— Cheguei... Alex leva minha mochila pro canto... O cheiro é bom... Estava sentindo da rua 

— Mãe... Precisamos conversar... 

— Não me diga você quebrou o PC... 

— ... 

— ALEX! COMO VOCÊ QUEBROU A TELA?! 

— Se acalma pelo amor... 

— Estou ouvindo... Como você "acidentalmente" quebrou a tela querida? 

— Primeiramente, está só trincada, dá pra usar por agora, segundo, vai parecer mentira, mas lembra aquele jogo bizarro que tem a menina que se enforca e a outra que se esfaqueia, no qual você estava preocupada comigo de eu estar viciada nele e toda a bizarrice era porque uma personagem chamada Monika estava manipulando os arquivos do jogo e as personagens junto e a mesma sabia que estava dentro do jogo? 

— Aham... Sei... 

— Então... A tal da Monika, meio que ela realmente é de verdade agora... 

— Alex essa é a desculpa mais idiota que eu já ouvi... Quem. É. Essa. Menina? 

—* Por favor não fique brava com ela senhora, foi minha culpa... 

—* Monika... Eu ia conversar com ela primeiro — Eu vou estar morta depois disso 

—* M-mas eu não podia deixar você de castigo por algo que você nem fez! 

— Falem português... Bem... Você fica falando desse jogo e dessa Monika em todo lugar então eu conheço essa carinha... Com certeza ela não tem nenhum lugar pra ir certo? 

— Certo... 

— Então, o problema é onde ela vai dormir e roupas... 

—* Monika, temos dois problemas, primeiro, qual é o seu tamanho de roupa, segundo minha cama é uma de Solteiro tipo Americana, você se importa em dormir comigo? Não irei fazer nada eu juro! Só dormir... Sem maldade ou segundas intenções! 

—* Não é um incomodo eu dormir com você? 

—* Nope! Pelo contrário! 

— E então? 

— Ela vai dormir na minha cama, *E suas medidas? Não tenho certeza se tudo meu cabe em você... 

—* Bem, acho que tudo M deve me servir... 

— Ela veste M... Deve dar por agora... 

— Depois de comer eu vou pegar no meu quarto... 

— Certo... *Vamos voltar a comer Monika... 

Fritei as últimas omeletes que faltavam enquanto minha mãe voltou com toalhas e roupas pra Monika. Jantamos, fiz a mistura da marmita da minha mãe e esperei Monika tomar banho pra ir também, depois de um tempo ela bateu na porta e entrou. 

—* Estou aqui... 

—* Oh certo, eu já estou terminando de pegar as minhas roupas pra ir pro banho, se quiser ir deitando tudo bem, acho que eu vou demorar um pouquinho ok? — Segui pro chuveiro com a mente pesada, ainda bem que amanhã é sábado. Mesmo estando de férias, acho que depois de amanhã vai ser legal se a gente sair de casa! Levei chá de camomila, levando em conta que nenhuma de nós vamos conseguir dormir rápido, bem, minha mãe disse que tem camomila, ela comprou com uma senhora do bairro que tem uma horta, Chá de Senhoras, avós e mães são os melhores! São aquele tipo que você toma e se cura na hora de uma gripe, resfriado e afins, eles sempre funcionam! 

Oh... Ela tá meditando... 

Resolvi não incomodar e coloquei a bandeja na escrivaninha, peguei meu caderninho de notas e sentei no chão e comecei a escrever, acabou virando uma terapia sem querer, eu tiro tudo que tem da minha cabeça e consigo dormir melhor. 

—* Alex? Não percebi você entrar... 

—* Você estava meditando então não queria incomodar... 

—* Você começou a escrever poemas? 

—* De certa forma... Sim..., mas eu ainda não vou te mostrar esses... 

—* Aww... Eu quero ver... Não precisa sentir vergonha, eu sei que vai ser bem diferente do que você me entregou em jogo... 

—* Ainda sim... Agora não... — Ela fez uma cara triste e começou a beber o chá — Sabe, eu não sou muito confiante com escrita, eu gosto de desenhar, então se a gente realmente estivesse no clube, muitos dos meus poemas seriam ilustrados e brincariam com imagens 

—* Isso parece algo interessante de se ver. 

—* Eu prometo que logo escrevo alguns pra você, as hoje está tarde, você deve estar cansada, você dorme com alguma luz acesa? 

—* Eu não me importo... 

