luke gesticula pra mim e Harry, que assentimos.

— Caramba! Que legal! Mantiveram amizade de escola! Isso é muito foda! – ele diz empolgado enquanto eu e Harry permanecemos sérios.

— Meu filho estava na escola quando tudo aconteceu. O colégio dele mandou todo mundo embora, ainda bem que aquele moleque é duro na queda. Batalhou até chegar em casa e se reuniu com a mãe dele bem a tempo de me encontrar depois! Foi aí que Theo me ligou pelo rádio e nos encontramos depois! E aí... – Luke parecia empolgado contando a história, até que novamente seu semblante mudou para aquele sentimento que eu conhecia muito bem.

Theo?

— Theo? – eu pergunto. Luke suspira.

— Meu amigo. Do exército. – ele diz e eu assinto.

Melhor não forçar a barra agora. Vai com calma, Carley.

— Estávamos em uma escola quando tudo aconteceu também. – eu digo e Luke parece amolecer um pouco.

— Jura? Que coincidência! Fica próxima da casa de vocês? – ele perguntou e eu balanço minha cabeça afirmando.

— Wow, deve ter sido uma aventura, huh? – ele diz e eu suspiro, olhando pela janela novamente.

— Eu não chamaria de aventura. – respondo – Foi tudo muito...

 

PONTO DE VISTA – REY 

 

(12 dias desde a infecção.)

 

— rápido! Aconteceu tudo de uma vez, mas conseguimos sair daquela merda. – eu termino de explicar sobre como sobrevivemos a escola para Ken.

— Nossa! Eu não voltaria pra escola depois que terminasse ela nem em um milhão de anos! – Ken diz no banco traseiro e eu rio. Matt permanece dirigindo em silencio.

— Eu dizia isso também, até a vida adulta me espancar! – eu digo aos risos – Acredite, você vai sentir falta.

— Eu IA sentir falta, você quer dizer né? – Ken disse e eu me toco do que acabei de dizer.

Merda.

— Bom...er... – começo a me atrapalhar em minhas falas, sinto a pele corar.

— Tá tudo bem, acontece. As vezes eu esqueço que o mundo acabou até eu sentir o cheiro de bosta que esses zumbis exalam. – ele diz e eu rio nasalmente.

Tem como você ser MAIS idiota, Rey?

— É...acho que sim. – digo e ficamos todos em um silencio constrangedor.

— Me diga...Ken, certo? – Matt abre a boca pela primeira vez em nossa viagem. Ken confirma com a cabeça para Matt, afirmando que ele acertara seu nome.

— E esses amigos de vocês? Como se perderam mesmo? – Matt pergunta.

— Estávamos...fugindo de uma horda. – Ken passa a mão pela testa – Nos separamos ali e depois daquele dia ficamos procurando eles.

— Oh...certo. E eles são amigos conhecidos? Quero dizer...vocês conheciam eles antes do mundo acabar? – Matt continua as perguntas, que eu acabo achando bem interessante.

— Não. Eles estavam com...um....colega do trabalho do meu pai. – Ken parecia incomodado, pude ver que ele não queria falar no assunto.

— Esse colega está com eles? – pergunto e Ken respira fundo.

— Ele morreu. – Ken responde rapidamente.

— Sinto muito. – eu digo e Ken dá de ombros, o que é esquisito.

Vamos. Coragem.

Faça a maldita pergunta.

— Ei...se importa se eu perguntar algo pessoal? – eu digo e Ken engole seco.

— Se eu puder fazer o mesmo... – ele diz e eu concordo com a cabeça.

— Pode me perguntar algo pessoal também, sem problemas. – eu respondo e Ken assente.

— Onde...está sua mãe? – pergunto a ele, que fica cabisbaixo. Me arrependo quase que imediatamente de ter perguntado quando vejo lágrimas se formarem em seus olhos.

— Ela...foi...ela....morreu. – ele se atrapalha ao tentar explicar, enxugando as lágrimas e se arrumando melhor no banco. Eu troco olhares com Matt.

— De novo, sinto muito. – digo e Ken assente desta vez.

Sem dar de ombros, huh?

Ficamos todos em silencio no carro, eu olho pro mapa em minhas mãos.

— Viramos na terceira esquerda e podemos parar. Já vamos estar na região. – eu digo a Matt que assente.

