Charlie sumiu escrita por dayane


Capítulo 18
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

E assim, chegamos ao fim.



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Sempre com você

 

— Você alguma vez imaginou que este menino guloso poderia ser tão bom com as palavras?

Os dedos de Willy dobraram, pela quarta vez, o pedaço de crítica que havia retirado do jornal diário. Ele nunca imaginaria que aquele menino guloso, que caiu em seu rio de chocolate e parou a produção por um mês, fosse se tornar um homem tão bom com as palavras. 

Mas, no fundo, Willy só não tivera tempo para ver como as cinco crianças tinham ficado após a visita. Já tinha se passado quase doze anos. Charlie estava concluindo a faculdade, a parceria deles já tinha completado tantos aniversários que arrumar presente de comemoração estava cada vez mais difícil. E quem poderia dizer que um dia aquela fábrica viveu sem a presença do garoto?

Charlie gemeu em resposta. Se sentia cansado e nada no mundo lhe parecia mais prazeroso do que ficar deitado sobre uma grande toalha de piquenique nas margens do rio de chocolate. Ah, como ele amava deitar ali, com o cheirinho suave de hortelã escapando do gramado recém cortado pelos Umpa Lumpas. O som da cachoeira ao fundo, o silêncio. Gostava de saber que Willy estava por perto, que bastava esticar a mão e tocaria no amigo e tutor. 

E era isto que Charlie gostava. Gostava de estar com as pessoas que ama e que vê como sua família. 

— Eu jurava que ele só sabia comer.

— Willy, por que você só não deita e aproveita o silêncio?

Horas antes, menos de 24 horas, a porta da fábrica estava entupida de jornalistas e pessoas da cidade e de todo o mundo. Com todas as pessoas partindo o silêncio reinava e sem a presença de vilões a paz se fazia dentro da fábrica. Tudo parecia em perfeita harmonia.

Willy deitou-se ao lado do herdeiro. Ficou dois minutos e então se reergueu. O barulho do papel desdobrando surgiu. 

— Willy! - Rosnou Charlie. 

— Desculpe, estrelinha, mas não consigo evitar. 

O herdeiro respirou fundo e se ergueu. 

— Diga. - Ele deu a deixa, mas o chocolateiro pareceu não entender. - Você está incomodado com algo. Do jeito que sempre fica quando quer me falar algo e não sabe por onde começar. 

Willy dobrou, mais uma vez, a carta de Augustos Gloop, aquela que ele publicou no jornal matinal. 

— Nada disto teria acontecendo se eu tivesse lhe falado sobre Arthur. 

A voz de Willy estava amuada. A vergonha que sentia e o arrependimento arrancavam qualquer energia que o chocolateiro pudesse ter naquele momento. 

— Aquela lesma sem valor nunca teria conseguido dar o bote se...

— Se eu não fosse tolo e tivesse percebido o obvio. - Cortou Charlie. 

O jeito assustado com que os olhos de Willy observaram o Bucket denunciava que ele nunca pensou em dividir a culpa. Mas era verdade, a soma da inocência com o a falta de compartilhamento do passado foi o bastante para que toda aquela aventura acontecesse. 

— Willy, se você for se culpar por algo, se culpe por nunca ter me contado das profundezas da fábrica. - O sorriso de Charlie era o bastante para iluminar o dia de Willy. - Pois eu nunca imaginei que ela fosse tão grande. 

O chocolateiro riu de forma leve e descontraída, sentindo toda a tensão escorrer pelas costas e deixar o corpo. Ele voltou a sentir o suave cheiro de menta da grama, o som gostoso do chocolate sendo mexido e remexido pela cachoeira, a suavidade do correr do líquido. 

Desde que Charlie havia sumido, todas as energias de Willy ficaram focadas em achar e salvar o herdeiro, depois salvar a fábrica e os Umpa Lumpas fora aderido ao pacote e, como pagamento, por tanto estresse, apreciar cada pequeno detalhe da fábrica fora deixado de lado. Era como deixar de sentir o cheiro da casa por viver muito tempo nela, como esquecer como se é prazeroso deitar nos sofá, pois aquela manchinha na parede oposta lhe deixa irritado demais para notar o conforto de outras partes.

