Charlie sumiu escrita por dayane


Capítulo 17
Capítulo 17




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/751114/chapter/17

"Amor é uma palavra muito simples para expressar diversas coisas. Sabemos, assim, que existem vários tipos de amores. Amamos de com o intuito de formar uma família, aquela pessoa cujo casaremos. Amamos amigos e familiares. Amamos comida.

Podemos, então, concordar que ‘amor’ é uma palavra curta demais que expressa coisas demais e é usada, deveras, de forma errada.

Eu, por exemplo, amo um bom chocolate quente pela manhã de inverno. Minha mãe, em minha infância, derretia um pedaço de barra Wonka em minha bebida e eu brincava de descobrir qual teria sido o chocolate escolhido. Meu amor pela comida é maior do que meu amor por amigos e meu amor pelos doces Wonka é, sem dúvidas, maior do que meu amor por qualquer outra comida.

Digo tudo isto com um objetivo: esclarecer que mesmo que eu tivesse ficado surpreso com a competição ocorrida na última manhã, aos portões da fábrica Wonka, seu resultado não me era surpresa.

Afinal, eu amo a fábrica Wonka e acompanho seu desenvolvimento desde o momento em que dela saí. Vocês podem se assustar com desafiantes ao nível de Arthur Slugworth, mas podem, também, se surpreender com a presença potente de Charlie Bucket, o menino que sempre fora visto como um reles herdeiro.

Mas eu, que amo a fábrica Wonka, sei que ninguém neste mundo a amará tão profundamente quanto Charlie e o senhor Wonka.

Por isto, mesmo que a artimanha de Slugworth tenha sido a coisa mais incrível de ser vista, apenas um amante como Charlie Bucket ou Willy Wonka saberiam como usar a própria fábrica como proteção.

Afinal, tudo o que sai daquela fábrica, sai para nos surpreender."

Augustus Gloop

Poeta e crítico culinário.

 

Adeus

 

Arthur Slugworth tinha que assumir: Charlie Bucket era um adversário mais duro do que Willy Wonka. 

Enquanto via o herdeiro e atual dono da fábrica Wonka rasgando o contrato que Willy havia assinado junto com ele, Arthur analisou o garoto. De aparência doce, voz suave e corpo magro, Charlie escondia um verdadeiro guerreiro. Era tolo para cair em uma carta falsa e ser capturado, consciente do perigo para se manter calado quando era mais favorável, mas um verdadeiro estrategista quando se tinha as ferramentas em mãos. 

Arthur sabia que seu doce era bom. Sabia que a sensação quentinha que ele colocava nas mãos dos jurados era um ponto a favor no frio, que a qualidade dos materiais deixaria o doce impecável e que o chocolate em toda aquela quantidade seria atrativo para quem estava dentro da fábrica - mesmo que dentro significasse entre o portão e a porta de entrada. 

— Bem - Disse Charlie ao vilão - Parece que terminamos por aqui. 

A multidão que cercava a fábrica não escutava o que era dito por dentro dos portões. Os jurados já tinham saído e eram entrevistados sobre o sabor do que provaram. As dúvidas sobre o doce que Charlie Bucket havia feito e como era comer algo que não só brilhava como aquecia ao ser soprado eram sanadas da forma que os participantes conseguiam. 

— Eu gostei bastante do doce que Slugworth fez, mas Charlie foi no que realmente acho dos doces Wonka. Eles são incríveis por serem criativos e divertidos. Únicos. - Disse um dos jurados. 

— O que mais chamou a atenção é que não sei se o brilho tem sabor. Eu não senti nada muito diferente, mas era bem diferente comer aquele doce. 

Arthur limpou a garganta. 

— Senhor Bucket, o senhor realmente me impressionou. Eu sei que houve alguma artimanha de sua parte, afinal, não podemos nos esquecer de seu sumiço dentro da fábrica. 

Charlie coçou a cabeça de forma pensativa. Ele deveria revelar que realmente não fora justo?

— Eu nunca trapacearia para ganhar algo. - Disse o herdeiro de forma sincera. - Não fiz isto para visitar esta fábrica e não o fiz na competição. O que ninguém entende é que não foi Willy que me escolheu, foi a fábrica. E eu só usei os recursos dela, assim como foi combinado. 

Tudo bem que nem todos os recursos da fábrica poderiam ser vistos por quem era de fora. Tudo bem que teve o apoio dos Umpa Lumpas para o ingrediente vitorioso. Mas era isto, não era? Uma competição entre intrusos e a fábrica e moradores dela. De um lado, o trio de Slugworth, com o vilão e Fickelgruber e Prodnose; do outro, o trio Wonka, com Charlie, os Umpa Lumpas e a fábrica Wonka unidos para livrarem-se de pessoas ruins e gananciosas. 

— Pode ter razão, senhor Charlie Bucket. - Disse Slugworth. - Mas só poderei ter certeza se um dia descobrir todos os segredos desta fábrica. 

