Charlie sumiu escrita por dayane


Capítulo 16
Capítulo 15




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Charlie Bucket conhecia a fábrica Wonka de um jeito que seus colegas não faziam ideia. Ele tentara contar como ela era por dentro, mas o que diabos um garoto esfomeado poderia saber sobre a maior fábrica de chocolates do mundo? Exatamente, nada.

Aos poucos, mesmo um garoto de coração tão bom e tão recheado de esperança, o garoto desistiu de conversar com seus colegas e todas as histórias que seu avô tinha contado sobre a fábrica, ficaram na memoria dele e nos jantares de família.

O dinheiro de sua família começava a ficar cada vez mais ralo, assim como as refeições. O menino começava a falar e brincar cada vez menos, poupando energias. E mesmo sob a neve de inverno, Charlie saía da escola, parava em frente à fábrica Wonka, imaginava tudo o que seu avô havia lhe contado e seguia para realizar algum trabalho que lhe renderia algumas moedas.

A vida de Charlie Bucket tinha tudo para ser triste, mas é justamente quem vive este tipo de vida, que passa a enxergar as verdadeiras coisas boas da vida.

Charlie nunca deixou de usar a imaginação e a esperança.

 

Dono

 

Como máquinas, os dois competidores deram um passo para trás assim que a buzina soou. Slugworth cruzou os braços atrás de seu corpo enquanto Charlie enfiou as mãos nos bolsos da calça. A adrenalina estava passando e o frio começava a entrar pelo corpo do pupilo que, mesmo depois de anos morando em meio aos doces, não havia engordado nada.

— Bem, senhoras e senhores, a buzina tocou. Está na hora da decisão.

Cada um dos que estavam dentro da fábrica viraram para a plateia que gritava alucinadamente para serem escolhidos. Era, claro, um ato compreensível. Quem não gostaria de experimentar os resultados daquela competição e ao mesmo tempo pisar no gramado, congelado, da maior fábrica do mundo?

Veruca Salt coçou o queixo.

— Eu disse que você não ia acreditar, Veruquinha.

A sala de seu escritório ficava no topo do prédio mais alto da rua. Sob ela, diversas pessoas trabalhavam em novos modelos de roupas, campanhas e ações sociais, mas naquela sala bem iluminada minimalista, tudo era silencioso e pacifico.

Sobre a mesa, a xícara de chá que Veruca tomada matinalmente estava esfriando e o notebook aberto mostrava o rosto sorridente de Violet Beauregarde, sua antiga rival para ganhar a fábrica Wonka.

— Estou indignada.

Pela televisão colada à parede, o noticiário cobria a competição que estava ocorrendo.

— O que você acha que gerou isto tudo, Veruca?

Violet tinha acordado cedo naquela manhã. Sonhara que fábrica Wonka fora demolida e estranhou ter tido aquele sonho anos depois de não pensar em como era aquele lugar por dentro. A primeira coisa que Violet sempre fazia ao acordar era ligar a televisão e, enquanto escutava o noticiário, colocava as redes sociais em dia. Mas, a primeira coisa que ela fez após ligar a televisão, foi uma vídeo chamada para uma velha amiga.

— Algo ruim, Violet. – Veruca tomou um gole do chá frio. – É só olhar para Charlie.

A recordista olhou para a televisão por um tempo.

— Não vejo nada de diferente.

— Ele está mais magro e tem olheiras. Ele não tinha olheiras nem quando passava fome, amiga.

Violet voltou a ver a televisão. Os cinco que estavam dentro da fábrica, passaram a escolher quem julgaria as sobremesas. Willy, como era de se esperar, escolheu a primeira pessoa que viu e não ousou colocar o pé para fora de sua segurança.

Um senhorzinho que andava de muletas foi entrando lentamente pelos portões da fábrica. Seus olhos brilhavam e ele respirava com dificuldade.

— Meu neto pode entrar para me ajudar? – Com muita dificuldade e lentidão, o senhor escolhido aleatoriamente pelo dedo de Willy, questionou.

O criador da fábrica piscou os olhos como se tivesse acabado de acordar e olhou para as costas de velhinho. Um garotinho que não devia ter mais do que dez anos estava atrás dele, ajudando-o a andar. O garotinho tinha o rosto rechonchudo e dedos gordinhos, mas algo em seus olhos lembrava Charlie.

— Eu não recusaria este pedido por nada. – Respondeu Willy com um sorriso que somente ele poderia dar.

 

W.W.

 

“Tome. Bebe um pouquinho, vai lhe fazer bem” disse Willy para Charlie, lhe entregando uma concha com chocolate do rio de chocolates que havia na fábrica. “Parece que está com fome”.

— Delicioso!

O corpo de Willy saltou no lugar com o susto que tomou. Fazia muito tempo que ele não tinha um devaneio como aquele.

— O que disse? – Ele perguntou ao garotinho que havia acabado de cruzar os portões da fábrica junto com o senhorzinho.