Mas, com Charlie o acalmando, como sempre fazia, o sabor da vida voltava. Os sons agradáveis venciam os sons ruins, as manchas sumiam e os detalhes venciam. Tudo, absolutamente tudo, ganhava um tom mais agradável. 

— Willy? - O chocolateiro virou o rosto para o pupilo. - Teve outro devaneio? 

O jeito preocupado de Charlie estava disfarçado com o cansaço que o herdeiro sentia. Mas ainda estava lá. 

— Eu? - o tutor questionou. - Não. Na verdade eu estava só apreciando o que eu tenho comigo hoje. 

Charlie sorriu. 

— É uma boa fábrica. Às vezes eu nem acredito que posso viver aqui. 

Willy franziu a testa. 

— Não é só a fábrica. - Disse ele. - É você. Digo, depois que você entrou na minha vida, tudo mudou. Se não fosse você, eu não conseguiria conversar com meu pai, talvez eu nem tivesse conseguido criar um doce novo desde aquela época. E se você não estivesse na minha vida, sem dúvidas aquela lesma teria me vencido. Tudo o que eu fiz foi me desesperar e entregar a fábrica. Eu realmente estou ficando velho e cansado e...

E a mente de Willy desatou o nó que prendia todas as preocupações e loucuras da cabeça dele, fazendo a boca falar e falar e falar e atropelar as palavras, comer o contexto. Era uma cabeça muito cheia explodindo e deixando tudo vazar. 

Mas, como magia, tudo desanuviou e passou. As palavras deixaram de existir na mente de Willy e o olfato captou o perfume suave que Charlie usava. A batida do coração do herdeiro era suave e tranquila, como Charlie; a pele quente, como um cobertor no meio da noite de inverno. 

Willy suspirou profundamente. 

Os braços do Bucket envolveram Willy com doçura. A mão direita contornou as costas, subindo por detrás dos ombros e repousando em um gostoso trabalho de afagar os cabelos do chocolateiro maluco. O braço esquerdo, por sua vez, prendeu a cintura do tutor, puxando-o para ficar colado ao seu corpo. 

— Há quanto tempo você estava segurando estes pensamentos?

— Eu não faço ideia, estrelinha. - Sussurrou Willy. 

O jeito sonolento do chocolateiro foi denunciado pela voz, contudo, bastou um minuto de afagar para que o corpo pesasse como se Willy já estivesse adormecido. 

— Eu sempre vou estar contigo, Willy. 

E, vendo que Wonka não respondeu, Charlie arriscou:

— Eu te amo, seu maluco. 

Willy, apenas, sorriu. 

 

 

Dóris parou de caminhar e segurou o sorriso. Gostava quando tudo estava em plena paz, na fábrica Wonka. Nos últimos dias as turbulências que passaram foram o bastante para estressar todo mundo, mas também para fazê-los ficarem mais próximos uns dos outros. 

A equipe de segurança Umpa Lumpa estava varrendo a fábrica passando três vezes em cada canto, revendo cada programa ou objeto que encontrassem. Buscavam qualquer coisa que aparentasse estar fora do normal e aproveitavam para intensificar a segurança da fábrica. 

O departamento de diversão tinha conseguido superar seus musicais e levou todo mundo a chorar contando a vitória de Charlie sobre Arthur. 

Depois de algumas horas, tudo parecia voltar a ter aquela velha doçura de sempre, mesmo com a quantidade de trabalho que estavam tendo. 

Assim que a pequenina passou para pegar a correspondência do dia, ela seguiu na direção de Charlie e Willy. Havia uma carta, escrita à mão pelo Dr. Wilbur Wonka e começava com algo "Você parece querer me matar do coração, Willy. Espero que esteja, pelo menos, passando o fio dental." 

Vendo que a carta não era de suma importância, a pequenina parou a leitura e seguiu para tentar entregá-la ao destinatário. Sabia onde encontrar os donos da fábrica e foi diretamente para lá. 

Parou. 

Willy estava adormecido sobre o colo de Charlie, que acariciava o cabelo do chocolateiro. 

Se havia algo que, naquele momento não poderia ser atrapalhado, era aquele momento de paz entre os dois. 

E sorrindo. Dóris partiu. 

— Ah, como a vida é doce. - Sussurrou ela. 


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