Correndo contra o tempo, começamos a pôr o plano em ação. Seguindo com cuidado, deixamos ao acampamento e seguimos até as celas perto do acesso norte. Não foi tão difícil, uma vez que havia vários entulhos, que serviram para nos escondermos, espalhados por ali. 

Chegando lá, vi alguns rostos familiares: Comandante Ah Ra, Juno, Carter, Selena(a irmã da Serena), Eric e Thomas. Além deles, deveria ter mais uns vinte desconhecidos presos em outras jaulas de metal. Todos pareciam abatidos e muito magros, alguns estavam com feridas de alguma batalha que ainda estavam cicatrizando. Vigiando, havia dois guardas vorsêrianos, que andavam de um lado para o outro, aparentemente entediados. Anette abateu um com uma flechada na cabeça, e eu degolei o segundo.

Ah Ra foi a primeira a notar a nossa presença, e quando um dos soldados falou alto quando notou nossa chegada, ela lhe deu uma cotovelada com o braço direito e o mandou calar a boca. Ela olhou para os dois lados, e se levantou com dificuldade. Percebi que ela estava segurando um ponto pouco abaixo das costelas e que parecia estar com dor. Juno falou:

— Ah Ra, cuidado, ou vai abrir a ferida outra vez.

— Eu estou bem, Juno. - Disse Ah Ra, baixinho.

— Se apoie em mim, se precisar.

— Obrigada Juno.

Comecei a destrancar a cela dela, enquanto Keiran destrancava a da frente. Ele até que não era ruim nisso. Ah Ra me perguntou baixinho:

— Como entraram aqui? Vocês tem algum plano pra sairmos vivos? Você deve ter notado aquelas armadilhas enormes lá em cima, não?

— É claro que temos um plano. Marian, Serena, Byron e Bear cuidaram das armadilhas, Henry criará uma distração no meio pra atrair todos e nós vamos libertar vocês. Vamos precisar da ajuda de vocês para lutar e fechar um cerco.

— Ah Ra e a maioria de nós não tem condições de lutar. - Disse Juno. - Deveríamos apenas sair daqui.

— Não, precisamos libertar a vila. Se Vorsêris continuar com ela em mãos, eles terão uma vantagem muito grande sobre nós.

— Mas… - Começou Juno.

— Quieta, Juno! - Disse Ah Ra. - Entendo que esteja preocupada, mas não podemos negligenciar a causa.

— Dane-se a causa, estamos a anos andando em círculos por ela. Vamos todos morrer desse jeito.

— Vai acabar mal de qualquer forma se não fizermos nada. - Falei, encarando-a irritada, e ela resmungou algo baixinho e desviou o olhar. Então contei o plano. - Vamos destrancar as celas, mas vocês só vão sair  depois que os explosivos do Henry estourarem. Vamos pro outro lado soltar os líderes. Assim que saírem, tentem reunir o máximo de pessoal dos draconianos e pegar o que conseguirem de armas.

— E se algo der errado? - Perguntou um jovem loiro, que estava na mesma cela, sentado no chão.

— Rezamos para sairmos vivos. - Falei, e Ah Ra me olhou irritada e por entre as barras, ela me deu um chute na canela. - Ai!

— Daremos um jeito, Claus. - Disse ela, sorrindo pra ele.

— É claro que daremos... - Falei não acreditando muito nisso, e sorri de forma forçada. - Keiran, como vai aí?

— Abri duas. Temos que correr, Milene. Se já tiver terminado de explicar o plano para a Comandante, é bom se apressar.

— Sim, claro.

— Eu acho que vi um vulto se mexendo. -  Disse Anette, ficando rígida.

— É a Taranthula. - Falou Juno, e fez um sinal para ela, que saiu das sombras.

— Então esse é o tal grupo de resgate de vocês. É melhor terem uma boa armada, os soldados de Vorsêris não estão de brincadeira. - Disse Taranthula saindo das sombras enquanto ajeitava seu cabelo com sua longa cauda. - A que devo a honra, jovem humana? - Disse ao se sentar no chão.

— Anette, você tem como explicar o plano pra ela? Temos que abrir as celas rápido.

— Certo. - Respondeu Anette. Ela começou a explicar o plano, enquanto eu e Keiran abríamos as duas celas restantes. Após terminarmos, fui até eles novamente e Taranthula disse:

— Entendi, posso ajudar a libertar os líderes, não vai ser difícil entrar na cela sem os soldados verem. - Disse Taranthula.

— Uma boa notícia, finalmente. - Respondi. - Como podemos fazer isso?

— Existe um túnel que liga a cela ao lado externo da vila. Muitos fugiam por essa passagem, que acabou fechada, mas posso abri-la para vocês. Eu conheço o lugar, é bem próximo de onde fica minha taverna, se formos rápidos poderemos chegar lá em 10 minutos.

 Nesse instante ouvimos um estouro. Algo deve ter dado errado, pois isso foi bem antes do previsto.

— Ah, droga! - Praguejei algumas coisas e então disse para meus companheiros e Taranthula. - Vamos, não temos muito tempo. Vocês sabem como prosseguir, não é? - Perguntei olhando para Ah Ra, que assentiu.

— Então vamos indo, apenas me sigam. - Disse Taranthula.

Então começamos a seguir Taranthula, rumo ao suposto atalho. De relance, pude observar que os vorsêrianos estavam completamente confusos com a situação e eles sequer notaram nossa presença. O local era a encosta de uma das montanhas que circundava a vila. Taranthula nos olhou e disse:

— É aqui o atalho. - Disse Taranthula apontando para a enorme rocha.

— Espera um pouco… Como vamos passar por isso? - Disse Anette, intrigada.

— Nenhum de nós mexe com explosivos e não somos fortes o suficiente para mover essa coisa. - Observou Keiran.

— Não se preocupe, eu cuido dessa pedrinha. - Disse Taranthula, que empurrou a enorme rocha como se fosse uma pluma. - Entrem, eu vou fechar a passagem.

— Ok, eu sabia que draconianos eram fortes, mas isso é um absurdo de força. - Sussurrou Keiran, admirado.

— É como dizem por aí, não se deve julgar um livro pela capa. - Falei,  admirada com a força de Taranthula. - Vamos logo, não temos tempo a perder.

Começamos a adentrar os túneis. Para minha surpresa, era até que bem construído. Quem quer que tenha feito isso, teve um árduo trabalho. Mas isso não importava, tínhamos que ser rápidos, pois o sucesso da missão dependia de nós.

FIM DO CAPÍTULO 4