— É preciso muito tempo para isto, senhor Slugworth. - Disse Charlie adicionando em pensamento que ele duvida conhecer tudo sobre a fábrica. 

— Imagino que sim. 

Enquanto os competidores conversavam entre si, Willy Wonka tentava se desvencilhar dos jornalistas que lhe agarraram pelo braço assim que se despediu dos jurados. Para cada um deles, foi entregue um kit com duas barras de chocolate Wonka e o próprio chocolateiro entregou a sacolinha. Mas assim que ele fechou o portão elétrico, a manga de seu casaco fora puxada com força e jornalistas desataram a fazer perguntas para ele e para os jurados. 

Quando finalmente conseguiu se livrar, arrancando o casaco do corpo e correndo para longe do portão enquanto a multidão se matava para saber quem ficaria com a peça de roupa, Willy seguiu na direção do pupilo. 

— Não está na hora de partir, Slug¹? - Disse Willy. 

— Gosto de como demonstra querer estar perto de mim, meu caro Wonka. 

— Isto é porque preciso ser educado em frente aos outros. 

Arthur sorriu. Ele gostava da personalidade sincera que Wonka possuía, de como era criativo e ainda conseguiu manter um império sem ajuda de ninguém por muitos anos. Até mesmo a forma que lutava lhe era prazeroso de ver, ou como o chocolateiro vencia suas batalhas. Claro que, nada disto, fora mais bonito do que ter o chocolateiro aos seus pés, rendido como uma preza que finalmente rendeu-se.

— Um dia iremos nos encontrar, caro herdeiro. - Disse Arthur. - Mas até lá, adeus. Charlie Bucket. 

O corpo de Willy se arrepiou. Arthur só chamava alguém pelo nome quando o via como um bom adversário, alguém que merecia algum valor. E, se adicionasse o sobrenome, então havia, sim, a possibilidade de ser vencido.

Só havia, no mundo, duas pessoas que Arthur chamava pelo nome completo: Charlie Bucket, sua nova aquisição, e Willy Wonka.

— Adeus, Arthur Slugworth. - Disse o herdeiro. 

O trio de capangas girou no eixo e caminhou na direção do portão enquanto os donos da fábrica seguiram no caminho oposto, cansados de ficarem no frio e desejando apenas uma caneca de chocolate quente e a paz do musical que só um grupo Umpa Lumpa poderia ofertar. 

— Você parece ter conquistado o nosso vilão. 

Enquanto Willy falava, Charlie abriu a porta para que o tutor passasse. 

— Ninguém resiste ao meu charme, Willy. 

A brincadeira do herdeiro fez com que o tutor risse. Não fazia muito tempo que a aventura deles havia começado, mas parecia ter se passado anos. Poder escutar uma piada como aquela do garoto que rondava seus dias como a lua rondando a Terra, era absurdamente prazeroso. 

— Não abuse, meu querido. Não abuse.

 

W.W.

 

— Chefe, o senhor vai mesmo desistir deste jeito? - Fickelgruber questionou. - Nunca imaginei que seria tão fácil te derrotar. 

— Fácil? - Arthur disse retoricamente. - Sequestramos um garoto, roubamos a posse da fábrica Wonka e ainda assim fomos vencidos em uma competição onde nosso rival deveria estar apavorado e mijando nas calças. 

— Eu não gosto deste menino. - Gemeu Prodnose. 

— Ah, mas ele é sim uma peça rara. Faz jus ao Wonka. - Disse Arthur de forma suave. - Não demorará muito para que aquela criança ultrapasse nosso chocolateiro favorito, meus queridos. Pois só um gênio conseguiria enganar-me sob minha vigilância. 

Prodnose gemeu e cafungou assim que fecharam a porta do carro. O veículo estava gelado por dentro, mas isto não incomodou Arthur. Ele sempre gostou do frio, assim como sempre gostou de chapéu coco e de charuto, mesmo que só os fumasse em casos especiais, deixando os cigarros para o dia a dia. 

— Acha mesmo que aquelas casinhas foram construídas para as crianças, chefe? 

— Sabe o que eu mais gosto de você Fickelgruber? 

Enquanto o capanga respondia que não sabia, usando aquele jeito desleixado e cansado de sempre, Arthur acendeu um charuto, tragou-o e apreciou o momento. O céu estava claro e sem nuvens. A primavera estava cada vez mais próxima e o sonho de ter a fábrica Wonka cada vez mais longe. 

— Eu gosto por você conseguir perceber o mesmo que eu ou até mesmo mais do que eu. 

A fumaça saiu da boca de Arthur, escapou pela janela levemente aberta do carro clássico e sumiu em na vã tentativa de conhecer todo o mundo. O frio continuaria por mais um bom tempo naquela cidade, mas dentro da fábrica Wonka, tudo voltada a doçura de antes. Pelo menos, até que mais alguém tentasse invadí-la.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Notas:
1. Slug, lesma. Foi uma brincadeira para ofender o vilão.

Opa, ainda não acabou. Temos o epilogo chegando na fase de revisão.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Charlie sumiu" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.