O carro anda por alguns metros até chegarmos na “terceira esquerda”. Matt vira o volante e entramos na rua larga. Há alguns zumbis por ali, assim como vimos durante todo o trajeto.

— Vou parar aqui, pode ser? – ele diz, apontando pra sua frente – Se eu parar muito pra frente, pode ser que não conseguiremos sair depois.

— Aqui está ótimo. – Eu respondo e o carro é estacionado.

Abro a porta do carro e saio, levando meu fuzil junto.

— Zumbis a frente! – Matt diz alto enquanto a caminhonete de Luke estacionava bem atrás do nosso carro.

Eu prendo a alça do fuzil no corpo, o passando para as costas. Depois, tiro o cano que eu carregava do cinto e o seguro firmemente nas mãos, andando em direção a um dos três zumbis a minha frente.

Levanto meu braço para o alto e o desço com toda força na cabeça de um dos zumbis. Vejo o segundo se aproximar lentamente.

— Rey? – Matt me chama alarmado, mas sei o que ele quer....

— Eu consigo! – digo a ele, segurando mais fortemente o cano.

Vou dando passos pra trás, para dar tempo do segundo zumbi se distanciar do terceiro. Quando vejo que é suficiente, repito o mesmo movimento que fiz com o primeiro, o derrubando instantaneamente. Agora somos só eu e o terceiro, havia outros zumbis que estavam muito mais distantes, com esses eu não me preocuparia agora.

Só eu e você, exu.

Quando o terceiro zumbi se aproxima eu giro o braço e o acerto lateralmente, o derrubando no chão. Vejo que ele ainda se mexe mesmo tendo uma parte da cabeça afundada, eu seguro seu corpo no chão com meu pé e o finalizo com meu cano.

Quando acho que tudo esta acabado, ouço um grunhido próximo ao meu ouvido. Me viro repentinamente pronto para um ataque surpresa, quando uma lâmina atravessa a cabeça do zumbi a minha frente, parando a centímetros de mim. A lâmina é puxada para fora e o zumbi cai no chão logo em seguida. Ponho a mão em meu coração acelerado.

— Cuidado, garota! – eu digo assustado pra Carley que limpava a espada no corpo do zumbi no chão.

— De nada, Darling! – ela diz com as sobrancelhas arqueadas. Eu balanço negativamente a cabeça e nós dois voltamos para perto de nossos companheiros de viagem.

— Então...como faremos isso? – Harry diz assim que nós chegamos mais perto.

— Bom, podemos nos separar pra verificar mais áreas. Melhor do que ver uma por vez. – Eu sugiro e Carley concorda com a cabeça.

— Vamos nos dividir com os mesmos integrantes que vieram nos carros. Eu, Luke e Harry e o outro grupo são vocês três. – Carley aponta para mim, Matt e Ken.

— Antes averiguarmos em volta do shopping, podemos dar uma volta por aqui mesmo nessas lojinhas aqui do lado. Quem sabe o que se pode achar, certo? – Luke diz enquanto gesticula em volta de algumas pequenas lojinhas ao nosso redor.

— Podemos achar comida. – Harry diz pra Carley, ela suspira e fita o chão.

Está pensando.

— Comida sempre é bom, certo? Pra repor os gastos, heh. – Luke diz rindo levemente. Carley suspira novamente e volta a nos olhar.

— Pode ser. Mas alguém tem que ficar aqui de vigia. Que tal você, Luke? – Carley diz e Luke parece se impressionar.

— Eu?! Ficar pra trás?! – ele diz apontando para si mesmo.

— Caso você veja algum dos seus amigos andando por aí, nós não fazemos a menor ideia de como eles são então tem que ser você ou o Ken. Quem você prefere? – Carley diz, segurando apoiando a ponta da espada no chão enquanto segurava o cabo com ambas as mãos.

— Então fiquemos eu e meu filho. – ele diz encostando as costas na caminhonete.

— Você é mais esperto que isso. Já percebeu que não vou deixar “panelinhas” acontecerem. Seu filho vem com a gente. – Carley diz séria.

— Então eu quero que um de vocês fique comigo! – Luke cruza os braços e dá um passo em direção a Carley.

— Justo. – Carley diz e olha ao redor, mas antes que ela possa escolher um de nós. Matt levanta uma das mãos.

— Eu fico. – Ele começa a andar até ficar próximo de Luke.

