HOLD THE LINE - Livro #01 escrita por Lyra


Capítulo 22
CAPÍTULO 22 - Runnin' Down a Dream




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Devido à quantidade de nove pessoas que montavam o grupo, foi necessário ser feita a utilização de dois carros até o colégio de educação fundamental de Hawkins. Como Hopper havia dito o local era propício para o experimento por possuir quase todos os elementos que Louise exigia em sua extensa lista para a criação do tanque sensorial improvisado.

Por conta de sua grande importância para que a busca por Will e Barb desse certo, Louise sentia-se mais confiante do que quando havia deixado à casa dos Byers. Além de que o foco dos seus pensamentos tinha mudado, deixando de pensar na possível morte do agente federal e centrando no que mais importava: Dar ordens.

— Jonathan e Hopper, vocês ficam responsáveis por recolher o sal. Tragam todo sal que conseguir, independente de ser setecentos quilos ou mais. Teremos apenas uma chance para isso dar certo e o tanque não vai funcionar a vida inteira — Explicou Louise gesticulando para Hopper e Jonathan enquanto ditava as funções — Dustin e Lucas, vocês ficarão responsáveis pela armação da piscina. Façam na quadra fechada por ficar mais próximo do banheiro — Com auxílio da Joyce, ela retirou a piscina de plástico do porta-malas do carro — Wheeler's, vocês vão caçar mangueiras. Creio que duas serão o suficiente, mas dependendo do tamanho tragam mais. Temos que equilibrar a temperatura da água para que fique confortável para El — Em seguida Louise virou para Joyce e Eleven — Tia Joyce peço que cuide dela por enquanto.

— E o que você vai fazer? — Perguntou Joyce abraçando Eleven pelos ombros.

— Vou caçar uma bandeja de ovos na cozinha e invadir o laboratório de ciências para pegar o que falta — Explicou Louise sorrindo orgulhosa — Encontro vocês na quadra coberta em vinte minutos ou menos.

O primeiro lugar do colégio que Louise visitou para realização do seu plano bem arquitetado foi à sala de ciências do Sr. Clarke. Ficou extremamente surpresa ao perceber que todo ambiente estava aberto, caso fosse uma maldosa gênia no crime que precisasse de dinheiro rápido ela aproveitaria a oportunidade para surrupiar todas as coisas necessárias para montar um laboratório de metafetamina improvisado no porão do Mike, já que esconder Eleven por lá havia sido muito fácil. Entretanto ela apenas riu do pensamento absurdo que teve e abriu os armários para caçar o termômetro.

Não demorou muito para encontrar o objeto escondido no fundo de uma caixa branca cheia de outros itens, ela separou o termômetro em cima da bancada e começou a trabalhar no segundo projeto da noite. Pegando fita adesiva cinza e óculos de proteção transparente, Louise puxou um banquinho de madeira sentando sobre o mesmo enquanto caçava com dificuldade a ponta da fita. Como Eleven precisaria de óculos que impedisse a entrada de luz, decidiu fazer por conta própria o apetrecho essencial para o plano dar certo.

Estar encabeçando todo aquele plano maluco de transformar seu projeto de ciência em algo palpável e funcional soava estranho para a adolescente, mas ao mesmo tempo brilhante. Durante o tempo de criação dos óculos ela imaginou os agentes do governo ficando admirados por seus conhecimentos, afinal não é todo dia que uma adolescente de dezesseis anos recria um tanque de privação sensorial usando coisas que tem em casa, e ao invés de mata-la eles a convidariam para participar dos próximos projetos secretos. Mas isso somente na pior das hipóteses.

Depois de testar os óculos e certificar de que nenhuma luz adentrava pelas frestas da fita adesiva, Louise deixou o laboratório de ciências e atravessou a escola até a cozinha. Era estranho para ela estar do outro lado do refeitório, onde as comidas eram criadas. Durante a busca pelas caixas de ovos, ela ficou admirada com o tamanho dos utensílios industriais que utilizavam, imaginando em quanto tempo não demoraria em estragar qualquer tipo de receita que resolvesse criar.