—* Ótimo! Eu só durmo no breu... — Me sentei na cama e fiz companhia pra ela — Está bom? — Ela fez que sim com a cabeça 

—* Está muito bom! O que tem aqui? 

—* Eu não faço ideia, mas geralmente é beber, deitar e acordar no outro dia. É quase um Boa Noite Cinderella 

—* O que é isso? 

—* Ah! — Droga, como eu vou explicar isso? — É uma expressão Brasileira... Como eu vou te traduzir? Google me ajuda... — Peguei meu celular e fiz uma pesquisa — Oh, achei... A expressão correspondente é "Mickey Finn". A única coisa que eu sei que tem aqui nesse chá é Camomila, eu fiz ele em um médio fraco, não se preocupe. 

—* Sua mãe toma dele também? 

—* Muito! Principalmente quando ela tá estressada do trabalho, que é quase sempre, o povo é mal-educado e sem noção as vezes. Mas a louca do chá da casa é eu.  

—* Então, ele parece estar dando efeito já... — Ela olhou pra xicara vazia  

—* Coloca na escrivaninha, de manhã eu levo, não se preocupa em acordar cedo ou algo assim. Eu acordo tarde. 

—* Certo... Boa noite Alex. 

—* Bons sonhos Monika... — Apaguei a luz e nos deitamos, eu vi que no primeiro momento ela estava tentando encontrar uma posição boa sem tentar me incomodar, mas o ainda sim eu sentia o colchão se afundando e subindo conforme ela tentava fazer isso, eu dormia virada com a cara pra parede, resolvi continuar parada pra ela não se sentir mal. Ouvi um suspiro longo, então a cabeça dela tocando minha nuca. 

—* Desculpa.... Eu estou te incomodando né? Não consigo dormir. 

—* Tudo bem, deve ser estranho, não é a sua cama, é um quarto desconhecido e escuro... Eu posso te abraçar se você quiser... — Eu senti ela fazer sim com a cabeça e me virei, o rosto dela estava corado, acho que ela não esperava que eu tivesse sentido o "sim". — Eu posso sentir seu coração? 

—* Pode... Mas porque você quer fazer isso? 

—* Às vezes, eu tenho que me lembrar que você é realmente real, entende? — Coloquei a mão no peito dela e senti o coração dela batendo rápido; soltei um sorriso bobo e puxei ela pra perto dentro do meu abraço, ela ficou mais vermelha que da última vez... Que fofa. — Você pode ouvir o meu também... — Disse em um sussurro, ela colocou a cabeça sob meu peito e aos poucos começou a me abraçar mais forte. Não resisti e comecei a mexer no cabelo dela, é tão macio e tem um tom lindo... — Você disse que queria ver um poema meu, certo? Acho que eu tenho um Poema Especial pra você... 

—* Por favor me mostre... 

—* Não tem um título, eu tinha escrito ontem por essas horas enquanto falava com você... 

"Vermelho, Verde, Azul. 

É a linguagem que o computador usa pra que eu possa lhe ver. 

Seno, Cosseno e Tangente, 

Me pergunto se a música que toca ao fundo é como Diegese pra você. 

Vivemos em realidades tão diferentes, 

Tudo visto com os meus olhos era tão cinza, 

Até eu conhecer você. 

Não sei se você sente exatamente o mesmo, 

Dentro da cacofonia que tanto lhe desagradava, 

Dentro daquele mundo de significado distorcido. 

E continuamos assim, sozinhos, 

Nos nossos respectivos mundos, 

Separados por uma tela e pixels, 

Onde minha realidade é feita de átomos, 

E a sua por uns e zeros. 

Eu me pergunto se você iria rir de mim, 

Se eu pudesse lhe falar, o quanto eu queria você dentro dos meus braços, 

O quanto eu queria beber algo quente juntas, 

Assistindo a chuva sentadas na Janela, 

O quanto eu queria brincar com o teu cabelo, 

Sentir seu cheiro... 

Mas não passam de desejos bobos que eu nunca vou realizar. 

Mas no final, assim como você, 

'Eu imagino um futuro onde eu possa estar com você, 

Em minha mão, está uma caneta que vai escrever um poema meu pra você. 

A tinta fluiu para uma poça negra, 

Movi minha mão pra escrever um caminho ao seu coração, 

'Mas neste mundo de infinitas escolhas, 

O que será necessário para encontrar esse dia especial?' 

Mas no final, encontramos esse dia especial."