— Matthew. – Matt estende a mão para Luke, que a aperta.

— Certo. Tudo combinado então? Voltamos em alguns minutos. – Carley começa a se virar para ir embora, e eu começo a andar do seu lado. Até o momento que escutamos Luke nos chamar de volta.

— Ei! Calma aí, princesa! – ele dá uma pequena corrida até nossa direção, ficando frente a frente com Carley. Ela por sua vez, revira os olhos.

— Posso? – Luke aponta para o rádio de Carley, preso ao ombro dela. Eu fico confuso

— O que está acontecendo? - pergunto pra Carley confuso. Ela revira os olhos pra Luke, e para minha surpresa começa a desprender o rádio de si.

— Rey, Matt, Harry. O rádio de vocês. – ela diz entregando o rádio a Luke e eu não poderia estar mais confuso.

— Não! O que está havendo? – eu abro os braços querendo saber, Matt e Harry se entreolham tão confusos quanto eu. Carley suspira, enquanto Luke analisa o equipamento.

— Nossos rádios não estão funcionando em sua frequência máxima. – Carley responde, seu vislumbre parecia cansado, como se estivesse de saco cheio daquilo.

— Vou arrumar isso antes de vocês saírem por aí com meu filho, pelo menos vou poder falar com ele. – Luke diz, ele se aproxima mais de Carley.

— Aqui, está vendo esse botão que gira? Vocês colocaram no máximo achando que ia adiantar, mas na verdade você precisa deixar todos os rádios receptores no meio, pra pelo menos pegar uns 20km de alcance. – Luke mexia nos botões na frente de Carley, todos nós parecíamos macacos tentando aprender xadrez vendo ele manejar o objeto.

— Depois de ajustar aqui, vocês precisam combinar uma frequência, pra todos os rádios estarem na mesma frequência e assim vocês conseguirem se comunicar. – ele diz e Carley revira os olhos.

— Isso já fazíamos! Como acha que nos falávamos? – Carley diz e Luke ri nasalmente.

— Certo. Com o botão ajustado, o alcance fica maior. Agora vocês podem se falar sem problemas, é só deixar nessa configuração aqui que está tudo certo. – Luke aponta para os botões que acabara de mexer e depois entrega o rádio a Carley, que o olha confusa.

— Er...Obrigada. Todos mexeram nos botões? – Carley diz, e Harry, Matt e eu começamos a tatear nossos próprios rádios. Eu pego o receptor do meu rádio e começo a mexer como Luke havia ensinado, assim que termino mostro a ele.

— Assim? – pergunto e ele me ergue o polegar, me dando um sinal de “jóia”.

— Isso aí! – ele diz animadamente. Olho para Carley que ergue uma sobrancelha.

— Ajustamos o dos outros quando voltarmos. Vamos, não podemos enrolar. – Carley diz e me dá dois tapinhas no ombro pra eu a acompanhar.

Luke puxa o filho pra um abraço.

— Cuidado, garoto. – Ele o abraça e o filho o abraça de volta. Alguns segundos depois estamos nós quatro, Ken, Carley, Harry e eu andando lado a lado na rua.

Nos afastamos dos carros e começamos a caminhar até chegarmos na primeira loja levemente interessante, apontada por Ken.

— Podemos ver se tem comida aqui! – ele diz, apontando para o local chamado Dingle’s Candy.

— Eu já vim aqui. Loja de doce. – Harry diz e percebo que ele tenta desanimar a ideia de Ken.

— Pode ter aqueles sacos de salgadinho! Qualquer coisa que forre o estomago em uma necessidade grande! – Ken rebate. Todos olham pra Carley, que ouvia tudo silenciosa. Ela respira fundo.

— Porque não entra com ele, Harry? Eu e Rey vamos seguir mais em frente. – Ela diz e Harry dá de ombros.

— Acho que vamos perder tempo, mas beleza. – Ele começa a se direcionar a loja de doces com Ken ao seu encalço. Eu e Carley seguimos em frente.

Andamos alguns minutos em silencio, enfrentando alguns zumbis que apareciam por acaso.

Acho que vou falar...

— É muito legal o que está fazendo. – digo e ela me olha.

— O quê? – ela pergunta.

— Isso. Ajudando. É como eu disse antes...sabia que ia fazer a coisa certa. – sorrio pra ela.