— Pronto! — Com atraso de cinco minutos por ter parado para comer uma latinha de pudim de chocolate escondida no fundo da geladeira, Louise uniu novamente com os outros. Ela entregou o termômetro para Lucas, devido sua melhor precisão e garganta ele seria capaz de avisar sobre a temperatura correta da água. — A água precisa estar na temperatura ideal de 89,6 fahrenheit, nem mais e nem menos.

— Você estava comendo, Lolinha? — Perguntou Lucas notando a mancha marrom no canto da boca de Louise.

— Ser um gênio da ciência me da fome — Ela limpou o local sujo com a manga da camiseta e dirigiu até Eleven, a qual estava sentada aflita ao lado de Joyce que tentava acalma-la com palavras bonitas — Fiz uma coisa para você, El — Sorrindo a menina entregou para a mais nova os óculos de proteção coberto com fita adesiva — Ele vai deixar tudo escuro para você, igual no seu tanque. Mas diferente de lá você vai ter a gente do seu lado.

— Sim, eu e a Lola vamos estar lá com você o tempo todo — Disse Joyce pegando carinhosamente na mão da Eleven enquanto falava. — E se ficar muito assustador naquele lugar você nos avisa, tá bom?

— Não é porque temos somente uma chance que vamos te pressionar — Disse Louise tentando acalmar Eleven com as palavras, mesmo que soasse levemente passivo-agressivo aquela não era sua intenção — Você é minha amiga e vou te proteger.

— 'Tá — Assentiu Eleven sorrindo sem humor, porém mais calma pelo apoio da Lola.

— E se ainda estiver muito nervosa sei algo que vai te acalmar — Louise sentou ao lado da El na arquibancada enquanto assistia de longe os amigos encherem a banheira e começou a balançar a cabeça no ritmo de uma música que apenas ela conhecia antes de cantarolar baixinho — Essa dança desagradável me chateia, mas de alguma forma me viciou. Ritmo encantador me pegou de jeito. Eu mudei minha vida completamente, eu vi o brilho sumir de mim e minha querida não consegue tirar os olhos de mim. Não ponha a culpa no pôr do sol. Não ponha a culpa no luar. Não ponha a culpa nos bons tempos, ponha a culpa na dança...

Louise sentiu o coração se aquecer ao reparar o sorriso divertido que brotou no rosto de Eleven. Mesmo que os outros a olhassem estranho por causa da escolha musical que fazia parte da fita emprestada para Jonathan, ela os ignorou sentindo que sua missão, em partes, estava completa.

— Okay, isso é um milagre — Disse Dustin trocando olhares zombeteiros com Lucas e Mike.

— O que é um milagre? — Perguntou Jonathan confuso.

— Louise não está cantando Bowie — Responderam os três meninos em uníssono.

— Vão se ferrar — Ordenou Louise levantando de onde estava sentada para poder visualizar melhor a quantidade de água que estavam colocando dentro da piscina de plástico. — Meu Deus, isso vai demorar.

— Quanto tempo você acha? — Perguntou Hopper abraçando Louise pelos ombros.

— Bom... — Ela encheu as bochechas de ar por alguns segundos, soltando logo em seguida — Calculando o tempo de vazão da água através das duas mangueiras ligadas no máximo, mais o volume da piscina isso vai dar... — Por alguns segundos utilizou dos dedos para prosseguir com as contas mentais — Quase duas horas.

— Não consegue fazer com que encha mais rápido? — Perguntou Jonathan que estava parado ao lado de Hopper.

— Você tem um caminhão pipa por acaso? Se tiver consigo fazer a piscina encher em trinta minutos ou menos — Respondeu Louise rudemente enquanto gesticulava.

— Por que vocês não aproveitam esse tempo para conversarem? — A pergunta de Hopper soava mais como uma ordem do que um convite.