De ombros encolhidos o menininho respondeu que achou delicioso o cheiro que vinha das sobremesas feitas. E que mesmo que ele não fosse provar, achava que tudo estava delicioso.

— E por qual motivo você não provaria? – Willy perguntou.

— São as regras, meu caro chocolateiro. – A voz de Arthur Slugworth fora responsável por responder. – Cada um escolhe um. Ele só está aqui como apoio do velhote.

Do portão, Charlie virou o rosto para a confusão. As pessoas estavam agarrando seu casaco e envolvendo os ouvidos dele com milhões de motivos para que ele os escolhesse.

— Ele pode experimentar e não julgar. – Disse Willy.

— Irá influenciar o velhote. Já é o bastante deixa-lo aqui dentro. Não precisa dar mais esmolas, Willy.

Wonka sentiu as bochechas esquentarem. Estava ficando com raiva.

— Arthur, está fábrica...

— Não é mais sua. – Rosnou o vilão.

Um silêncio mortal ocorreu na rodinha e a respiração deles era a única coisa que se mexia. A multidão começou a ficar calada quando percebeu que alguma briga séria estava acontecendo naquela rodinha que unia dois dos mais poderosos chocolateiros do mundo.

Pela televisão, ninguém sabia o que estava acontecendo. A tensão escorria daquele quarteto até todo o mundo de forma fluida como a água que cai na chuva. Não havia uma pessoa que assistia ao espetáculo, que não estava tenso ou se perguntando o que diabos tinha acontecido antes daquela competição e o que aconteceria depois.

— Tem algo errado, Violet, tem algo muito errado.

— Eu sei Veruca, mas o que podemos fazer além de assistir?

O rosto de Veruca se contorceu. Tudo o que ela tinha criado, nasceu da sua visita à fabrica Wonka. As roupas feitas de materiais reciclados, a porcentagem das vendas que sempre vão para ONGs, a linha de reparo de roupa para doação ou revenda que é convertida para os menos favorecidos.

Tudo isto, ela havia criado após ter sido, literalmente, jogada no lixo. E todos os dias ela se olhava no espelho em formato de esquilo e se perguntava:

— Será que hoje eu seria uma noz podre?

Veruca suspirou.

— Isto é a pior parte, amiga. Ter que esperar.

 

W.W.

 

Charlie Bucket pediu desculpas para a multidão e foi até o grupo que ainda se encarava. Seja lá o que estivessem fazendo, aquilo teria que ficar para depois ou teria que ser resolvido naquele exato momento.

— O que está acontecendo?

— Nada, senhor Bucket. – Respondeu o menino. – Eu só estou acompanhando meu vovô e comentei que o cheiro estava bom. Juro que não vou provar nada.

O rosto do herdeiro ficou confuso.

— O que?

— Eu disse que ele poderia provar. – Willy disse como um rosnado. Mais do que raiva, ele sentia ira.

— E eu, como DO-NO, disse que ele não poderá experimentar. – Arthur frisou a posse da fábrica.

— É uma criança. – Disse o herdeiro com sua suavidade de sempre.

Como Arthur poderia impedir uma criança de provar o doce?

— Que vai influenciar o avô. – Suavemente, respondeu Arthur.

Ele nunca veria Charlie como um rival. Era só um garoto que teve sorte e agora brincava de ser chocolateiro. E com garotos sortudos, Arthur apenas brincava.

— Serio mesmo? – O herdeiro demonstrou sua indignação.

— Minha palavra é lei.

— Uma ova! – O herdeiro perdera o controle. – Você quer ser o ‘manda chuva’ daqui? Então me vença nesta competição! Até lá, eu tenho metade da fábrica e eu escolho este menino para ser um dos jurados.

O queixo do garotinho caiu e o de Arthur quase fora junto. O menino que ele sempre via, sempre quieto, sempre acreditando na bondade alheia, tornou-se uma fera que atacava sem perdão.

Naquele momento, o chocolateiro repensou seu plano. Talvez tivesse adotado um plano arriscado demais para usar contra Charlie.

— Vamos, o que você tem contra isto? – Rugiu o herdeiro.

Willy Wonka deixou o sorriso escapar pelo seu rosto. As pessoas sempre subestimam os que, aparentemente, são mais fracos. Claro que Charlie sempre respeitaria regras e os mais velhos, mas naquele momento, ele e Slugworth estavam no mesmo patamar. Então, se o vilão queria demonstrar poder contra o pupilo, que o fizesse sabendo que enfrentaria algo de mesma ou maior força.

Arthur se aproximou de Charlie. Suas alturas eram diferentes, o pupilo era poucos centímetros maior do que o outro.

— Vai se arrepender, herdeiro. – Cuspiu Arthur. Sua boca quase colada ao do adversário.

— Alguém irá, Slugworth. – Retrucou. – Não necessariamente serei eu.


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