Pode parecer besteira, mas eu realmente estou orgulhoso dela....Carley ter aceitado essa busca realmente significa um tipo de mudança.

Ela decide acolher cinco estranhos na casa dela e agora está ajudando mais dois...isso pode ser chamado de “progresso”!

— Eu fico confusa com você as vezes, Rey. – Carley diz depois de um suspiro.

— O que quer dizer? – pergunto.

— O que é “fazer a coisa certa”? Eu não entendo se você sabe sobre a precaução que temos que ter ou se você simplesmente quer que eu aceite ser a defensora dos fracos e oprimidos, tacando o foda-se pra tudo! – Carley diz, agora parando de caminhar. Eu paro também.

— Eu sei que temos que ser precavidos! Não é isso que estamos fazendo? Separando “panelinhas”, dividindo todos, não deixando Luke e Ken conversarem direito?! – eu digo rapidamente e vejo Carley se surpreender. Eu rio nasalmente.

— Achou mesmo que eu não saquei o que estava fazendo? O que ESTÁ fazendo? – me aproximo dela, que fica em silencio apenas me ouvindo.

— Eu sei que está analisando essas pessoas. Cada palavra que eles estão falando poderá e será usada contra eles no momento mais oportuno, porque VOCÊ É ASSIM. – eu tento dizer com calma, mas tenho a impressão que saiu como um julgamento.

— Eu já concordei em vir pra cá, não me peça pra eu simplesmente confiar nessa gente! – ela rebate.

— Eu também não confio! O que eu fico impressionado, é que as vezes você acha que eu sou um idiota! – eu digo chateado e me viro para andar novamente, ela segura meu braço, ficando agora de frente pra mim.

— Eu nunca disse que você é um idiota! – ela rebate e eu reviro os olhos.

— Tem coisas que não é preciso dizer! – digo de volta e me desvio dela, querendo seguir em frente.

— Rey! – ela me chama, ainda parada no seu lugar. Eu continuo a caminhar, estava ficando sem paciente. Entro em um loja de esquina, que era menor que meu quarto no Forte. Ouço passos apressados atrás de mim e ela fica na minha frente, colocando um dos braços sobre meu peito, para que eu parasse de andar.

— Você não é um idiota! – ela diz e eu bufo.

— A verdade é...eu... – ela começa a gaguejar e eu franzo meu cenho.

— Você...? – incentivo ela a falar enquanto olho pra ela debochado.

— Eu... – ela parece engolir as palavras. Parece estar escondendo algo. Eu fico sem paciência.

— Olhe, estou sem saco pra isso! Então se me der licença eu- - começo a tentar me desviar dela, mas ela me segura.

— Eu queria ser como você! Tá, legal? É isso! – ela parece explodir com as palavras. Eu sou pego de surpresa, minha boca se abre em um “O”. Ela limpa o suor da testa e suspira.

— Queria ser como você. – ela diz agora mais calmamente, sem me olhar nos olhos.

— O...o que? – meu tom de voz abaixa, eu realmente não vi essa chegar.

Isso é ridículo!

Igual a mim?!

— Você é sensível! Você não tá fodido da cabeça! Você é uma pessoa ótima que se importa com os outros em níveis que eu sou simplesmente incapaz de entender! Eu queria ser como você! Eu até tento! Mas eu não consigo Rey, não consigo! – ela diz rapidamente, agora me olhando diretamente. Sinto sua voz falhar e isso me deixa sem reação.

— Já parou pra pensar no peso que eu tenho nas minhas costas?! – Ela diz e eu fico tentando achar palavras pra dizer, como não faço isso rapidamente, apenas fico ouvindo ela desabar.

— Tem vezes que eu não sei se eu vou conseguir ME aguentar! Eu não sirvo pra essas coisas de liderança! E quando eu menos percebo, todos olham pra mim esperando respostas! “Ah temos um problema fodido, porque não dá pra Carley resolver já que ela é uma PEDRA aparentemente!” – Carley dispara sobre mim, fazendo uma péssima imitação do nosso grupo no final. Vejo seus olhos se avermelharem, mas nenhuma lágrima sai dali. Mas isso não significa que os MEUS olhos não estavam se avermelhando também.

— Primeiro minha família me deixa pra trás, depois eu sou obrigada a cortar a perna de um senhor de mais de sessenta anos, e depois, corro atrás de uma menina com metade da minha idade, derrubando ela no chão e ameaçando ela de porrada! Quer dizer, qual é! – ela abre os braços e dá um riso nervoso.