— Não temos nada para conversar, Jonathan já fez sua escolha — Falou Louise cruzando os braços na frente do corpo após empurrar Hopper para o lado, desvencilhando assim de seu abraço.

— Sim, eu fiz a minha escolha — Reclamou Jonathan irritado com a relutância de Louise em perdoá-lo — Escolhi proteger você. Sabia que se contasse a verdade viria correndo participar do plano. Não podia te perder, Louise.

— Que surpresa, adivinha contra o que estou lutando além dos federais... — Louise riu de escárnio colocando as mãos na cintura. — Pois é. Se você não tivesse sido babaca e me contado teríamos resolvido metade do problema.

— Ou teriam se matado — Disse Hopper se envolvendo no assunto — Você é incapaz de ficar longe de confusão, não é mesmo Louise?

— Está do lado do Jonathan? — Louise olhou para Hopper arqueando as sobrancelhas.

— Não estou do lado de ninguém, os dois estão errados — Retrucou Hopper com severidade — Não deviam ter se aventurado sozinhos.

— Aí gente! — Gritou Dustin intrometendo no assunto, notando que os olhares de todos estavam voltados para si ele continuou — Eu sei como resolver isso — Levantando do chão, ele caminhou até Jonathan e Louise, ficando entre o casal de amigos — Apertem as mãos.

— Não vou apertar a mão dele — Louise torceu o nariz voltando a cruzar os braços na frente do corpo.

— Sabe as regras — Retorquiu Dustin agindo como Louise havia feito no dia que Mike e Lucas brigaram por causa de Eleven. — Vocês precisam apertar as mãos.

— Não, ele que começou — Louise gesticulou apontando com quatro dedos de uma de suas mãos para Jonathan sem parar de abraçar o corpo.

— Louise... — Jonathan estendeu a mão na direção da adolescente, a qual empurrou para o lado estando determinada em ignorar as regras de melhores amigos do bando — Qual é? Você está sendo infantil.

— E você quebrou o meu coração — Expressou Louise rispidamente, cuspindo as palavras sem pensar no que dizia.

— Definitivamente vocês precisam conversar — Disse Joyce compreendendo os motivos da relutância de Louise em aceitar os pedidos de desculpas do filho. Lola não estava somente chateada pelo rapaz ter sido grosseiro com ela no funeral falso do Will, mas enciumada por ter sido trocada pela Nancy, sua ex-melhor amiga e atual rival. — Mas não agora, precisam de tempo para isso e calma. Ninguém está no melhor dos momentos, principalmente a Lola.

— Principalmente a Lola? — Perguntou Jonathan genuinamente preocupado com o estado da melhor amiga. Ele estava tão frustrado por seu plano de enfrentar o Demogorgon ter sido interrompido que não tinha se interessado em perguntar sobre os eventos do ferro-velho para Louise ou qualquer outra pessoa. — O que houve?

— A Louise acha... — Hopper começou a responder, mas foi interrompido pela adolescente com os olhos marejados.

— Eu matei um cara — Respondeu voltando a sentir culpa por ter macetado a cabeça do algoz com um pedaço grande de ferro.

— Você não matou o agente — Hopper revirou os olhos — O cara é federal, Louise. Ele é treinado para aguentar coisa muito pior. Você, no máximo, o deixou com galo enorme na cabeça.

— É, mas e se ele tomava remédio? E se bati em um ponto estratégico durante o pico de adrenalina? E se explodi o cérebro dele? Vai que ele tenha tomado aspirina horas antes e sangrou internamente até a morte. Você não sabe, Hopper. Ele pode estar morrendo nesse exato minuto por traumatismo craniano — Retrucou Louise gesticulando pontualmente a cada pergunta.

— Você desmaiou um cara? — As expressões carrancudas de Jonathan deram espaço para um sorriso divertido.

— Foi e foi muito maneiro. Não como a El fazendo o furgão voar, mas nunca vi minha irmã daquele jeito — Falou Dustin sorrindo animado ao lembrar-se da cena — No começo fiquei assustado, pensei que ela tivesse morrido quando caiu do ônibus.

