— Olha pra mim e me diz: você acha que eu tenho medo de traficantes?

 Sasuke negou fazendo careta e foi em direção à sala. Eu peguei duas panelas debaixo da pia – aquelas que eles nunca usam – e subi em cima da bancada, batendo as duas uma contra a outra. Todo mundo olhou para mim, inclusive os traficantes e Itachi.

 — EI POVO!  – Gritei – A festa acabou, e se vocês não saírem daqui no próximo minuto eu vou bater na cabeça de vocês com essas panelas que tenho em minhas mãos, CARALHO! E vocês – Eu apontei para os traficantes –, se não meterem o pé com esse seu inglês fajuto com sotaque de espanhol, eu vou chamar o FBI.

 Eles arregalaram os olhos para mim, e para completar, a música foi pausada. Muitos adolescentes reclamaram, mas a cozinha esvaziou em poucos minutos e a casa inteira estava completamente vazia apenas com um Itachi bêbado, Sasuke e eu.

 Um tempinho depois Itachi desmaiou no chão da cozinha e eu me sentei na bancada para observar o delinquente jogado no chão, Sasuke estendeu a mão para mim e eu bati a minha junto com a dele.

 Oito horas da manhã no dia seguinte, eu me levantei com uma puta dor de cabeça. A casa estava silenciosa, não muito desarrumada, pois Sasuke tentou dar um jeito ontem à noite. Caminhei como um zumbi até o banheiro no corredor, alterei a temperatura novamente e tomei um banho bem demorado.

 Prendi o cabelo no boné e vesti um short jeans com uma camiseta suada do Green Day

 Indo até a cozinha, eu ouvi uma voz de taquara rachada cantando terrivelmente mal.

 — When she was just a giiiirl. She expected the wooooorld. But it flew away from her reaaaaaaaaaaach. So she ran away in her sleeeeeeep

 Itachi— não sei como, mas o moreno conseguiu acordar cedo depois de beber pra caralho ontem à noite – cantava enquanto mexia uma colher de madeira na frigideira, eu senti cheiro de bacon queimado.

 — And dreamed of para-para-paradise

 inclinei a cabeça para Itachi, que sorriu quando me viu atravessando a cozinha e me jogando na bancada com os pés na cadeira.

 — Bom dia, Sakura! – Disse.

 — Que porra você está fazendo?

 — Bacon com ovos, ué!

 — E desde quando você faz isso? – Eu arqueei a sobrancelha – Estão queimados.

 — Desde hoje. Eu imaginei que como agora temos uma criança em casa, deveria ter comida saudável de manhã...

 — Itachi, eu não sou uma criança seu idiota, cala a boca. – Eu bufei.

 Alguns segundos de silêncio e ele voltou a cantar, eu gritei com raiva. Esperei que terminasse de torrar aquela merda que ele estava fazendo, colocou uma porção no meu prato e eu peguei um refrigerante na geladeira, coloquei em cima da mesa. Nessa hora, Itachi já tinha calado a boca e murmurava a música sem abrir a mesma. Me servi e comecei a comer.

 Minutos depois, um zumbi desce as escadas com uma calça de moletom que ainda deixava a barra da sua boxer aparecendo descalço, cabelos mais bagunçados que o normal e a cara amassada.

 O problema todo é que ele estava sem camisa. Sem camisa. Eu tenho dezesseis anos e meus hormônios ainda estão a flor da pele, fiquei ligeiramente corada com aquilo.

 Como Sasuke não pareceu notar minha presença, só conseguia mirar os olhos franzidos para o refrigerante em cima da mesa, eu comecei a aprontar logo cedo; apertei a tampa da garrafa e a sacudi com força até se formar espumas de gás dentro dela. Assim, quando Sasuke abriu a garrafa, ela explodiu na sua cara e isso o fez acordar. Simples assim, explodiu na cara dele.

 — Aaah, mas que merda! – Sasuke praguejou enquanto eu e Itachi começamos a rir – Calem a boca vocês dois... SAKURA!

 Eu arregalei os olhos quando ele gritou meu nome, vi suas bochechas ficarem vermelhas.

 — Eu estou sem camisa, o que você está fazendo aqui?!

 Eu troquei olhares toscos com Itachi.

 — Sei lá, eu comecei a morar aqui, seu idiota. – Revirei os olhos enquanto Sasuke voltava correndo para o banheiro e enfiava uma camisa cinza e podre por cima da cabeça.

 — Aê, mano! Eu fiz bacon com ovos como a mamãe fazia. – Itachi disse bem alegre para Sasuke.

 O Uchiha olhou para a frigideira com uma careta.

 — Isso daqui está longe do que a mamãe fazia, Ita. E olha que ela fazia muito mal – Jogou tudo o que tinha na frigideira dentro da pia, passou uma água e deixou a panela apodrecendo lá dentro. Sasuke pegou um iogurte na geladeira e sentou-se ao lado de Itachi na bancada.

 Eu desci da bancada e fui até a dispensa pegar um Cheetos, voltei a me sentar na bancada com os pés na cadeira, observei que Sasuke acompanhava meus movimentos e encarei-o na maior cara de pau. Seu rosto estava sujo de refrigerante e seu cabelo estava grudento, isso me fez rir.

 — Tire os pés da cadeira, pirralha – Ele estalou a boca.

 Por pura implicância, esfreguei os pés na cadeira. Ele veio até o meu lado e segurou meus pés, fazendo com que eu o chutasse.

 — Não vai me ajudar, cara? – Sasuke eencarou Itachi, que deu de ombros negando. – Com esse apoio moral eu vou longe. Eu deveria colocar você, Sakura, de castigo.

 Eu olhei pelo canto dos olhos para ele, ameaçadoramente. Vi Sasuke recuar um pouco e Itachi ficou assustado, que bando de idiotas.

 — Tenta. – Eu desafiei.

 No segundo seguinte eu estava no colo de Sasuke, tentando esfaqueá-lo com a minha faca de passar manteiga no pão. Não iria muito longe com isso, ele me empurrou para dentro do meu quarto e fechou com chave a porta de vidro, sentando-se na minha frente com a porta de madeira aberta.

 Eu gritei, mas não foi alto suficiente para ele se irritar, mandei o dedo do meio para o garoto, que continuou lá, sentado, parado e me olhando.

 — When she was just a girl. She expected the world. But it flew away from her reach. So she ran away in her sleep…

 Itachi apareceu, sentando-se ao lado de Sasuke também. Ofereceu um salgadinho para o irmão que aceitou, comendo o salgadinho descaradamente na minha frente...

 — O MEU SALGADINHO, SEU FILHO DA PUTA, SUAS GAZELAS! NÃO COMAM MEUS SALGADINHOS!

 Gritei, mas não adiantou. Bati contra a porta de vidro com raiva e me voltei para a janela, mas estava fechada com um trinco enferrujado.

 Peguei a primeira coisa que vi no criado mudo e taquei em direção a porta – que rachou. Sasuke arregalou os olhos quando eu segurei o criado mudo acima da minha cabeça.

 — Não! Sakura! É só uma brincadeira! –Sasuke se desesperou, segurou o salgadinho oferecendo para mim – Eu coloco no lugar, eu prometo, não quebre a porta...

 Atirei o criado mudo contra a porta de vidro com muita raiva. Ninguém tira comida da minha mão, e ninguém come a minha comida.

 Eu tenho um problema sério com comidas.