— O que está havendo comigo?! Quando que na minha vida eu ia imaginar ameaçar alguém de porrada?! E sabe qual é o pior?! – ela diz se aproximando bruscamente de mim, me fazendo dar um passo pra trás de susto. Eu limpo uma lágrima que caia do meu rosto.

Meu Deus...

— Eu. Não. Me. Arrependo. De nada. – ela diz pausadamente e depois dá de ombros.

— Não acho que fiz nada de errado! – ela abre os braços novamente – E eu tenho certeza, que se fosse VOCÊ no meu lugar, você acharia algo errado no meio de tudo isso! E eu quero muito achar algo errado, pra eu poder me policiar, mas eu NÃO CONSIGO! – ela grita. E eu olho em volta vendo se ela chamou a atenção de algum zumbi. Um morto se aproxima.

Antes que eu pudesse me mexer, Carley anda apressadamente até o zumbi, limpando mais uma vez o suor da testa. Ela ergue a espada no ar e desce com força na cabeça do zumbi.

— FILHO DA PUTA! – ela grita e eu corro até ela, e a abraço por trás, tentando imobiliza-la. Luto para afasta-la do zumbi que ela insistia em bater cada vez mais, sendo que o mesmo já estava morto.

— PARA! – eu aperto mais meu abraço, a puxando para longe. Ela respirava ofegante enquanto lutava para não ser levada de volta para a loja de esquina, mas ela falha e eu consigo traze-la para dentro.

Eu a solto assim que estamos dentro do local. Ela fica de costas pra mim e eu percebo sua mão tremendo loucamente.

— Pare. – eu falo mais calmo com ela, que ainda permanecia de costas. Ela treme tanto que a espada pula de suas mãos e cai no chão. Carley permanece imóvel enquanto olhava fixamente para o chão, eu não consigo ver seu rosto.

— Não sei quanto tempo mais eu consigo... – ela fala tão baixo que parece um sussurro. Eu dou um passo em sua direção e toco seu ombro.

— O que está falando? – falo baixo. Ela continua de costas pra mim.

— Estou enlouquecendo, Rey. – ela fala baixo de novo.

Eu a viro para que fique de frente pra mim, ela continua a encarar o chão. Parecia estar em estado de choque.

Eu não a vejo assim desde que Ross morreu...

— Olha pra mim. – digo e ela não se mexe.

— Carley. Por favor, olhe pra mim. – repito e ela suspira antes de me encarar e eu ver seus olhos marejados. Uma lágrima solitária escorria pela sua bochecha.

— Que papo é esse de não conseguir? Tudo que você fez até agora foi justamente “ter conseguido”! – eu digo a ela, que só me olha completamente perdida.

— Se você não tivesse aqui. Se você não estivesse no controle...se EU fosse VOCE como você mesma gostaria que acontecesse...todos estaríamos mortos. – eu digo como um desabafo. Ela pisca lentamente e inclina a cabeça, confusa.

— Você diz que quer achar algo errado no que você fez, mas a verdade é que...o que você fez, nos mantém vivos hoje. Se não tivesse cortado a perna de Hershel, ele estaria morto. Se não tivesse corrido até Enid, Hershel e Killian provavelmente estariam mortos também. Não vê o que está fazendo? – digo pra ela com um sorriso, passo o polegar na lágrima em sua bochecha.

— Você salva vidas. Você é a General do nosso quartel, lembra? – eu solto um riso fraco e ri nasalmente, abaixando a cabeça fitando os próprios pés.

— Você tem razão. Eu não faço a menor ideia do que você passa, e sinceramente? Não sei como você consegue aguentar tudo isso. Mas o que é mais admirável em tudo isso, é que você aguenta!— eu digo segurando em seus ombros – Você aguenta, porque é preciso aguentar! Quando eu achei que tudo ia se acabar, você disse que tudo ia ficar bem. E agora eu estou te dizendo...vamos todos ficar bem.

Ela volta a me olhar nos olhos.

— Como tem tanta certeza? – ela pergunta.

— Não tenho. Mas sei que podemos fazer as coisas ficarem bem. – eu digo e ela me ouve atentamente.

Eis que eu tenho uma ideia.