— Ela agiu como Lady Stardust — Falou Mike empolgado recordando da personagem de RPG que Lola jogava com frequência.

— Lolinha é incrível — Elogiou Lucas parando de ditar para Nancy o quanto ela deveria abrir das torneiras para manter a temperatura da água — Ela ia se sacrificar por nós.

— Eu... Só fiz o mínimo — Louise deu com os ombros, sentindo-se levemente desconfortável com o elogio das crianças. Não achava que os meninos a vissem como um tipo de heroína, mas como uma irmã mais velha chata que só sabe chorar pelos cantos enquanto os coloca em problemas.

— Sempre soube que a minha menininha era uma super-heroína! — Elogiou Joyce sorrindo orgulhosa para Lola ao ouvir a história das crianças, principalmente a parte do Lucas. A senhora Byers levantou de onde estava sentada caminhando até sua protegida, abraçando a adolescente bem apertado por longos segundos. — Eu tenho muito orgulho de você.

Apesar de Joyce Byers falar com frequência sobre o orgulho que sentia de Louise sempre que ela realizava algo "grandioso" ao sair de sua zona de conforto, naquela noite as palavras soaram como músicas em seus ouvidos, tendo um significado mais profundo na concepção da adolescente.

O orgulho de Joyce não dava pelo fato dela ter feito contas complicadas de cabeça ou estar montando uma piscina de privação sensorial com coisas que tem em "casa", mesmo ambas as coisas serem completamente surpreendentes para alguém tão jovem. Mas pela coragem que Louise teve em ceder sua própria vida para proteger quatro crianças, sendo uma delas o irmão mais novo de sua "inimiga" e a outra alguém completamente estranho com poderes sobrenaturais que é capaz de virar furgões com a mente. Além do mais, ela vinha arriscando sua vida em sigilo durante os últimos dias para resgatar Will.

Com as emoções, em partes, mais calmas e a chama da esperança restaurada, mesmo que fraca, de não ser uma assassina, Louise pode preocupar-se apenas com o que importava de verdade naquele momento: Seu projeto de ciências em tamanho real. Por ironia do destino, o experimento estava sendo executado no mesmo lugar que havia sido destruído por Carol e o resto dos trogloditas que andavam em seu encalço.

Passava da meia-noite quando a piscina encheu com o volume correto e na temperatura propicia para seguirem com a segunda parte da montagem. Nesse momento Louise voltou a tomar posição de líder, ditando regras para todo grupo e recordando a cada vinte segundos que tinham de tomar cuidado, caso contrário todo o trabalho iria para o lixo e teriam de encher a piscina pela outra vez.

— O que acontece ali dentro? — Perguntou Joyce assistindo Jonathan e Hopper misturando o sal na água.

— Cientificamente falando a banheira tem o efeito de "nublar" a consciência humana. A água na temperatura do corpo humano somado com o sal, mais ausência de luz e de ruídos faz com que a experiência seja comparada com a falta de gravidade. Por isso temos que tentar ficar quieto o máximo possível, El não poderá ter distrações que a retirem dessa experiência submersa. — Explicou Louise apontando para a piscina — Agora o que ela vai vivenciar ali dentro é outra história. O neurocientista John C. Lilly responsável pelo primeiro tanque de privação sensorial dizia tornar possível entrar em contato com universos paralelos, quando fiz a pesquisa não acreditei nisso o cara era biruta de tanto choque tomado no cérebro e já tinha feito experimentos usando LSD. Nossa, droga...

— O que houve? — Perguntou Hopper achando que tinha feito algo errado.

— Será que LSD não funcionaria ao invés da banheira? — Cogitou Louise cruzando os braços na frente do corpo.

— Você está querendo drogar uma criança? — Perguntou Nancy olhando horrorizada na direção de Louise.