— Já parou pra pensar do porque viramos amigos? – pergunto pra ela, soltando seus ombros. Ela franze o cenho com a pergunta.

— O quê? – ela diz lentamente.

— Porque sempre fomos dois extremos. – Eu sorrio. Ela continua sem entender nada, eu rio de sua careta confusa.

— Lógico que não nas proporções de hoje mas...é como se nossa amizade fosse uma balança e nós dois fossemos o peso! Sempre fazemos o outro enxergar algo a mais, sempre acrescentando algo. Você diz que queria ser mais sensível? Pois eu queria ter a sua frieza! – eu digo e ela ri nasalmente.

— Eu devia agradecer por você ter me chamado de fria? – ela diz esfregando os olhos.

— Não! VOCÊ devia agradecer a si mesmo por ser fria. Se não fosse, não estaríamos aqui, como eu já mencionei. Se fosse não tivesse mantido o controle na escola, não teríamos saído de lá. – eu digo.

— Mas eu não fiz nada sozinha, você estava lá. Todos estavam. – ela diz.

— Exatamente! Escuta... – eu seguro suas mãos – Não me chame de bicha pelo que vou falar agora, mas é como se fossemos uma parte que falta no outro.

Carley ri nasalmente.

— Que bicha. – ela diz e eu rio, sorrindo para ela.

— Eu sou o seu freio quando o seu próprio freio quebra e você é minha força quando ela me faz falta. – digo olhando em seus olhos – E isso não é de agora!

E pela primeira vez em muito tempo, presencio algo inusitado.

Carley abre um grande sorriso pra mim, um lindo sorriso que eu achava que não veria nunca mais. Era difícil acreditar que um sorriso tão bonito estava escondido em um rosto tão rabugento. Eu sorrio de volta.

— Lembra quando eu ficava sem coragem de conversar com alguns ex-namorados? Quem é que falava “para de ser trouxa, resolve essa merda com ele!”? – pergunto a ela de forma divertida, ela passa a mão na testa e revira os olhos.

— Eu. – ela diz aos risos.

— Quem é que disse que eu deveria sair do armário pra minha mãe? – digo dando dois tapas em sua mão.

— Eu! – ela responde novamente.

— Quem é que disse que tudo ia ficar bem e que iríamos sobreviver juntos? – pergunto agora mais sério, porém com um vislumbre de sorriso no rosto. Carley também fica mais séria, ela assente lentamente.

Fui um dos primeiros do grupo a surtar...ela estava lá pra mim.

— Entendi... – ela diz pra mim e eu dou uma leve apertada em suas mãos antes de solta-las.

— E eu estou aqui pra ser seu freio pra quando você precisar desacelerar. – digo e logo em seguida a puxo para um abraço. Ela me abraça fortemente e ficamos alguns segundos naquela posição antes de nos separarmos.

— Amo você, sua surtada. Não me assuste assim de novo. – digo quando nos separamos e ela ri nasalmente.

— Enquanto eu tiver os meus freios, não vou. – ela me dá uma piscadela antes de adentrar mais na loja. Mas antes que eu possa segui-la, preciso me garantir de uma coisa.

— Ei! – a chamo. Ela se vira sem dizer nada. – Tudo bem?

Ela suspira e balança a cabeça lentamente.

— Tudo. Vai ficar tudo bem. – ela diz e eu assinto.

— Ah, mais uma coisa. – ela volta a me chamar quando eu começo a olhar em volta da loja.

— Não diga para os outros sobre isso que aconteceu. Eu agradeceria muito. – ela diz mais séria, eu rio nasalmente.

— Não se preocupe. Não vou estragar a sua visão de “general durona sem sentimentos” perante os outros. – eu digo aos risos e ela balança a cabeça negativamente, rindo um pouco.

— Só você sabe dessa outra parte de mim, então cala a boca antes de eu começar a revelar umas baixarias. – Ela me responde e eu ponho a mão na cintura fingindo estar ofendido.

— Que baixaria?! Vai lavar roupa suja agora?! Olha que eu sei uns podres seus também, hein! – falo e nós dois rimos da idiotice enquanto voltamos a saquear o lugar.

Idiotas até no apocalipse! A força e o freio!


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Notas finais do capítulo

Quem aí ta ansioso pra reta final?! Alguma teoria?!

ps: vai ter capitulo explicando a história do Luke e do Ken!



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