— Não! Óbvio que não. — Respondeu Louise soltando os braços e balançando a cabeça negativamente. Mas sua resposta não era honesta, caso tivesse pensado no LSD antes ela não teria tido todo o trabalho de montar a piscina. — Foi só uma hipótese.

— Não foi o que pareceu — Rebateu Nancy descrente e em tom de represália, soando muito parecida com Karen.

— Ah, vai tomar no cú — Ordenou Louise mostrando o dedo do meio para a outra.

— Louise! — Repreenderam os demais ao notarem o comportamento grosseiro da adolescente.

Não era necessário conhecer Louise nos mínimos detalhes para perceber que aquele estava sendo o dia mais exaustivo de sua vida até o momento, arruinando lentamente com a pouca sanidade mental que Louise ainda possuía e deixando-a completamente estressada ao ponto de explodir.

Aos resmungos incompreensíveis por ter sido repreendida, Louise aproximou dos meninos mais novos para assistir ao teste de salinidade da água. Para a infelicidade de todos os presentes, o primeiro ovo de granja posto na piscina por Dustin havia afundado quase completamente dentro da banheira.

— E agora? — Mike olhou chateado para Louise.

— Retiramos o ovo — Explicou Louise colocando o braço dentro da água quente e pegando o alimento com cuidado — E colocamos mais sal, esse ovo está inutilizado. O correto seria esvaziar a piscina e recomeçar, mas não temos esse tempo.

— Tem certeza que vai funcionar? — Perguntou Hopper voltando a rasgar sacos de sal dentro da piscina.

— Noventa e oito por cento — Assentiu Louise colocando de lado o ovo inutilizável.

— E os outros dois por cento? — Perguntou Nancy seguindo descrente do plano. — Precisamos de cem por cento.

— Mike, eu vou bater na sua irmã, estou avisando — Falou Louise apontando na direção da Nancy.

— Nancy deixa a Lola em paz — Ordenou Mike para a irmã mais velha. — Ela sabe o que está fazendo.

— Como soube quando resolveu esconder a Eleven em casa? — Nancy cruzou os braços na frente do corpo. — Ela colocou toda nossa família em risco.

— Ela salvou a minha vida — Rebateu Mike recordando sobre os eventos ocorridos no ferro-velho.

— Não teria de salvar se não tivesse colocado você em risco — Falou Nancy erguendo o tom de voz.

— Quer falar sobre colocar pessoas em risco? Tudo bem, vamos falar. — Louise virou na direção da Nancy juntando as pontas dos dedos enquanto falava — Onde está a Barb? Ah, é! Você não faz a mínima ideia.

— Eu... — Nancy abriu a boca, porém foi incapaz de formular qualquer sentença em sua defesa.

— Se não vai ajudar, cala a merda da boca e me deixa fazer o trabalho — Enraivecida Louise revirou os olhos e retornou para próximo da banheira agachando em sua borda, queria ter certeza de que não passariam a quantidade de sal estipulada, caso contrário os grãos não se dissolveriam na água e atrapalharia o resto do experimento.

— Acha que está bom? — Questionou Hopper esperando suas ordens para prosseguir com o abastecimento de sal.

— Estou calculando — Explicou a menina sem tirar os olhos do fundo azul da piscina — A temperatura se mantém Lucas?

— Noventa e três vírgula noventa e dois Fahrenheit — Respondeu Lucas medindo a temperatura.

— Colocaram mais quatro sacos, certo? — Perguntou Louise olhando do Jonathan para Hopper.

— Foi — Assentiu Hopper.

— Ótimo, creio que deve ser o suficiente — Disse Louise levantando do chão e pegando o remo de madeira para misturar o resto do sal — Agora é só misturar direito o sal na água, colocar o ovo e teremos um bolinho.

Durante cinco minutos Louise e Hopper misturaram a água salobra cuidadosamente com auxilio dos remos até a piscina ficar inteiramente homogênea. Quando pararam de mexer e colocaram os remos encostados no carrinho de toalhas, Dustin prosseguiu levemente ansioso com o teste de salinidade. Para a felicidade e orgulho de Louise, o ovo flutuou anunciando que seu tanque de privação sensorial estava pronto para ser usado.

— Perfeito! — Comemorou Louise batendo palmas enquanto saltava animada — Queria que o Sr. Clarke estivesse aqui para ver isso.

— Com certeza você teria ganhado aquela viagem — Falou Dustin orgulhoso batendo na palma da mão da irmã.

— Queria poder colocar sobre isso na minha carta de admissão para a faculdade. Louise Madeline Henderson, hobby: Construir tanque de privação sensorial nos fins de semana. — Disse Louise risonha abraçando o irmão pelos ombros enquanto Mike terminava de ajeitar os últimos detalhes.

Com expressões levemente assustadiças estampadas na face, Joyce Byers aproximou do tanque de privação sensorial caseiro criado por Louise com ajuda dos demais ao lado de Eleven. As preocupações da matriarca da família Byers envolviam o estado que Will poderia ser encontrado no mundo invertido, temendo que não o alcançassem a tempo e também os perigos que El poderia enfrentar ao buscar por seu filho mais novo, principalmente pelo Demogorgon estar a solto.

Mesmo temerosa Eleven seguiu com o plano, ela retirou as meias brancas com listras amarelas e verdes na canela colocando a peça de roupa na parte de baixo do carrinho de toalhas, em seguida retirou o relógio que utilizava o passando para Mike e colocou os óculos improvisados por Louise. Por não conseguir enxergar mais nada ao redor, ela foi guiada por Joyce e Louise para dentro da piscina.

Esperançosos e cheios de curiosidades do que aconteceria a seguir, todos agacharam ao redor da piscina para assistir Eleven utilizar dos seus poderes psíquicos. Severamente Louise olhou para cada um dos presentes com o dedo indicador sobre os lábios, recordando que deveriam permanecer em silêncio o máximo de tempo que conseguirem, caso contrário poderia arruinar todo o experimento agindo por impulso e não teriam uma nova chance tão cedo. Assim que a menina relaxou ao boiar na piscina, as poucas luzes que restavam acesas na quadra se apagaram completamente, chocando os expectadores.

— Barbara — Disse Eleven suavemente, anunciando que havia encontrado uma das pessoas perdidas.

O coração de Louise bateu mais forte dentro do peito e suas entranhas reviraram ao escutar o nome da colega de classe, apesar de ter se afastado de Barb por causa de sua briga estúpida com Nancy e a rebaixado para o cargo de simples "colega" ao invés de "amiga", ela permanecia sentindo carinho com a ruiva chegando a conversar com a mesma quando essa estava sem a presença da Wheeler. No fundo de seu coração rancoroso ela desejava que a menina estivesse bem e que, assim como Will, tenha conseguido escapar das garras do Demogorgon e achado um esconderijo até a chegada do resgate.

Entretanto todas as esperanças que Louise possuía de Barb estar viva no mundo invertido foram mandadas embora quando a respiração de Eleven tornou ofegante e as luzes voltaram a piscar. Não precisava ser um grande gênio para perceber que algo horrível havia acontecido.

— O que está acontecendo? — Perguntou Nancy nervosa, quebrando o silêncio do ambiente.

Percebendo que Nancy poderia colocar tudo a perder ao quebrar a sensação de vazio que Eleven vivia dentro da banheira com suas perguntas desnecessárias, já que a garotinha daria todas as respostas. Louise não hesitou em tapar com força a boca e as entradas do nariz de Nancy, obrigando a ex-melhor amiga calar a boca.

— Hum... — Murmurou Nancy tentando desesperadamente tirar a mão de Louise de seus lábios.

— Morreu! Morreu! — Disse Eleven anunciando o trágico destino de Barb.

— Tá tudo bem, tá tudo bem! — Falou Joyce tentando acalmar El dentro da piscina, ela olhou para Louise preocupada, a qual apenas assentiu com a cabeça indicando que ela poderia segurar a mão de Eleven por ter feito uma promessa. — Estamos aqui, estamos aqui, querida! Tudo bem. Tá tudo bem, não tenha medo. Eu estou aqui com você, a Lola está aqui. Tá tudo bem, tudo bem.

Como costumava fazer com seus filhos e Louise sempre que estavam assustados, Joyce só parou de falar e soltou a mão de Eleven quando a menina demonstrou calmaria. Não queria interferir ainda mais no experimento, afinal seu filho mais novo seguia desaparecido dentro do mundo invertido.

— Castelo Byers! — Anunciou Eleven.

Ao ouvir o nome da cabaninha feita no meio da floresta atrás da casa da família, Joyce trocou olhares com Jonathan e Louise. Aquele era o lugar favorito do Will, onde o menino costumava se esconder para brincar, desenhar e fantasiar histórias.

Por terem tido uma péssima notícia minutos atrás, todos estavam apreensivos quanto ao estado que o Byers mais novo poderia ser encontrado. Naquele instante Louise apertou com mais força as bochechas de Nancy que chorava copiosamente, temia que quando soltasse a Wheeler começasse com suas perguntas estúpidas pela segunda vez, principalmente sobre o "motivo" de ter tapado sua boca.

— Will — Chamou Eleven.

— Fala para ele que eu estou indo — Pediu Joyce quase chorando, estava preocupada e ao mesmo tempo feliz por El não ter ficado ansiosa dentro da banheira, o que significava que o menino continuava vivo. — Que a mamãe está chegando.

— Sua mãe, ela está vindo te buscar — Disse Eleven passando a mensagem.

— Rápido — Pediu Will, sua voz soou fraca através do rádio comunicador.

O alívio tomou conta do coração de todos os presentes ao ouvirem que Will permanecia vivo apesar de fraco. Lançando um olhar severo na direção de Nancy, Louise soltou lentamente seu maxilar mostrando que a seguraria uma segunda vez caso resolvesse atrapalhar a busca por Will novamente.

— Escuta, fala para ele ficar onde ele está, estamos indo — Pediu Joyce voltando a segurar a mão de Eleven. — Estamos indo, tá bom? Estamos indo querido.

— Só tem que aguentar um pouco mais — Disse Eleven para o menino. — Will, Will! WILL!

Voltando a entrar em desespero, Eleven levantou abruptamente da banheira deixando o transe e assustando todos ao redor.

— Tudo bem, tudo bem! — Disse Joyce abraçando Eleven com ternura. — Eu tô aqui, tudo bem. Você foi tão bem, tão corajosa.

— Vou pegar uma toalha — Falou Louise levantando do chão.

A adolescente foi até o carrinho posicionado a poucos metros atrás deles, pegando a primeira toalha de algodão do colégio que estava em seu alcance. Ela desejava chorar pelo que houve com Barb, pelo trágico fim de sua vida graças à mesquinhez de Nancy. Mas tentou se segurar, deixando que poucas lágrimas escorressem antes de voltara para a piscina, como toda a última semana ela tinha que ser forte pelas crianças.

— Venha comigo, El. Vou te secar enquanto descansa — Gentilmente Louise ajudou Eleven a levantar da piscina junto com Joyce, envolvendo a menina na tolha enquanto a abraçava pelos ombros para secá-la — Estou muito orgulhosa de você.

— Sinto muito pela sua amiga — Disse Eleven tristemente para Nancy, a qual permanecia em choque com a notícia.

— Não sinta, a culpa é toda da Nancy — Falou Lola rispidamente sem tirar os olhos da ex-amiga — Ela terá de conviver com isso agora.

— Louise... — Choramingou Nancy com os olhos marejados.

— Bem-vinda ao clube das assassinas — Lola sorriu de escárnio dando as costas para Nancy enquanto caminhava com El até as arquibancadas para que a mais nova conseguisse recuperar suas energias.


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